Uma carga com 530 kg de queijos foi apreendida durante uma operação na BR-352, na zona rural de Pitangui. Dois homens que transportavam o material em uma caminhonete foram detidos.
A operação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) em parceria com a Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) foi realizada na última sexta-feira (17).
Durante abordagem a caminhonete, foi constatado que cerca de 50 queijos estavam em embalagens com marca própria, porém, os rótulos estavam com selos falsificados do IMA.
Além disso, os produtos não tinham nota fiscal e não estavam em condições de consumo humano.
Os agentes do IMA inutilizaram a carga com creolina e antisséptico, e descartaram os queijos no aterro controlado de Pitangui.
Os dois ocupantes da caminhonete foram encaminhados para a delegacia.
No dia 12 de abril, um concurso internacional sediado no estado de São Paulo (Brasil) elegeu um queijo brasileiro como o melhor do mundo. Descubra aqui que queijo é esse e onde é produzido.
No dia 12 de abril, aconteceu o Concurso de Melhor Queijo e Produtos Lácteos no 3º Mundial do Queijo do Brasil, sediado no estado de São Paulo (Brasil). Foram vários participantes de vários países, e quem foi o grande vencedor que levou o título de melhor queijo do mundo nesta competição?
Foi o Queijo Morro Azul, da linha Vermont Queijos Especiais, produzido pela Pomerode Alimentos, na cidade de Pomerode, localizada no nordeste do estado de Santa Catarina. A empresa é liderada pelos irmãos Bruno Mendes e Juliano Mendes e foi fundada em 2013.
O queijo brasileiro foi o maior destaque entre os 1.900 produtos de 10 países diferentes avaliados por um júri de 300 pessoas do ramo, desbancando concorrentes nacionais e internacionais. Superou até o renomado queijo Gruyère suíço.
O sucesso do Queijo Morro Azul não é novidade, pois no final de 2023 ele já havia sido premiado como o melhor queijo da América Latina no 35º World Cheese Awards, realizado na Noruega. Na ocasião, o queijo levou a medalha Super Ouro pelo segundo ano consecutivo.
“O queijo Morro Azul tem uma história muito especial para nós. Foi nosso primeiro queijo autoral, com receita criada aqui em Pomerode”, disse Juliano Mendes pelas redes sociais ao agradecer o prêmio.
E quais as características deste queijo especial? Ele é feito de leite de vaca e tem casca mofada, sabor salgado suave e tem massa bastante cremosa. Possui notas amanteigadas e lácteas, e é enrolado em uma cinta de madeira. Além disso, como consta no site da marca, é um produto livre de lactose, sem adição da enzima lactase.
O evento Mundial do Queijo do Brasil tem a chancela do Mondial du Fromage de Tours, na França, uma das mais conhecidas e respeitadas competições do setor.
Em uma entrevista ao Estadão, Juliano Mendes explicou mais sobre o queijo: “É um queijo de mofo branco. É a família de queijos que a gente já fazia aqui, típicos da França, mas com uma cremosidade muito alta – mais alta do que brie ou Camembert. Mas, para ter essa cremosidade mais alta, a gente precisava dar uma estrutura para o queijo. Aí colocamos uma cinta de carvalho ao redor dele”.
Além do queijo, teve a cerveja…
Os irmãos Mendes também revolucionaram o mundo da cerveja artesanal no Brasil ao fundarem a cervejaria Eisenbahn, de Blumenau. Contudo, a marca foi vendida em 2008 e hoje faz parte do grupo holandês Heineken.
Queijo Morro azul. Crédito: Pomerode Alimentos.
Mas foi com a cerveja que surgiu a ideia de produzir queijos. Segundo Juliano, em 2006, eles começaram a trabalhar a ideia de harmonizar cerveja com queijos. “Todo mundo, quando falava de queijos, pensava em vinhos, mas cervejas também combinam bem com queijos. Aí começamos a estudar essa área para fazermos eventos, degustações, indicamos os melhores queijos para as nossas cervejas. Foi aí que nos apaixonamos por queijos também”, disse.
No dia 04 de maio, visitantes e hóspedes poderão adquirir cartelas para degustação de queijos e vinhos premiados, curtir boa música, participar de palestras e viver a experiência gastronômica em meio ao deslumbrante cenário do destino turístico reconhecido mundialmente
Para quem gosta de vivenciar experiências gastronômicas, o Santuário do Caraça é o destino certo no dia 04 de maio. É que o local vai sediar a primeira edição do “Ancestral – Festival Cultural do Queijo e do Vinho”, com produtores de diversas regiões do Estado, oferecendo uma ampla variedade de produtos para degustação. Será uma oportunidade para os hóspedes e visitantes fazerem uma viagem à origem dos vinhos finos e do queijo artesanal no Brasil.
Prestes a completar 250 anos de história, o Santuário do Caraça é um local que remete à história e tradição e o Ancestral tem como objetivo fazer um resgate, conforme aponta o Gerente Geral Pablo Azevedo. “Estamos realizando muito mais do que um festival; é um movimento cultural que busca valorizar e resgatar a essência dos queijos artesanais e dos vinhos finos produzidos em Minas Gerais. É uma oportunidade única para os visitantes se conectarem com a história e a tradição desses produtos que fazem parte da identidade cultural do estado”, diz.
Produtores de queijos da região Entre Serras da Piedade ao Caraça marcarão presença com as suas delícias. “Teremos iguarias premiadas e o visitante terá a oportunidade de degustar e, acima de tudo, conhecer as origens do que ele está comendo. Além de proporcionar experiências sensoriais, a nossa missão é difundir conhecimentos”, afirma Pablo Azevedo.
Com o intuito de difundir conhecimentos e agregar ainda mais valor à programação, o festival contará com palestras ministradas por especialistas renomados. Será uma oportunidade para que os presentes conheçam a fundo as origens dos aromas e sabores que encantam gerações.
