SEM CARESTIA: Arroz importado terá de chegar ao consumidor com preço de R$ 4 por quilo

O arroz comprado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) chegará ao consumidor brasileiro por valor máximo de R$ 4 o quilo, garante o Governo Federal. Atualmente, um pacote de 5 kg do produto custa, em média, R$ 30 (ou seja, R$ 6 por quilo), em Belo Horizonte.

O presidente Lula já havia anunciado, no dia 7, que o governo poderia importar o produto para evitar desabastecimento, já que o Rio Grande do Sul responde por 75% da produção de arroz no país. Para esta operação que visa garantir o abastecimento no país, estão previstos R$ 416,1 milhões.

De acordo com a companhia, no primeiro leilão, marcado para a próxima terça-feira (21), serão adquiridas até 104.034 toneladas de arroz importado da safra 2023/2024. Este produto será colocado ao mercado em uma embalagem especial, com a logomarca do governo, e deverá ser vendido ao consumidor pelo preço indicado de R$ 4.

Os estoques serão destinados aos pequenos varejistas das regiões metropolitanas, de acordo com os indicadores de insegurança alimentar (exceto o Rio Grande do Sul), conforme estabelecido pela Medida Provisória 1.217/2024 – que estabeleceu regras para a importação do cereal neste ano.

A primeira remessa de arroz vai para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Pará e Bahia, segundo a portaria do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Ministério da Fazenda n.º 3/2024. O produto deverá ser descarregado nos portos de Santos (SP), Salvador (BA), Recife (PE) e Itaqui (MA).

De acordo com o ministro Carlos Fávaro (Mapa), o arroz importado não irá concorrer com os agricultores brasileiros, pois o produto comprado no comércio externo deve ser repassado apenas para pequenos mercados. “O Governo Federal não pensa, em hipótese alguma, em concorrer com os produtores de arroz que passam por dificuldades. Nosso objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país”, argumentou. “É arroz pronto para consumo, já descascado, para não afetar a relação de produtores, cerealistas e atacadistas”, argumenta.

Enchentes na Bahia e outros 9 desastres causados pela crise climática em 2021

Temporais fora de época no sul do estado concluem lista que inclui seca no Sudeste do Brasil, calor de 50 graus Celsius no Canadá e inundações na Europa

O ano de 2021 termina com o Brasil inteiro assustado com as imagens das enchentes no sul da Bahia onde mais de 20 pessoas já morreram e pelo menos 60 mil estão desabrigadas ou desalojadas, de acordo com o governo estadual. Meteorologistas explicam que esses temporais em sequência foram provocados pela conjunção de três fatores: dois mais comuns – a Zona de Convergência do Atlântico Sul e o fenômeno La Niña – e um terceiro completamente atípico nesta época e nesta região, o que coloca as enchentes baianas na lista dos eventos extremos causados pela crise climática em 2021.

1. Depressão subtropical na Bahia – Chuvas no Sul da Bahia nesta época do ano estão geralmente relacionadas à Zona de Convergência do Atlântico Sul, um corredor de umidade que vem da Amazônia. Em dezembro de 2021, a temporada de chuva teve o reforço de La Niña, fenômeno climático cíclico que esquenta as águas do Pacífico e costuma provocar mais chuva no Nordeste. Especialistas apontam que totalmente atípico é a formação de depressão subtropical – evento meteorológico marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima – no Atlântico Sul, provocada por um aquecimento das águas, ligada à crise climática.

Itamaraju, no sul da Bahia, submersa após dias seguidos de chuva: temporais provocados por fenômenos comuns foram intensificados por fenômeno totalmente atípico (Foto: Manu Dias / Governo da Bahia)
Itamaraju, no sul da Bahia, submersa após dias seguidos de chuva: temporais provocados por fenômenos comuns foram intensificados por fenômeno totalmente atípico (Foto: Manu Dias / Governo da Bahia)

2. Maior seca em 91 anos no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil – A crise hídrica brasileira provocou racionamento de água em cidades de São Paulo e Mato Grosso do Sul e campanha para redução do consumo de energia. Especialistas apontam que a estiagem recorde – que também atingiu Argentina e Paraguai, pois o Rio Paraná registrou seu menor nível em 71 anos – está relacionada ao desmatamento da Amazônia e à crise crise climática.

