Barbacena (MG): a ocupação do Hospital Policlínica e sua situação escalabrosa

Barbacena está assistindo a uma guerrinha nascida na prefeitura local e que, em todos os aspectos, fere o interesse público.

Uma cidade sempre vista como um centro de disputas políticas de correntes bem inseridas na história de Minas, com mais de 125 mil habitantes, estrategicamente localizada, está assistindo a uma guerrinha nascida na prefeitura local e que, em todos os aspectos, fere o interesse público, a saúde e os princípios mais comezinhos de gestão. Exemplo é a intervenção feita pela prefeitura local, por ordem do prefeito que neste ano disputará a reeleição, Carlos Augusto, acusado de promover, com a assistência do atual secretário de Estado de Saúde de MG, Fábio Baccheretti, e usando as forças policiais do município e da PMMG, sem qualquer justificativa apresentada que assegurasse isenção do seu ato, a ocupação do Hospital Policlínica. Verbas públicas, valores decorrentes de emendas parlamentares, pagamento de cirurgias e de outros procedimentos foram sonegados até surgir o estrangulamento financeiro do Hospital Policlínica, ocupado por um interventor, que com poucos dias teve que ser substituído dadas as suas duvidosas relações pessoais com o hospital. A prefeitura trouxe, no ato da intervenção, uma OS de São Paulo, a Icaases, dirigida pelo médico David Eiji Furutani, que, junto com o prefeito de Brodowski (SP), teve seus bens impedidos de serem transacionados por ordem do MPSP – uma bela folha corrida. Denso relatório dessa situação escabrosa foi entregue pelo deputado estadual Leleco Pimentel e pelo federal Padre João nas mãos do procurador de Justiça de MG, doutor Jarbas Soares, pedindo providências do Ministério Público de MG. Muito mais vai surgir nesses próximos dias.

FONTE: O TEMPO

Vale x Vale – Empresa entra em guerra consigo mesma por danos da tragédia de Mariana

Sócia de hidrelétrica no rio Doce e da mineradora Samarco, Vale se vê em guerra interna por danos causados pela lama

BRASÍLIA – A lista de milhares de vítimas que, ainda hoje, cobram indenizações da Vale e da BHP pela tragédia que causaram em Mariana (MG) passou a incluir o nome nada trivial de uma empresa indignada com o comportamento dos donos da barragem de rejeito que rompeu em Minas Gerais em 2015: a própria Vale.

O que faz a Vale sentir hoje o peso dos 56 milhões de metros cúbicos de lama de minério de ferro e sílica que ela própria despejou sobre a região e o curso do rio Doce, matando 19 pessoas, é reflexo direto dos negócios que a companhia possui na região. 

Reconhecida como uma das maiores mineradoras do mundo, a Vale é dona de metade da Samarco – a empresa que controlava a barragem que rompeu em Mariana – em sociedade com a anglo-australiana BHP Billiton. Paralelamente, a Vale também é sócia majoritária da usina hidrelétrica Risoleta Neves, erguida no rio Doce em 2004 e também atingida pela lama. Por trás do nome fantasia de “Consórcio Candonga” está a Vale, que controla 77,5% da hidrelétrica, em sociedade com a Cemig, que detém 22,5% do negócio.

Passados mais de oito anos desde aquele fatídico 5 de novembro de 2015 – quando se deu o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, a Vale se vê, hoje, dragada por um processo judicial que, na prática, ela mesma moveu, uma vez que está dos dois lados do balcão, como causadora e vítima da tragédia. E, na Justiça, a batalha é pesada.

A Agência Pública teve acesso exclusivo a detalhes do processo judicial e das acusações que o Consórcio Candonga (Vale e Cemig) impõe à Samarco (Vale e BHP), uma disputa que envolve desde a cobrança de multas milionárias até medidas impositivas contra os donos da barragem de rejeitos.

POR QUE ISSO IMPORTA?
Rompimento da barragem do Fundão, em 2015, despejou 56 milhões de metros cúbicos de lama de minério de ferro na região, matou 19 pessoas e atingiu o rio Doce, chegando até o oceano Atlântico
No meio do rio, há uma usina hidrelétrica que também foi atingida e teve suas atividades paralisadas. Tanto a usina quanto a mineradora têm como sócia a Vale, que agora briga consigo mesma
Nos processos judicial e administrativo – pilhas de papéis que correm na Justiça Federal de Minas Gerais e na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) –, os donos da hidrelétrica expõem sua indignação contra a Samarco e acusam a empresa de ser omissa.

“A verdadeira causadora do dano se furta a cumprir com suas obrigações”, dispara a dona da hidrelétrica contra a Samarco, por causa do descumprimento de vários compromissos. “Por diversas vezes, a Samarco demonstrou seu descontentamento com a obrigação que assumiu”, continua.

Os desentendimentos remontam a novembro de 2015, quando a hidrelétrica Risoleta Neves, com suas três turbinas e potência de 140 megawatts, teve sua operação completamente inviabilizada ao ter seu reservatório invadido pela lama que varreu 40 municípios entre Minas e o Espírito Santo, até chegar ao oceano Atlântico. A energia gerada pela usina é capaz de abastecer cerca de 180 mil residências.

Local atingido pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco
Em março de 2016 – há exatamente oito anos –, a Samarco assinou um Termo de Transação e de Ajuste de Conduta (TTAC), assumindo uma série de compromissos, reparações e indenizações às vítimas do desastre. Entre os contemplados estava a usina Risoleta Neves, com a promessa de ver retirado cada metro cúbico de lama que entupia seu reservatório. Nada disso, porém, foi feito e, com a usina paralisada, o plano de recuperação passou a ser alvo de disputa na Justiça.

Em dezembro de 2022, uma decisão judicial determinou que o Consórcio Candonga tinha que religar a usina, visto que continuava recebendo pagamento mensal pela geração de energia que não existia – uma conta salgada que foi bancada por anos pelos consumidores, por meio da conta de luz. A determinação foi atendida e, em maio de 2023, a hidrelétrica voltou a funcionar. Ocorre que a retirada de lama pela Samarco simplesmente não aconteceu como previsto. E a mineradora lavou as mãos.

“Desde a data do rompimento da barragem de Fundão [5 de novembro de 2015], ela [Samarco] só conseguiu retirar cerca de 5% do montante total de rejeitos do reservatório. Ou seja, no reservatório da usina permanecem mais de 9,2 milhões de m³ de rejeitos”, acusa o consórcio da Vale e da Cemig.

Sem meias palavras, as sócias afirmam que há “absoluta falta de compromisso da Samarco com o efetivo retorno operacional e com a continuidade da operação, uma vez que estão fechando os olhos para os impactos que a presença de rejeitos no reservatório causa”.

Em junho de 2023, um relatório técnico elaborado logo após a retomada das operações comprovou que a lama já estava causando estragos nos equipamentos da hidrelétrica, com efeito abrasivo acelerado nos metais e redução da capacidade de carga da usina.

Tentativas para fazer com que a Vale e a BHP cumprissem seus deveres não faltaram. O Consórcio Candonga menciona pelo menos 19 ocasiões, entre junho de 2020 e setembro de 2023 – todas registradas em documentos –, em que buscou formas de fazer a Samarco cumprir a obrigação de retirar a lama. Não teve jeito.

“A Samarco se comprometeu a retirar mais de 9,6 milhões de metros cúbicos de rejeito do reservatório da usina. Até o momento, tirou aproximadamente 500 mil metros cúbicos”, declarou o Consórcio Candonga, em documento de novembro do ano passado. “É patente que o concessionário não mediu esforços para que as condições originais do empreendimento fossem retomadas. Não obstante, em vista da desídia [comportamento negligente] da Samarco, tem-se que, até o momento, isto não foi possível.”

A concessionária formada por Vale e Cemig acentuou as queixas contra a mineradora, que se limitou a retirar o mínimo necessário de sua lama. “A Samarco, enquanto responsável pelo desastre, vem se furtando ao cumprimento de suas obrigações, sustentando a tese de que, com o retorno da operação comercial da usina, a sua obrigação já restaria cumprida. Nada mais errático”, afirma o Consórcio Candonga.

Briga na Justiça
A lama dos sócios foi parar na Justiça e a confusão se intensificou ainda mais. Enquanto donas da barragem de rejeitos, a Vale e a BHP não apenas deixaram de fazer a retirada integral dos rejeitos como buscaram os tribunais para tentar escapar dessa obrigação que elas próprias haviam assumido de fazer a dragagem e desassoreamento integral dos 9,6 milhões de metros cúbicos de lama parados no reservatório da usina.

Logo depois de ser emitida a licença ambiental que autorizava a remoção, a Samarco informou no âmbito judicial que a Fundação Renova, organização criada para reparar os danos da tragédia, apresentou um recurso administrativo para rever a exigência. A partir daquele momento, os planos da Vale e BHP passaram a definir que a remoção de rejeitos só seria feita na “hipótese de ser futuramente constatada, sob o aspecto técnico, a necessidade de adoção de tal medida”.