Daniel Arantes, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), graduado em Zootecnia, com mestrado em Ciência e Tecnologia de Leites e Derivados e doutorado em Ciência de Alimentos, abordará os temas “Arte, tradição e ciência dos Queijos Artesanais Mineiros” e “A ciência por trás dos sabores dos Queijos Artesanais Mineiros”.
Por sua vez, Angélica Bender, Tecnóloga em Viticultura e Enologia pela Universidade Federal de Pelotas e Mestre em Agronomia com ênfase em fitotecnia pela mesma universidade em parceria com a Epagri (Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina), trará seu conhecimento sobre a produção de uvas e seus derivados. Atualmente pesquisadora da Epamig Caldas, Angélica é responsável pelo laboratório de microvinificação e condução dos experimentos de processamento de uvas. Suas palestras, “História do vinho Mineiro: Origem e Evolução” e “Entendendo os rótulos dos vinhos nacionais”, proporcionarão uma imersão na cultura e na ciência por trás da produção desses alimentos tão emblemáticos. As atividades terão início às 10h.
Santuário do Caraça (Foto: PBCM)
Na ocasião, a EPAMIG também lançará o Informe Agropecuário, que nesta edição tem como tema os queijos artesanais mineiros, contribuindo para a disseminação do conhecimento sobre esse importante patrimônio gastronômico. Para Pablo Azevedo, uma oportunidade de reforçar ainda mais a importância do resgate histórico e cultural. “Ter a EPAMIG como aliada neste propósito é uma alegria. Quando convidamos os representantes para o nosso evento, recebemos a resposta positiva imediatamente e inclusive estão vindo com os palestrantes, que agrega ainda mais ao Ancestral”, conclui.
Conheça os produtores de queijos confirmados, todos da região do Entre Serras Piedade do Caraça:
O Concurso do Serro é um dos destaques da agenda de premiações, que segue em maio e junho.
BELO HORIZONTE (25/04/24) – Quem gosta de um bom queijo Minas Artesanal não pode deixar de conferir a programação dos concursos municipais de queijo em Minas Gerais. A temporada, que começou em abril, promete eventos concorridos e deliciosos queijos artesanais. Neste sábado (27/04), vai acontecer o 15º Concurso Municipal de Queijo Minas Artesanal do Serro, local de grande tradição na arte de fazer queijos. Mas a agenda de concursos municipais segue movimentada nos meses de maio e junho.
O queijo do Serro é um dos mais famosos de Minas, com peças de consistência compacta, cor amarelada e interior semiduro. A ação das bactérias encontradas no solo dos arredores da Serra do Espinhaço proporcionam um sabor levemente ácido, porém suave. O Concurso Municipal de Queijo Minas Artesanal do Serro vai acontecer na Praça João Pinheiro, a partir das 9 horas, acompanhado da Feira Livre dos Agricultores Familiares.
Turismo do queijo
“Historicamente, o Serro é um município muito envolvido com a produção de queijo, nomeando toda uma região. Por ser uma cidade histórica e turística, o concurso do Serro é um momento importante para os produtores de queijos, que fazem parte de roteiros turísticos. Ser um dos campeões, é um atrativo para que os turistas procurem aquela queijaria para ser visitada”, comenta a coordenadora estadual de Queijo Minas Artesanal da Emater-MG, Maria Edinice Rodrigues.
A coordenadora ressalta ainda que os concursos municipais são uma etapa importante do Concurso Estadual do Queijo Minas Artesanal (previsto para agosto), pois é neles que se definem os concorrentes dos concursos regionais, cujos finalistas vão para a grande final estadual. Nas regiões onde não houver concurso, será feita uma seleção de queijos de empreendimentos legalizados junto ao IMA ou serviços oficiais de inspeção para participar do concurso estadual. Em abril, já ocorreram concursos municipais em Bambuí (dia 07), em Paulistas (dia 12) e em Materlândia (dia 24).
Programação de eventos
No mês de maio, serão realizados cinco concursos municipais: Vargem Bonita (dia 04), Dom Joaquim (dia 10), Piumhi (dia 18), Alvorada de Minas e Sabinópolis (os dois últimos no dia 30). Já em julho, tem concurso em São Roque de Minas (dia 1) e em Delfinópolis (dia 30), ambos na Serra da Canastra. “Os concursos municipais são uma etapa importante, pois é um momento particular daquele lugar. No evento, os produtores avaliam seus queijos, assim como a qualidade dos outros competidores. Conquistar o título de campeão agrega bastante valor à produção. O concurso também promove os queijos daquele município”, salienta Maria Edinice.
Nos concursos municipais, os jurados farão avaliações de aspectos internos e externos de cada uma das peças. Externamente são avaliados aspectos como apresentação (formato e acabamento) e cor (uniforme ou manchada). Após partidos, são analisadas a textura (olhaduras e granulação), a consistência (dureza e untuosidade) e o paladar e o olfato (sabor e aroma) dos queijos.
Ao longo do ano, haverá ainda as etapas regionais e todos os concursos contam com a participação da Emater-MG. O Concurso Estadual do Queijo Minas Artesanal é uma realização do Governo de Minas Gerais, por meio da Emater-MG, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa). Os queijos artesanais mineiros vêm ganhando cada vez mais projeção nacional e internacional, com premiações no exterior e a candidatura do seu Modo de Fazer o Queijo Minas Artesanal (QMA), como Patrimônio Imaterial da Humanidade.
PROGRAMAÇÃO DOS CONCURSOS DE QUEIJOS ARTESANAIS 2024
Operação conduzida por auditores agropecuários apreendeu 20 toneladas de queijo e prendeu comerciante por fraudes ao consumidor
Uma empresa de queijos de Patos de Minas, no Alto Paraíba, foi pega vendendo produtos ralados mofados para fábricas de pão de queijo em Curitiba, no Paraná. A operação, coordenada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), apreendeu 20 toneladas de queijo impróprios ao consumo, depois de denúncia anônima.
O empresário responsável pelo local, que não teve a identidade revelada, foi preso na terça-feira (23/4) pelo crime de falsificação. Os resultados da operação, no entanto, só foram divulgados na manhã desta sexta-feira (26/4).
