Afinal, por que tudo está tão caro no Brasil?

Saiba o que aconteceu nos últimos dias para contribuir com o aumento dos preços e impactar ainda mais o bolso do brasileiro

O brasileiro está cansado de observar os efeitos da inflação na sua rotina. Todos os dias, os preços aumentam mais e a percepção de que “tudo está caro” cresce entre os consumidores do país. Mas quais são os principais motivos que contribuíram  com esse fenômeno nos últimos dias?

Inflação puxada pela gasolina

Em agosto, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegou a 0,87%. Esse é o maior nível para o mês desde 2020.

Já a inflação acumulada em 12 meses atingiu 9,68%, patamar mais alto desde fevereiro de 2016, quando chegou a 10,36%. A alta expressiva foi puxada pelos combustíveis, liderados pela gasolina, que subiu 1,24% em relação a julho, para 2,96%.

O preço da gasolina disparou nove vezes somente em 2021, acumulando avanço de 31,09% até agosto. O litro chega a ultrapassar os R$ 7 em algumas localidades. Já o diesel subiu 28,02% no mesmo período, segundo dados do IPCA.

Vale lembrar que a inflação mede o aumento dos preços de uma cesta de bens e serviços essenciais para os brasileiros. Dentre essas categorias estão: alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação.

Crise hídrica e suas consequências

A falta de chuvas é outro motivo que está causando dor de cabeça no país. Com a seca e o descuido de grandes empresas e da população, os reservatórios chegam a níveis baixíssimos e surge a necessidade de racionar água.

Mais do que reduzir a quantidade de água disponível para a população, a crise hídrica impacta a produção dos alimentos, reduzindo a oferta de produtos e aumentando os preços. Outro fator é que as usinas hidrelétricas são responsáveis pela produção de 62% da energia do Brasil. Sem água, o fornecimento é comprometido e a conta de luz aumenta.

Nessa cadeia, quem sente no bolso é o consumidor. Diretamente ligadas, a crise hídrica e a inflação pesam nas contas e deixam milhões de brasileiros sem acesso aos itens básicos para eu dia a dia.

FONTE CAPITALIST

Brasil vai estar isolado na COP26

Apontado como o maior negacionista climático do mundo, Bolsonaro chegará a Cúpula do Clima desacreditado

Mais isolado do que nunca, o Brasil chegará a Conferência do Clima, a COP26, tão ou mais desacreditado do que em 2019, quando ocorreu, em Madri, a COP25. Faltando pouco menos de dois meses para o encontro da ONU em Glasgow, na Escócia, Jair Bolsonaro segue sendo visto como o maior negacionacista climático do mundo. O presidente já vem sendo considerado internacionalmente um perigo, dado o peso do país no combate às mudanças climáticas. Na série “A caminho de Glasgow”, o #Colabora antecipa bastidores das negociações e o ânimo dos tomadores de decisão no tabuleiro climático global.

Está claro, por exemplo, que depois de os Estados Unidos terem se livrado de Donald Trump, o “governo de John Biden recolocou o país no jogo e seu governo tem adotado posturas proativas, além de posicionar a questão climática na centralidade do seu discurso”. A análise de Stela Herschmann, especialista em políticas climáticas do Observatório do Clima, indica que, com a saída de Trump, o isolamento de Bolsonaro cresce a olhos vistos, à medida que se aproxima a COP26.

O Brasil é, em termos políticos, o maior risco para o mundo porque pode prejudicar os esforços globais no combate às mudanças climáticas

Stela Herschamnnespecialista em políticas climáticas do Observatório do Clima

“O Brasil é, em termos políticos, o maior risco para o mundo porque pode prejudicar os esforços globais no combate às mudanças climáticas”, avalia Stela, citando que nada mudou na política ambiental, apesar da dança das cadeiras no Ministério do Meio Ambiente (MMA) com a saída de Ricardo Salles e a entrada de Joaquim Leite. “Tem ficado claro nas audiências públicas no Senado, por exemplo, que tanto o MMA quanto o Ministério da Agricultura estão preocupados com a imagem do Brasil lá fora”.

A preocupação, no entanto, não vem se traduzindo num redirecionamento da política ambiental. Nem mesmo discursos bem construídos têm conseguido convencer os tomadores de decisão mundo afora. A cúpula de líderes sobre o clima, convocada por Biden, em abril, foi um divisor de água. Na ocasião, Bolsonaro prometeu, no seu discurso, “fortalecer” os órgãos ambientais e “duplicar” os recursos para a fiscalização. No dia seguinte, último dia do encontro, o governo anunciou um corte de 24% no orçamento do meio ambiente para 2021.

A distância entre a prática e o discurso tem tirado a credibilidade do país e o “Brasil chegará a COP26 desacreditado”. Em reuniões com o MMA, Stela tem ouvido, por exemplo, que o Brasil não pretende ser um entrave nas discussões sobre o artigo 6, como ocorreu em Madri. “Temos ouvido que o governo chegará com uma postura proativa”, conta ela, admitindo, no entanto, que não está claro se o país vai, realmente, mudar de posição em relação ao tema.

Dia do Meio Ambiente: Incêndios florestais na Amazônia, praga que se repete anualmente, estão em ritmo acelerado em 2019/2020 com aumento de grilagem e desmatamento (Foto Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Incêndios florestais na Amazônia, praga que se repete anualmente com aumento da grilagem e do desmatamento (Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace)

O histórico do governo é preocupante. Desde que Bolsonaro assumiu, o desmatamento vem girando em torno dos 10 mil km2, o que significa um “aumento de 46% em relação à média dos anos anteriores”. Em dezembro do ano passado, ao anunciar a NDC brasileira, sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada que envolve compromissos voluntários criados pelos países signatários do Acordo de Paris, a meta do país piorou, indo de encontro ao que vem ocorrendo mundo afora. “O que o país fez foi uma pedalada climática”, avalia Stela.

Mesmo se comprometendo com as metas anunciadas em 2015, ao mudar a base de cálculo relativa ao ano de 2005 – o que é um procedimento normal, desde que as metas também sejam atualizada – o governo retrocedeu, o que significa que “podemos chegar em 2030 emitindo 400 milhões de toneladas a mais do que havia sido previsto anteriormente”.

Em 2005, o país havia emitido 2,1 giga toneladas de CO2 e se comprometido, ao assinar o Acordo de Paris, a reduzir as emissões em 37% até 2025 e em 43% em 2030. Ao refazer o cálculo, o volume de emissões passou a ser de 2,8 giga toneladas de CO2.

Os países, analisa Stela, estão olhando o país com preocupação e a maior probabilidade é que não venham a fazer nenhum tipo de acordo com o Brasil, enquanto resultados não sejam efetivos. Tudo indica que, no tabuleiro climático global, a tática adotada com o antecessor de Biden venha a se repetir com Bolsonaro: “É esperar passar, como fizeram com os Estados Unidos durante o governo Trump”, conclui Stela.

FONTE COLABORA

Covid-19: Vacinados podem precisar de 3ª dose contra variantes, dizem cientistas

Parece uma corrida com dois competidores. Numa pista, o ser humano avança iniciando a vacinação contra a covid-19. Mas o coronavírus acelera, promovendo mutações mais contagiosas e capazes de reduzir a proteção das vacinas.

Nessa disputa, há duas estratégias igualmente importantes para os dois adversários: rapidez e adaptabilidade.

Enquanto, o vírus tenta se modificar para entrar com mais facilidade e em maior quantidade no organismo, o ser humano corre contra o tempo para imunizar o quanto antes toda a população e desenvolver vacinas que protejam contra as variantes perigosas.

Segundo pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil, nessa corrida contra o vírus, pessoas já vacinadas contra a covid-19 poderão ter que receber uma dose adicional de imunizante.

Isso porque duas variantes do coronavírus, a encontrada em Manaus, batizada de P.1, e a da África do Sul, chamada de 501.V2, parecem reduzir a eficácia de vacinas por possuírem a mutação E484K, capaz driblar a ação de anticorpos produzidos pelo corpo. Uma terceira variante encontrada no Reino Unido também passou a apresentar a mutação E484K em algumas regiões do país, segundo análises da Public Health England, agência ligada ao Ministério da Saúde britânico.

“Pessoas que já se vacinaram poderão ter que tomar mais uma dose, quando adaptações das vacinas forem concluídas para proteger contra variantes”, disse à BBC News Brasil o virologista Julian Tang, professor da Universidade de Leicester, no Reino Unido.

“Nessa mesma época no ano passado, tínhamos o vírus que surgiu em Wuhan, na China. Neste ano, já temos três variantes que causam preocupação. Nesse período do ano que vem, poderemos ter mais variantes. Então, é possível que a vacina tenha que ser atualizada todo ano para acompanhar esse ritmo”, avalia.

O governo britânico confirmou neste domingo (7/2) à BBC que pretende disponibilizar para a sua população vacinas anuais contra a covid-19, como ocorre atualmente com a gripe.

“Vemos como muito provável uma imunização de reforço no outono (no hemisfério Norte) e, então, vacinações anuais, como fazemos hoje contra a gripe, adaptando para variantes que se espalham pelo mundo”, disse o secretário para vacinas Nadhi Zahawi ao programa Andrew Marr, da BBC.

Diversos fabricantes anunciaram que estão desenvolvendo novas vacinas capazes de aumentar a proteção contra variantes com as mutações E484K, embora pesquisas preliminares indiquem que os imunizantes disponíveis ainda oferecem alta proteção, de quase 100%, contra os casos mais graves da doença – aqueles que podem resultar em morte.

O maior problema parece residir na eficácia global das vacinas, que engloba casos leves, moderados e graves.

“O que apareceu nesses dados preliminares é que houve uma queda no percentual de pessoas que não tiveram nenhum sintoma. Mas não teve aumento no percentual de casos graves”, disse às BBC News Brasil o virologista Felipe Naveca, que participou do primeiro sequenciamento da variante de Manaus.

“Se a vacina continua protegendo para as formas graves da doença, essas pessoas continuam protegidas para aquilo que é o mais importante da vacina. Agora, se os estudos demonstrarem queda de eficácia nesse sentido, provavelmente as pessoas já vacinadas terão que ser reimunizadas (com vacina adaptada) ou tomar uma dose adicional”, completa Naveca, que é pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/FioCruz).

Nesse contexto, a vacina CoronaVac, por enquanto a predominante no Brasil, parece apresentar alguns pontos fortes (veja mais abaixo).