A postura revoltou os donos da hidrelétrica. “A Samarco tem tratado a continuidade da retirada de rejeitos do reservatório da usina como se fosse uma medida [obrigação] ainda duvidosa, hipotética, não obrigatória, restrita à manutenção do status atual do reservatório”, acusou o Candonga. “Com base unicamente na retomada da operação em um cenário precário e experimental, [a Samarco] busca induzir, de forma açodada, o entendimento de que cumpriu integralmente com sua obrigação.”

Hidrelétrica Risoleta Neves teve sua operação completamente inviabilizada ao ter seu reservatório invadido pela lama do desastre em Mariana

Hidrelétrica Risoleta Neves teve sua operação completamente inviabilizada ao ter seu reservatório invadido pela lama do desastre em Mariana

Hidrelétrica Risoleta Neves teve sua operação completamente inviabilizada ao ter seu reservatório invadido pela lama do desastre em Mariana

Hidrelétrica Risoleta Neves teve sua operação completamente inviabilizada ao ter seu reservatório invadido pela lama do desastre em Mariana

Hidrelétrica Risoleta Neves teve sua operação completamente inviabilizada ao ter seu reservatório invadido pela lama do desastre em Mariana
Ato contínuo, o consórcio da Vale e Cemig acionou a 4ª Vara Federal de Belo Horizonte pela “recalcitrante postura da Samarco”. Na Justiça, o Candonga cobrou providências para a retirada integral dos resíduos e pediu, ainda, que fosse arbitrada uma multa diária de R$ 1 milhão contra a Samarco até que atendesse o cumprimento integral da decisão judicial.

O caso segue em aberto. Em 2022, os donos da hidrelétrica já perderam um primeiro round, quando a Aneel e a Justiça decidiram que o Consórcio Candonga é o responsável imediato pela operação da usina e que deveria não só retomar as operações da hidrelétrica, como também buscar seus direitos diretamente com a Samarco. É Vale contra a Vale.

A hidrelétrica não aceita o argumento e chega a comparar a tragédia de Mariana com a pandemia de covid-19, sob a justificativa de que foi vítima de algo de que não tinha controle. Logo, não poderia ter responsabilidade por isso. 

“O desastre de Mariana, sob o aspecto do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão, deve ser tratado sob a ótica da teoria da imprevisão, tal como se operou com a pandemia provocada pelo novo coronavírus”, afirmou, no processo que tramita na Aneel. “A própria pandemia do covid-19 foi considerada pela Aneel como causa hábil para isentar o concessionário de penalidades por descumprimento contratual.”

A bronca sobrou também para o poder público. “Quem autorizou a Samarco a construir a barragem de Fundão e nela depositar rejeitos foi o poder público, que também sempre foi o responsável pela fiscalização da segurança do barramento”, argumentou o consórcio. “Não há como se imputar a responsabilidade à concessionária, sendo que o próprio poder público autorizou a construção da barragem.”

A Pública questionou cada um dos envolvidos na celeuma jurídica a respeito das informações contidas nesta reportagem. O Consórcio Candonga limitou-se a declarar que “não se manifesta a respeito de assuntos sobre os quais haja ações judiciais em andamento”.

A Aneel não se posicionou até o fechamento desta reportagem. A Samarco se esquivou de detalhar as razões de não cumprir o acordo de retirada integral da lama. Por meio de nota, informou que “está totalmente comprometida com a retomada das operações e com a segurança da usina”.

Da mesma forma como fez na Justiça, disse que tem cumprido sua parte no acordo. “A empresa retirou rejeitos por meio de dragagem para o retorno da usina, realizou reforços na estrutura do barramento, bem como executou as manutenções necessárias para a sua retomada, realizada no primeiro semestre de 2023.”

A Vale, sócia da hidrelétrica e da mineradora, não quis se manifestar. “A Vale não comenta ações judiciais em curso”, declarou.

A participação majoritária da Vale no Consórcio Candonga deve-se ao arranjo societário da empresa. A mineradora é dona de 50% da concessionária, enquanto a empresa Aliança Energia detém os demais 50%. Ocorre que a Vale também detém 55% da Aliança, em parceria com a Cemig, dona de 45%. Na prática, portanto, a fatia real da Vale dentro da hidrelétrica Risoleta Neves chega a 77,5%, com os demais 22,5% da Cemig. No ano passado, houve movimentação de mercado da Vale para comprar a fatia da companhia mineira na Aliança Energia.

Se o cronograma original de retirada da lama for levado adiante, tudo indica que a guerra judicial ainda está longe do fim. A Samarco, conforme plano oficial, admitiu a obrigação de retirada integral dos rejeitos em um prazo de 27 anos. Hoje, o cenário é de incógnita.

Os alertas foram feitos. “Há também o iminente risco da necessidade de interrupção da operação da usina, em vista do acúmulo de rejeitos atingir a tomada d’água da usina”, reclamou a hidrelétrica à agência reguladora. “É viável a continuidade da operação, desde que a Samarco cumpra efetivamente com sua obrigação de remoção dos rejeitos do reservatório da usina.”

Dentro do Consórcio Candonga, a Vale renova sua indignação e aguarda os próximos passos da Justiça. Dentro da Samarco, a Vale silencia. 

Edição: Giovana Girardi

FONTE: A PUBLICA

Guerra na Ucrânia acelera alta do preço do querosene de aviação: Petrobras anuncia novo reajuste de cerca de 18% a partir de 1º de abril

A guerra na Ucrânia pressiona ainda mais os custos com o querosene de aviação (QAV). Após o preço médio do combustível dos aviões ter registrado alta de 91,9% em 2021, em comparação com 2020, a Petrobras anunciou na sexta-feira (1) aumento em torno de 18% no preço do QAV, dependendo da refinaria. No período de 1º de janeiro a 1º de março, o valor do combustível dos aviões acumula alta de cerca de 38%, segundo dados da Petrobras.

“Esses dados mostram como o preço do QAV é um desafio permanente para as empresas aéreas e comprovam que esse combustível deveria ter tratamento de política pública, pois antes da pandemia transportávamos mais de 100 milhões de passageiros por ano. Agora, a guerra na Ucrânia acelerou a pressão sobre o valor do combustível, o que pode frear a retomada da operação aérea que estávamos observando a cada mês. Permanecemos firmes no setor enfrentando diariamente o Custo Brasil”, afirma o presidente da ABEAR, Eduardo Sanovicz.

O QAV é o item de maior ineficiência econômica para as companhias aéreas brasileiras e responde por mais de um terço dos custos do setor, que por sua vez têm uma parcela de mais de 50% indexada ao dólar. A cotação da moeda norte-americana encerrou o ano passado no patamar de R$ 5,58, sendo que em meados de 2014 o valor estava em R$ 2,35. O Brasil é o único país do mundo que tem um tributo regional sobre o QAV, o ICMS. As empresas estrangeiras, por sua vez, não pagam esse imposto para abastecer em território nacional. É por isso que uma viagem internacional muitas vezes é mais barata do que um voo doméstico, considerando-se distâncias similares.

FONTE ABEAR

Cerveja deve ficar mais cara no Brasil devido à guerra na Ucrânia

Setor cervejeiro já prevê reajuste no primeiro semestre devido a aumentos em insumos e no frete por causa do conflito

A guerra na Ucrânia já elevou o preço dos pães, do combustível e das carnes no Brasil, e a sucessão de altas não deve parar por aí.

A cerveja, que já sofreu uma inflação de quase 8,4% no acumulado dos últimos 12 meses, considerando fevereiro, deve ficar ainda mais cara no futuro próximo.

A previsão é da própria indústria cervejeira, que depende de insumos importados, além de absorver altas internas, como dos fretes. 

Superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindcerv), que representa as maiores fabricantes do país, Luiz Nicolaewsky afirma que cada empresa definirá os parâmetros e o momento do reajuste. 

“O aumento deve ser no decorrer do primeiro semestre, mas temos que aguardar a estratégia de cada empresa. Temos aumento do petróleo, da energia, nossos insumos são quase todos commoditizados, e as commodities variam com os preços internacionais. Existe pressão para aumento”, diz Nicolawesky. 

Em fevereiro, antes da guerra, a Heineken havia afirmado que aumentaria os preços globalmente para compensar a alta dos custos. 

A Ambev, por usa vez, adota uma política de “hedge”, estratégia que permite antecipar o preço das commodities em um ano, reduzindo o efeito das altas do mercado internacional sobre a produção.

A empresa, que é produtora da Skol, da Brahma e da Budweiser, por exemplo, já havia reajustado os valores em outubro de 2021. 

Nas cervejas artesanais, a inflação é dada como certa. “O aumento ocorre desde o último trimestre do ano passado, e a guerra acentuou isso. O malte aumentou 30%, o lúpulo pelo menos 20%… No curto prazo, provavelmente até o mês que vem, teremos um aumento de 10%, 15%”, diz o presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais (Acerva Mineira), José Bento Vargas. 