O estabelecimento comprava os alimentos com validade vencida e mofados para depois ralar, embalar e comercializar, conforme informações do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa). Os itens vinham de produtores rurais locais e eram reembalados para a venda, sem qualquer vistoria e autorização do poder público.
No galpão, os auditores fiscais encontraram rótulos de outros estabelecimentos, um com inspeção federal e outro com inspeção municipal e selo do Mapa, que permite à empresa comercializar seus produtos em todo o Brasil.
No galpão, os auditores fiscais encontraram rótulos de outros estabelecimentos, um com inspeção federal e outro com inspeção municipal e selo do Mapa, que permite à empresa comercializar seus produtos em todo o Brasil.
Por apresentarem riscos à saúde dos consumidores e serem perecíveis, os queijos apreendidos foram inutilizados pelo Instituto Mineiro de Agricultura (IMA).
Novidade deste ano é que dois dos queijos mineiros – Ancestral das Vertentes e Nevoa das Vertentes Premium – premiados no Top 15 são de um mesmo produtor, o empresário Edson da Costa Cardoso.
O Mundial do Queijo do Brasil, premiação que chegou a sua terceira edição no fim de semana no Palácio dos Governantes, em São Paulo, revelou que três queijarias de Minas Gerais entraram para o ranking oficial dos “Melhores queijos do mundo“. Nesta edição, 15 queijarias de Brasil e Suíça conquistaram os títulos, além de medalhas Super Ouro após análise crítica de um grupo de 300 jurados.
A novidade deste ano é que dois dos queijos mineiros – Ancestral das Vertentes e Nevoa das Vertentes Premium – premiados no Top 15 são de um mesmo produtor, o empresário Edson da Costa Cardoso. Apesar de residir no Rio de Janeiro, o especialista em maturação de queijos é um dos proprietários da Capril Rancho das Vertentes, com produção de queijos artesanais em Barbacena, na região Central de Minas.
Segundo ele, o negócio tem produção concentrada no leite de cabra. E foi em 2014, que ele, juntamente com Eloisio Francisco e suas respectivas esposas Sandra Canton Cardoso e Rosangela Canton Francisco, planejaram e criaram toda a parte do laticínio. No entanto, no ano seguinte, encerraram as vendas de leite e passaram a se dedicar exclusivamente aos produtos lácteos, dentre a produção de queijos artesanais e iogurtes.
“A partir daí, a empresa que era familiar passou por uma grande transformação, onde mantivemos a produção artesanal, investimos em infraestrutura, mas agora sendo uma empresa mais profissional. Com isso, foram muitos cursos e formações para a nossa equipe, vindo em sequência as premiações nacionais e internacionais”, comenta Cardoso.
Diante do resultado do 3º Mundial de Queijo do Brasil em contar com dois queijos de produção própria entre os 15 melhores do mundo, a palavra que traduz essa conquista é felicidade. “Nós já temos uma certa tradição de premiações, mas foi uma grande surpresa ter dois produtos nossos em um evento de escopo internacional, e pela primeira vez ganhar a medalha de Super Ouro. É um motivo de felicidade”, considera o produtor que também é especialista em caprinocultura.
Ao todo, 15 queijos estampam a lista de melhores queijos do mundo, segundo a 3ª edição do Mundial Queijo do Brasil | Crédito: Reprodução/Instagram
São Roque de Minas e Itaverava
Os outros queijos mineiros premiados com as medalhas Super Ouro são de outras duas queijarias: Queijo Irmãos Faria, da queijaria de mesmo nome com produção artesanal em São Roque de Minas, da região Centro-Oeste; e o Queijo Rouelle, da Itaverava, em Itaverava, cidade da região Central.
Veja o ranking completo dos 15 melhores queijos do mundo:
Doce de Leite Du’Vale, Rodrigo Do Vale Nogueira (Rio de Janeiro, Brasil);
Le Gruyère AOP Classic, Loic Pillor (Suíça);
Gigante do Bosque Florido, Heloisa Collins (São Paulo, Brasil);
Queijo Irmãos Faria, Rildo de Oliveira Faria, (São Roque de Minas, região Centro-Oeste de Minas, Brasil);
Vale do Testo, Pomerode Alimentos (Santa Catarina, Brasil);
Quina, Erico Kolya (Suíça);
Le Gruyère d’alpage AOP, Famille Cèdric Rochat (Suíça);
Manteiga Ghee Delícia da Cabrita, Marcelo Lopes (Rio Grande do Norte, Brasil);
Ancestral das Vertentes, Capril Rancho das Vertentes (Barbacena, região Central de Minas, Brasil);
Névoa das Vertentes Premium, Capril Rancho das Vertentes (Barbacena, região Central de Minas, Brasil);
Azul Britânnia, Carolina Vilhena (São Paulo, Brasil);
Queijo Rouelle, Alisson Hauck Dornellas de Castro (Itaverava, região Central de Minas, Brasil).
Queijo “Ancestral das Vertentes” é um dos melhores do mundo, segundo premiação | Crédito: Capril Rancho das Vertentes/Reprodução
Mais de 600 medalhas
O Mundial do Queijo do Brasil também premiou cerca de 600 queijos e produtos lácteos (coalhadas, iogurtes, etc.) com diferentes medalhas. Foram distribuídas premiações de Super Ouro, Ouro, Prata e Bronze. Ao todo, 1,9 mil produtos foram avaliados por jurados que se organizaram em mesas espalhadas pelo teatro, em São Paulo.
Cada mesa contava com cerca de 20 produtos que eram avaliados cuidadosamente por dois ou mais jurados que computavam suas notas por meio de um aplicativo desenvolvido para o concurso.
Queijo produzido em Santa Catarina superou exemplares suíços e foi o grande destaque do 3º Mundial do Queijo do Brasil
O queijo Morro Azul foi eleito o grande vencedor do Concurso de Melhor Queijo e Produtos Lácteos no 3º Mundial do Queijo do Brasil. O queijo brasileiro foi o maior destaque entre os 1.900 produtos avaliados por um júri de 300 pessoas do ramo, desbancando concorrentes nacionais e internacionais.