Crise hídrica: vazão reduzida vista das Cataratas do Iguaçu. Foto Nilton Rolim/Parque Nacional do Iguaçu
Vazão reduzida vista das Cataratas do Iguaçu (Foto: Nilton Rolim/Parque Nacional do Iguaçu -18/06/2021)

3. Tempestade de neve no Texas – Não foi só no Brasil: no estado americano do Texas, nevascas nunca vistas em 50 anos deixaram mais de 200 mortos e congelaram a rede elétrica; estados vizinhos, como Arkansas, também registraram temperaturas negativas recordes

4. Calor de quase 50 graus Celsius no Canadá – A cidade de Lytton, no oeste canadense, registrou 49,6ºC – recorde absoluto no país e a primeira vez que calor acima de 49 graus Celsius foi registrado desde 1937.  A onda de calor também provocou recordes de temperatura e mortes no Costa Oeste dos EUA.

5. Enchentes e mortes na Europa Central – Chegou a 240 o número de mortos nos cinco países – Alemanha, Bélgica, Holanda, França e Luxemburgo – atingidos em junho pelas enchentes provocadas por dias consecutivos de temporais. Especialistas classificaram as chuvas como “extraordinárias”, com recordes de precipitação em vários pontos.

Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida no estado americano da Luisiana: súbito aumento de intensidade e 95 mortos (Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP - 02/09/2021)
Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida no estado americano da Luisiana: súbito aumento de intensidade e 95 mortos (Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP – 02/09/2021)

6. Furacão Ida em intensidade recorde – A crise climática vem provocando aumento do número de furacões e tempestades tropicais no Atlântico Norte. Foram 21 tempestades batizadas como nomes em 2021, incluindo sete furacões: a 3ª temporada mais ativa já registrada e a 6ª temporada consecutiva de furacões acima do normal no Atlântico. O mais impressionante para os meteorologistas foi o furacão Ida que, em menos de dois dias, passou de um furacão nível 2 para nível 4 sobre a Luisiana e provocou enchentes da costa do Golfo do México até Nova York: 95 pessoas morreram

Integrante de equipe resgate retira paciente de hospital alagado em Zhengzhou, na província de Henan: mais de 300 mortos (Foto: Cai Yang / Xinhua / AFP - 22/07/2021)
Integrante de equipe de resgate retira paciente de hospital alagado em Zhengzhou, na província de Henan: mais de 300 mortos (Foto: Cai Yang / Xinhua / AFP – 22/07/2021)

7. Pior chuva em mil anos na China – Mais de 300 pessoas morreram nas enchentes da província de Henan, na região central da China, atingida pelas mais intensas tempestades em um milênio, de acordo com a mídia chinesa: meteorologistas explicaram o evento extremo como reflexo da crise climática. A temporada de tufões e ciclones no Pacífico – 19 batizados com nomes – também causaram mortes e deslocamentos na Ásia. Em maio, 200 mil pessoas tiveram que deixar suas casas para escapar do ciclone Tauktae, que atingiu a Índia e países vizinhos.

Moradoras de vila de refugiados no Sudão do Sul enfrentam estragos das enchentes: 800 mil pessoas deixaram casas por causa das inundações (Foto: Ashraf Shazly / AFP - 14/09/2021
Moradoras de vila de refugiados no Sudão do Sul enfrentam estragos das enchentes: 800 mil pessoas deixaram casas por causa das inundações (Foto: Ashraf Shazly / AFP – 14/09/2021)

8. Maiores enchentes em 60 anos no Sudão do Sul – No país já devastado pela guerra, inundações obrigaram mais de 800 mil pessoas a deixarem suas casas. As enchentes provocaram pelo menos 80 mortes no país e atingiram também o vizinho Sudão.

9. Praga histórica de gafanhotos na África – Pelo segundo ano consecutivo, países da África Oriental – Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda, Burundi – enfrentam uma praga de gafanhotos, apontada como consequência da seca extrema provocada pela crise climática.

A arrasada cidade de Dawson Springs, no Kentucky, após o furacão: diretora de agência climática destaca dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” dos tornados em série (Foto: Chandan Khanna / AFP - 14/12/2021)
A arrasada cidade de Dawson Springs, no Kentucky, após o furacão: diretora de agência climática destaca dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” dos tornados em série (Foto: Chandan Khanna / AFP – 14/12/2021)

10. Tornados em série nos Estados Unidos – No penúltimo evento extremo e atípico do ano, no dia 10 de dezembro, 41 tornados atingiram o sudeste dos Estados Unidos em apenas 24 horas, provocando pelo menos 90 mortes, 77 no Kentucky, o estado mais atingido. Na ocasião, em entrevista à CNN, a diretora da Agência Americana de Gestão de Crises (FEMA), Deanne Crisswell, destacou a dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” destes tornados em série para esta época. E alertou: “Este será nosso novo normal. Os efeitos que estamos vendo com as mudanças climáticas são a crise da nossa geração”.