A indústria brasileira importa cerca de 70% do malte utilizado nas cervejas. A maior parte vem de parcerias do Mercosul, mas a queda da oferta de trigo, cevada e malte da Rússia e da Ucrânia, algumas das principais produtoras mundiais, pressiona os preços na América Latina.

“Nossa orientação é apertar ao máximo as torneiras para reduzir custos de fabricação e distribuição, porque também temos problemas internos bastante significativos, como o poder de compra do brasileiro, que tem se deteriorado ano a ano”, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni. 

Venda de cerveja aumentou 7,7% em 2021

O consumo de cerveja só aumentou durante a pandemia. Após uma alta de 5,3% entre 2019 e 2020, o volume de vendas cresceu novamente em 2021, passando de 14,3 bilhões de litros no Brasil, 7,7% a mais em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Euromonitor encomendado pela SindCerv. 

Já para o mercado das cervejas artesanais em Minas, segundo o presidente da Acerva Mineira, José Bento Vargas, os últimos anos foram de aperto. 

“Cervejarias chegaram a ter 60%, 70% de diminuição de vendas. A cerveja artesanal foi afetada pela questão do preço, que é maior. Muitas empresas fecharam, e pessoas perderam empregos, então o pessoal foi para as cervejas mais baratas”, diz. 

A mineira Krug Bier foi na contramão desse movimento e, segundo o mestre cervejeiro Alfredo Figueiredo, a empresa cresceu de 20% no último ano – o que não impedirá reajustes.

“Tivemos um aumento em dezembro e agora estamos fazendo mais um. São pequenos para não ser um baque, mas devem chegar aos 10%”, conclui ele.

FONTE O TEMPO

‘Historiadores dirão que momento atual foi o início da 3ª Guerra Mundial’, diz pesquisador

Quando olharem para o dia 24 de fevereiro de 2022, os historiadores do futuro deverão dizer que ali teve início não só a invasão do território ucraniano por tropas da Rússia, mas a Terceira Guerra Mundial. A interpretação sobre o conflito armado que eclodiu na Europa nas últimas semanas é feita pelo cientista político da Universidade de Chicago Paul Poast, estudioso de como o poderio financeiro é central em esforços de guerra.

Poast argumenta que a participação ativa na guerra vai bem além do envio de tropas a um campo de batalha. Para ele, armar ou financiar um dos lados de um conflito é também participar ativamente dele. E por isso, tanto os Estados Unidos quanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – que nas últimas semanas não só enviaram bilhões de dólares em ajuda aos ucranianos como aplicaram as maiores sanções econômicas da história à Rússia de Vladimir Putin – já poderiam ser considerados partícipes da guerra atual.

Assim, na prática, segundo essa interpretação, as maiores potências econômicas mundiais e bélicas (Rússia, Estados Unidos e Europa Ocidental) já estariam em confronto direto, e já viveríamos o princípio da Terceira Guerra Mundial.

Prédio destruído por bombardeio na capital ucraniana, Kiev
Legenda da foto,Prédio destruído por bombardeio na capital ucraniana, Kiev

Há precedentes históricos para apoiar a interpretação de Poast. O principal deles, segundo o cientista político, seria o próprio ataque dos japoneses a Pearl Harbor, ato que arrastou os americanos para os campos de batalha da Segunda Guerra Mundial.

De acordo com o pesquisador, o ataque do Japão ao território americano, em dezembro de 1941, aconteceu porque os japoneses se viram incapazes de vencer a guerra que lutavam na China e atribuíam seu insucesso na Ásia às sanções impostas pelos americanos ao petróleo japonês e ao auxílio financeiro e armamentício que o governo dos EUA vinha oferecendo à China.

Por esse mesmo raciocínio, Poast acredita que é apenas uma questão de tempo – e de capacidade de organização e força militar – para que a Rússia ataque a Polônia, por onde hoje escoam a maior parte dos comboios de ajuda da Otan e dos EUA para a Ucrânia. Isso, no entanto, acarretaria em uma importante escalada da guerra, já que a Polônia é membro da Otan, o que implicaria que os demais países da aliança viriam a seu socorro nos campos de batalha.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Poast à BBC News Brasil, editada por clareza e concisão.

O cientista político Paul Poast, da Universidade de Chicago (EUA)
Legenda da foto,O cientista político Paul Poast, da Universidade de Chicago (EUA)

BBC News Brasil – Já estamos vivendo uma guerra mundial sem que ainda tenhamos compreendido completamente isso?

Paul Poast – Temos ouvido do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que nós já estamos na Terceira Guerra Mundial, e outros líderes e pensadores têm dito coisas semelhantes.

A minha resposta é que depende de como se define guerra. Algumas pessoas usam a expressão Terceira Guerra Mundial para se referir a um conflito em que as armas nucleares estão sendo usadas e, portanto, seria realmente uma guerra muito curta porque seria a aniquilação nuclear. Outros dirão que uma guerra mundial tem que acontecer em vários locais ao redor do mundo ao mesmo tempo. Ou seja, não pode ser apenas como na guerra atual, apenas na Ucrânia, mas teria que incluir dois ou três continentes. Mas, na minha opinião, você não precisa necessariamente ir tão longe.

A chave para definir se algo é uma guerra mundial é realmente pensar sobre até que ponto diferentes países estão participando desse conflito. E isso está muito relacionado a outro conceito que muitos formuladores de políticas e estudiosos usam, que é a noção de uma guerra entre grandes potências, algo que muitos defendem que não acontece desde a Segunda Guerra Mundial. Então, minha resposta é que acho que podemos estar nos estágios iniciais do que os historiadores podem dizer mais tarde ser o início de uma guerra mundial, mesmo que armas nucleares nunca sejam usadas.

BBC News Brasil – E por que pensa isso?

Poast – A razão pela qual digo isso é porque, em primeiro lugar, você já tem uma grande potência envolvida diretamente, a Rússia. Em segundo lugar, embora outras grandes potências, como os Estados Unidos, não lutem na guerra diretamente, estamos muito perto disso. Os Estados Unidos estão abertamente fornecendo todos os tipos de armas à Ucrânia para combater a Rússia. E o fato de não fazerem em segredo, como no Afeganistão, quando a União Soviética invadiu o Afeganistão em 1989, é algo que realmente diferencia a guerra atual das chamadas guerras por procuração mais tradicionais, quando as potências apoiam um dos lados de forma velada, sem divulgar isso abertamente.

O Iêmen é um ótimo exemplo de uma guerra por procuração entre, digamos, a Arábia Saudita e o Irã, que vivem em uma espécie de guerra fria há décadas, na qual os dois países têm tentado evitar conflitos militares diretos entre si, mas têm investido em muitos conflitos militares indiretos no Iêmen.

Mas no conflito da Ucrânia, os lados são muito claros. De um lado, temos a Rússia, com alguma ajuda da Belarus e tentando ajuda de outros países como a China. De outro lado, a Ucrânia com a Otan, os Estados Unidos e vários outros países do chamado Ocidente que os apoiam. E então, nesse sentido, as linhas de batalha, os lados são muito claros. O campo de batalha é muito claro. E também, novamente, o apoio na participação dos lados é muito claro. Então, nesse sentido, ele tem muitas características das coisas que você procuraria ao tentar dizer que algo é uma guerra entre grandes potências e, dependendo de quantas grandes potências estão envolvidas, você pode dizer que é realmente uma guerra mundial.

Biden discursa
Legenda da foto,Biden acusou Putin de planejar ataque por meses e tem abertamente fornecido ajuda financeira e armamentícia à Ucrânia

A única coisa que atualmente levaria alguém a dizer que não estamos em uma guerra mundial é que ainda não temos aquele confronto militar direto entre, digamos, as forças da Otan ou os Estados Unidos contra a Rússia. Mas se você olhar para comentários que Zelensky e outros fizeram, há um tom de que isso inevitavelmente deverá acontecer e, quando os historiadores olharem para esse período, dirão que em fevereiro 2022, quando a guerra começou, os lados já recebiam assistências de outros países e, eventualmente, isso alimentou o confronto militar direto. Mas essa é a única coisa que ainda não vimos. É uma grande coisa, claro, mas todo o restante dos fatores já indica para uma guerra mundial.

BBC News Brasil – O governo americano tenta estabelecer limites para a participação dos EUA na guerra. Biden já disse que não enviará combatentes americanos para lutar contra os russos em território ucraniano, mas não parece ver como participação de guerra o envio de armas e recursos financeiros. No entanto, a participação dos americanos nas duas guerras mundiais começou exatamente pelo auxílio econômico e armamentício que os americanos enviaram aos seus aliados.Então, como explicar essa linha de não participação que parece bastante artificial?