O resultado foi divulgado na noite de sexta-feira (12) em evento em São Paulo, ocasião em que foram distribuídas também 598 medalhas para outros queijos e produtos lácteos. Ao todo foram 99 medalhas Super Ouro; 149 Ouro; 150 Prata e 200 Bronze.
Produzido na cidade de Pomerode, em Santa Catarina, o Morro Azul é feito pela Vermont Queijos Especiais, liderada por dois irmãos queijeiros, Bruno Mendes e Juliano Mendes.
O queijo é de leite de vaca e tem casca mofada, caracterizado como suave e por ter massa bastante cremosa. Ele possui notas amanteigadas e lácteas, em que é enrolado em uma cinta de madeira.
“O queijo Morro Azul tem uma história muito especial para nós. Foi nosso primeiro queijo autoral, com receita criada aqui em Pomerode”, disse Juliano Mendes pelas redes sociais ao agradecer o prêmio.
No ano passado, o Morro Azul havia sido premiado como o Melhor Queijo da América Latina no 35º World Cheese Awards, que ocorreu na Noruega. Na ocasião, o queijo brasileiro levou a medalha Super Ouro pelo segundo ano consecutivo.
Destaques internacionais
O queijo suíço Le Gruyére AOP Réserve 14 Meses ficou em segundo lugar no concurso. Ele havia empatado com o Morro Azul com uma média de 6,13 pontos, em uma escala de 3 a 7, mas ficou atrás do exemplar brasileiro no desempate.
Fechando o pódio, outro suíço ficou em terceiro lugar: o Le Gruyére d’alpage AOP7, do produtor Stefan Konig.
Vale ressaltar que estes resultados foram obtidos a partir de uma segunda fase: após 99 queijos serem premiados com medalha Super Ouro, jurados de diferentes nacionalidades atribuíram notas de 3 a 7 para estes queijos, coroando o exemplar brasileiro em primeiro lugar.
Confira os resultados de acordo com cada medalha aqui.
Outros prêmios
Queijos nacionais e internacionais do 3º Mundial do Queijo do Brasil à disposição dos jurados no Teatro B32, em São Paulo / Divulgação
O 3º Mundial do Queijo do Brasil também elegeu o Melhor Queijeiro do Brasil, o Melhor Queijista do Brasil e o Melhor Fondue do Brasil.
Henrique Herbet, do Paraná, foi honrado como o Melhor Queijeiro do país, categoria que foca nos produtores de queijo. Mestre Queijeiro da Queijaria Flor da Terra, em Toledo (PR), ele apresentou um queijo batizado de “entardecer do Oeste”.
“É uma massa prensada semicozida, textura levemente elástica, mas com uma massa firme e fechada. Os sabores são ácidos, frescos, láticos, de creme de leite, de carne maturada, complexos, com um visual diferenciado”, explica Henrique.
Já o paulista Anderson Magalhães foi eleito o Melhor Queijista do Brasil, categoria que honra os comerciantes de queijos. Anderson é consultor do Grupo Pão de Açúcar e agora tem vaga garantida no concurso da mesma categoria no próximo Mondial du Fromage de Tours, na França, em setembro de 2025.
Por fim, o Mundial do Queijo também condecorou o Melhor Fondue do Brasil. A ganhadora foi a chef carioca Malu Mello, que fez uma receita usando 50% queijo gruyère, uma regra do concurso, assim como queijo raclette, um queijo azul de 60 dias de maturação e cachaça Magnífica, do Rio de Janeiro. Com o prêmio, Malu representará o Brasil no Mundial da Fondue da Suíça em 2025.
Conversamos com os produtores dos queijos finalistas para saber o que eles têm de especial; confira
Rafaela entre os irmãos Fernando e Leonardo: tradição que vem do tempo do bisavô deles
Dos 15 finalistas do 3º Mundial de Queijos, realizado em São Paulo, de 14 a 16 de abril, quatro são mineiros. Entrevistamos os produtores para saber mais sobre suas características, modo de fazer e tempo de maturação! Confira:
Queijo Irmãos Faria: 7º lugar no concurso. Tradicional Queijo Minas Artesanal da Serra da Canastra. Produzido na Fazenda Santiago, em São Roque de Minas, pela proprietária Maria e sua filha Rafaela. Para o concurso, elas enviaram duas peças com maturações de 20 dias e uma com 14 dias. Conquistaram duas medalhas – uma Ouro e outra Super Ouro (finalista), mas ainda não foram informadas pela organização do evento qual queijo ganhou em qual categoria.
De qualquer forma, são queijos feitos com leite cru, de vaca. Meia cura, casca amarela e interior macio. Para Rafaela, o “segredo” é a união da família: o cuidado de seu pai, Rildo, na alimentação das vacas; o asseio na hora da ordenha, feita pelos irmãos Leonardo e Fernando. Ela também agradeceu o apoio da Aprocran (Associação dos Produtores de Queijo Canastra) e do Senar Minas, que ofertam apoio técnico e cursos de aprimoramento.
Pode ser encontrado em empórios e lojas virtuais. Preço médio: R$ 140. Outras informações via Whatsapp: (37) 9 99851545.
Ancestral das Vertentes: Conquistou o 12° lugar no concurso. Feito com leite de cabra, é inspirado no Caprino Romano, que é o parmesão feito com leite de cabra. Elaborado com técnica de massa dura, seu tempo de maturação é de um a dois anos em câmara fria.
De acordo com o produtor Edson Cardoso, do Capril Rancho das Vertentes, em Barbacena, são feitas apenas 100 peças por ano. É um queijo “reserva”. O sabor, algumas vezes, pode ser adocicado, outras vezes lembrar nozes e castanhas. Mini-cristais de lactose lhe conferem certa crocância. “É complexo e agradável”, explica o produtor.
Preço médio: R$ 400
Queijo de leite de cabra do Rancho das Vertentes, de Barbacena, um dos finalistas
Entregas são feitas para Barbacena, Tiradentes, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Para demais cidades, é preciso conversar via Whatsapp para ver a viabilidade da remessa pelo Correio: (21) 9 7222-8013.