Mas o que exatamente se sabe sobre a queda da proteção das vacinas?

Vacina de covid

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Fabricantes anunciaram que estão desenvolvendo novas vacinas capazes de aumentar a proteção contra variante

Vacinas já testadas contra novas variantes

As pesquisas mais amplas até o momento foram feitas com as vacinas Novavax e Johnson & Johnson. Um estudo, divulgado em 29 de janeiro, mostrou que a eficácia global (para impedir casos leves, moderados e graves) da Novavax cai de 95,6%, contra o vírus original, para cerca de 60%, quando aplicada na África do Sul, onde predomina a variante com mutação E484K.

Já a vacina Johnson & Johnson, de dose única, mostrou uma eficácia de 72% para formas moderadas e graves da covid-19 nos Estados Unidos, 28 dias após a injeção. Na África do Sul, esse percentual caiu para 57% e, na América Latina, para 66%.

Mas não houve casos de mortes. Ou seja, a vacina se mostrou 100% eficaz em evitar os casos mais graves da doença. Para esse estudo, foram analisados os resultados de 43,7 mil voluntários.

Atualmente, no Brasil, duas vacinas estão sendo aplicadas: a Oxford-AstraZeneca e a CoronaVac.

No domingo (7), a África do Sul suspendeu o início da vacinação com o imunizante Oxford-AstraZeneca, depois que um estudo preliminar, feito com 2 mil pessoas de, em média, 31 anos, revelou “proteção mínima” contra casos leves e moderados provocados pela variante.

A pesquisa, que ainda não foi publicada e revisada, foi feita pela Universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo. Não foi avaliada a eficácia da vacina de Oxford em evitar casos graves e mortes, porque o público do estudo era jovem e sem comorbidades.

A equipe que produz a vacina Oxford-AstraZeneca anunciou que já está trabalhando numa versão adaptada do imunizante e que poderá disponibilizá-la “até o outono” do hemisfério Norte. Ou seja, até 21 de setembro.

A expectativa é que essa nova vacina funcione como uma dose de reforço às duas outras que as pessoas estão recebendo.

O Instituto Butantan, que fabrica a CoronaVac em conjunto com a biofarmacêutica chinesa Sinovac, disse à BBC News Brasil que “realiza estudos em relação à variante identificada no Amazonas, ao mesmo tempo em que a Sinovac avalia variantes encontradas na Inglaterra e na África do Sul”.

As fabricantes de vacina Moderna e Novavax disseram que já estão desenvolvendo vacina ou dose de reforço capaz de responder à mutação E484K, enquanto a Pfizer está aprofundando estudos sobre o impacto do seu imunizante contra a variante da África do Sul.

Mulher recebe vacina na Hungria

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,Atualmente no Brasil duas vacinas estão sendo aplicadas: a Oxford-AstraZeneca e a CoronaVac.

Potencial vantagem da CoronaVac contra variantes

Apesar de a CoronaVac ter percentual menor de eficácia global que vacinas como Oxford-AstraZeneca, Pfizer e Moderna, a tendência é que ela tenha a eficácia menos afetada pelas variantes com a mutação E484K, segundo a especialista em microbiologia Ana Paula Fernandes, professora e pesquisadora do Centro de Tecnologia em Vacinas e Diagnóstico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A mutação E484K afeta exatamente o principal ponto de ligação entre o vírus e as células, tornando o “encaixe” mais eficaz. Esse é o local onde os chamados anticorpos neutralizantes, produzidos pelo nosso sistema imunológico, se encaixam para impedir a entrada do vírus na célula.

Logo após se infectar, o corpo passa a produzir anticorpos para tentar combater o vírus. Alguns dos mais importantes deles são justamente os neutralizantes, que se colocam entre a célula e a proteína spike, impedindo que o vírus se fixe e se multiplique pelo organismo humano.

Grande parte das vacinas, inclusive Oxford-AstraZeneca, Novavax e Pfizer, focam em injetar no corpo humano genes da proteína spike do vírus para estimular a produção dos anticorpos neutralizantes. Já a CoronaVac é produzida a partir do vírus inteiro inativado.

“Quando você entra em contato com vírus inteiro inativado, várias células do seu sistema imune são ativadas e são produzidos vários outros anticorpos, não só esse que a gente chama de neutralizante” explica Ana Paula Fernandes, que também é coordenadora da rede nacional de diagnósticos, que une diferentes universidades e institutos de pesquisa do Brasil para responder à pandemia.

O Instituto Butantan também disse, em e-mail enviado à BBC News Brasil, que a CoronaVac, por ser produzida a partir do vírus inteiro inativado, deve gerar “uma resposta imune ampla” contra a doença.

“A vacina que pode perder o maior nível de eficácia é a focada numa única porção da proteína spike, que é onde o vírus está mutando. Porque você tem um repertório menor de outros mecanismos para socorrer o seu organismo, já que sua resposta vai estar focada naquela região da molécula onde o anticorpo encaixa”, diz Ana Paula Fernandes.

Mas como é que, mesmo focando exatamente na proteína que sofreu mutação para driblar anticorpos, essas vacinas ainda parecem apresentar grau importante de proteção contra variantes?

“É possível que anticorpos dessas vacinas continuem conseguindo se ligar (à proteína spike) ainda que com menor afinidade. Então, a imunidade não desaparece”, explica professora da UFGM.

“E o nosso próprio sistema imune não coloca os ovos numa cesta só. Ele responde à vacina feita para o vírus original apostando em vários tipos de anticorpos, não só os neutralizantes, e ativando células de defesa do organismo, os linfócitos.”

Essas hipóteses ajudam a explicar por que as vacinas têm eficácia reduzida contra infecções leves e moderadas, mas continuam garantindo proteção para casos graves.

Os anticorpos ajudam a reduzir a concentração e multiplicação do vírus no nosso organismo, garantindo quadros mais leves ou assintomáticos da doença. Quanto maior a carga viral, maior a possibilidade desenvolver sintomas mais graves da covid-19.

Uma médica retira da embalagem a vacina contra a covid-19 produzida pela Sinopharm no Hospital Seychelles em Victoria, em 10 de janeiro de 2021

CRÉDITO,AFP/GETTY IMAGES

Legenda da foto,Países correm para conseguir vacinar sua população

E se tiver vacinada adaptada, quem deve receber primeiro?

Quando surgirem as primeiras vacinas adaptadas a variantes, os governos deverão tomar uma decisão: focar primeiro em vacinar a população que ainda não recebeu imunizante ou reforçar a proteção dos idosos e mais vulneráveis que já se vacinaram.

Para Ana Paula Fernandes, a melhor estratégia é focar em finalizar a imunização de toda a população para conter as altas taxas de circulação do vírus o mais rápido possível e evitar o surgimento de novas variantes.

Já o virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, defende focar nos extremos da pirâmide: vacinar os extremamente vulneráveis (como idosos com comorbidades graves) e os jovens em idade de trabalhar e estudar.

“Assim, você alcança um meio-termo que garanta proteger os muito vulneráveis e reabrir a economia e as escolas”, defende.

Por enquanto, as vacinas só serão oferecidas para maiores de 16 anos, porque não houve testes em crianças e adolescentes, mas a tendência é ampliar a faixa etária, quando esses estudos forem concluídos.

Outra estratégia possível para garantir maior proteção contra o vírus e as variáveis é combinar vacinas diferentes, lembra o virologista Felipe Naveca. Por exemplo, usar a CoronaVac, que utiliza o vírus inteiro inativado, com uma vacina focada na espícula do vírus, como a Oxford-AstraZeneca.

“Você estaria apresentando um vetor diferente na segunda ou terceira dose. O corpo não conheceria aquele vetor e geraria anticorpos variados. Estudos estão sendo conduzidos para verificar o grau de eficácia dessas combinações”, ressalta Naveca.

Não há passaporte de imunidade agora

Em um aspecto todos os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil concordam: enquanto a grande maioria da população não tiver sido vacinada, devem ser adotadas medidas proteção e restrição de contato social, inclusive por quem já se vacinou.

Naveca, Tang e Fernandes recomendam, por exemplo, usar máscaras profissionais, como N95, em ambientes fechados, tentar circular apenas ao ar livre ou em ambientes ventilados, abrir o vidro do carro, principalmente se estiver em táxi ou Uber, evitar frequentar bares, restaurantes e outros locais de lazer que concentrem pessoas em local fechado, usar máscaras mesmo ao ar livre, lavar as mãos constantemente e usar álcool em gel.

“As medidas de controle devem ser intensificadas para conter o espalhamento das novas variantes e, principalmente, o surgimento de novas mutações. Quanto mais pessoas infectadas numa população maior a chance de aparecer variante”, diz Ana Paula Fernandes.

“Até agora, as variantes têm um mecanismo de escape dos anticorpos, mas as vacinas ainda apresentam eficácia. (Mas) as mutações continuam e temos que minimizar o risco de uma que seja capaz de driblar totalmente as vacinas.”

FONTE BBC.COM

Alerta da ONU sobre clima coloca pressão no Brasil para COP26

O alerta dado hoje pelos cientistas que assinam o sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) é assustador, preocupante e urgente. A primeira conclusão é a de que é inequívoca a interferência humana no clima e que os seres humanos provavelmente causaram a quase totalidade do aquecimento global que vem sendo observado no último século. A situação é tão grave que dos cinco cenários de emissão avaliados pelos 800 cientistas, 21 deles brasileiros, apenas um desses diagnósticos, o de estabilizar o aquecimento em torno de 1,5 grau Celsius, oferece alguma pequena chance de sobrevida para o Acordo de Paris. O relatório é uma síntese dos estudos do grupo 1 do IPPC e tem cerca de três mil páginas.

Daqui a pouco mais de três meses, a próxima Conferência do Clima, a COP26, que começa no próximo dia 31 de outubro, em Glasgow, na Escócia, será um momento difícil e, ao mesmo tempo, crucial para o mundo. As metas nacionais dos países deverão ser infinitamente mais ambiciosas do que as que já foram apresentadas. O clima no mundo está dando sinais de que não vai esperar pela boa vontade de países, governos, diplomatas, ou seja, os tomadores de decisão… Muito pelo  contrário.