Poast – Acho que artificial é a palavra certa aqui. Uma grande área da minha pesquisa é o que chamo de economia política da guerra ou economia da guerra, então levo muito a sério a ideia de fornecer fundos, suprimentos, recursos e sobre como isso é tão vital para a guerra. Para mim, se você é o financiador/ fornecedor essencial, você é um contribuinte-chave para o esforço de guerra. E por isso é difícil dizer que você não é um participante dessa guerra. E por isso essa palavra artificial é muito importante, porque se olharmos para a participação dos EUA na Segunda Guerra Mundial, em particular, os americanos foram fundamentais para suprir os aliados por muitos anos antes de diretamente se envolverem nos conflitos.

Entre 1940 e 1941, embora os EUA não enviem tropas oficialmente para a guerra até 1942, eles já estão fornecendo as armas e, do ponto de vista da Alemanha, do ponto de vista de Hitler, já estão envolvidos no conflito e já são vistos como uma grande ameaça. E, portanto, da perspectiva do inimigo, não importa muito se você declarou guerra ou se se reconhece como parte da guerra, se ao financiar ou armar um dos lados você se torna o principal motivo pelo qual o inimigo está perdendo essa guerra ou está tendo mais dificuldade para vencê-la.

É possível ver que o Putin opera com essa lógica de entender a ajuda para a Ucrânia vinda do Ocidente, da Otan, dos Estados Unidos, como parte do conflito. Ele inclusive fez declarações sobre como essas sanções já são uma guerra econômica. Da perspectiva de Putin, ele já está em guerra com o Ocidente, com os Estados Unidos. Para ele, não importa que ainda não tenham sido usadas tropas americanas. Claro que é possível dizer que importa, já que a presença do exército americano seria um ponto-chave de escalada no conflito. Mas se Putin continuar tendo seu progresso militar frustrado na Ucrânia, ele dirá que a causa disso é a assistência que está sendo fornecida pelos Estados Unidos, pela Otan. E então, de sua perspectiva, não é uma luta entre a Rússia e a Ucrânia, ele se vê lutando contra o Ocidente na Ucrânia. Por isso que eu acho que artificial é uma boa palavra, porque sim, Biden pode dizer que ainda não está em guerra, mas Putin vê a situação de forma diferente.

BBC News Brasil – E, de acordo com seu raciocínio, Putin não está errado em pensar assim.

Poast – Sim. Há quem questione esse raciocínio dizendo: bem, Putin ainda não atacou um país da Otan, se ele realmente acha que estava em guerra com a Otan, ele já não teria atacado a Polônia? E a resposta pode ser, bem, o tempo dirá. Pode ser que nas próximas semanas ele ataque a Polônia. E pode ser que ele não o tenha feito ainda porque não tem a capacidade de abrir uma nova frente militar por conta das dificuldades grandes na Ucrânia. Ele pode, na verdade, ser alguém racional o suficiente para dizer ‘não quero disparar uma arma nuclear porque ainda não estou em uma situação desesperadora o suficiente para fazer isso’.

Mas acredito que se ele tivesse condições militares um pouco melhores, ele já teria expandido essa guerra. No início da guerra, eu falei sobre como, dependendo de quão fácil fosse conquistar a Ucrânia – o que obviamente se mostrou bastante difícil – Putin procuraria expandir o conflito para os países vizinhos, então acho que a única razão pela qual ele ainda não atacou outros pontos da Europa ocidental é que ele simplesmente não conseguiu vencer ainda na Ucrânia, e por isso não tem como redirecionar forças.

BBC News Brasil – Mas isso seria um cenário em que as intenções de Putin vão muito além da Ucrânia. Na sua avaliação, o que Putin deseja com sua ofensiva militar?

Poast – Acho que seu objetivo final era recriar pelo menos uma parte do Império da União Soviética, possivelmente até mesmo do Império Russo. E percebe-se isso em sua retórica antes da invasão. E se tivesse sido fácil, creio que ele teria buscado a anexação completa da Ucrânia para tornar a Ucrânia não apenas um estado independente subserviente à Rússia, mas realmente torná-la parte da Rússia. E se ele tivesse conseguido isso, acho que teria mirado em outras ex-repúblicas soviéticas que não estão totalmente alinhadas com a Rússia, como a Moldávia ou a própria Geórgia. E se isso se mostrasse fácil o suficiente, ele se voltaria para os estados bálticos, embora, é claro, os estados bálticos sejam um cenário totalmente diferente porque estão na Otan.

Agora, na minha opinião, ele teve que ajustar seu objetivo. Acredito que ele ainda espera conseguir uma mudança de regime na Ucrânia. O cenário, no entanto, é que ele pode acabar em um atoleiro na Ucrânia, de onde não quer recuar, mas onde também não consegue avançar em seu objetivo final.

BBC News Brasil – Antes da invasão, Biden deixou claro que forças da Otan ou dos EUA não lutariam diretamente na Ucrânia, mas não anunciou qualquer restrição em termos de apoio financeiro ou armamentício a Zelensky. Recentemente, no entanto, os americanos e seus aliados excluíram a possibilidade de envio de aviões de guerra para a Ucrânia. Por que barrar o envio de aviões se já estão enviando drones antiaéreos?

Poast – Enviar aviões seria uma receita pronta para escalar o conflito. Isso porque enviar os aviões por terra, para uma zona de guerra, seria um enorme desafio logístico. Então os jatos teriam que decolar de algum território da Otan, conduzir operações militares e depois voltar para a base. E por isso mesmo, inicialmente, a ideia era de que os aviões partissem de uma base na Alemanha e não na Polônia, já que a partir da base aérea polonesa, perto da fronteira com a Ucrânia, os aviões e a própria base aérea seriam alvos fáceis para os russos. Mas o problema não é só esse. Mesmo que os pilotos fossem ucranianos, seriam aviões poloneses, partindo de uma base dos Estados Unidos na Alemanha para atacar em território ucraniano e depois retornar à base. Os russos evidentemente veriam nisso uma escalada na participação de EUA e aliados da Otan.

Pessoa caminha ao lado de outdoor com rosto de Putin
Legenda da foto,”A Rússia não começa guerras, acaba com elas”, dizia outdoor com rosto de Putin, na Crimeia

BBC News Brasil – Certo, mas os Estados Unidos e seus aliados estão continuamente enviando armamentos para os ucranianos e essas armas passam normalmente pela fronteira da Polônia com a Ucrânia. Então qual é a diferença entre enviar aviões ou outras armas a partir do território polonês?

Poast – Sim, e por isso uma das maiores preocupações atuais está na possibilidade de a Rússia mirar esses comboios de recursos e suprimentos, que estão cruzando a fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. E por isso mesmo eu acho que se há algum membro da Otan com maior probabilidade de ser atacado pelos russos hoje é a Polônia.

É verdade que Putin tem interesses territoriais nos Balcãs e que antes eles seriam um alvo mais óbvio, mas a Polônia é hoje quem oferece assistência à Ucrânia mais diretamente e é fácil para os russos dizerem que a Polônia é o canal de armas para os ucranianos, além de ser para onde boa parte dos refugiados está seguindo. Então, esse poderia ser precisamente o argumento da Rússia para atacar um país da Otan acusando-o de ter agredido primeiro, acusando de ser blefe esse argumento dos líderes políticos dos Estados Unidos de que exista uma distinção entre fornecer armas e operá-las diretamente em uma guerra.

BBC News Brasil – Existe algum precedente histórico de uma situação como essa?

Poast – O melhor exemplo disso, historicamente, são os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

Em 1937, o Japão se envolveu em uma guerra na China e então os Estados Unidos acabaram impondo um embargo de petróleo no Japão por causa disso. Mais tarde, a China também foi beneficiada com suprimentos no Lend-lease (um programa do presidente americano Franklin Roosevelt para financiar, por meio de empréstimo, armas e recursos para países aliados). E, no limite, isso levou o Japão a perceber que não teria condição de vencer a guerra na China dado o apoio americano e à decisão dos japoneses de atacar Pearl Harbor.

Basicamente, o ataque do Japão a Pearl Harbor tinha o objetivo de interromper o auxílio de guerra à China, mesmo que os americanos não tivessem qualquer tropa em território chinês. Esse é um caso clássico em que os EUA tentaram não se envolver efetivamente no conflito, mas foram percebidos como uma ameaça tão significativa que acabaram sendo atacados e levados ao conflito diretamente.

BBC News Brasil – A China é central no destino desse conflito e tem mantido uma postura ambígua até agora. Na semana passada, o líder chinês Xi Jinping e o presidente americano Joe Biden conversaram por quase duas horas sobre a situação. Os americanos têm acusado os chineses de cogitar financiar os russos na Ucrânia, o que Pequim nega. Depois da conversa, Xi afirmou que os países não devem se confrontar em campos de batalha. Como vê a situação chinesa?

Poast – A posição da China durante toda esta crise tem sido de ambiguidade, eles não fizeram declarações fortes contra ou a favor da Rússia. O que parece sair dessa conversa entre os EUA e a China, de que devem evitar se confrontar diretamente na Ucrânia, pode ser lido de várias maneiras. Não significa que a China não apoiará a Rússia. Significa apenas que, como Biden, Xi não pretende enviar tropas chinesas diretamente para a Ucrânia. Os dois países não querem que uma potencial guerra por procuração entre ambos se torne uma guerra direta entre os EUA e a China. E vale lembrar que os dois países já estiveram em lados opostos em conflitos depois da Segunda Guerra Mundial – o Vietnã é o melhor exemplo disso.