Névoa das Vertentes Premium – 13º lugar no concurso. Feito com leite de cabra. Queijo de fermentação láctea, utilizando mofo branco. Matura em caes (grades) de metal trazidas da França, com avaliações constantes de temperatura, umidade e circulação do ar para que ele mature, desenvolvendo mofo branco na casca e interior macio. Derrete na boca como se fosse manteiga, tem uma acidez agradável. É feito apenas sob encomenda. Tempo de maturação é de 15 dias.
Entregas são feitas para Barbacena, Tiradentes, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Para demais cidades, é preciso conversar via Whatsapp para ver a viabilidade da remessa pelo Correio: (21) 9 7222-8013.
Queijo Rouelle – 15º lugar entre os finalistas. De acordo com o produtor Alisson Hauke trata-se de um queijo que foge completamente das técnicas tradicionais de fabricação. Desde o seu formato até o seu modo de fazer, de fabricação e forma de maturação. Feito com leite de cabra, tem massa mole e casca com mofo branco. Preço: R$ 49,00 a peça de 160 gramas. Pedidos podem ser feitos pelo Whatsapp (31) 9 8667-1492.As entregas são feitas diretamente na casa da pessoa, mas tem fila de espera.
Produto feito pelos irmãos Bruno e Juliano Mendes, de Santa Catarina, conquistou o primeiro lugar no 3° Mundial dos Queijos
O Brasil foi destaque do 3º Mundial do Queijo, evento internacional que aconteceu em São Paulo de 11 a 14 de abril. Dos quinze selecionados como os melhores do mundo, entre mais de 1,9 mil produtos de quatorze países diferentes, onze são nacionais.
Na primeira etapa do concurso, 300 jurados deram medalhas — super ouro, ouro, prata e bronze — após as avaliações. Na segunda parte, 15 profissionais mais experientes provaram novamente os queijos eleitos na categoria super ouro. Cada um escolheu um produto para defender com argumentos o motivo de merecer ser eleito o melhor do mundo.
O vencedor foi o Morro Azul, da Pomerode Alimentos, empresa de Santa Catarina. O queijo desenvolvido pelos irmãos Bruno e Juliano Mendes é enrolado em uma cinta de carvalho e possui notas amanteigadas e aroma que lembra o cogumelo.
Queijo Morro Azul conquista o primeiro lugar no mundial dos queijos — Foto: Divulgação
Feito com leite de vaca, possui casca branca mofada, massa mole no interior e outro prêmio recente: 1º colocado no 35º World Cheese Awards, na Noruega, em 2023, na categoria América Latina. De acordo com Juliano, a ideia de produzi-lo surgiu da vontade de criar queijos autorais.
“Quando a gente começou, fazíamos apenas produtos da Europa. Aos poucos, ficamos mais seguros e fomos aprendendo. Ele é um queijo de muita cremosidade. E como tem isso bem acentuado, acabaria não tendo estrutura, mas passamos uma cinta para não ficar deformado”, contou à Globo Rural.
A inspiração, segundo Borges, vem de um queijo suíço. “É parecido, mas não igual. Colocamos nossos gostos pessoais para criá-lo”, afirma.
Os destaques brasileiros
Entre os quinze vencedores da principal categoria, onze são brasileiros. O sexto colocado, o Gigante do Bosque Florido, de Joanópolis (SP), é produzido com leite de cabra. “Nosso produto é bem trabalhado no tanque, prensado com fermentos muito especiais, maturado em dois meses e com adição de fungos naturais da própria câmara. A massa também é lisa, muito compacta, cremosa na boca e com boa elasticidade no toque”, explica Heloisa Collins.
Segundo a Heloisa, o prêmio é especial por valorizar o produto e reconhecer o trabalho que não começa na ordenha, mas no cuidado em escolher os melhores animais para a criação. “Para conseguir um queijo em um nível de qualidade que mereça uma boa premiação, é muito trabalho. Precisa do melhor leite que seja absolutamente saudável, dos melhores animais e depois tem o trabalho de fazer o queijo e acompanhar o processo diariamente durante a maturação”, revela.
Em oitavo lugar, ficou o Vale do Testo, também fabricado pelos irmãos Bruno e Juliano Mendes, de Pomerode (SC). Este produto passa por um processo de maturação de três meses, sendo lavado três vezes por semana em uma solução com água, sal e microorganismos para intensificar o sabor. A principal característica é a presença de notas aromáticas que lembram uma mistura de caldo de carne e amêndoas. Assim como o Morro Azul, não tem lactose.
Brasileiros são destaque no Mundial de Queijos — Foto: Divulgação
“Ele é mais firme, com peças grandes de 8 quilos e é o nosso segundo autoral. Testo é o rio que corta o município de Pomerode e é por isso o nome regional. Se, no Morro Azul, tem uma maturação de 20 dias, no Testo a maturação é longa, com cerca de três meses, no caso desse produto que foi finalista”, destaca Juliano.
Uma novidade em 2024 foi a presença de um doce de leite na lista dos melhores produtos do concurso internacional: o Doce de Leite Du’Vale. A premiação da Du’vale Queijos, de Valença (RJ), teve um sabor especial para Rodrigo Do Vale Nogueira. A receita que conquistou os jurados era da avó, Lídia do Vale Pereira.
“Eu nunca imaginei ganhar um concurso mundial. Sou a quarta geração de queijeiros da família. O meu tataravô já fazia queijo em 1910. A produção foi passando pelas gerações, mas o êxodo rural me levou para a cidade”, contou.
Por sorte, o amor pela produção falou mais alto e o fez retornar ao interior para continuar o trabalho dos antepassados. “Nas veias do produtor de queijo artesanal não corre sangue, corre leite. Cresci vendo e escutando a minha avó fazer esse doce no fogão à lenha da casa dela. E hoje ele ganhou o mundo”.