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Enchentes na Bahia e outros 9 desastres causados pela crise climática em 2021

Temporais fora de época no sul do estado concluem lista que inclui seca no Sudeste do Brasil, calor de 50 graus Celsius no Canadá e inundações na Europa

O ano termina com o Brasil inteiro assustado com as imagens das enchentes no sul da Bahia onde mais de 20 pessoas já morreram e pelo menos 60 mil estão desabrigadas ou desalojadas, de acordo com o governo estadual. Meteorologistas explicam que esses temporais em sequência foram provocadas pela conjunção de três fatores: dois mais comuns – a Zona de Convergência do Atlântico Sul e o fenômeno La Niña – e um terceiro completamente atípico nesta época e nesta região, o que coloca as enchentes baianas na lista dos eventos extremos causados pela crise climática em 2021.

1. Depressão subtropical na Bahia – Chuvas no Sul da Bahia nesta época do ano estão geralmente relacionadas à Zona de Convergência do Atlântico Sul, um corredor de umidade que vem da Amazônia. Neste dezembro, a temporada de chuva teve o reforço de La Niña, fenômeno climático cíclico que esquenta as águas do Pacífico e costuma provocar mais chuva no Nordeste. Especialistas apontam que totalmente atípico é a formação de depressão subtropical – evento meteorológico marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima – no Atlântico Sul, provocada por um aquecimento das águas, ligada à crise climática.

Itamaraju, no sul da Bahia, submersa após dias seguidos de chuva: temporais provocados por fenômenos comuns foram intensificados por fenômeno totalmente atípico (Foto: Manu Dias / Governo da Bahia)
Itamaraju, no sul da Bahia, submersa após dias seguidos de chuva: temporais provocados por fenômenos comuns foram intensificados por fenômeno totalmente atípico (Foto: Manu Dias / Governo da Bahia)

2. Maior seca em 91 anos no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil – A crise hídrica brasileira provocou racionamento de água em cidades de São Paulo e Mato Grosso do Sul e campanha para redução do consumo de energia. Especialistas apontam que a estiagem recorde – que também atingiu Argentina e Paraguai, pois o Rio Paraná registrou seu menor nível em 71 anos – está relacionada ao desmatamento da Amazônia e à crise crise climática.

Crise hídrica: vazão reduzida vista das Cataratas do Iguaçu. Foto Nilton Rolim/Parque Nacional do Iguaçu
Vazão reduzida vista das Cataratas do Iguaçu (Foto: Nilton Rolim/Parque Nacional do Iguaçu -18/06/2021)

3. Tempestade de neve no Texas – Não foi só no Brasil: no estado americano do Texas, nevascas nunca vistas em 50 anos deixaram mais de 200 mortos e congelaram a rede elétrica; estados vizinhos, como Arkansas, também registraram temperaturas negativas recordes

4. Calor de quase 50 graus Celsius no Canadá – A cidade de Lytton, no oeste canadense, registrou 49,6ºC – recorde absoluto no país e a primeira vez que calor acima de 49 graus Celsius foi registrado desde 1937.  A onda de calor também provocou recordes de temperatura e mortes no Costa Oeste dos EUA.

5. Enchentes e mortes na Europa Central – Chegou a 240 o número de mortos nos cinco países – Alemanha, Bélgica, Holanda, França e Luxemburgo – atingidos em junho pelas enchentes provocadas por dias consecutivos de temporais. Especialistas classificaram as chuvas como “extraordinárias”, com recordes de precipitação em vários pontos.

Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida no estado americano da Luisiana: súbito aumento de intensidade e 95 mortos (Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP - 02/09/2021)
Rastro de destruição deixado pelo furacão Ida no estado americano da Luisiana: súbito aumento de intensidade e 95 mortos (Foto: Win McNamee/Getty Images/AFP – 02/09/2021)

6. Furacão Ida em intensidade recorde – A crise climática vem provocando aumento do número de furacões e tempestades tropicais no Atlântico Norte. Foram 21 tempestades batizadas como nomes em 2021, incluindo sete furacões: a 3ª temporada mais ativa já registrada e a 6ª temporada consecutiva de furacões acima do normal no Atlântico. O mais impressionante para os meteorologistas foi o furacão Ida que, em menos de dois dias, passou de um furacão nível 2 para nível 4 sobre a Luisiana e provocou enchentes da costa do Golfo do México até Nova York: 95 pessoas morreram

Integrante de equipe resgate retira paciente de hospital alagado em Zhengzhou, na província de Henan: mais de 300 mortos (Foto: Cai Yang / Xinhua / AFP - 22/07/2021)
Integrante de equipe de resgate retira paciente de hospital alagado em Zhengzhou, na província de Henan: mais de 300 mortos (Foto: Cai Yang / Xinhua / AFP – 22/07/2021)

7. Pior chuva em mil anos na China – Mais de 300 pessoas morreram nas enchentes da província de Henan, na região central da China, atingida pelas mais intensas tempestades em um milênio, de acordo com a mídia chinesa: meteorologistas explicaram o evento extremo como reflexo da crise climática. A temporada de tufões e ciclones no Pacífico – 19 batizadas com nomes – também causaram mortes e deslocamentos na Ásia. Em maio, 200 mil pessoas tiveram que deixar suas casas para escapar do ciclone Tauktae, que atingiu a Índia e países vizinhos.

Moradoras de vila de refugiados no Sudão do Sul enfrentam estragos das enchentes: 800 mil pessoas deixaram casas por causa das inundações (Foto: Ashraf Shazly / AFP - 14/09/2021
Moradoras de vila de refugiados no Sudão do Sul enfrentam estragos das enchentes: 800 mil pessoas deixaram casas por causa das inundações (Foto: Ashraf Shazly / AFP – 14/09/2021)

8. Maiores enchentes em 60 anos no Sudão do Sul – No país já devastado pela guerra, inundações obrigaram mais de 800 mil pessoas a deixarem suas casas. As enchentes provocaram pelo menos 80 mortes no país e atingiram também o vizinho Sudão.

9. Praga histórica de gafanhotos na África – Pelo segundo ano consecutivo, países da África Oriental – Quênia, Ruanda, Tanzânia, Uganda, Burundi – enfrentam uma praga de gafanhotos, apontada como consequência da seca extrema provocada pela crise climática.

A arrasada cidade de Dawson Springs, no Kentucky, após o furacão: diretora de agência climática destaca dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” dos tornados em série (Foto: Chandan Khanna / AFP - 14/12/2021)
A arrasada cidade de Dawson Springs, no Kentucky, após o furacão: diretora de agência climática destaca dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” dos tornados em série (Foto: Chandan Khanna / AFP – 14/12/2021)

10. Tornados em série nos Estados Unidos – No penúltimo evento extremo e atípico do ano, no dia 10 de dezembro, 41 tornados atingiram o sudeste dos Estados Unidos em apenas 24 horas, provocando pelo menos 90 mortes, 77 no Kentucky, o estado mais atingido. Na ocasião, em entrevista à CNN, a diretora da Agência Americana de Gestão de Crises (FEMA), Deanne Crisswell, destacou a dimensão “incrivelmente incomum” e “histórica” destes tornados em série para esta época. E alertou: “Este será nosso novo normal. Os efeitos que estamos vendo com as mudanças climáticas são a crise da nossa geração”.

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Revistas científicas alertam para crise climática: ‘danos catastróficos para saúde’

Em inédito editorial conjunto, 230 publicações de todo o mundo – inclusive do Brasil – pedem ações urgentes para conter aquecimento global e perda de biodiversidade

(Alex Kirby*) – Daqui a dois meses, a conferência anual das Nações Unidas sobre o clima terá começado, este ano na cidade escocesa de Glasgow. Os grupos de campanha já estão se preparando para as negociações na COP26 e divulgando as ações que consideram vitais. Poucas são provavelmente mais convincentes – e nítidas – do que a declaração de mais de 220 importantes revistas científicas, médicas, de enfermagem e de saúde pública: a crise climática e natural é a maior ameaça à saúde futura do mundo.

Os autores não medem as palavras. “A ciência é inequívoca; um aumento global de 1,5°C acima da média pré-industrial e a perda contínua da biodiversidade trazem riscos catastróficos à saúde que serão impossíveis de reverter ”, escrevem em inédito editorial conjunto. “Apesar da preocupação necessária do mundo com a covid-19, não podemos esperar que a pandemia passe para reduzir rapidamente as emissões.”