Mas se não devemos esperar confronto direto entre os países, ainda está na mesa para a China fornecer algum tipo de assistência direta à Rússia. E a ameaça de sanções econômicas (pelos EUA) certamente não são o suficiente para barrar a China de fazer aquilo que ela acha ser de seu interesse estratégico primordial. As pessoas apontam as enormes trocas comerciais entre EUA e China para dizer que uma guerra entre os dois países é improvável pelo custo econômico que acarretaria a ambos e ao mundo. Mas em 2017, quando houve a crise dos mísseis da Coreia do Norte, a China aliviou a crise, mas deixou claro que se os EUA atacassem a Coreia do Norte, os chineses defenderiam o país, embora tenham deixado claro que ficariam neutros se um ataque americano fosse motivado por uma provocação norte-coreana. Naquele momento, eles foram capazes de aliviar a crise, mas deixaram claro que arriscariam um conflito com os americanos em nome de sua aliança estratégica com a Coreia do Norte.

E a assistência à Rússia segue a mesma lógica. Recentemente Putin e Xi assinaram esse acordo de amizade, se veem como parte dessa nova ordem internacional que querem liderar. E por isso essa é uma das maiores implicações desse conflito, que vai muito além das cenas horríveis de ataques a civis e destruição de um país. Se a China optar por uma aliança com a Rússia para tentar criar uma ordem internacional alternativa ao Ocidente, isso teria enormes implicações basicamente para o resto do século 21.

FONTE BBC.COM

Diário da Covid-19: Preços dos alimentos disparam com pandemia, guerra e crise ambiental

Índice de Preços dos Alimentos da ONU chegou a 140,7 pontos em fevereiro, o mais alto em cerca de 100 anos

O Brasil adiou o carnaval, mas o atual clima nacional e global é digna de uma Quarta-feira de Cinzas. A covid-19 continua causando danos após dois anos da declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecendo o estado de pandemia, em 11/03/2020. Como “desgraça pouca é bobagem”, a doença do SARS-CoV-2 nem acabou e uma guerra injustificada e inoportuna tem provocado a perda de vidas inocentes e espalhado o pânico na economia mundial. Pairando sobre tudo isto – como uma “Espada de Dâmocles” – a crise climática e ambiental não dá trégua e só se aprofunda, como mostrou o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado na segunda-feira de carnaval (28/02).

O panorama nacional e global da pandemia

A pandemia da covid-19 atingiu o auge da média diária de pessoas infectadas em janeiro de 2022, embora tenha apresentado um declínio em fevereiro e uma continuidade de queda em março. Este padrão é generalizado para quase todos os continentes (menos a Oceania) e para o Brasil. No mundo o pico de infecções foi de 435 casos por milhão em 25/01 e caiu para 192 casos por mil em 04/03. No Brasil o pico de infecções foi de 884 casos por milhão em 29/01 e caiu para 199 casos por milhão em 04/03, conforme mostra o gráfico abaixo.

O único continente que apresenta alta em março é a Oceania e isto se deve ao aumento das infecções na Nova Zelândia. A primeira-ministra Jacinda Ardern, que teve grande sucesso na política de covid zero durante dois anos, foi vencida recentemente e tem assistido a um surto de casos da covid-19 entre a população neozelandesa. Mesmo assim, o coeficiente acumulado de incidência na Nova  Zelândia é de 40,5 mil casos por milhão de habitantes, enquanto do mundo é de 56,4 mil e do Brasil 135,4 mil por milhão de habitantes.

Embora a média de casos do novo coronavírus em 2022 tenha atingido valores sem precedentes, a média de óbitos não teve o mesmo comportamento. O gráfico abaixo mostra que todos os continentes apresentam coeficientes de mortalidade abaixo dos valores de 2020 e 2021. Por exemplo, o coeficiente de mortalidade do mundo teve um pico de 1,8 óbito por milhão em 29/04/2021 e caiu para 0,94 óbito por milhão em 04/03. O Brasil teve um pico de 14,5 óbitos por milhão de habitantes em 11/04/2021 e caiu para 2 óbitos por milhão em 04/03/2022.

Em termos de coeficiente acumulado de mortalidade, no dia 04/03/22, o mundo chegou a 761 óbitos por milhão e o Brasil chegou a 3.045 óbitos por milhão de habitantes. Para efeito de comparação, a Nova Zelândia registrou apenas 12 óbitos por milhão de habitantes no dia 04/03 (235 vezes menos do que o coeficiente brasileiro). Se o Brasil tivesse o mesmo coeficiente da mortalidade neozelandesa teria registrado menos de 3 mil mortes em toda a pandemia, ao invés dos 651 mil óbitos registrados em 04 de março de 2022.

O panorama econômico global, a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia

A pandemia da covid-19 provocou, em 2020, a maior recessão da economia mundial no espaço temporal de um século. No ano de 2021, a economia global se recuperou, mas a renda per capita apenas voltou ao nível pré-pandêmico. Nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas em outubro de 2021, o crescimento econômico global em 2022 seria de 4,9%. Mas, em janeiro, o FMI reduziu a projeção para 4,4%. Com o surto da variante Ômicron em janeiro e a invasão russa da Ucrânia a perspectiva é de um crescimento menor em 2022. Em abril serão divulgados novos números e o mais provável é que as novas estimativas do FMI fiquem bem abaixo das projeções anteriores.

O mundo precisava de paz para se recuperar da pandemia. A guerra só gera perdas e sofrimento. No ritmo da última semana, o povo ucraniano será obrigado a suportar grandes danos humanos e enormes prejuízos econômicos. A Rússia também deverá pagar um alto preço pela inconsequente invasão. Mas nenhum país vai sofrer sozinho, todos vão sofrer, pois vivemos em um mundo globalizado. Os efeitos sociais da situação econômica internacional serão mais sentidos pelos países mais pobres e pelas populações de baixa renda. Além da provável elevação do desemprego, a inflação deve corroer o poder de compra, especialmente de quem vive de salários e de auxílios governamentais.

Desta forma, fica cada vez mais distante a meta número 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), de acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição até 2030. Isto porque o preço dos alimentos que já vinha subindo desde o ano passado, bateu um recorde histórico em fevereiro de 2022.

O Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) ficou em 140,7 pontos em fevereiro, o valor mais alto em cerca de 100 anos, sendo superado apenas pelo preço dos alimentos na época da 1ª Guerra Mundial e da pandemia da Influenza, no quinquênio 1915-1920.

O gráfico abaixo mostra que os recordes de alta do FFPI aconteceram em 1974 e 1975 (quando houve o primeiro choque do petróleo decorrente da guerra do Yom Kippur de 1973). A década de 1971-80 foi a que teve a maior média decenal da série, com 110,2 pontos. Nas décadas de 1980 e 1990 os preços dos alimentos caíram e marcaram os menores valores do século XX. Mas a comida voltou a ficar mais cara no século XXI e está atingindo o ápice em função da pandemia, da guerra da Ucrânia e da crise climática e ambiental. Ainda é cedo para prever a média do preço dos alimentos da década 2021-30, mas o FFPI de 2021 ficou em 125 pontos e os dois primeiros meses de 2022 apresentaram valores acima de 135 pontos. Por conseguinte, a atual década pode registrar a maior média do preço dos alimentos, agravando a situação geral da insegurança alimentar.

O aumento do preço dos alimentos já vinha subindo em decorrência do rompimento das cadeias produtivas ocorrido na pandemia da covid-19 e em função da crise climática e ambiental que tem dificultado a produção de alimentos devido às secas, enchentes, erosão e acidificação dos solos e das águas etc. O aumento de fevereiro reflete os fatores estruturais, mas também o aumento do preço dos combustíveis fósseis provocado pelo impacto das ações militares da Rússia. Os efeitos serão ainda maiores em março de 2022.

De fato, a guerra entre Ucrânia e Rússia ameaça o abastecimento global de alimentos. A Ucrânia e a Rússia são os principais exportadores de alguns dos alimentos mais básicos do mundo, representando, juntos, cerca de 29% das exportações globais de trigo, 19% da oferta mundial de milho e 80% das exportações mundiais de óleo de girassol. Mas a Rússia também exporta nutrientes agrícolas, bem como gás natural, que é fundamental para a produção de fertilizantes à base de nitrogênio. Cerca de 25% do suprimento europeu dos principais nutrientes das culturas, nitrogênio, potássio e fosfato, vêm da Rússia.