Conforme a organização do evento, o Mundial do Queijo do Brasil premiou 598 queijos e produtos lácteos com diferentes medalhas: super ouro (99), ouro (149), prata (150) e bronze (200).
Le Gruyère AOP Rèserve (2º), Le Gruyère d’alpage AOP7 (3º), Le Gruyère AOP Classic (5º) e Le Gruyère d’alpage AOP (10º), todos da Suíça, também aparecem na lista dominada pelas iguarias brasileiras.
Confira os destaques
Confira abaixo os melhores produtos do mundo:
Morro Azul, Pomerode Alimentos, Brasil
Le Gruyère AOP Rèserve, Guillot Vincent, Suíça
Le Gruyère d’alpage AOP7, Stefan Konin, Suíça
Doce de Leite Du’Vale, Rodrigo Do Vale Nogueira, Brasil
Le Gruyère AOP Classic, Loic Pillor, Suíça
Gigante do Bosque Florido, Heloisa Collins, Brasil
Queijo Irmãos Faria, Rildo de Oliveira Faria, Brasil
Vale do Testo, Pomerode Alimentos, Brasil
Quina, Erico Kolya, Suíça
Le Gruyère d’alpage AOP, Famille Cèdric Rochat, Suíça
Manteiga Ghee Delícia da Cabrita, Marcelo Lopes, Brasil
Ancestral das Vertentes, Edson da Costa Cardoso, Brasil
Névoa das Vertentes Premium, Edson da Costa Cardoso, Brasil
Azul Britânnia, Carolina Vilhena, Brasil
Queijo Rouelle, Alisson Hauck Dornellas de Castro, Brasil
“A desculpa para o preço dos derivados do leite subirem sempre foi o preço do próprio leite e o dólar. Pois bem, o leite está praticamente a metade do que era há um ano atrás, e o dólar está estabilizado faz tempo. Qual é a desculpa agora para o queijo custar 50 paus o quilo?”
O questionamento é de um consumidor de Botucatu, no interior de São Paulo, e foi publicado em fevereiro deste ano nas redes sociais.
É a dúvida de muita gente que chegou a pagar R$ 8 por litro de leite nos supermercados em meados de 2022 e, agora, paga entre R$ 4 e R$ 5, mas não viu uma queda semelhante no preço de derivados como o queijo e a manteiga.
No IPCA, índice de inflação oficial do país medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, o leite longa vida acumula queda anual de 7,9% até fevereiro, mas o queijo recuou apenas 0,82% no mesmo período.
Um levantamento da empresa de pesquisa de mercado Kantar Worldpanel mostra um quadro ainda menos favorável para o preço dos laticínios.
Entre janeiro do ano passado e igual mês deste ano, o preço médio por quilo dos queijos em geral subiu 9,7%, e o da manteiga, 12,3%, conforme esses dados.
A mussarela, tipo de queijo mais consumido no país e que representa mais de 60% do volume de mercado, ficou 3,7% mais cara no período.
A alta de preços foi maior para o minas frescal (19,7%) e os queijos especiais (20%), como brie, cheddar, colonial, cottage, gorgonzola, entre outros, segundo a Kantar.
Mas, em um momento em que os preços da manteiga e do queijo subiam nos supermercados, a vida não esteve nada fácil para os produtores de leite.
No ano passado, em meio a importações recordes de leite em pó, o preço médio do litro de leite pago ao produtor despencou.
Passou de R$ 3,57 para R$ 1,97 entre agosto de 2022 e outubro de 2023, uma queda de 45%, segundo a série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
Neste início de ano, o valor voltou a subir um pouco e ficou em R$ 2,14 em janeiro – ainda 40% abaixo da máxima recente de R$ 3,57 registrada em agosto de 2022.
Com a queda acentuada de preços, pequenos produtores de leite têm abandonado o setor no Brasil – fenômeno crescente ano após ano, e que acontece também em outros países.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o número de produtores de leite vinculados à indústria recuou 18% entre 2021 e 2023, passando de 40.182 para 33.019, segundo o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leiteda Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS).
Em relação a 2015, quando o Estado tinha 84.199 produtores, a queda é de 61% em oito anos.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior Estado produtor de leite do país, com participação de 12,4% da produção nacional em 2021, segundo o IBGE, atrás apenas de Minas Gerais (27,2%) e Paraná (12,5%).
Mas o que explica esse cenário contraditório? Por que o preço do leite desabou, prejudicando produtores, mas o preço do queijo e da manteiga não cai?
Por que o preço do leite desabou
Antes de entrar na questão do preço dos laticínios, é preciso entender por que o leite encareceu tanto no Brasil em 2022 e, depois, despencou no ano passado.
Entre os fatores que levaram à forte alta do preço naquele ano estão uma menor produção, impactada pela estiagem prolongada no Sul do país, como consequência do fenômeno climático La Niña.
Também pesaram uma forte alta de custos, principalmente dos grãos (usados para alimentar os animais) e dos combustíveis, impactados pela guerra na Ucrânia e pelo aumento das exportações, devido ao real desvalorizado à época, lembra Natália Grigol, pesquisadora de leite do Cepea.
A alta de preços incentivou investimentos na produção, mas, como a pecuária leiteira é uma atividade de ciclos longos, esses investimentos só começaram a se refletir em um aumento da produção em meados de 2023.
O crescimento tardio da oferta interna veio acompanhado, no entanto, de um forte aumento da importação, fruto de um ganho de competitividade do leite em pó oferecido por países vizinhos, como Argentina e Uruguai, em relação ao produto brasileiro.
Em 2023, o Brasil importou um recorde de US$ 853,6 milhões (cerca de R$ 4,3 bilhões) em leite, creme de leite e laticínios, exceto manteiga ou queijo, alta de 66% em relação ao ano anterior e maior valor da série da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo federal.
O Brasil é tradicionalmente um país importador de lácteos, explica Grigol, porque, apesar de ser o quarto maior produtor de leite do mundo – atrás de Índia, EUA e Paquistão –, a produção nacional não é suficiente para abastecer o mercado interno.
