Discurso de ativista negra emociona e arranca lágrimas na Câmara contra o racismo; movimento comemora certificação de quilombola de Mato Dentro

Ela cobrou inserção, apoio ao Conselho e criticou que o negro é pouco lembrado na história de Lafaiete

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado, no Brasil, em 20 de novembro. A data foi criada para coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares em 1965, ocasião dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.

Comunidade comemorou o dia da consciência negra e a certificação quilombola de Mato Dentro, a primeira de Lafaiete/CORREIO DE MINAS

Ontem na Câmara, Érica Araújo Castro,  conselheira do COMPIR (Conselho Municipal pela Igualdade Racial) emocionou aos vereadores e ao público com um discurso afirmativo ao mesmo tempo tocando no racismo presente na sociedade. Ao final, Erika chorou, arrancou aplausos efusivos como também deixou nos corações a intensidade de suas palavras. “O negro coitado. O negro vítima. A negra boa para o sexo, mas não para o casamento. O adolescente negro sempre suspeito. Mas que serve para lavar o carro do vizinho ou cortar a grama por alguns reais. Namorar a filha, já é demais. A criança negra de cabelo de Bombril sempre a mais feia da sala. Às vezes, até da escola. Quanto mais escura mais feia. Quanto mais largo o nariz menos atrativo – vale para homem. Para mulher, então… O que tem alma branca de tão educado. Aquele que se está de terno é porteiro, se corre é ladrão. Dirigindo carro caro é motorista. Na sala de reuniões, só pode ser a secretária ou secretário. Resumindo: os descendentes de escravos. Chega. Chega!”, assinalou Erika na Tribuna.

Segundo ela, 54% da população brasileira é constituída de negros, parcela constituída de trabalhadores braçais, jogadores de futebol, capoeiristas, mas também enumerou cientistas, biólogos, estudiosos, historiadores de origem da raça. “É a permanente luta do povo negro brasileiro por encontrar seu lugar ao sol fora do alcance da chibata – seja ela real, seja ela metafórica – porque aqui chegaram trazidos à força durante a diáspora, separados de seus familiares e amigos, enfiados às dezenas em navios negreiros que eram reconhecidos ao longe por seu fedor de dejetos corporais e morte. Brutalizada e embrutecida, a população negra fez girar a roda da economia brasileira nos engenhos de cana de açúcar e nos garimpos das Minas Gerais. Hoje, sobre o próprio chão que pisamos, sangue negro foi usado de facão para abrir picadas que se tornaram o que chamamos de Estrada Real e de cimento para erigir casarões que ainda podem ser vistos pela cidade de Conselheiro Lafaiete”, lembrou.

A ativista Erica Araújo, presidente da Arafro e membro do Conselho de Igualdade Raial/CORREIO DE MINAS

A data de 20 de novembro é uma referência a Zumbi dos Palmares, morto em 20 de novembro de 1695, e de Dandara cuja luta celebram-se no dia de hoje. Porque não nos reunimos no dia da Consciência Negra para celebrar conquistas. Reunimo-nos para nos lembrar e nos fortalecer. Lembrarmo-nos de que a luta pela liberdade verdadeira, que virá no momento em que o povo negro for revestido de sua plena cidadania, está ainda em curso.

Não, o povo negro não se submeteu tornando-se o coitado da história. Ele lutou e por mais de uma vez assentou as pedras do caminho que conduziriam à sua própria liberdade.

Chibatas verdadeiras ainda cantam nos lombos dos escravizados modernos – às vezes literais, quando trabalham em condições análogas à escravidão. Os brasileiros não têm vergonha de serem racistas, mas têm vergonha de dizerem que são racistas. Ou de serem apontados como tal”, observou.

Segundo Erika, oito em cada dez brasileiros ricos são brancos e, em contrapartida, 3 em cada 4 pessoas das classes mais baixas são negras, lembrando que a população foi empurrada para os morros, locais distantes dos grandes centros. “Eu pergunto aos senhores e senhoras presentes. Onde podemos nos informar sobre a história dos negros na cidade?”, questionou.

Erika cobrou em seu discurso mais recurso em orçamento para as ações do COMPIR em favor da cidadania plena de todos os lafaietenses, com foco nos povos excluídos.

 Lideranças comemoram certificação da comunidade Quilombola de Mato Dentro

As lideranças do movimento negro de Lafaiete comemoraram a certificação como remanescente de quilombo de Mato Dentro através da Fundação Cultural Palmares, através da Portaria Nº 283, de 31 de Outubro publicada no Diário Oficial da União sendo autorizado o seu registro de certificação no Livro de Cadastro Geral nº 019, sob o nº 2.673, às fls 095. Esta é a primeira comunidade lafaietense reconhecida como quilombola. “É com imensa satisfação que recebemos a notícia que Conselheiro Lafaiete tem um Quilombo certificado . Em tempos tão difíceis ficamos extremamente felizes com a conquista daquele povo batalhador da localidade de Mato Dentro. Salve Zumbi, salve Dandara, Salve o senhor Narciso Bernardo (in memória ) e todos os seus ancestrais ! Sigamos firmes na luta por nenhum direito a menos !”, era a saudação nas redes sociais do Conselho Municipal Pela Promoção da Igualdade Racial de conselheiro. “O COMPIR em seu trabalho relevante em favor da comunidade negra local traz como destaque hoje essa que veio a ser uma de suas maiores vitórias: o registro do Quilombo de Mato