Portanto, com as condições geopolíticas desarticuladas, as maiores fontes de matéria-prima para a produção de alimentos estão sujeitas a limitações e não há alternativas de curto prazo. Os preços futuros do trigo dispararam nos últimos dias com a interrupção dos embarques de grãos da região do Mar Negro. Os preços dos fertilizantes aumentaram acentuadamente nos últimos meses, acompanhando o aumento dos custos do gás natural e do petróleo. O Brasil será bastante atingido pela escassez de insumos agrícolas e o agronegócio brasileiro deve ser obrigado a reduzir a produção a partir do segundo semestre de 2022. O pior está por vir e qualquer melhoria dependerá do fim da pandemia, assim como do fim da guerra.

O panorama climático e ambiental

Existem crises conjunturais e crises estruturais. A pandemia e a agressão russa são fenômenos conjunturais que devem ser superados em algum momento, no curto ou médio prazo. Mas a crise climática e ambiental é um evento estrutural que está saindo do controle, deve se agravar nas próximas décadas e pode se tornar irreversível. Em um novo relatório publicado na última segunda-feira (28/02), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU alerta que ações urgentes são necessárias para lidar com os riscos trazidos pelas mudanças climáticas. O documento adverte que, para evitar a perda crescente de vidas, a redução da biodiversidade e o enfraquecimento da infraestrutura social e econômica, é necessária uma ação ambiciosa e acelerada para mitigar crise climática, com cortes rápidos nas emissões de gases de efeitos estufa.

Nos últimos 250 anos, a economia global cresceu cerca de 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do que o ocorrido no conjunto dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. A pegada ecológica ultrapassou a biocapacidade do Planeta e superou a capacidade de carga da Terra. Segundo o relatório do IPCC: “As mudanças climáticas induzidas pela humanidade, incluindo eventos extremos mais frequentes e intensos, causaram impactos adversos generalizados e perdas e danos relacionados à natureza e às pessoas, além da variabilidade climática. Alguns esforços de desenvolvimento e adaptação reduziram a vulnerabilidade”.

A temperatura da Terra já aumentou 1,2º Celsius desde o período pré-industrial e a meta estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, era limitar o aquecimento global a 2º C, com esforços para que ele não ultrapasse os 1,5º C. Mas, as gerações que estão nascendo agora e que terão muitas pessoas sobreviventes no ano de 2100, vão passar por quatro vezes mais extremos climáticos do que passam agora, no cenário de 1,5º C. Mas se as temperaturas aumentarem por volta de 2º C, elas terão cinco vezes mais inundações, tempestades, secas e ondas de calor do que agora. Por conseguinte, pelo menos 3,3 bilhões de pessoas estarão altamente vulneráveis às mudanças climáticas e 15 vezes mais propensas a morrer por condições climáticas extremas.

O degelo do Ártico, da Groelândia e dos glaciares tem ocorrido de forma acelerada. Na Antártida, a quantidade de gelo estava aumentando ligeiramente até 2015, mas reverteu a tendência nos últimos anos. Em fevereiro de 2022, o gelo marinho ao redor da Antártida apresentou o menor nível de todos os tempos, desde que começaram as medições por satélite, ficando abaixo de 2 milhões de km2, pela primeira vez. Dependendo dos níveis das emissões futuras e da aceleração do aquecimento global, o nível dos oceanos deve subir dezenas de centímetros no século XXI. A maior parte do litoral brasileiro está ameaçado pelas inundações. Bilhões de pessoas de todo o mundo, que moram perto das áreas costeiras, serão afetadas diretamente e permanentemente.

Como mostrou Liana Melo, no artigo “Distopia climática à vista”, publicado aqui no # Colabora, em 28/02/2022, o novo relatório do IPCC aponta perdas e danos devastadores. Ela diz: “Vem por aí um mundo distópico do ponto de vista climático e ambiental, além de mais injusto socialmente, dado que os impactos do aquecimento global vão recair sobre os ombros daqueles que menos alimentam a crise climática: as populações mais pobres e vulneráveis. De 2010 a 2020, a mortalidade causada por tempestades, secas ou enchentes foi 15 vezes maior nas regiões vulneráveis do que nas menos vulneráveis. Não bastasse a pandemia e a guerra, que já seria uma combinação absurda, os impactos das mudanças climáticas delineiam um mundo à beira do apocalipse.

E se as emissões de gases de efeito estufa forem reduzidas apenas no ritmo atualmente planejado, o aumento de temperatura resultante ameaçará a produção de alimentos, o abastecimento de água, a saúde humana, os assentamentos costeiros, as economias nacionais e a sobrevivência de grande parte do mundo natural. Cortes mais rápidos de emissões serão a única maneira de evitar tamanha distopia”.

Sem dúvida, a 6ª extinção em massa das espécies e o agravamento do aquecimento global são sinais de um colapso ecossocial que se vislumbra no horizonte. O aquecimento global é a maior ameaça existencial à humanidade. Assim como existe uma emergência de saúde pública (por conta do coronavírus), existe também uma emergência climática por conta do aumento da temperatura global. O mundo precisa aprender com o trauma da covid-19 e acordar para a urgência de se resolver os problemas ambientais do século XXI. Como mostrei em artigo da Revista Latinoamericana de Población (2019), teremos uma “Terra inabitável”, se nada for feito com urgência, tal como disse o jornalista David Wallace-Wells.

Depois da Primeira Guerra Mundial e após o fim da pandemia da Influenza, em 1918 e 1919, houve o “maior carnaval de todos os tempos”. No auge da crise, o comércio e as fábricas haviam fechado as portas para evitar a contaminação em massa. Mas em 1920, no ano que marcou a estreia do Cordão da Bola Preta na cidade do Rio de Janeiro, houve uma grande folia no carnaval, comemorando o início de uma década de recuperação e progresso.

Infelizmente, o carnaval de 2022 (que foi adiado para abril), provavelmente, não será marcado pelo mesmo entusiasmo de 102 anos atrás. A conjugação de pandemia, guerra e crise ecológica tende a arrefecer o ânimo dos Pierrôs e Colombinas e fomentar o clima de 4ª feira de Cinzas. Na tradição Cristã as cinzas são um símbolo para a reflexão sobre a necessidade de conversão do estilo de vida. Na perspectiva ambiental, a 4ª feira de Cinzas é um símbolo para lembrar que as queimadas e fogos provocados pelas ações humanas criminosas (e potencializadas pelo aquecimento global) podem transformar a cobertura vegetal e a biodiversidade em pó. Desta forma, a vida na Terra e os futuros carnavais vão depender de um forte compromisso global e imediato com a proteção e a restauração do meio ambiente.

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Rússia: um grande urso acuado

Putin tenta reverter declínio russo com agressão à Ucrânia

Vladimir Putin costuma dizer que o fim da União Soviética, em 1991, foi o maior acontecimento geopolítico do século XX. Faz sentido, especialmente no caso dele: foi esse divisor de águas que o levou à liderança da Rússia, segunda maior potência nuclear – mas não econômica – do mundo. No momento em que ele se torna o grande agressor ao invadir a Ucrânia, pondo a Europa de novo à beira de uma guerra em grande escala, sob outro prisma pode-se dizer que o líder russo joga uma cartada decisiva para manter o que resta da influência dos tempos da então poderosa URSS.

Se a questão pode ser entendida, não pode ser justificada. A população civil ucraniana já está sofrendo os horrores da guerra. Assim como sofreram os iraquianos nas duas Guerras do Golfo – a primeira deflagrada pelos EUA em 1991, com apoio da comunidade internacional, para livrar o Kuwait da invasão do Iraque; a segunda em 2003, por um capricho do presidente americano George W. Bush, cujas alegações para a invasão se provaram falsas. Assim como sofreram os afegãos, tanto na invasão soviética de 1979, que durou dez anos, quanto nas duas dos EUA, em 2001, para caçar Osama bin Laden e a al-Quaeda após os atentados às Torres Gêmeas, e em 2021, para destruir a organização radical Estado Islâmico.

Ucrânia sob ataque: tropas russas avançam em várias frentes (Arte: Fernando Álvarus)
Ucrânia sob ataque: tropas russas avançam em várias frentes (Arte: Fernando Álvarus)

Apesar de todo o poderio acumulado internamente, Putin viu, mesmo antes de sua ascensão à liderança russa, todo o arcabouço em que se sustentava a superpotência soviética ruir rapidamente. A chamada Cortina de Ferro, nome dado pelo Ocidente aos países da Europa Oriental que caíram em poder da URSS após a Segunda Guerra Mundial, era unida militarmente pelo Pacto de Varsóvia (uma espécie de versão soviética da Otan, a aliança militar ocidental). Dela faziam parte, além da própria URSS (com suas 15 repúblicas), Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia e Albânia.

Pacto de Varsóvia: aliança militar comandada pela antiga União Soviética reunia, até ser extinta, outros sete países europeus (Arte: Fernando Alvarus)
Pacto de Varsóvia: aliança militar comandada pela antiga União Soviética reunia, até ser extinta, outros sete países europeus (Arte: Fernando Alvarus)

Com a queda do Muro de Berlim e a reunificação alemã, as sucessivas proclamações de independência dos países-membros do Pacto e o fim da URSS (26 de dezembro de 1991), a situação mudou drasticamente para a Rússia. Dos 27 países que compõem atualmente a União Europeia, nada menos do que 11 (Bulgária, Estônia, Hungria, Croácia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Eslovênia, Eslováquia e República Tcheca) estavam sob o guarda-chuva de Moscou. Dos cinco países “na fila” para entrar na UE, quatro (Sérvia, Albânia, Macedônia do Norte e Montenegro) eram aliados da URSS. Os mesmos 11 que aderiram à UE estão hoje entre os 28 membros da Otan.