“É indiscutível que as atividades humanas estão causando mudanças climáticas, tornando eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor, chuvas fortes e secas, mais frequentes e severas” – a frase destacada pelo cientista Paulo Artaxo, um dos autores-líderes do capítulo 6, do grupo 1, está no relatório e expressa o momento de urgência que o planeta está passando. E ainda acrescenta: “Mudanças recentes no clima são generalizadas, rápidas e intensificadas e sem precedentes em pelo menos 6.500 anos”. E o pior: “O homem tem aquecido o planeta a uma taxa sem precedentes há pelo menos dois mil anos”.

As evidências são muitas, como as ocorridas em 2021: um incêndio na Sibéria (Rússia) lambeu uma área equivalente a 800 mil campos de futebol; na China, uma chuva torrencial, a mais forte em mil anos, provocou mortes e inundações; no Canadá, os termômetros marcaram calor de 49 grau Celsius. Sem falar no frio que atingiu o Brasil nas semanas que antecederam a divulgação do relatório e ainda a maior seca dos últimos 91 anos. No começo de 2022 serão publicados mais dois relatórios, dos grupos 2 (sobre impactos e adaptações) e 3 (sobre mitigação).

“Apesar de dizer que a chance de 1,5 grau Celsius ainda existe, o documento também mostra que a janela para isso é estreita, e não comporta governos negacionistas”, comenta Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima, acrescentando que a linguagem do relatório reflete o sólido consenso científico sobre o problema. “Não é mais um debate sobre se as ações humanas são causa da crise climática, mas do quanto. E o quanto, estimado pela primeira vez, é estarrecedor: fomos responsáveis por 1,07 grau Celsius do total de 1,09 grau Celsius do aumento da temperatura desde a era pré-industrial”.

Ao apresentar o estado das mudanças climáticas, o mais recente relatório – o último documento fora publicado em 2013 – do IPCC aprofundou detalhes sobre os eventos climáticos extremos, incluindo dados sobre poluição do ar urbano e seus impactos. As informações também foram regionalizadas. O cenário traçado para o Brasil é recheado de notícias ruins: o Nordeste corre o risco de sofrer um processo ainda mais drástico de desertificação enquanto no Centro-Oeste a região pode ser atingida por onda extremas de calor, o que impactará na balança comercial brasileira, devido a força do agronegócio nas contas nacionais.

Depois da divulgação deste relatório, o Brasil chegará na COP26 numa situação ainda mais desconfortável perante o mundo. Não bastasse ter sido apelidado de o “negacionista mais perigoso do mundo”, o presidente Jair Bolsonaro, segundo Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, deverá sair da conferência com o status de ameaça climática global.

“Os resultados do IPCC implicam que a redução drástica do desmatamento na Amazônia será um elemento essencial na conta da estabilização do clima nos próximos anos. Para azar da humanidade, o presidente do Brasil é Jair Bolsonaro, que quer ver a floresta no chão. Para azar de Bolsonaro, os brasileiros e o restante do mundo não vão aceitar isso calados”, conclui Astrini.

O relatório apontou que, atualmente, oceanos e ecossistemas terrestres absorvem 70% das emissões. No futuro podem absorver somente 38%, o que acelera o aquecimento global. Pela primeira vez o relatório divulgou, conjuntamente com os dados globais, uma análise minuciosa sobre os impactos regionais no Atlas de Mudanças Climáticas.

Estrada submersa no oeste da Alemanha: especialistas analisam enchentes provocadas por chuvas "extraordinárias" no verão europeu (Foto: Sebatien Bozon / AFP - 17/07/2021)
Estrada submersa no oeste da Alemanha: especialistas analisam enchentes provocadas por chuvas “extraordinárias” no verão europeu e sua ligação com a crise climática (Foto: Sebatien Bozon / AFP – 17/07/2021)

O alerta vermelho do IPCC

1. Do aquecimento de 1,09º C observado atualmente (2011-2020) em comparação com o período pré-industrial (1850-1900), 1,07ºC provavelmente deriva de ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento.

2. Cada uma das quatro últimas décadas foi mais quente que todas as anteriores desde 1850. Entre 2011-2020, o aquecimento da temperatura sobre os continentes é de 1,59ºC em média, contra 0,88ºC sobre o oceano.

3. A influência humana provavelmente contribuiu para o aumento da umidade na atmosfera. A precipitação aumentou desde os anos 1950, e, mais aceleradamente a partir dos anos 1980.

4. Os oceanos aqueceram nos últimos 50 anos e é extremamente provável que a influência humana seja o principal causador desse aquecimento, bem como da acidificação dos mares.

5. O nível do mar subiu 20 cm entre 1901 e 2018. A taxa de elevação saltou de 1,35 mm por ano entre 1901 e 1990 para 3,7 mm por ano entre 2006 e 2018. Desde 1900, o nível do mar subiu mais rápido do que em qualquer outro período nos últimos 3.000 anos.

6. As concentrações de CO2 (gás carbônico), CH4 (metano) e N2O (óxido nitroso), os três principais gases de efeito estufa em mistura na atmosfera, são as maiores em 800 mil anos. As concentrações atuais de CO2 não são vistas desde dois milhões de anos atrás, pelo menos.

7. A temperatura global subiu mais rápido desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos nos últimos dois milênios. As temperaturas desde 2011 excedem as do último período quente longo, 6.500 anos atrás, e se igualam às do período quente anterior, 125 mil anos atrás, quando o manto de gelo da Groenlândia desapareceu quase totalmente

8. Na última década a cobertura de gelo marinho no Ártico chegou a sua menor extensão desde 1850 e, no verão, ela é a menor em mil anos. O derretimento de geleiras atual, com quase todos os glaciares do mundo recuando ao mesmo tempo desde os anos 1950, é o mais acelerado em 2.000 anos.

9. A frequência e a intensidade de extremos de calor e a intensidade e duração de ondas de calor aumentaram na maior parte do globo desde 1950, enquanto os extremos de frio ficaram menos frequentes e menos severos

10. É provável que a proporção de ciclones tropicais (furacões) intensos (categorias 3 a 5) tenha crescido nas últimas quatro décadas e que essas tempestades no noroeste do Pacífico tenham se deslocado para o norte

FONTE PROJETO COLABORA

Uma cidade envenenada: a história desconhecida de um dos maiores desastres ambientais do Brasil

Centenas de toneladas de agrotóxico cancerígeno foram esquecidas nos anos 60 pelo governo federal na área de um orfanato; moradores ainda sofrem efeitos na saúde

Um portal em arco amarelo de arquitetura mexicana separa a Cidade dos Meninos do resto do mundo. Erguida na década de 1940 às margens do quilômetro 12,5 da Rodovia Presidente Kennedy, aquela estrutura com pintura desgastada separa o estado do Rio de Janeiro de uma área federal esquecida no tempo. Dois seguranças param qualquer carro desconhecido que busque entrar na pequena comunidade. Perguntam o nome dos forasteiros, para onde vão e qual a relação com os moradores. 

Lá dentro existe uma área rural no meio da Baixada Fluminense, uma das regiões mais violentas do país. Mas aqui a sensação é de paz e de um enorme silêncio. Toda a comunidade, onde moram 1400 famílias, é cortada por uma estrada de terra, a avenida Darcy Vargas. A primeira-dama de Getúlio Vargas recebeu a homenagem por ter iniciado na década de 1930 o projeto de construir um internato para órfãos que deu origem à comunidade. 

Hoje não há mais internos na Cidade dos Meninos. Pelo contrário; é como se aquela comunidade enfrentasse uma maldição que impede qualquer criança de frequentar uma escola erguida sobre aquele solo. “Um monstro invisível”, é o que contam por lá. 

‘Nós usávamos o pó de broca para tudo. Colocávamos nas casas para matar mosquito, (no cabelo) se a criança tinha piolho’, Maria Sarmento, de 93 anos, moradora

A comunidade é o palco de um dos maiores desastres ambientais do Brasil. Mas, à diferença de outras contaminações por substâncias tóxicas, como o caso Césio-137, em Goiânia, a história da Cidade dos Meninos foi esquecida. E o problema segue sem solução até hoje. 

O primeiro alerta do desastre que selou a história do orfanato e dos moradores está em uma placa, a menos de 1 quilômetro da entrada: “PERIGO – ÁREA CONTAMINADA”. 

Uma descontaminação sem sucesso ocorreu há mais de 25 anos. Desde então, governo e imprensa esqueceram a tragédia ambiental da Cidade dos Meninos (Fotos: Dado Galdieri//Hilaea Media)

Os telefones de emergência que constam no aviso já não funcionam mais. A placa foi instalada há quase três décadas, e marca também a última vez que o Governo Federal tirou do papel algum projeto para controlar a contaminação por hexaclorociclohexano, o HCH. Um pozinho branco, de aparência inofensiva, trata-se de um agrotóxico organoclorado mais conhecido como “pó de broca”– o nome vem de um besouro que ataca o cafezal, a “broca do café”. 

Nos tempos de glória, a Cidade dos Meninos chegou a abrigar mais de 1.200 órfãos. Nas cinco décadas em que funcionou, foi o lar de cerca de 5 mil órfãos e crianças retiradas das ruas do Rio de Janeiro e de outros estados do Brasil. Além deles, a comunidade acolheu também os funcionários do orfanato, que ganharam casas na região e construíram família. No começo dos anos 1990, a população beirava 5 mil pessoas. 

Logo no ano da inauguração do abrigo, o Ministério da Saúde e Educação instalou o Instituto de Malariologia em oito pavilhões desocupados do orfanato. Inicialmente apenas pesquisas sobre malária seriam realizadas ali. Mas, munidos pelo desejo de transformar o Brasil em uma “potência industrial”, três anos depois as instalações passaram a ser usadas para produzir inseticidas organoclorados, como o HCH e o DDT – que hoje são proibidos em todo o território nacional – para matar o mosquito que transmite a malária.  

Uma década depois, a fábrica fechou as portas. Os funcionários foram transferidos para Manguinhos, também no Rio de Janeiro, deixando para trás materiais de escritório, móveis e dezenas de tonéis de papelão contendo cerca de 400 toneladas de pó de broca puro. 

“Os moradores diziam: se fosse perigoso, o governo não deixaria aqui”, explica Miguel da Silva, uma liderança na comunidade. “Nós usávamos o pó de broca para tudo. Colocávamos nas casas para matar mosquito; se a criança tinha piolho, ou raspava o cabelo ou metia pó de broca. Era um santo remédio”, relembra dona Maria Sarmento, de 93 anos, uma das moradoras mais antigas da comunidade. 