Senhor Narciso, falecido há pouco mais de 2 meses, foi fundamental para levantar a história quilombola de Mato Dentro/Reprodução

Dentro, antiga luta da comunidade local, hoje reconhecida como remanescente quilombola. E tudo isso, senhores, sem orçamento. Por isso, nesse dia em que relembramos a luta do povo negro ao longo da história, solicito e rogo aos senhores para que aprovem orçamento para esse órgão para que ele continue exercendo seu papel de fomentador da igualdade. Peço que todos tomem em suas mãos a responsabilidade e a honra de serem lembrados como aqueles que deram sua contribuição para que o dia da Consciência Negra, aos poucos, e com o progresso social, deixe de ser um dia de luta e passe a ser, com felicidade e orgulho, um dia de celebração de vitórias e da conquista da tão sonhada liberdade sob a forma da cidadania plena, do acesso aos serviços governamentais, do acesso à educação e ao trabalho. E aí está a importância de assumir o papel de fomentador da cidadania negra em épocas de racismo institucional. Resumindo: os descendentes de reis e rainhas, de grandes civilizações e grandes feitos e que jamais serão reduzidos a 300 anos de escravidão porque a identidade negra é, antes de tudo, uma identidade de luta. Viva Zumbi! Viva Dandara! Viva o povo negro!”, ressaltou Erika, arrancando aplausos.

“Se Deus não tirar ele, será o presidente do Brasil”, desabafa o vereador Divino Pereira sobre os ataques a Bolsonaro; vereadores criticam violência contra candidato

Usando a Tribuna, ontem, na sessão da Câmara de Lafaiete, o vereador Divino Pereira, presidente do PSL loca, fez um discurso de desabafo contra o ataque sofrido, durante ato em Juiz de Fora (MG), pelo candidato a Presidente, Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de votos, segundo os principais institutos de opinião pública. “Registro aqui minha indignação ao ocorrido. Se Deus não tirar ele, será o presidente do Brasil”, afirmou.

Divino disse que na data esteve em Belo Horizonte acertando a vinda de Bolsonoro a Lafaiete, em um ato na praça do Cristo. “Hoje estive com o assessor dele e acertamos a vinda a Lafaiete. Ia colocar um carro de som nas ruas para convidar o povo. Agora acontece uma coisa inacreditável”, comentou.

“O Brasil precisa de ordem. Nos meus 78 anos nunca vi o que está acontecendo. Tenho vergonha. O Brasil está sem sem lei e sem dono. Ele é nossa única  esperança em mudar este País. Não existe homem igual a ele para acabar com a corrupção’, desabafou Divino.

O vereador Lúcio Barbosa (PSDB) repercutiu os ataques. “Vai ficar marcado justamente em um estado que anda tão combalido”.  “Nós repudiamos o que aconteceu. Apesar das divergências somos contra o que aconteceu. Não se resolve o problema do país pregando a violência. Quem planta colhe. Só vamos resolver os problema do Brasil com educação. Fazer política com ódio é isso que acontece. Política se faz com amor”, observou o petista Chico Paulo.  “Violência gera a violência”, expressou Pedro Américo (PT).

Vereador João Paulo endurece discurso e cobra coragem dos colegas para que apontem falhas e erros da gestão ao prefeito Mário Marcus

Vereador Fernando Bandeira/CORREIO DE MINAS

A pedido dos vereadores acontece hoje a tarde uma reunião entre os representantes municipais e o prefeito Mário Marcus (DEM). Será a primeira do ano e se depender dos discursos na Câmara esta semana, o tom de será de cobranças. O vereador Sandro José (PSDB) reclamou na última sessão de que a capina na parte baixo não atendeu os bairros São Dimas, Expedicionários, Novo Carijós, entre outros. “Quando o prefeito atende um pedido do vereador ele está atendendo a comunidade. Somos instrumentos do povo”, assinalou em tom de reclamação.

Já o vereador Fernando Bandeira pela segunda vez criticou o secretariado, segundo ele, com pouco desempenho. “Passou da hora. Alguns secretários estão de braços cruzados. O prefeito quer trabalhar, mas alguns não somam”, insinuou propondo que aos vereadores exponham ao prefeito as reclamações e apontem as falhas no Governo. Ele cobrou a atualização do Plano Diretor e da Lei de Ocupação dos Solos. Fernando denunciou que empresas deixaram de investir em Lafaiete já que as leis, ao invés de incentivar, afugentam os investimentos.

O líder do prefeito, João Paulo Pé Quente (DEM) endureceu o discurso e cobrou postura transparente e coerente dos seus pares. “Espero que todas estas críticas e falhas apontadas sejam levadas diretamente ao prefeito. A reunião será para ajudar o prefeito. No mandato passado, as pessoas criticam o Ivar e quando chegavam perto dele poupavam o prefeito. Que nós agora não sejamos falsos. Termos que ter coragem de falar com o prefeito os erros da administração e apontar as falhas. Acho que esta deve ser nossa postura, sendo corentes com nosso discurso e não ficar aqui jogando para o público”, alfinetou, sem citar os nomes dos colegas para quem direcionava as críticas.

Um dos principais assuntos das reunião deve ser a situação da saúde no Município e as especulações em torno da saída do secretário Alessandro Gláucio. Informações apuradas de bastidores que as críticas da administração deve ser direcionadas aos setores jurídico e licitação.

about

Be informed with the hottest news from all over the world! We monitor what is happenning every day and every minute. Read and enjoy our articles and news and explore this world with Powedris!

Instagram
© 2019 – Powedris. Made by Crocoblock.