A expansão da OTAN, aliança militar liderada pelos EUA, na Europa: adesão de 11 países, antes sob órbita russa (Arte: Fernando Álvarus)
A expansão da OTAN, aliança militar liderada pelos EUA, na Europa: adesão de 11 países, antes sob órbita russa (Arte: Fernando Álvarus)

O fim da Guerra Fria (entre os EUA e a URSS) significou, então, uma enorme redução da área de influência russa. Do antigo colar de proteção a Moscou, sobraram apenas Ucrânia, Belarus e Moldávia. Dos três, a Ucrânia é obviamente a mais importante, tanto em território (segundo maior da Europa, atrás apenas da própria Rússia), população (44 milhões) e riquezas – maior reserva europeia de urânio e a segunda maior reserva do mundo em manganês – e grande produção agrícola, para citar alguns itens.

O declínio não aconteceu apenas na esfera geopolítica, mas também em termos econômicos. Em 1980, somente a Rússia (sem contar as outras repúblicas soviéticas) tinha o sexto maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo. Em 2021, o país caiu para o 11o lugar, atrás do Brasil, em oitavo. Isso mostra a perda relativa da importância russa no cenário mundial. Ainda na Guerra Fria, a União Soviética sediou os Jogos Olímpicos de 1980, que se tornou emblemática por duas razões. O boicote liderado pelos EUA à competição e a figura da simpática mascote Misha – um urso, símbolo informal do país, reforçado nos tempos soviéticos. Difícil esquecer a cena do ursinho derramando uma lágrima no encerramento dos jogos, num efeito especial produzido por pessoas nas arquibancadas do estádio olímpico de Moscou.

A Ucrânia começou a se inclinar para o Ocidente. Em julho de 2017, o Conselho da Europa aprovou a ratificação do acordo de associação do país à UE. E o governo pró-ocidental do presidente Volodymyr Zelensky também deseja ser admitido na Otan. Evitar isso se tornou uma questão crucial para Vladimir Putin, que, há quase dez anos, incentiva o separatismo de áreas ucranianas na fronteira com a Rússia, na região de Donbass. Em 2014, Moscou anexou a Península da Criméia e, às vésperas da atual invasão da Ucrânia, reconheceu a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk, separatistas.

Moscou alega que um eventual ingresso da Ucrânia na Otan significaria, para o Ocidente, a possibilidade de estacionar armamentos, como mísseis, a poucos quilômetros do território russo. É óbvio que Putin não poderia esperar que isso acontecesse para iniciar sua campanha militar contra o país vizinho por conta da cláusula segundo a qual, se um país da aliança atlântica for atacado, os demais devem socorrê-lo militarmente. O mundo estaria, então, à beira de um conflito nuclear.

Embora a Segunda Guerra da Ucrânia (a primeira foi em 2013/14, terminando com a anexação da Península da Criméia) seja a maior intervenção militar russa em outra nação soberana na era pós-URSS, há uma série de conflitos em que o país tomou parte nas últimas décadas para manter sua área de influência.

Ucranianos atravessam a pé a fronteira com a Hungria para escapar de ofensiva russa: milhares de refugiados após a invasão (Foto: Atilla Kisbenedeck / AFP)
Ucranianos atravessam a pé a fronteira com a Hungria para escapar de ofensiva russa: milhares de refugiados após a invasão (Foto: Atilla Kisbenedeck / AFP)

Destacam-se as guerras da Chechênia, república do Cáucaso russo que proclamou sua independência de fato em 1991. Após tolerar a situação durante três anos, Moscou se lançou numa aventura militar que encontrou forte resistência chechena, sofreu muitas baixas e se retirou em 1996. Mas três anos depois, com Putin como primeiro-ministro e prestes a se tornar presidente, as forças russas entraram novamente no território após atentados na Rússia atribuídos a separatistas chechenos. Em 2000, Moscou retomou o controle da capital chechena, Grozny, arrasada pela artilharia e aviação russas. Houve dezenas de milhares de mortos dos dois lados e, desde então, um títere apontado por Putin mantém a república rebelde sob controle.

A Geórgia (terra natal de Stálin) foi outro país a sofrer uma invasão russa, em 2008, em apoio à Ossétia do Sul, que se rebelou contra o governo georgiano e teve o apoio de Moscou. Em cinco dias, a Rússia infligiu uma derrota esmagadora à Geórgia e, no processo, reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, outra república separatista. Desde então, mantém forte presença militar na região.

A Rússia tem também papel decisivo na Guerra Civil na Síria, que se arrasta desde os protestos contra o presidente Bashar Assad, em 2011. Moscou tem grande interesse estratégico no país, onde tem sua única base naval no Mediterrâneo, na cidade de Tartus. A partir de 2015, Putin ordenou ataques aéreos e navais contra o grupo terrorista Estado Islâmico, que lutava para derrubar o governo Assad. O conflito sírio é muito complexo, também tem intervenção dos EUA e muitos grupos político-militares, jihadistas ou não, que se posicionam a favor do (com apoio russo) e contra o (com apoio americano) ditador Assad.

Em todos esses conflitos, há obviamente muitas baixas militares em todos os lados envolvidos. Mas é a população civil indefesa que sofre os horrores dos bombardeios, das buscas casa-a-casa, dos franco-atiradores, das balas dos tanques e da artilharia. Homens morrem nas frentes de batalha, mulheres, crianças e idosos nos bombardeios e ataques. A guerra move o enorme complexo industrial-militar que fabrica armamentos cujo custo poderia acabar com a fome e, em grande parte, com a pobreza no mundo. E traz como subproduto a triste procissão de refugiados em fuga das zonas de batalha, seja para outras regiões de seu país, seja para o exterior. Ao final de 2021, o total de deslocados e refugiados no mundo ultrapassou os 82 milhões de pessoas, segundo o Acnur, organismo da ONU encarregado de dar-lhes assistência.

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A Gripe Espanhola em Queluz: 170 mortos em 2 meses

Um mal que veio da Guerra?

Abrigados em trincheiras, os soldados enfrentavam, além de um inimigo sem rosto, chuvas, lama, piolhos e ratos. Eram vitimados por doenças como a tifo e a febre quintana, quando não caíam mortos por tiros e gases venenosos.

Parece bem ruim, não é mesmo? Era.

Mas a situação naquela Europa transformada em campo de batalha da Primeira Grande Guerra Mundial pioraria ainda mais em 1918. Tropas inteiras griparam-se, mas as dores de cabeça, a febre e a falta de ar eram muito graves e, em poucos dias, o doente morria incapaz de respirar e com o pulmões cheios de líquido.

Em carta descoberta e publicada no British Medical Journal quase 60 anos depois da pandemia de 1918-1919, um médico norte-americano diz que a doença começa como o tipo comum de gripe, mas os doentes “desenvolvem rapidamente o tipo mais viscoso de pneumonia jamais visto. Duas horas após darem entrada [no hospital], têm manchas castanho-avermelhadas nas maçãs do rosto e algumas horas mais tarde pode-se começar a ver a cianose estendendo-se por toda a face a partir das orelhas, até que se torna difícil distinguir o homem negro do branco. A morte chega em poucas horas e acontece simplesmente como uma falta de ar, até que morrem sufocados. É horrível. Pode-se ficar olhando um, dois ou 20 homens morrerem, mas ver esses pobres-diabos sendo abatidos como moscas deixa qualquer um exasperado”.

“A origem do termo influenza é atribuída aos italianos e seria um reflexo das doutrinas prevalentes no início da época moderna, que ligavam os distúrbios físicos aos fenômenos astrológicos
Quando a astronomia tomou a dianteira (…) e as pessoas começaram a imaginar que todas as coisas terrestres eram governadas pelos céus, alguns médicos italianos propuseram que essa desordem provinha da influência das estrelas, e então deram a ela o nome de influenza…”

A gripe espanhola – como ficou conhecida devido ao grande número de mortos na Espanha – apareceu em duas ondas diferentes durante 1918. Na primeira, em fevereiro, embora bastante contagiosa, era uma doença branda não causando mais que três dias de febre e mal-estar. Já na segunda, em agosto, tornou-se mortal.

Enquanto a primeira onda de gripe atingiu especialmente os Estados Unidos e a Europa, a segunda devastou o mundo inteiro: também caíram doentes as populações da Índia, Sudeste Asiático, Japão, China e Américas Central e do Sul.