“O problema é que, em 2023, muito rapidamente, as importações que correspondiam em média a 3%, 4% – nunca passavam de 5% – da nossa produção, chegaram a representar 9%, 10%”, diz a pesquisadora do Cepea.
“É uma situação que bota uma pressão [sobre os preços], em um período em que o consumidor ainda passava por um momento de recomposição de renda.”
Ou seja, o preço do leite caiu, num momento em que os brasileiros ainda se recuperavam do baque econômico da pandemia e controlavam o consumo. Foi uma combinação de fatores que prejudicou o setor leiteiro.
Mas, se o valor do leite desabou, por que o preço dos derivados não caiu?
O que diz a indústria
Na opinião de Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq) e membro do conselho da Viva Lácteos, associação que representa as maiores empresas de laticínios do país, a culpa pelo alto preço dos derivados está no varejo e não na indústria.
“Nós ajustamos o preço para baixo [em 2023]. O preço dos queijos caiu significativamente, porque sempre trabalhamos com planilhas de custos – a partir do momento que o preço do leite baixa, imediatamente nós baixamos nossos produtos”, diz Scarcelli.
O presidente da Abiq avalia que o problema seria, portanto, outro.
Scarcelli diz que os supermercados não consideram o queijo um produto “de alto giro”, que são aqueles consumidos quase que diariamente pelas pessoas e que costumam ser escolhidos muitas vezes pelo melhor preço.
“Por conta disso, eles mantêm margens [diferença entre custos e preços praticados ao consumidor] mais elevadas no queijo do que em outros produtos.”
Segundo Scarcelli, trata-se de uma forma de o varejo compensar perdas em produtos vendidos com margens mais apertadas, como arroz e feijão, por exemplo.
Em um produto vendido a R$ 100, o produtor rural fica com R$ 25, a indústria com R$ 25 e o varejo com R$ 50, exemplifica o executivo.
“Os varejistas ficam com a grande fatia da composição de preço final ao consumidor”, afirma.
“Sem entrar no mérito dos custos que eles têm – porque todos temos custos –, as maiores margens que se pode encontrar no mercado de queijos no mundo é a praticada no Brasil.”
Segundo o representante da indústria, se os supermercados reduzissem as margens, particularmente dos queijos especiais, as vendas aumentariam, o que beneficiaria toda a cadeia de laticínios.
A BBC News Brasil procurou a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para responder às críticas do porta-voz da Abiq, mas a entidade informou que não comentaria a questão.
Segundo a Abras, a associação “não atua nesse ponto da precificação”, ou seja, não define como cada empresa associada decide a estratégia de preços ao consumidor.
Produtos caros para uma população pobre
Natália Grigol, do Cepea, observa que, embora os diversos produtos lácteos – leite UHT, leite em pó, iogurtes, manteiga, queijos, entre outros – sejam parte de uma mesma cadeia produtiva, eles são trabalhados pelas empresas de formas distintas, visando públicos diferentes.
Há produtos mais “comoditizados”, em que a marca é menos importante, e o consumidor compra mais pelo preço – caso do leite longa vida e da mussarela.
Outros produtos têm uma chamada “elasticidade-renda” maior. São aqueles que o consumidor compra quando tem mais disponibilidade de renda – caso do iogurte, do queijo e da manteiga.
“São produtos substituíveis – como a manteiga, que pode ser substituída pela margarina – e mais ‘nichados’, se pensarmos que a população brasileira é pobre, na média. Temos grande parte da população vivendo com dois, três salários mínimos no máximo”, lembra a pesquisadora.
“Os lácteos no Brasil ainda são um produto caro para as famílias. Não é à toa que, nos últimos anos, vimos aparecer nos mercados produtos ‘similares’.”
São exemplos dessa tendência produtos como a “mistura láctea condensada”, alternativa mais barata ao leite condensado; a “bebida láctea”, como opção ao iogurte; a “mistura láctea sabor requeijão”, entre outras.
Produtos que substituem parte do leite por ingredientes como soro de leite, amido, açúcar, gordura vegetal e aditivos químicos se tornaram comuns nas prateleiras
A especialista concorda que o varejo tem seu papel no alto preço dos laticínios no Brasil. “Há uma concentração no mercado varejista que impõe uma pressão [sobre os preços]”, diz Grigol.
Segundo dados da Abras, os cinco maiores varejistas de alimentos do país representavam juntos 32% do faturamento do setor em 2023.
Além disso, observa a analista, há uma diferença de custos para o varejo entre produtos refrigerados e não refrigerados.
No caso do queijo, há também o custo da mão de obra empregada para dividir o alimento nas porções que são vendidas nas lojas.
“A partir do momento que esses produtos são transformados, passam a ser trabalhados, tanto pela empresa de laticínio, quanto pelo varejo, com estratégias diferentes visando o público-alvo”, afirma Grigol.
Essas diferenças ajudam a explicar porque os derivados do leite não baratearam na mesma medida que sua matéria-prima.
“A transmissão da oscilação do custo de matéria-prima para o consumidor é muito diferente, porque o processamento, a logística, o armazenamento mudam muito”, diz a analista.
Gargalos na cadeia produtiva
Tanto a pesquisadora do Cepea quanto o presidente da Abiq avaliam que as ineficiências da cadeia produtiva do leite são um dos problemas que impedem laticínios como queijo e manteiga de serem mais baratos no Brasil.
Grigol observa que, mundialmente, há desafios crescentes para a produção da matéria-prima. As mudanças climáticas têm aumentando os custos de produção do leite e levado a demanda a superar a oferta em escala global.
“Em muitos países, no entanto, há mecanismos para ajudar o produtor a lidar com as flutuações de mercado”, diz a pesquisadora
Ela cita recursos como seguro rural, derivativos (instrumentos financeiros usados para administrar os riscos da produção agrícola) e políticas públicas como subsídios e linhas de financiamento específicas para o setor.
“No Brasil, ainda carecemos de trabalhar essas imprevisibilidades”, avalia.
Para Grigol, ações protecionistas, como aumentar impostos de importação do leite em pó, não resolverão o problema.