A crise é uma emergência que exige que os líderes mundiais transformem as sociedades e limitem as mudanças climáticas, diz o editorial das revistas. O fracasso contínuo em fazer o suficiente para evitar que o aumento da temperatura global ultrapasse 1,5°C acima dos níveis históricos, e para restaurar a natureza, é a maior ameaça à saúde pública global.

No Reino Unido, o editorial está sendo publicado em uma das revistas médicas e científicas mais antigas e renomadas do mundo, The Lancet, e no British Medical Journal, que organizaram a publicação conjunta. A lista de publicações inclui o East African Medical Journal, o Chinese Science Bulletin, o New England Journal of Medicine, além de títulos no Brasil (Revista de Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da USP), na Índia e na Austrália, e em países de todos os continentes. Nunca tantos periódicos combinaram de publicar o mesmo editorial.

O editorial das revistas, sob o título “Apelo por ação emergencial para limitar o aumento da temperatura global, restaurar a biodiversidade e proteger a saúde”, afirma que as nações ricas precisam fazer mais. “Ecossistemas prósperos são essenciais para a saúde humana. A destruição generalizada da natureza, incluindo habitats e espécies, está corroendo a segurança hídrica e alimentar e aumentando a chance de pandemias”, destaca o texto.

A mortalidade relacionada ao calor, os impactos destrutivos do clima sobre a saúde e os danos generalizados aos ecossistemas essenciais para a saúde humana são apenas alguns dos impactos que uma mudança climática está causando com mais frequência, dizem os autores. Esses impactos afetam desproporcionalmente os mais vulneráveis, incluindo crianças e idosos, minorias étnicas, comunidades mais pobres e aqueles com problemas de saúde subjacentes.

O editorial despreza as recentes metas de redução das emissões de gases de efeito estufa e proteção da natureza: “Essas promessas não são suficientes. As metas são fáceis de definir e difíceis de alcançar”, aponta o texto. Significativamente, ele prescreve algum realismo obstinado nas tentativas de limitar o aumento da temperatura, descrevendo planos para reduzir as emissões para zero líquido até meados do século por meio da remoção de gases de efeito estufa da atmosfera – uma tecnologia ainda não comprovada – como “implausível”.

Em todo o editorial, ecoa uma insistência na necessidade de equidade, de enfrentar a crise sem depender das “panaceias fracassadas” do passado. “A equidade deve estar no centro da resposta global. (…) Os países mais ricos terão que cortar as emissões mais rapidamente, fazendo reduções até 2030 além das propostas atualmente e alcançando emissões líquidas zero antes de 2050. Metas semelhantes e ações de emergência são necessárias para a perda de biodiversidade e a destruição mais ampla do mundo natural”, alerta o texto.

Editorial contra desigualdade e austeridade

Os governos devem transformar sociedades e economias – exemplifica o texto – apoiando o redesenho de sistemas de transporte, cidades, produção de alimentos e seus sistemas de distribuição, e os mercados de investimentos financeiros, bem como sistemas de saúde.

De acordo com o editorial, isso criaria empregos de alta qualidade, reduziria a poluição do ar e aumentaria a atividade física, além de melhorar a moradia e a alimentação. Melhor qualidade do ar por si só levaria a benefícios para a saúde que facilmente compensariam os custos globais de cortes de emissões.

Essas medidas, diz ainda o texto, também vão melhorar os fatores sociais e econômicos que determinam a saúde; o mau estado destes pode ter tornado as populações mais vulneráveis ​​à pandemia de covid-19.

Mas essas mudanças “não podem ser alcançadas por meio de um retorno às políticas de austeridade prejudiciais ou da continuação das grandes desigualdades de riqueza e poder dentro e entre os países”. Os países ricos devem fornecer financiamento mais generoso para os mais pobres, que deve assumir a forma não de empréstimos, mas de doações, subvenções. “O financiamento deve ser dividido igualmente entre mitigação e adaptação, incluindo melhoria na resiliência dos sistemas de saúde”.

O editorial cobra ainda que o financiamento das nações ricas devem incluir o perdão de grandes dívidas, que restringem a autonomia de países de baixa renda. “Fundos adicionais devem ser destinados a compensar perdas e danos inevitáveis causados pelas consequências da crise ambiental”, aponta o texto das revistas médicas e científicas.