Nas mãos das crianças, o veneno virava brinquedo. Elas jogavam as pedras do pó umas nas outras, como numa partida de paintball. Até em reformas e obras públicas o veneno foi usado. Pelo menos 360 toneladas de pó de broca foram espalhados pela Cidade dos Meninos em pouco mais de 20 anos.

Mas, diferentemente do que era dito pelos moradores na época, o pó de broca não era um “santo remédio”. Em 1985, o agrotóxico foi proibido em todo o Brasil, e antes disso já havia sido retirado do mercado de dezenas de países. Estudos consistentes apontam que o hexaclorociclohexano pode causar câncer, má-formação fetal, abortos espontâneos e alterações no sistema nervoso. Se isso não fosse suficiente, a substância é extremamente persistente no meio ambiente e em organismos humanos, podendo levar décadas para ser degradada.

  • Crianças na cidade dos meninos
  • Quatro prédios do abrigo hoje são ocupados por famílias. Até mesmo uma igreja neopentecostal funciona em uma sala de aula abandona

Está no sangue

Sessenta anos após o fechamento da fábrica de pesticidas, o pó de broca continua na comunidade. E não só na área da fábrica ou nas paredes rebocadas com o veneno. O sangue de 95% de 1.400 habitantes testados já chegou a apresentar resíduos alarmantes da substância cancerígena, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

Houve uma iniciativa para descontaminação liderada pela Nortox, mas ela só piorou a situação. 

A contaminação fez o orfanato e as escolas públicas fecharem as portas. E, com elas, os empregos que restavam. Nem mesmo plantar ou criar animais aquele povo podia. Em 1999, todos os bichos da Cidade dos Meninos foram sacrificados para diminuir a contaminação, que passa pela carne e derivados. 

Mesmo assim, ainda tem gente na Cidade dos Meninos. Os “nativos”, como são chamados os moradores mais antigos, travam uma luta que dura décadas para continuar na comunidade mesmo em meio ao descaso do governo e ao número alarmante de casos de câncer. 

No lugar onde no passado ficava a fábrica de agrotóxico, hoje existe uma plantação de eucaliptos, feita sob medida para ser uma espécie de muralha natural, impedindo que o vento sopre resíduos de agrotóxicos para o resto da comunidade. 

“Não tem como errar a minha casa. Se você não achar, é só perguntar pra alguém onde mora o ‘Miguel do pó’, que vão te mostrar”, diz Miguel.

Em 1999, todos os bichos da Cidade dos Meninos foram sacrificados para diminuir a contaminação

À margem da estrada de chão batido cercada pelo verde, ouve-se rock nacional dos anos 1980, e uma tenda colorida e paredes com pinturas explicam o que  Miguel quis dizer com “não tem como errar a minha casa”. 

Ele mora na “casa da bruxinha” uma residência que estampa a pintura de uma bruxa na parede. Ao lado, no mesmo terreno, fica a Toca do Raul, uma espécie de bar e restaurante criado pela sobrinha, Fernanda de Barros, em homenagem ao roqueiro Raul Seixas. 

“Usavam para me zoar. ‘Miguel do pó’ porque eu só falava do pó de broca”, explica Miguel. Realmente, ninguém falou e brigou tanto contra a contaminação quanto ele.

Miguel participou de diversas ações judiciais para descontaminar a área. Contou a história da Cidade dos Meninos em palestras, audiências públicas e reuniões com vereadores, deputados estaduais, federais e até mesmo com ministros da Saúde. Ele assumiu a posição de porta-voz da população com o governo e viajou a Brasília diversas vezes a convite do governo federal para discutir o futuro da comunidade. Em 1992, conseguiu trazer o então ministro da Saúde, Adib Jatene, para conhecer pessoalmente a área contaminada. 

“Quem tem que sair é o pó, não é a gente”, responde, quando indagado por que ele e a família continuam ali. Miguel é vizinho da antiga fábrica de agrotóxicos. Todas as moradias que ficavam mais próximas à área foram desapropriadas e derrubadas. 

Vizinho do veneno: Miguel mora na casa mais próxima a área da antiga fábrica

Lutar por décadas pela descontaminação da Cidade dos Meninos não trouxe aplausos. Pelo contrário: até ameaça de morte ele já recebeu. “Um conhecido falou no bar ‘esse Miguel não tem jeito, só matando mesmo’, e o dono do bar ouviu só essa parte e espalhou que eu estava jurado de morte. A história cresceu, saiu na mídia e em todo canto”, diz. 

Aos 58 anos, Miguel já passou por poucas e boas. Experiências que o tornaram um exímio contador de histórias. Ele é formado em geografia, já serviu o Exército, foi secretário de Meio Ambiente de Duque de Caxias e se candidatou a vereador só para usar o tempo da propaganda obrigatória para falar sobre pó de broca.

“Nasci em 63, em Madureira, e vim pra cá em 65. Aprendi a andar na Cidade dos Meninos”, conta Miguel, enquanto puxa uma cadeira do bar. 

Filho de açougueiro, ele chegou com a família ainda pequeno, convidado por um tio, funcionário do abrigo. “Ele dizia que aqui não dava para passar fome. Você plantava e criava o que ia comer.” Miguel estudou no Colégio Municipal Sarah Kubitschek, junto com os órfãos. “Eles tinham vida boa, cinco refeições ao dia. Quando eu brigava com a minha mãe, pedia para ser colocado no abrigo”, conta, rindo. 

O abrigo para meninas virou “Cidade dos Meninos”  

Aos 93 anos, Maria Sarmento é a mais velha moradora da comunidade. Ao receber a reportagem, ela tem nas mãos um álbum de fotografias. O dedo enrugado de unhas vermelhas aponta para uma imagem em preto e branco. “Aqui tinha um laguinho, mas foi aterrado por culpa do pó de broca. Não podia ter mais nem peixe”, explica. 

A família chegou à região em 1949, dois anos após a abertura do abrigo para órfãos. Ela era auxiliar de enfermagem e seu marido, Mário, era enfermeiro. “Quando abriu a fábrica do pó de broca, tinha que ter uma parte de saúde no abrigo, vinhemos para cuidar dos meninos”, conta dona Maria. 

Moradora mais antiga da Cidade dos Meninos, Maria Sarmento trabalhava na enfermaria do orfanato

“A Cidade dos Meninos quase foi ‘Cidade das Meninas’”, relembra. A primeira-dama Darcy Vargas, esposa do então ditador Getúlio Vargas, foi a idealizadora do projeto original. Seriam construídas 80 residências de grande porte. Em cada uma, uma família seria responsável por criar 20 meninas órfãs. Quando elas chegassem à maioridade, assumiriam uma residência própria, onde passariam a criar outras 20 garotas, dando continuidade ao projeto.

A partir de 1939, Darcy passou a organizar eventos para angariar donativos para a construção do complexo. Ao lado do portal de arquitetura mexicana, ela construiu uma casa de chá, onde reunia socialites e empresários brasileiros para fazê-los abrir a carteira. Oito residências chegaram a ser erguidas, mas nunca receberam uma órfã sequer. O fim do governo Vargas, em 1945, frustrou os planos da então primeira-dama. 

No ano seguinte, Levy Miranda, presidente da Fundação Abrigo Cristo Redentor e amigo pessoal de Darcy Vargas, recebeu o terreno da fundação da ex-primeira-dama e deu continuidade ao projeto. O orfanato foi inaugurado em 1947. Apenas para meninos. 

Existem diversas explicações para a mudança. A oficial, registrada na biografia de Miranda, é que seria “muito difícil e de maior responsabilidade assumir o compromisso de dar assistência a jovens do sexo feminino”. Moradores e historiadores dizem que a fundação tinha receio que as órfãs acabassem engravidando enquanto estavam internadas; era prioridade investir na mão de obra masculina para a expansão econômica; e era mais fácil dar uma destinação aos meninos quando eles completassem 18 anos, mandando-os para o Exército. 

Dona Maria mora em uma das casas construídas para a “Cidade das Meninas”. Sentada em uma cadeira em frente a uma grande janela azul, ela mostra a espaçosa sala de estar. “É uma casa muito boa, muito bem construída. Aguenta até furacão. Mas é enorme, foi feita para 20 meninas.” É tão grande que foi dividida em duas. Ela mora na da frente, e na parte de trás mora Tereza da Silva, de 85 anos. Ao ouvir o barulho dos visitantes, Terezinha logo aparece na varanda da vizinha. 

Dona Tereza chegou em 1960 ao lado do marido, que foi órfão no abrigo e retornou anos depois como funcionário da instituição. “Tinha muita vida aqui, muita festa. Festa da igreja, forró”, diz Terezinha. “Meu marido morreu, mas hoje eu moro aqui com as minhas netas, e mais um monte de mulher vem me visitar.” 

O abrigo abriu as portas antes mesmo de ser totalmente construído. Em 1953, concluiu-se o pavilhão Instituto Nossa Senhora da Paz; em 1955, o Instituto Dom Bosco; em 1958, a Escola Darcy Vargas; em 1964, o Instituto Profissional Getúlio Vargas. A moradia dos meninos se dividia nesses quatro institutos, onde eles eram separados por idade e grau de instrução. 

Além de estudar, dormir e fazer refeições, eles participavam de cursos profissionalizantes de mecânica, tornearia, soldagem, serralheria e etc. O foco das atividades extraclasse era na área agrícola. A comunidade plantava os próprios alimentos e tinha criações de gados, aves e suínos. Eles produziam todo alimento que consumiam, e ainda sobrava para vender aos municípios vizinhos. 

Os alunos que trabalhavam nas lavouras recebiam remuneração pelo trabalho e eram orientados a depositar os ganhos em uma caderneta da Caixa Econômica para terem uma poupança quando deixassem o orfanato. 

Uma fábrica de veneno

Muito antes da pandemia de Covid-19, a malária ocupava o posto de principal doença infecciosa no país. Na primeira metade do século passado, a região da Baixada Fluminense era um dos maiores focos da doença. Foi nesse contexto que o Ministério da Educação e Saúde aproveitou oito pavilhões desocupados da Cidade dos Meninos para instalar o Instituto de Malariologia em 1947 – mesmo ano da fundação do orfanato. 

O instituto tinha como objetivos “realizar estudos, pesquisas e investigações sobre a malária”. Assim, criou-se uma fábrica de inseticidas no local apenas dois anos depois de ter aberto as portas, em 1949, segundo o que é descrito em um relatório do Ministério da Saúde de 2002

“Vamos libertar a economia nacional dos pesados encargos da importação de produtos químicos”, afirmou Pedro Calmon, ministro da Educação e Saúde do governo Eurico Gaspar Dutra, durante a inauguração da fábrica do agrotóxico HCH no meio da Cidade dos Meninos. 