Em outubro, o governo federal aprovou uma medida (decreto 11.732/2023) com objetivo de desestimular importações de leite em pó de países do Mercosul, que estabeleceu que importadores passam a ter menor acesso a créditos tributários.
O governo também aprovou o aumento do imposto de importação de 12% para 18%, pelo período de um ano, para alguns produtos lácteos. E anulou uma redução da Tarifa Externa Comum (TEC) em 10% para 29 itens lácteos.
Em março deste ano, foi a vez do governo de Minas Gerais retirar as empresas importadoras de leite em pó do Regime Especial de Tributação do Estado.
“São medidas que não trabalham as causas da nossa vulnerabilidade. Para isso é preciso aumentar capital – humano e financeiro – dentro das fazendas”, sugere a pesquisadora do Cepea.
Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) informou que, desde que foram identificadas dificuldades na cadeia produtiva leiteira, o governo federal vem tomando medidas de socorro ao setor.
Entre essas medidas, a pasta cita a criação de um grupo de trabalho com objetivo de propor medidas conjunturais e estruturais para o setor.
Menciona ainda a assinatura do decreto 11.732/2023; a disponibilização de R$ 200 milhões para apoio à comercialização de leite em pó como uma medida emergencial de socorro aos produtores de leite; além dos desestímulos tributários à importação.
Para Fábio Scarcelli, da Abiq, uma medida importante para o setor seria um aumento da escala das fazendas de leite.
Segundo ele, isso reduziria os custos de captação da matéria-prima para a indústria e poderia resultar em produtos nacionais mais baratos para o consumidor final.
“Precisamos ter mais produtividade, fazendas com produções maiores. É muito difícil administrar produtores de 100, 150 litros [por dia]. Com todo respeito à agricultura familiar, mas, para a indústria, é um custo muito alto”, diz o executivo.
O levantamento analisou uma amostra de 41 empresas de laticínios, sendo 17 cooperativas e 24 não cooperativas, representando um terço (32%) da produção de leite formal do país.
Segundo essa amostra, os 4,8% de produtores de leite com capacidade acima de 2 mil litros por dia (ou seja, os grandes produtores) produzem quase metade do leite do país (46%). Outros 43% da produção vêm dos produtores de médio porte.
Já aqueles com capacidade abaixo de 200 litros por dia (os pequenos) são 61% do total de produtores, mas respondem por apenas 11% do leite produzido.
“Isso permite inferir que os produtores de menor porte, ainda que relevantes do ponto de vista numérico e que certamente demandam políticas públicas a eles orientadas, serão cada vez menos relevantes do ponto de vista de abastecimento”, escrevem os pesquisadores no estudo da MilkPoint.
O que dizem os pequenos produtores
Paulo Aranã, de 30 anos, faz parte da terceira geração de sua família que trabalha com leite.
Seu avô comprou a fazenda Ipê, em Itambacuri, no interior de Minas Gerais, em 1963. Os pais assumiram o negócio em 1989. Ele trabalha ali desde 2015 e está à frente da operação há sete anos.
Com 60 vacas em média no curral, a fazenda produz entre 400 e 600 litros de leite por dia, vendidos para uma cooperativa local que produz derivados como manteiga, mussarela, queijo coalho e doce de leite.
Quanto mais distribuída a atividade leiteira, maior é a distribuição de renda, da terra e a geração de empregos, argumenta o produtor rural Paulo Aranã
“Não é uma cooperativa muito grande, mas é muito bem estruturada e uma das últimas que sobrou na nossa região”, diz Aranã.
Ele lembra que muitas cooperativas do setor quebraram nos anos 1990, quando as multinacionais do leite entraram no mercado nacional oferecendo aos produtores valores muito maiores pela matéria-prima do que as cooperativas podiam pagar.
“Quando os produtores migravam das cooperativas para esses laticínios, as cooperativas quebravam e, então, os laticínios derrubavam os preços. Os produtores se viam então sem alternativa, porque eles dependem da cooperativa ou do laticínio para beneficiar o leite.”
Diferentemente do representante da indústria, o produtor avalia que a crescente concentração do mercado leiteiro em grandes fazendas produtoras é uma armadilha e pode, na verdade, deixar leite e laticínios mais caros para o consumidor.
Segundo o produtor rural, para a indústria e as grandes empresas de laticínios, a saída dos pequenos do mercado é vista como algo positivo.
Isso porque, com isso, essas empresas passam a negociar com menos gente, fazem compras em volumes maiores e economizam no transporte e logística.
“Para eles é mais fácil e mais barato trabalhar desse jeito. Mas, para o consumidor, é um perigo, porque ele vai ficando refém de pouca gente”, avalia Aranã.
“A indústria de laticínios já é muito concentrada, agora está acontecendo a concentração dos produtores. No fim das contas, vai ficando pouquíssima gente produzindo tudo. Todo mundo fica dependente deles e, quando não houver mais alternativa, eles podem cobrar o quanto quiserem.”
O produtor afirma ainda que, quanto mais distribuída a atividade, maior é a distribuição de renda, da terra e a geração de empregos.
“O grande produtor geralmente acaba empregando muito menos, porque se trata de uma produção altamente mecanizada”, diz Aranã.
“Em vez de ter mais gente participando da atividade e o dinheiro circulando entre mais pessoas, entre mais municípios e rodando mais na economia, ele vai ficando concentrado no bolso de pouca gente.”
Para Natália Grigol, do Cepea, a questão da renda é também crucial para ampliar o consumo de laticínios no Brasil, o que beneficiaria toda a cadeia leiteira.
Segundo a Abiq, o brasileiro consome atualmente cerca de 6 kg de queijo por ano, muito abaixo dos 11 kg da Argentina e dos mais de 20 kg de países da Europa.
“Os governos, em diferentes esferas, podem trabalhar o incentivo ao consumo público, através das compras públicas. Mas a ferramenta mais efetiva [para aumentar o consumo de laticínios no Brasil] são todas as medidas que levarem o país ao crescimento e ao aumento de renda da população”, diz Grigol.
FONTE BBC NEWS
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