Crônica – Jornal de Domingo

O sol de domingo é diferente.  Deus num dia igual descansou. Por isso mesmo fulgura raios de luz mais intensos para sentirmos em toda plenitude  a sua imortal obra. A vida.  E domingo tem a ver com a família, idade, trabalho,  enfim: com tudo. Há bem alguns dias atrás nos segundos  do tempo, me lembro da leitura obrigatória nos domingos do JB,  O Globo e o Estado de Minas. Chegava com o cheirinho de novo.  Domingo era dia de missa, picolé,  revistinha, jantarado,  e a família reunida. Som ligado em sinal de vida. A cerveja,  ou mesmo um vinho e refresco marcavam presença. Alegria, novidades,  discussões e risos na mesa era tudo de bom. Quando havia visitas melhor ainda. No final da tardinha, missão cumprida da semana. E se descansava. As notícias dos jornais faziam a diferença, tudo visto como novidade. Afinal, era de sete em sete dias que as coisas aconteciam e conhecidas de verdade. A leitura impressa traz a sensação de que os neurônios saem da toca e criam asas no pensamento e por sua vez semeiam o canteiro das letras. É quando uns se divertem, outros ativam a memória, e tem o contingente que luta pela conquista do conhecimento.  O  Jornal de Domingo, no auge, era recheado de suplementos, um calhamaço pra mais de quilo. Trazia notícias e propaganda de todo tipo e para todos os gostos. Vinha até encarte de revistas.  As  notícias  moravam longe. Havia tirinhas de quadrinhos, e tinha serventia depois de lido.  As notícias do rádio e TV  eram tímidas, até porque o mundo era leve e pacato. Os acontecimentos iam de um lugar para o outro sem pressa.  E uma grande notícia perdurava tempos, até aparecer outra de porte,  pois  desde que  mundo é mundo,  ele vive de  acontecimentos, novidades,  e especialmente de bisbilhotices.  O tempo passou e aportou a tecnologia, centenas de canais de televisão surgiram, o telégrafo, fax  e  mesmo  o telefone ficaram superados. O celular chegou e mudou o rumo da história. A  provedora  dona Internet colocou os  filhinhos  aplicativos  para  trabalhar. É incansável no mister.  Serve o celular de a pé, cama, mesa e banho, vinte e quatro horas. Não dá descanso e não deixa ninguém descansar. É até mesma implacável no ano bissexto. É ali hoje que mora o mundo. O mundo virtual. É tanta distração e informações que passam a cem por segundo, e, acaba por quase nada do que se vê e lê subsiste na memória. A velocidade é tanta que só a turma dos neurônios que se divertem é que saem da toca.  Os outros  preferem ficar mudos e surdos, se sentem impotentes em  agregar e mesmo de saber tudo que  existe e que merece ser coletado.  E tudo chega sem pedir licença, e sai sem dar um tchau. Uma total falta de respeito. Ninguém tem mais sossego e tempo, nos tornamos reféns da modernidade. As redes sociais estão no ápice, é tudo e todos contra e a favor de tudo e de todos. Uma loucura de multidão de todo gênero e agrado. O que se criou de verdade foi um ópio cerebral, impossível de deixar de ser consumido. É a fonte inesgotável do alheio, interesse de todos desde que mundo é mundo.  Passamos a dar descaso ao descanso. O alerta que fica é a moderação da companhia e convívio com a dona “Internetiana”.   Enfim: o Jornal de Domingo passou a chegar nas bancas atrasado, consumido apenas pelos fiéis leitores dos finais de semana.  A família passou a ser servida por selfie e redes sociais. Todo mundo na mesa de domingo  finge sem graça de estar feliz. Tem as exceções para tudo, é claro. A semana se tornou simbólica.  Atualmente se consiste no máximo em sete toques de zap zap.  A missa passou a ser assistida pela TV. Sinal dos tempos. É latente e notória a passagem e mudanças de uma geração, e nada será como antes.  Na vida tudo passa.  Ainda  bem. O Jornal de Domingo pode estar fora de moda,  pode até ser considerado um rebelde sem causa, mas,  tem  o  seu  lugar. E, sem dúvida tem a envergadura e eficiência de levar o recado em qualquer lugar e momento para servir, ser visto, e refastelado. O domingo continua com o lindo brilho do sol.  Céu azul.  Lindo como sempre.  E Deus no insondável trono do infinito, rege o misterioso tempo do caminho da humanidade.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Reuber Lana Antoniazzi                                                                                                                                                 Out/18/2018

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