O mundo está caminhando para um desastre duplo, concluem os autores: “Os aumentos de temperatura provavelmente serão bem superiores a 2°C, um resultado catastrófico para a saúde e a estabilidade ambiental”. E eles vão mais longe: “Algo de suma importância é que a destruição da natureza não tem paridade de estima com o elemento climático da crise e nenhuma meta global para restaurar a perda de biodiversidade até 2020 foi alcançada. Esta é uma crise ambiental global”.

*Alex Kirby, especialista em jornalismo ambiental, trabalhou na BBC, onde foi correspondente de meio ambiente, e agora trabalha junto a universidades, instituições e ONGs para melhorar suas ferramentas de mídia

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Chuvas devastadoras de 2020 em Minas foram causadas pela crise climática

Pesquisa de brasileiros e britânicos mostra que possibilidade de precipitação volumosa aumentou 70% no estado

(Luciana Constantino*) As mudanças climáticas foram a principal causa das chuvas extremas que atingiram municípios de Minas Gerais em janeiro de 2020, resultando em cenários de devastação. A conclusão é de um estudo publicado na revista científica Climate Resilience and Sustainability. De acordo com a Defesa Civil de Minas, quase 60 pessoas morreram nos temporais.

Usando modelagem climática para a região, a pesquisa mostrou que os efeitos da industrialização e do aquecimento global aumentaram em 70% a probabilidade de ocorrer precipitação em volumes muito acima do esperado quando comparado a cenários com temperatura média entre 1°C e 1,1°C mais baixa.

O trabalho também quantificou os danos no estado: mais de 90 mil pessoas ficaram temporariamente desabrigadas e houve pelo menos R$ 1,3 bilhão (US$ 240 milhões) em perdas computadas pelos setores público e privado. Os maiores prejuízos foram em infraestrutura pública (R$ 484 milhões), moradias (R$ 352 milhões) e comércio/serviços (R$ 290 milhões). Do total, 41% podem ser atribuídos às mudanças climáticas induzidas pelo homem.

A publicação do artigo acontece na semana seguinte à divulgação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que foi enfático: os impactos das alterações do clima, com “inequívoca” influência humana, já estão afetando todas as regiões da Terra, com eventos extremos ocorrendo mais rápido, de modo generalizado e intensificado.

No início de 2020, a região Sudeste do Brasil registrou enchentes e deslizamentos provocados por chuvas intensas, que resultaram em danos de infraestrutura e até mortes. O evento foi decorrente de uma combinação da intensificação da zona de convergência do Atlântico Sul (SACZ) com o surgimento do ciclone subtropical de Kurumí (KSC) também sobre o Atlântico, contribuindo para o aumento da umidade em toda a região.

Em Minas, a capital, Belo Horizonte, teve o janeiro mais chuvoso da história. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o município registrou 935,2 milímetros (mm) de precipitação naquele mês, o que representa quase o triplo da média esperada para o período. Do volume total, 320,9 mm foram acumulados em apenas três dias. À época, pelo menos 58 mortes foram relacionadas com as inundações e os deslizamentos de terra.

“Nossa avaliação traz novos insights sobre a necessidade e urgência de ações sobre mudanças climáticas, pois já estão impactando efetivamente a sociedade na região Sudeste do Brasil. (…) Isso exige melhorias imediatas no planejamento estratégico com foco na mitigação e adaptação. A gestão e as políticas públicas devem evoluir a partir do modus operandi de resposta a desastres, a fim de prevenir outros no futuro”, escrevem os pesquisadores no trabalho, que teve apoio da Fapesp.

A pesquisa é parte de um workshop realizado pela Parceria para Serviços de Ciência do Clima (CSSP, na sigla em inglês), organização liderada pela cientista Sarah Sparrow, da Universidade de Oxford (Reino Unido).

O projeto é uma colaboração entre instituições do Reino Unido e do Brasil, no qual estão incluídos o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e a Universidade de São Paulo (USP).

Promovido on-line entre novembro e dezembro de 2020, em parceria com a cientista Liana Anderson, do Cemaden, o workshop tratou do método chamado “atribuição de eventos”, que usa a ciência para avaliar as ocorrências climáticas e atribuir causas a elas.