Em ofícios datados de 1947 a 1960, a fundação fez diversas reclamações ao Ministério da Educação e Saúde. Diziam que a área do instituto estava sendo ampliada sem consentimento, reclamavam da proximidade do inseticida com os menores residentes nos abrigos e relataram ainda que parte dos funcionários da fábrica servia de mau exemplo para os menores internos. 

A fábrica do Instituto de Malariologia foi depois ampliada e sua gestão, transferida para o Departamento Nacional de Endemias Rurais, do Ministério da Saúde. O número de inseticidas produzidos aumentou. Passaram a ser fabricados diversos produtos químicos, como pastas do inseticida DDT e de BHC, 1080 (monofluoroacetato de sódio) e cianeto de cálcio – todos, subprodutos do HCH. A fábrica  começou a produzir também medicamentos, como penicilina, tetraciclina e outros. 

A produção só foi totalmente encerrada em 1960, devido a diversos pedidos da Fundação Abrigo Cristo Redentor. O setor de medicamentos foi transferido para Manguinhos, na cidade do Rio de Janeiro. 

Darcy Vargas é homenageada com uma estátua e no nome da avenida que corta a Cidade dos Meninos

O mesmo não aconteceu com as instalações da fábrica de agrotóxicos. Equipamentos, tambores contendo matérias-primas e rejeitos dispostos inadequadamente sobre o solo foram abandonados nas instalações da Cidade dos Meninos. 

Na época, os problemas causados pelos pesticidas eram pouco conhecidos. “Hoje se sabe que essas substâncias são extremamente prejudiciais à saúde”, explica a doutora em saúde pública e meio ambiente da Fiocruz Ana Cristina Simões Rosa. “A estrutura química delas é similar aos nossos hormônios naturais, o que facilita a entrada nas vias do metabolismo”, explica. Uma vez no corpo, as consequências são enormes. “É uma substância cancerígena. Ela atua na desregulação do sistema endócrino e em alterações no sistema nervoso e neurocognitivos”, completa. 

As agências reguladoras descobriram também outra característica preocupante das substâncias: a acumulação no meio ambiente. “Os organoclorados têm uma estrutura química muito estável no meio ambiente e no corpo humano, e por isso demoram anos para se degradar. Usar como inseticida uma substância que não se degrada no meio ambiente é uma bomba”, completa a pesquisadora da Fiocruz. 

Mas o Brasil só foi proibir o pó de broca na agricultura em 1985, e o produto foi usado em campanhas contra doenças até 1995. 

Autora de um dos principais trabalhos acadêmicos sobre a Cidade dos Meninos, a pesquisadora Rosália Maria de Oliveira explica que, mesmo com os avisos da comunidade científica, o governo usou com descuido os agrotóxicos organoclorados pela crença no “progresso”. “O campo de visibilidade das autoridades científicas era delimitado pela crença nos benefícios trazidos pelos avanços científicos e tecnológicos”, diz. 

  • Mais de mil pessoas moram hoje na Cidade dos Meninos. Amanda da Silva arruma o cabelo do irmão em frente ao Instituto Dom Bosco, onde vive com a família
  • “É um bom lugar para construir família”. Longe da violência da Baixada Fluminense, moradores não querem abandonar a Cidade dos Meninos

“A nossa brincadeira aqui era guerra de pó de broca”

Com a chuva e o sol, os tonéis de papelão desintegraram, e o pó de broca ficou jogado no chão. Outras substâncias químicas também foram esquecidas na fábrica, mas até hoje não se sabe ao certo quais. Só de HCH, eram de 300 a 400 toneladas, de acordo com a Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente (Feema) do Rio de Janeiro.

Sem nenhum aviso ou placa que alertasse sobre o perigo, a população entrava e saía da antiga fábrica. “A nossa brincadeira aqui era guerra de pó de broca. Tinha muito lugar para se esconder dentro da fábrica, então íamos para lá. O pó de broca esfarelava quando acertava em alguém. Então pegava no chão e largava em cima do colega”, conta Miguel, enquanto caminha pelo mato próximo à área da fábrica. 

As crianças apertavam as válvulas dos cilindros de cloro para ver o “gás amarelo” sair e jogavam umas nas outras. Encontrados em gavetas, pós das mais variadas cores eram tratados como relíquias. 

A família de Miguel era uma das que acreditavam que o agrotóxico era remédio, e o veneno foi usado até mesmo na cabeça do menino para matar piolho. “Agora eu tô quase careca, mas eu tinha o cabelo grande”, conta rindo. “Misturava o pó de broca com banha de porco, faz aquela pasta, bota um pouquinho de enxofre amarelinho que tinha também lá no chão da fábrica, bota na cabeça e amarra um saco para dar uma abafada. Agora imagina, se a gente se contamina botando a mão no pó ou comendo uma goiaba que tem por aqui, imagina colocando na cabeça. É uma overdose de pó de broca”, completa. 

Adultos e funcionários do abrigo  aproveitavam o local da fábrica e os materiais deixados também para pegar telhas para construir barracos ou galinheiros. “Como não tinha ninguém aqui para vigiar, o produto deixado lá virou de todo mundo”, conta. 

O pó de broca foi parar até nas feiras de rua de Duque de Caxias, onde era vendido por moradores em pacotes enrolados com jornal. E foi isso o que levou o caso à imprensa – mas apenas em 1988. Deu no jornal Última Hora, com o título “Pó tóxico ameaça um bairro”. A matéria fala sobre a comercialização do pó de broca na feira, relata que crianças da Cidade dos Meninos sofriam de problemas respiratórios, alérgicos, tonturas e enjoos. Os moradores relatavam que a carne e o leite dos animais da região têm “cheiro e sabor desagradáveis”.

Mas a história conseguiu repercussão apenas em julho de 1989, quando os jornais O DiaO Globo e Jornal do Brasil começaram a publicar sobre a contaminação. Nesse mesmo mês, a Feema vistoriou o local e encontrou cerca de 40 toneladas de pó de broca puro. O produto foi retirado e levado para ser incinerado em São Paulo. A Feema estimou que cerca de 350 toneladas do produto químico estavam espalhadas e recolheu amostras de solo e frutas da Cidade dos Meninos. O resultado mostrou  a presença de HCH em todos os resíduos analisados. 

Foi assim que a Fiocruz entrou no caso. Três anos depois, resultados de exames laboratoriais identificaram a presença de HCH em amostras de sangue de 31 pessoas de sete famílias que moravam a até 100 metros da antiga fábrica. 

Mas o interesse do público na Cidade dos Meninos não durou muito tempo. A tese de doutorado da pesquisadora da Fiocruz Rosália Maria de Oliveira analisou todas reportagens publicadas sobre a contaminação entre a década de 1940 e 2006, ano da publicação do trabalho. A imprensa acompanhou de perto o caso no começo dos anos 1990, mas com o passar dos anos o número de publicações diminuiu e a tragédia começou a ser esquecida mesmo sem ter sido solucionada.   

Miguel pega um pedaço de pau e cutuca o chão que era da antiga fábrica. “Olha, isso aqui é pó de broca, pó de broca puro”

Miguel do Pó perdeu dois irmãos para o câncer

Na mesma época em que foi descoberta a contaminação, uma tragédia transformou o jovem Miguel no “Miguel do Pó”. “Meu irmão caçula morreu de câncer no fígado. Ele tinha só 19 anos. Quando descobrimos o que o pó de broca pode causar, imaginei que a morte dele poderia ter alguma relação. E isso me causou uma grande revolta”, diz. 

No começo deste ano, Miguel perdeu mais um irmão. O mais velho. “Ele começou a construir uma casa aqui, pra viver até morrer. Ele enfrentou o câncer de pulmão por muito tempo, mas com isso o corpo ficou fraco e ele morreu do coração”, diz ao mostrar a estrutura de uma casa inacabada. A residência era localizada ao lado da cerca que separa a área da antiga fábrica de agrotóxicos. “Ele não acreditava no pó de broca. Pelo menos umas 18 pessoas morreram por decorrência de câncer por aqui”, conta. 

Um estudo feito em 2002 pelo pesquisador da Fiocruz Sergio Koifman relacionou a exposição ao pó de broca à ocorrência de câncer na região. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, moradores que residiam a até 12 km da área da fábrica apresentaram aumento da mortalidade por câncer de pâncreas, fígado, laringe, bexiga e tumores hematológicos em homens, e de câncer de pâncreas e tumores hematológicos em mulheres, na comparação com grupos populacionais que viviam em áreas mais afastadas. 

Liderados por Miguel, em 1990 os moradores iniciaram uma ação civil pública impetrada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro contra a União por danos causados à saúde e ao meio ambiente. 

A Procuradoria-Geral de Justiça do Rio de Janeiro também instaurou inquérito civil para apurar os danos à saúde e ao meio ambiente causados pelo HCH.  Foi reconhecida a responsabilidade do Ministério da Saúde pelo abandono do produto na área. Em 1990, a Justiça solicitou à pasta que adotasse medidas urgentes para diminuir a exposição da população e do ambiente.

Do processo nasceu a cerca que isola a área da fábrica. Em 1995, a proteção foi construída ao redor de 40 mil metros quadrados, apenas na área da fábrica, e cinco anos depois foi ampliada para 70 mil metros quadrados, pegando também as moradias de dez famílias vizinhas. 

Feita de concreto, com uma tela de aço armada para não deixar passar animais nem humanos, a obra nunca recebeu manutenção. Prova disso são os vários buracos que deixam a passagem livre para o foco da contaminação. 

Os animais de uma fazenda vizinha entram na área contaminada para pastar. “O leite dessas vacas é vendido por aí. Tanto o leite quanto o queijo”, diz Miguel. “Deveríamos montar uma banquinha e vender os produtos da Cidade dos Meninos em frente ao Ministério da Saúde. Só assim pra dar barulho”, completa. 

Quando o HCH contamina o solo, os animais que comem a grama são contaminados. “Se for um mamífero, como uma vaca ou um humano, essa substância vai se acumular no tecido gorduroso. No ato da amamentação, esse tecido é mobilizado, e a substância é passada pelo leite”, explica a pesquisadora da Fiocruz Ana Cristina. 