Apesar do nome ela não surgiu na Espanha
A teoria mais aceita pelos estudiosos do assunto é de que a gripe espanhola teria surgido em campos de treinamento militar nos Estados Unidos. Isso porque os primeiros casos da doença também foram registrados lá. Esses casos aconteceram em trabalhadores de uma fábrica em Detroit e em soldados instalados em um campo militar no estado do Kansas.

 

O Inimigo que veio do mar

Navio inglês “Demerara”, vindo de Lisboa, que trouxe doentes a bordo e causou a epidemia.

No Brasil, a epidemia chegou em setembro de 1918: o navio inglês “Demerara”, vindo de Lisboa, desembarca doentes em Recife, Salvador e Rio de Janeiro (então capital federal). No mesmo mês, marinheiros que prestaram serviço militar em Dakar, na costa atlântica da África, desembarcaram doentes no porto de Recife. Em pouco mais de duas semanas, surgiram casos de gripe em outras cidades do Nordeste e em São Paulo.

As autoridades brasileiras ouviram com descaso as notícias vindas de Portugal sobre os sofrimentos provocados pela pandemia de gripe na Europa. Acreditava-se que o oceano impediria a chegada do mal ao país. Mas, essa aposta se revelou rapidamente um engano.”

Tinha-se medo de sair à rua. Diante do desconhecimento de medidas terapêuticas para evitar o contágio ou curar os doentes, as autoridades aconselhavam apenas que se evitasse as aglomerações.

Nos jornais multiplicavam-se receitas: cartas enviadas por leitores recomendavam pitadas de tabaco e queima de alfazema ou incenso para evitar o contágio e desinfetar o ar. Com o avanço da pandemia, sal de quinino, remédio usado no tratamento da malária e muito popular na época, passou a ser distribuído à população, mesmo sem qualquer comprovação científica de sua eficiência contra o vírus da gripe.

E a gripe espanhola chega a Queluz
A Historiadora e Genealogista Avelina Noronha cita o escritor mineiro AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA, que abordou, em uma de suas crônicas semanais no Estado de Minas, a “gripe espanhola”, que grassou no mundo em 1918, com a duração de três anos.

Na referida crônica é relatado um fato que muito me impressionou. Na tentativa de descobrir uma vacina contra a gripe,  alguns médicos resolveram realizar experiências em seres humanos, com prisioneiros da ilha de Deer, propondo a eles a absolvição de seus crimes, por piores que fossem, caso se submetessem aos testes. Os 62 presos selecionados, entre trezentos e tantos voluntários, foram, submetidos aos mais diversos testes e  O ESPANTOSO É QUE NENHUM DOS PRESOS CONTRAIU A GRIPE, mas o médico da enfermaria (ironicamente) contraiu-a e morreu em conseqüência…

Diz Affonso de Sant’Anna que a “espanhola”  infectou 600 milhões de pessoas e matou entre 20 milhões e 50 milhões, esclarecendo o autor que a diferença de 30 milhões é devida à falta de “estatísticas seguras nos países periféricos”. E prossegue: “Diz-se, no entanto, que 80% das baixas das tropas americanas na 1ª Guerra foram devidas à gripe e não às balas inimigas. Diz-se, também, que no Brasil houve, oficialmente, 35.240 óbitos, sendo 12.388 no Rio em 5.429 em São Paulo. Qual seria a estatística de Belo Horizonte, cidade no interior, então recém-criada?”

            De Belo Horizonte o Arquivo Jair Noronha não tem conhecimento, mas pode informar a da cidade de Conselheiro Lafaiete, que na época se chamava Queluz.

Morreram de gripe espanhola:

– em outubro de 1918, o primeiro número indicando o dia, e o segundo o número de pessoas: 27 – 1; 28 – 2; 29 – 2; 30 – 1; 31 – 1 (7 pessoas).

– em novembro de 1918:  1º –  1 ;  2 – 2; 3 – 3; 4 – 2; 5  –  3; 7 –  5;  8 – 2;   9 – 2;

10 – 5;  11 – 9; 12 – 12; 13 – 5; 14 – 3; 15 – 4; 16 – 9; 17 – 4, entre elas uma menina de 12 anos, Maria, irmã do museólogo Antônio Luís Perdigão Batista;  18 – 11 19 – 8; 20 – 8; 21 – 10; 22 – 3: 23 – 3; 24 – 3; 25 – 4; 26 – 2; 26 – 7; 30 – 3 (133 pessoas).

– em dezembro de 1918:   1º – 3; 2 – 2; 3 – 1;  4 – 1;  5 – 1; 6 – 4; 8 – 2;   9 – 2;   11- 1; 13 – 1; 14 – 2; 15 –1; 17 – 1; 21 – 2; 22 – 1; 23 – 2; 27 – 1 (30 pessoas).

Total170 pessoas morreram devido à gripe, (descontando 4 dias do final de dezembro nos 5 dias de outubro) num período de dois meses e um dia. E é preciso considerar que isso foi apenas na área da cidade de Queluz (e não no município), uma cidade ainda bem pequena naquele princípio de século.

Dizem que, em certos dias, devido ano número de mortos, os “fabriqueiros” da matriz não davam conta  de fazer caixão para todos, e alguns tinham de ser enterrados em sacos de aniagem.

Em tempo negros: solidariedade
Outro fato interessante é que sua avó Avelina tão logo a gripe espanhola atingiu nossa cidade, a situação rapidamente se  agravou e haviam casas em que não havia uma pessoa de pé para fazer comida.
Ela que morava na rua da Chapada, fazia caldeirões de sopa para levar nas casas das vítimas de gripe, e acompanhada da filha mais velha, menina de 9 anos, acompanhava-a nas visitas.
Após alimentar os doentes, avó recolhia as roupas sujas e as levava para lavar. Depois consertava aquelas que precisavam de reparos, passava-as e mandava entregar nas casas.
E, não houve nenhuma vítima da “gripe espanhola” em sua casa….

Fique em Casa já era a ordem na época

Entre os que apostavam em iniciativas caseiras para derrotar a peste espanhola, era grande o número de adeptos a receitas de sucos de limão e de cachaça que, na visão deles, seria o melhor remédio para a cura. Não contavam, no entanto, com o apoio de médicos e cientistas.Já o governo central fazia campanha para que a população evitasse aglomerações e determinou o fechamento de escolas, proibindo ainda reuniões em grupos. As autoridades do país consideravam que visitas e passeios seriam o modo mais rápido de espalhar a moléstia. Portanto, o mantra ‘fique em casa!’ não nasceu com a vinda do coronavírus.

A cartoon acima questiona a capacidade da saúde pública em atender os doentes, algo comum ainda nos dias de hoje.

Um país doente

Pedro Nava, historiador que presenciou os acontecimentos no Rio de Janeiro em 1918,  escreve que “aterrava a velocidade do contágio e o número de pessoas que estavam sendo acometidas. Nenhuma de nossas calamidades chegara aos pés da moléstia reinante: o terrível não era o número de casualidades – mas não haver quem fabricasse caixões, quem os levasse ao cemitério, quem abrisse covas e enterrasse os mortos. O espantoso já não era a quantidade de doentes, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, aviar receitas, exercer, em suma, os misteres indispensáveis à vida coletiva”.

Acima um trocadilho, onde o autor ressalta o grande a facilidade com que a gripe se disseminava no Brasil.

Durante a pandemia de 1918, Carlos Chagas assumiu a direção do Instituto Oswaldo Cruz, reestruturando sua organização administrativa e de pesquisa.

A convite do então presidente da república, Venceslau Brás, Chagas liderou ainda a campanha para combater a gripe espanhola, implementando cinco hospitais emergenciais e 27 postos de atendimento à população em diferentes pontos do Rio de Janeiro.

Estima-se que entre outubro e dezembro de 1918, período oficialmente reconhecido como pandêmico, 65% da população adoeceu. Só no Rio de Janeiro, foram registradas 14.348 mortes.  Em São Paulo, outras 2.000 pessoas morreram.

A evolução de um vírus mortal

As estimativas do número de mortos em todo o mundo durante a pandemia de gripe em 1918-1919 variam entre 20 e 40 milhões. Para você ter uma ideia nem os combates da primeira Grande Guerra Mundial mataram tanto. Cerca de 9 milhões e 200 mil pessoas morreram nos campos de batalha da Primeira Grande Guerra (1914-1918).
A criação, em 1922, do Comitê de Saúde e da Organização de Higiene, antepassadas da Organização Mundial da Saúde (OMS), respondeu em parte a uma vontade de combater melhor este tipo de pragas. (Projeto Conhecer)

Fontes:
Gripe Espanhola – Avelina Noronha
(http://textosavelinaconselheirolafaiete.blogspot.com/2013/11/gripe-espanhola.html – Acesso em 31/03/2020)
A medicina e a influenza espanhola de 1918 – Anny Jackeline Torres Silveira
(http://www.scielo.br/pdf/tem/v10n19/v10n19a07.pdf – Acesso em 31/03/2020)
Pandemia de gripe de 1918 – Juliana Rocha
(http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7 _ Acesso em 31/03/2020)

 

Fonte: Projeto Conhecer

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