Dois grupos de pesquisadores trabalharam paralelamente na análise das chuvas extremas em Minas Gerais. Um se concentrou na avaliação da influência das mudanças climáticas nas chuvas, enquanto o outro quantificou os impactos na população. Por fim, os trabalhos foram integrados no artigo publicado.

“A colaboração intensa com pesquisadores de áreas interdisciplinares permitiu que fosse realizado um trabalho de alto nível em poucos meses com resultados consistentes”, destaca Ricardo Dal’Agnol pesquisador na Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Inpe e primeiro autor do artigo.

Morador tira lama de casa após temporal em Sabará, na Região Metropolitana de Beli Horizonte: estudo aponta que probabilidade de chuvas volumosas aumentaram 70% com industrialização e aquecimento global (Foto: Douglas Magno / AFP - 27/01/2020)
Morador tira lama de casa após temporal em Sabará, na Região Metropolitana de Beli Horizonte: estudo aponta que probabilidade de chuvas volumosas aumentaram 70% com industrialização e aquecimento global (Foto: Douglas Magno / AFP – 27/01/2020)

Chuvas no sudoeste de Minas

O modelo climático utilizado para atribuição foi o Hadley Center Global Environmental Model versão 3-A (HadGEM3-A), com simulações de eventos extremos de tempo e clima.

Dois experimentos foram conduzidos para traçar cenários: um utilizou apenas forças externas, como a variabilidade na irradiância solar e atividades vulcânicas naturais, fixadas em níveis de 1850 (era pré-industrial), e o segundo considerou, além das causas naturais, também a ação humana (antropogênica) com dados atuais.

Segundo o último relatório do IPCC, a temperatura média do planeta atualmente é 1,1°C maior que a observada no período 1850-1900. Essa fase pré-industrial é usada como base para representar a temperatura antes da interferência humana, que elevou as emissões de gases de efeito estufa, como o CO2 e o metano.

Para avaliar a precipitação, os pesquisadores usaram o Clima Hazards Group InfraRed Precipitation with Station Data (CHIRPS), um banco de dados que incorpora imagens de satélite a informações de estações locais para criar séries temporais de chuva para análise de tendência e de monitoramento.

Já as informações sobre desastres, incluindo dados por município, tipo, causa e danos, foram extraídas do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Nesse sistema, membros da Defesa Civil ou de órgão governamental local preenchem formulário específico com as ocorrências dos desastres até dez dias após o registro.

“Destacamos a importância de ter sistemas integrados de informação de desastres, como o S2iD brasileiro, que veicula informações valiosas e oportunas permitindo quantificar os impactos de eventos extremos”, ressaltam os autores.

A área do estudo ficou focada no sudeste de Minas, subdividida em 12 mesorregiões, com 194 municípios. O estado conta com 853 cidades no total. “As mesorregiões mais afetadas foram a metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce e Zona da Mata. Juntas, foram responsáveis por 91% das perdas econômicas públicas e 93% das privadas, além de concentrar 91% da população deslocada. Também apresentaram os números mais preocupantes em relação às vulnerabilidades a desastres de moradores e moradias em áreas de risco”, conclui o estudo.

Os cientistas destacam ainda que, embora as chuvas tenham sido extremas com influência das mudanças climáticas, a falta de planejamento de gestão de risco urbano, sem estratégias de mitigação e com investimento deficitário em infraestrutura, pode ser chave e ampliar os impactos para os moradores.

“O evento provavelmente afetou de forma desproporcional a população mais pobre da região, que vive em situações de alto risco, como em áreas com topografia íngreme e más condições de habitação. Portanto, interpretamos os impactos desse evento como um desastre climático construído socialmente.”

Por isso, sugerem que estudos futuros venham a investigar os efeitos de eventos climáticos extremos sobre populações pobres e vulneráveis. “Pesquisas futuras também podem abordar as interações cada vez mais complicadas de aspectos humanos, econômicos e políticos dentro dos sistemas ecológicos.”

Segundo Dal’Agnol, a modelagem criada para analisar o caso das chuvas de Minas pode ser aplicada para outras regiões. “Utilizamos cenários do modelo, dados da chuva observados por satélites e identificamos as probabilidades. Seguindo a metodologia é possível fazer para outros eventos. Quando pesquisamos, localizamos poucos estudos de extremos climáticos no Brasil. Precisamos de mais estudos como esse para identificar as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas no país, mostrar isso para os governantes e, assim, termos políticas públicas para prevenção de futuros desastres”, explica.

*Agência Fapesp

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