Cheiro de mofo e naftalina

A fábrica foi afinal demolida em 1995. Mas no local ainda dá para sentir um odor forte que parece uma mistura de naftalina e mofo. “Quase 30 anos depois da demolição e retirada do pó de broca, ainda dá pra sentir o cheiro”, comenta Miguel. Ele pega um pedaço de pau e cutuca o chão. “Olha, isso aqui é pó de broca, pó de broca puro”, fala enquanto passa o dedo no pó branco. Na mesma área, há ainda um esqueleto de algum animal que morreu por ali. 

A natureza tomou conta do território da antiga fábrica. Hoje, pés de goiaba e tangerina dividem espaço com algumas estruturas que ainda ficaram de pé. “Se eu encontrar uma fruta, vou te dar para comer. Não é um veneno que come e cai babando não, é bioacumulativo”, diz, rindo, para o repórter. Significa que o efeito não é imediato, a substância é absorvida pelo organismo e pode gerar doenças crônicas se acumulada em grande quantidade.

No chão ainda há embalagens plásticas de produtos usados na fábrica e pedaços das bombas de cerâmica que guardavam algumas substâncias químicas. “A gente se escondia dentro dessas bombonas aqui. O que tinha dentro delas antes a gente nunca vai saber”, diz. 

Enquanto mostra os escombros da fábrica, Miguel relembra que no mesmo dia em que recebeu do governo a notícia de que a verba para a obra havia sido liberada, em 1993, a Justiça decidiu fechar todas as escolas e o orfanato da Cidade dos Meninos. “Muita gente acha que é minha culpa. Dizem que eu fui o responsável por fechar as escolas, por acabar com o abrigo. Até hoje tem gente que pensa isso.” 

Vinte e cinco anos anos depois do fechamento, Miguel ainda tem que explicar para os vizinhos que não foi o responsável.

“Eu nasci depois que a fábrica foi fechada, não fui eu que deixei esse veneno aqui”, desabafa. 

Sem crianças: fezes de animais cobrem todo chão do Instituto Margarida, ocupado hoje apenas por árvores e pássaros

O fechamento total do orfanato só ocorreu em 1996, quando o Ministério da Previdência e Assistência Social extinguiu todos os convênios assinados pela Legião Brasileira de Assistência, que administrava a área. Com isso, cerca de 650 crianças que continuavam nas instalações foram transferidas. O abrigo da Cidade dos Meninos foi definitivamente desativado.

Veneno no sangue 

O que embasou a decisão da Justiça de fechar o orfanato foi uma pesquisa da Fiocruz que analisou o sangue de 186 internos da fundação e identificou em um quarto das amostras concentrações de HCH muito acima dos níveis encontrados em crianças da mesma faixa etária, mas que viviam em regiões onde não havia foco de contaminação. O que provava que a fábrica abandonada havia de fato contaminado os alunos. 

Um dos integrantes das últimas turmas do internato é o Rômulo de Carvalho, que continua morando na Cidade dos Meninos. Rômulo tinha 14 anos quando chegou ao orfanato, em 1989. 

“Eu não tinha família, não tinha ninguém”, conta. Hoje ele tem 46 anos e mora no antigo prédio do Instituto Getúlio Vargas. “Aqui era show de bola, não faltava nada pra gente. Estudava de manhã e à tarde tinha atividade pra fazer, trabalhávamos com horta, padaria e em estábulo. Tinha de tudo”, relembra. O pavilhão onde ele morava tinha aulas de música, biblioteca e até mesmo teatro.

“Até gostaria de sair, mas não tenho condições”. Rômulo dorme onde antes era a sala do diretor do Instituto Getúlio Vargas

Em 1993, após a decisão judicial, ele foi realocado para o Abrigo de São Bento, no centro do Rio de Janeiro, onde ficou por poucos meses, até completar 18 anos. Depois disso, foi morar na rua. 

Cinco anos depois, Rômulo voltou à Cidade dos Meninos e ao Instituto Getúlio Vargas, mas dessa vez não como aluno. “Eu improvisei uma casinha pra mim”, diz, em frente à fachada da antiga escola. 

Rômulo convida a reportagem para conhecer sua casa. A sala e a cozinha ficam instaladas onde antes era a coordenadoria da escola, e o quarto onde dorme com a esposa e três filhos fica no lugar antes ocupado pela sala do diretor. 

“Nunca imaginei que um dia iria dormir na sala do diretor, mas o jeito foi improvisar. Eu até gostaria de sair daqui, mas não tenho condições”, conta, dando um sorriso tímido e ligando o ventilador usado para refrescar o cômodo que não foi estruturado para abrigar moradores.  

Rômulo está desempregado, mas faz bicos para sustentar a família. Ajuda em obras, capina lotes, pega qualquer oportunidade que aparece. “Mas com essa pandemia ficou difícil”, desabafa. 

Ele mostra que onde antes era o corredor da escola em breve será a casa da ex-mulher. “Fechei aqui e estou construindo, com a terra daqui mesmo, terrinha preta e boa. Aqui vai ser o armário dela.” 

No quintal em frente ao instituto, ele improvisou um balanço em uma árvore – um brinquedo para os filhos, uma tentativa de transformar a escola abandonada em um lar. 

“Coloquei um balanço pros meninos”. 10 famílias tentam construir um lar no prédio da antiga escola

Além dele, outras dez famílias vivem no prédio onde antes ficava o Instituto Getúlio Vargas. Dos quatro prédios do orfanato, três foram invadidos e transformados em dezenas de moradias. Uma igreja neopentecostal foi montada onde antes era uma sala de aula. 

Rômulo garante não ter medo dos efeitos do agrotóxico. “Eu como fruta daqui, goiaba, jaca. Brincava na terra, pegava pó de broca na mão para matar formiga. Muita gente aqui morre de câncer, mas ninguém sabe se é por culpa do veneno ou não. Tem pessoas idosas aqui, da época do pó de broca, que estão vivas até hoje”, argumenta. 

O ex-interno e a esposa fizeram diversos exames de sangue desde 1993, mas nunca receberam nem um resultado sequer. “É uma prova da contaminação, eles não dão, senão teriam que pagar indenização pra gente.” 

O maior lamento sobre o pó de broca, para Rômulo, é o fechamento das escolas e do abrigo. “Nosso amigo Miguel que foi levantar a poeira, incentivou que olhassem, e aí acabou fechando tudo. Se ele não mexesse, não tinha fechado, não”, diz.  

Associação de moradores

A Associação de Moradores e Amigos da Cidade dos Meninos foi criada por Miguel em 1987. Hoje, o presidente é Avelino da Silva, de 63 anos. No domingo em que a reportagem esteve na comunidade, houve uma reunião com alguns membros. Além de Miguel e Avelino, estavam presentes o diretor financeiro, Renato dos Santos, e o vice-presidente, Jair Jovelino. 

Avelino chegou à comunidade depois do fechamento da fábrica e mesmo assim apresenta resíduos do agrotóxico no corpo. “Eu tenho os documentos e exames da Fiocruz que comprovam que sofro com a contaminação do HCH. Lá em casa, eu e o meu filho estamos contaminados”, diz o presidente da associação.

Uma imagem de santa Margarida abençoa o que antes era uma sala de aula

Avelino entra em um escritório improvisado da associação para buscar uma pasta com documentos. Lá, uma imagem de santa Margarida abençoa o que antes era uma sala de aula. Ao voltar, ele caminha bem devagar. “Eu tive um acidente vascular isquêmico”, diz, explicando por que manca.

Há três anos ele ficou em coma por três dias depois de um acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI). Quando não mata na hora, o AVCI deixa sequelas como paralisias. “Um dos principais efeitos do HCH é no sistema nervoso. Eu tive esse problema, uma bolha no cérebro, mas não sei se foi por consequência da contaminação ou porque eu trabalho demais”, diz. 

Já Renato, de 69 anos, que vive na Cidade dos Meninos desde 1980, não apresentou resíduos de pó de broca no sangue. Sua esposa, que foi funcionária da fundação, testou positivo para a contaminação.  

Avelino tem sequelas de um AVCI. Contaminação por hexaclorociclohexano pode ser a causa

“Solução” trazida pela Nortox piorou problema

Em 1993, diversos órgãos federais, estaduais e municipais assinaram um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta e de Obrigações (TAC) sobre a contaminação na Cidade dos Meninos. Na primeira cláusula, o Ministério da Saúde assumia a responsabilidade pela “completa e permanente descontaminação da área denominada Cidade dos Meninos, bem como pela assistência à população afetada pela contaminação pelo HCH proveniente de sua extinta fábrica, arcando com a integralidade dos recursos necessários à implementação das medidas propostas pelos órgãos técnicos”. 

Para descontaminar a área, o Ministério da Saúde escolheu uma das maiores produtoras nacionais de agrotóxico, a Nortox Agro Química. Em 1992, a Nortox, junto à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resolveu utilizar cal virgem para cobrir a contaminação. 

Antes da aplicação, a Nortox fez análises cromatográficas em 26 amostras de solo contaminado às quais foram misturadas cal em laboratório. Os testes mostraram uma desativação da ordem de 72% de HCH após 22 dias da aplicação da cal, em condições de laboratório. 

A operação se tornou um evento na comunidade, e os moradores acompanharam de perto a demolição da fábrica e a aplicação de cal, que ocorreu em setembro de 1995. “Demoliram tudo, fizeram uma montanha de entulho. Aí eles furaram um poço, jogaram tudo dentro, ligaram uma bomba que jogou o cal virgem em cima de tudo. Misturaram e regaram todo dia, depois que o cal encobriu tudo, eles fizeram a terraplanagem”, detalha Miguel. 

Miguel conta que o período da ação da Nortox foi a “pior época” para os moradores. “Eles criaram um problema maior. Foi o período que mais vizinhos morreram”, garante. Vários vizinhos ouvidos relataram a mesma situação. 

Como morava na casa mais próxima à fábrica, Miguel acompanhou os técnicos da Nortox até o local. “Eles ficaram surpresos com a quantidade de substância, diziam: ‘O cheiro tá forte, é organoclorado, tá em tudo que é profundidade, vamos cavar 5 metros aqui e ainda vamos achar’.” 

Miguel contou a pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) o que ouviu, temendo que a solução adotada pela empresa não funcionasse – o que acabou sendo confirmado. Pesquisadores da PUC e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) levaram o caso à Procuradoria da República no Rio de Janeiro. Eles alegavam que o processo de aplicação de cal virgem poderia resultar na formação de compostos mais tóxicos e voláteis, além de aumentar a possibilidade de contaminação das águas subterrâneas e ampliação da área contaminada. 

O Ministério da Saúde afirmava que o tratamento havia removido 98% dos contaminantes. E a Nortox corroborou. “Tendo em vista a situação que prevaleceu no local por longos 30 anos, as quantidades existentes do tóxico ativo já não representam mais qualquer ameaça à população e ao meio ambiente”, declarou a empresa em 1996, em um relatório sobre a descontaminação. 

Mas pelo menos dez pesquisas feitas nos anos seguintes comprovaram que o tratamento com cal foi ineficaz. Duas delas são dissertações de mestrado apresentadas à Fiocruz em que são relatadas análises de amostras de solo coletadas no período de 1994 a 1999. O terceiro foi o relatório “Investigação de áreas contaminadas por HCH – Cidade dos Meninos”, feito pela Feema, Cetesb e a Agência Alemã de Cooperação Técnica. 

A análise feita pela pesquisadora da Fiocruz Lúcia Helena Pinto Bastos em 1999 foi além e mostrou que a tentativa frustrada de tratamento feita pela Nortox piorou a situação. Em 1989, a Feema havia determinado que a área contaminada era de 13 mil metros quadrados. Porém, a área na qual a Nortox enterrou os rejeitos da demolição da fábrica tratados com cal era de 33 mil metros quadrados. Como a descontaminação não foi bem-sucedida, toda terra que entrou em contato com o produto acabou contaminada, triplicando o tamanho da área afetada. 

“Mesmo após o tratamento, o odor de mofo, característico do HCH, permanecia na área foco, indicando a ineficácia do processo. Além disso, considerando-se a estabilidade química do HCH, tornava-se improvável que a reação química de degradação do HCH a triclorobenzenos (TCB), na presença de cal, ocorresse em condições ambientais brandas e sem controle reacional”, identificou o estudo

Procurada, a Nortox respondeu que não se pronunciará a respeito do assunto.

Como a contaminação continuou, o Ministério da Saúde passou a procurar novos métodos para remediar a área. A pasta consultou as embaixadas do Japão, Alemanha, Países Baixos, Estados Unidos da América, Reino Unido e Canadá. Mas até hoje nenhuma proposta foi executada. 

Meio século depois, 73% dos moradores continuam contaminados

Em 2000 o Ministério da Saúde realizou uma grande avaliação de risco no solo, água, ar, alimentos e no sangue da população da Cidade dos Meninos. O resultado só saiu em 2005, sob grande pressão dos moradores, que ameaçavam entrar na Justiça com um mandado de busca e apreensão dos laudos.

Os testes laboratoriais foram feitos pela Fiocruz. O resultado mostrou que aproximadamente 95% dos 1.400 moradores testados estavam contaminados, com 30% apresentando níveis elevados de toxicidade. Em apenas 2% da população não foi encontrada evidência de contaminação. 

Ana Cristina, que atua no Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) da Fiocruz, responsável pelos testes, explica: “O estudo constatou que a população tinha alterações de hormônios da tireoide. Alteração nos hormônios da testosterona em homens e do estrógeno em mulheres”.  

A avaliação seguinte só começou a ser feita em 2018 – e por causa da pandemia ainda não foi concluída.  

Mas a reportagem teve acesso a um relatório entregue aos moradores com os resultados dos exames de sangue feitos até 2019. Setecentas e quinze pessoas participaram do teste. Foram encontrados resíduos de organoclorados, como o HCH e o DDT, em 73,5% dos casos. 

O exame trouxe boas notícias também. A contaminação é dez vezes menor do que a encontrada nos testes divulgados em 2005. “Essas moléculas vão se degradando com o passar do tempo”, explica Ana Cristina. 

Agora, os moradores reclamam do acompanhamento de saúde. Quando alguém se sente mal, o atendimento mais próximo é no postinho da comunidade, localizado próximo à igreja católica. E lá só tem um médico. De acordo com o Ministério de Saúde, a Unidade Básica de Saúde da Cidade dos Meninos emprega seis agentes comunitários, uma enfermeira, um técnico de enfermagem e um dentista, além de um auxiliar de saúde bucal.  

A reportagem questionou o Ministério da Saúde se já foram definidos novos planos de descontaminação da Cidade dos Meninos, mas não obteve respostas. 

Moradora de bicicleta na Cidade dos Meninos

“Nárnia” para os jovens 

“Nós somos um acidente ambiental”, diz Fernanda de Barros, sentada atrás do balcão da Toca do Raul. A ideia de abrir um bar na zona rural pode parecer um mau negócio, mas ela garante que não. Os clientes são principalmente colegas, um público “mais restrito”, como ela mesmo diz, e que gosta das músicas que tocam por lá. Rock antigo, na maior parte do tempo. 

“Aqui é muito bom de morar, não tem perigo, não tem bala perdida”, diz enquanto vê o filho de 5 anos brincar no quintal. “É um bom lugar para construir família”, completa. 

Do outro lado do portão de entrada da Cidade dos Meninos, a Baixada Fluminense reúne os maiores índices de criminalidade do Rio de Janeiro. É onde ocorrem mais assaltos de pedestres e roubos de carros e ônibus no estado. Um relatório da plataforma Fogo Cruzado mostrou que foram registrados 1.033 tiroteios na região apenas em 2020: 293 pessoas morreram, oito destas foram vítimas de balas perdidas. E seis eram crianças. Duque de Caxias foi o município que mais registrou tiroteios. 

Os dados ajudam a explicar por que grande parte dos “nativos” pensa como Fernanda. Eles não veem motivos para sair da comunidade, mesmo vivendo há décadas sob risco de ter a casa desapropriada, como já aconteceu com muitos moradores. 

Quando os funcionários vieram trabalhar no orfanato, receberam casas para morar, e décadas depois o governo disse que precisava dos imóveis de volta. “Eles tiravam a família da casa e depois derrubavam. Ou seja, não estavam precisando. Eles só queriam tirar o povo daqui”, conta Miguel.

Em 1999, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), responsável pela área, instituiu uma comissão técnica, junto ao governo do Rio de Janeiro e o município de Duque de Caxias, para definir o futuro uso da área da Cidade dos Meninos. No ano seguinte, dez famílias foram removidas da área próxima à antiga fábrica. O Ministério da Saúde assinou um termo de responsabilidade para pagar o aluguel de imóveis para essas dez famílias até que novas residências fossem construídas em áreas descontaminadas da Cidade dos Meninos. 

O que nunca aconteceu. 

Em 2003, quase 400 moradores fizeram um cadastramento para serem removidos da área e receberem indenização. 

O que também nunca aconteceu. 

“Os moradores nunca fazem parte dos planos”, diz Jair Jovelino, vice-presidente da associação de moradores. Ele é “goiaba da terra”, como chamam por lá as pessoas que nasceram e cresceram na Cidade dos Meninos. “Se tivermos que sair, a associação vai lutar para sairmos com condições de morar bem lá fora. Não ser jogado em um Minha Casa Minha Vida em área comandada por milicianos. Aqui nós temos paz e tranquilidade, nada paga isso”, diz. 

Não são só os “nativos” que pensam assim. Entre os moradores mais recentes também existe identificação com a cidade. É o caso de Julia Moraes e Stefanny Souza, ambas com 22 anos. Stefanny faz faculdade de direito na parte urbana de Duque de Caxias e volta para a Cidade dos Meninos após as aulas. Recentemente, ela fez um trabalho sobre a história da comunidade. “Tinha muita coisa que eu não sabia. Um dos mortos na chacina da Candelária era órfão daqui, sabia?”, pergunta.

Elas não costumam usar o nome “Cidade dos Meninos”. Para os mais jovens, é apenas “Fundação” ou “Nárnia”. “Quando chega na Fundação à noite, tem muita neblina. Lembra o primeiro filme de Nárnia. O portal de entrada seria como o guarda-roupa que eles usam no filme para chegar em Nárnia”, explica Stefanny. 

As meninas dizem que “Nárnia” é um refúgio do resto do mundo. “Fica longe de todos os problemas lá de fora. Chegaram até a falar em tirar a gente daqui, de indenizar. Mas eu sei que não vão disponibilizar tanta grana pra pagar e todo mundo sair daqui. E quanto vão dar? Com R$ 50 ou R$ 150 mil você não compra algo tão bom quanto o que temos aqui”, diz a aluna de direito. 

Miguel e família pensam o mesmo. O maior denunciante da contaminação por agrotóxico não imagina uma vida longe da Cidade dos Meninos. Sentado novamente em um banco na Toca do Raul, ele aponta para a “casa da bruxinha”. “Quero morrer ali. Quero viver aqui até morrer. Depois quero que minhas cinzas sejam espalhadas por aqui. Sai o pó de broca, fica o pó do Miguel.” 

FONTE REPORTER BRASIL

Saiu a proposta: CNH grátis pelo DETRAN em todo o Brasil; VEJA o novo projeto

Carteira Nacional de Habilitação (CNH) gratuitamente poderá ser emitida por pessoas de baixa renda. A proposta consta no texto do Projeto de Lei (PL) nº 3.904/2019, de autoria do deputado federal Emerson Miguel Petriv (PROS-PR).

A proposta do parlamentar tem objetivo de que a carteira seja empregada em fins profissionais. A ideia é que o programa alcance todo o território nacional. Sendo assim, o projeto esclarece que todas as etapas de emissão do documento serão gratuitas, desde os exames obrigatórios.

“Para as camadas mais pobres da população a Carteira Nacional de Habilitação – CNH constitui uma oportunidade a mais de conseguir emprego, de exercer uma atividade econômica. No entanto, com as exigências criadas pelo Código de Trânsito em vigor o custo com aulas, exames, prova de direção e outros custos administrativos, tem constituído impedimento para esta parte da população acessar os serviços de habilitação”, disse o deputado.

Justificativa – CNH Social

De acordo com o deputado, o projeto de lei tem por finalidade instituir o Programa CNH Social no âmbito nacional, destinado às pessoas de baixa renda, com a finalidade de possibilitar o acesso gratuito aos serviços de habilitação para conduzir veículos automotores.(NOTÍCIAS CONCURSO)

Caixa passa a funcionar das 8h às 13 h a partir de amanhã

Banco orienta os clientes a acessarem os serviços por meio dos canais digitais

A partir desta terça-feira (18), as agências da CAIXA passarão a funcionar em novo horário, das 8h às 13h, para o atendimento a serviços essenciais. O banco reforça que não é preciso madrugar nas filas, pois todas as pessoas que chegarem nas agências durante o horário de funcionamento serão atendidas.

Os recursos do Saque Emergencial do FGTS e do Auxílio Emergencial podem ser movimentados pelo aplicativo CAIXA Tem. Os usuários que precisam atualizar o cadastro no aplicativo, podem enviar a documentação pelo próprio App.

Pagamentos em espécie

Nesta terça-feira, começa o saque em espécie do Auxílio Emergencial para os beneficiários do Bolsa Família com NIS final 1. Já no Saque Emergencial do FGTS, atualmente, podem realizar saque em espécie os trabalhadores nascidos em janeiro e fevereiro.

Os pagamentos do Auxílio Emergencial e do Saque Emergencial do FGTS seguem os calendários já divulgados. Confira nos links abaixo: 

http://www.caixa.gov.br/auxilio/
http://www.caixa.gov.br/beneficios-trabalhador/fgts/saque-FGTS/

Canais digitais

A CAIXA orienta os clientes a acessarem os serviços do banco por meio dos canais digitais. Consulte abaixo os serviços disponíveis no Internet Banking CAIXA – Internet e celular:

Estão disponíveis ainda os serviços em aplicativos para acesso a informações e transações de cartões de crédito, FGTS, benefícios sociais e habitação.

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Últimos números

Até o momento, o banco já pagou R$ 156,8 bilhões para 66,2 milhões de pessoas. Foram 223,5 milhões de pagamentos. O site auxilio.caixa.gov.br recebeu 1,62 bilhão de visitas e a central exclusiva 111 registra mais de 441 milhões de ligações. O aplicativo CAIXA | Auxílio Emergencial teve 112,7 milhões de downloads e o aplicativo CAIXA Tem, para movimentação da poupança digital, ultrapassa 202 milhões de downloads.

URGENTE! Concurso Banco do Brasil 2020 é CONFIRMADO com 120 vagas

URGENTE! Concurso Banco do Brasil 2020 é CONFIRMADO com 120 vagas

O novo edital de concurso público do Banco do Brasil (Concurso BB 2020) vai contar com 120 vagas. A informação foi confirmada na última sexta-feira, 17 de agosto, pelo Estadão. As vagas do certame, segundo informações da reportagem, vão ser oferecidas para a área de Tecnologia.

Banco do Brasil abriu concorso /DIVULGAÇÃO

edital do concurso Banco do Brasil BB 2020 deve ser publicado no terceiro trimestre deste ano, ou seja, até setembro, conforme informou fontes do Estadão. O salário do cargo será de R$3,8 mil, já com os benefícios.

A princípio, este será o primeiro edital do Banco do Brasil que não será destinado para a carreira de Escriturário. O anúncio pegou de surpresa os candidatos, visto que hoje o Banco do Brasil tem carreira de Escriturário, de nível médio, como única para ingresso.

Dessa forma, o concurso pode ser lançado de duas maneiras.

A primeira é abrindo o concurso nos mesmos moldes do último certame, quando foi aberto uma seleção para para escriturário exigindo nível médio e cobrando disciplinas de Tecnologia da Informação. Esse certame foi aberto em 2018, com remuneração de R$4.036,56.

A outra seria abrir um concurso destinado para a área de Tecnologia da Informação, com exigências específicas. O que parece que acontecerá, de acordo com a reportagem do Estadão. No entanto, ainda não é uma certeza.

De acordo com o Estado, concurso seria feito como se fosse um programa de trainee, com acompanhamento de gestores. Além disso, será possível escolher o local de trabalho, já que o Banco do Brasil estuda manter o home office após o término da pandemia.

Último edital foi aberto para área de T.I.

Oportunidade: Mais de 500 CURSOS GRATUITOS com opção de Certificado

O último edital de concurso Banco do Brasil publicado foi em 2018. O grande diferencial no concurso, no entanto, foi o bloco de Conhecimentos de Informática, que teve o maior número de questões (25) e não Conhecimentos Bancários, como aconteceu nos últimos editais.

Fundação Cesgranrio, organizadora do certame, aplicou as avaliações em Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campinas (SP), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) ou São Paulo (SP).

De acordo com o documento publicado, as oportunidades foram para lotação nas cidades de Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Para concorrer a uma das vagas, o candidato precisava ter certificado de conclusão ou diploma de curso de nível médio expedido por instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da Educação, Secretarias ou Conselhos Estaduais de Educação, (MEC), e idade mínima de 18 anos completos na data da contratação.

Etapas

concurso do Banco do Brasil BB foi composto por quatro etapas, conforme disposto a seguir:

a) 1ª Etapa: Avaliação de Conhecimentos, mediante a aplicação de provas objetivas, de caracteres eliminatório e classificatório, sob a responsabilidade da FUNDAÇÃO CESGRANRIO.Você Pode Gostar Também:

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b) 2ª Etapa: Prova de Redação, de caráter eliminatório, sob a responsabilidade da FUNDAÇÃO CESGRANRIO.

c) 3ª Etapa: Aferição da veracidade da autodeclaração prestada por candidatos(as) pretos(as) ou pardos(as), conforme edital.

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d) 4ª Etapa: Procedimentos Admissionais e Perícia Médica, de caráter eliminatório, sob a responsabilidade do BANCO DO BRASIL S.A.

A seleção foi feita através da aplicação de provas objetivas (1ª Etapa), de caráter eliminatório e classificatório, e de prova de Redação (2ª Etapa), de caráter eliminatório. As avaliações foram aplicadas no dia 13 de maio de 2018 nas cidades de Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campinas (SP), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) ou São Paulo (SP).

A primeira etapa contou com provas objetivas (70 questões de múltipla escolha), sendo (20 questões) de Conhecimentos Básicos e (50 questões) de Conhecimentos Específicos, de caráter eliminatório e classificatório, totalizando 100,0 pontos. Cada questão apresentou cinco alternativas (A; B; C; D e E) e uma única resposta correta.

SE LIGA! Renda Brasil de R$300,0: Para receber será necessário se inscrever no CadÚnico

Os brasileiros que se interessarem no Renda Brasil, programa social do governo que dará lugar ao Bolsa Família e utilizará a base de dados do Auxílio Emergencial irá exigir que os interessados sejam inscritos no Cadastro Único (CadÚnico). É través do CadÚnico que o governo, estados e municípios conseguem identificar e caracterizar as famílias de baixa renda.

Através do CadÚnico é possível identificar quais famílias brasileiras necessitam de ajuda, conhecendo assim a realidade de cada família e conseguindo ofertar os principais programas sociais do governo. O cadastro contém as principais informações de cada membro da família, como escolaridade, trabalho, renda e características da residência.

Com o Renda Brasil o Governo Federal promete um programa mais amplo que o Bolsa Família, que consiga ajudar inúmeros brasileiros que hoje ainda não possuem acesso a programas sociais mas que se enquadram nos principais programas.

Renda Brasil

A ideia inicial do Renda Brasil é unificar quatro programas sociais:

  • Bolsa Família
  • Seguro-defeso
  • Abono salarial
  • Salário-família

É bom esclarecer que o Bolsa Família não vai simplesmente acabar, na realidade ele só sera substituído pelo Renda Brasil, não sendo necessários novas inscrições ou exigências, os beneficiários inscritos no programa apenas migrarão para o Renda Brasil.

Outro ponto extremamente importante é o número de pessoas que podem ser assistidas pelo Renda Brasil, de acordo com estimativas o novo programa pode atingir até 40 milhões de cidadãos brasileiros.

Ainda não existem regras para receber os pagamentos do novo programa, até porque, ele ainda não saiu do papel. O que se pode dar como certo, que para participar do novo programa, será necessário estar inscrito no CadÚnico, além da inscrição no Bolsa Família.

Inscrição no CadÚnico

Para você se inscrever no Cadastro Único (CadÚnico) deverá procurar um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Lá, você será orientado sobre como proceder, e em alguns casos, o próprio CRAS poderá fazer o cadastro.

Nesse caso, um membro da família se responsabilizará em repassar todas as informações e documentos necessários para o entrevistador. Somente pessoas acima de 16 anos e, de preferência, ser mulher, podem ir ao CRAS para fazer os procedimentos.

A Caixa Econômica Federal é responsável pela manutenção do cadastro, e o Ministério da Cidadania, pela gestão das informações.

Toda pessoa inscrita no Cadastro Único, deve fazer uma atualização de seus dados de dois em dois anos. Quem deixa de fazer a atualização, corre o risco de ter seu benefício suspenso em caso de inconsistências cadastrais. Devem sempre ser atualizados, endereço (se houver mudança), emprego ou renda.

INSS: Quem terá direito ao abono extra de R$ 2 mil, que pode sair esse ano?

Aposentados, pensionistas e cadastrados no BPC (Benefício de Prestação Continuada) do INSS poderão receber um abono extra de R$ 2 mil ainda esse ano.

A possibilidade do abono vem por meio de um SUG (Sugestão legislativa) nº 15/2020 que foi proposta por Jefferson Brandão Leone – BA, avançou para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal.

De acordo com o texto o pagamento do abono de R$ 2 mil foi registro no dia 19 de junho e coletou mais de 26 mil assinaturas online em apoio a implementação. No atual momento o documento foi recepcionado pelo senador Paulo Paim que está analisando o texto para apreciação.

Entenda a proposta

INSS

O texto da proposta visa contemplar os aposentados, pensionistas e inscritos no BPC com um valor extra de R$ 2 mil. O documento prevê que o pagamento do abono contemple os segurados que recebem até três salários mínimos. A ideia da proposta é ser mais uma ferramenta no combate à pandemia do novo coronavírus.

Através do site oficial do Senado Federal é possível acompanhar todos os trâmites e desdobramentos da iniciativa, assim como é possível acompanhar a movimentação da iniciativa.

INSS irá liberar o pagamento automático de R$ 1.045,00

Conforme confirmado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o processo de implantação automática de alguns benefícios assistenciais concedidos pela Justiça será iniciado em breve, provavelmente a partir de setembro.

Entre as alternativas, está o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), destinado aos cidadãos idosos ou deficientes, ambos de baixa renda.

A iniciativa ofertada em conjunto entre o INSS e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), visa agilizar o pagamento daqueles segurados que foram contemplados com ações judiciais.

Em nota, o órgão informou que, “(…) está focando nos benefícios assistenciais e tem trabalhado para fazer a interligação com os sistemas da Justiça. Esta primeira fase de interligação está prevista para setembro”.

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