29 de março de 2024 09:43

Garimpando – Meu colégio abençoado – 17

Avelina Maria Noronha de Almeida

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                                                                      Abençoado e querido Nazaré!   

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               A querida Irmã Silvéria um dia chegou na sala de aula de Redação 3º ano de 2º Grau, levando um edital do Concurso lançado pela ONU: “O que o Brasil pode fazer para o Mundo?” Excelentes textos foram feitos, mas o escolhido foi o de  Patricia Gonzaga de Carvalho, que foi encaminhado para a Secretaria de Educação de Minas Gerais. Que triunfo! A redação dela tirou o primeiro lugar e foi representar Minas Gerais em Brasília, onde também triunfou.

            Assim como aconteceu com Adelaide, enviaram passagem para ela e acompanhante, que foi a sua mãe. Ficou em excelente hotel e foi levada a passeio por Brasília.

            Quanto à premiação de Minas Gerais, o Secretário de Educação solicitou à diretora do Colégio, Irmã Maria Camila Marques, que organizasse uma festa, com a presença de autoridades, para que Patrícia recebesse seu prêmio. E assim foi realizada uma bela cerimônia de homenagem a Patrícia.

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Mas aconteceu uma surpresa, como aconteceu com a visita de Adelaide. Enviei um e-mail pedindo o currículo da querida aluna, e o que recebo? Uma carta encantadora escrita por esta PÉROLA, editora chefe do Programa Bem Estar da Globo e da qual vou transcrever vários trechos.

            Com a palavra PATRÍCIA GONZAGA DE CARVALHO:

            “O que interessa na vida de uma pessoa? De onde viemos, o que fazemos, como fazemos. por quê… ??? Como, a partir dessas coisas comezinhas  alcançar narrativas dignas de odisséias? Sim, somos nossos próprios heróis, mas diante da coletividade, teria alguma significância? Minha história não tem nada de excepcional, mas me orgulho de contá-la para a senhora, porque foi naquele dia em que nos convidou para fazer a redação que meu destino foi definitivamente selado.

            Não sei se lembra mas, antes mesmo do concurso, eu já expressava minha intenção de estudar jornalismo. O que me atraiu foi a ementa do curso: vi que psicologia, literatura, filosofia, antropologia faziam parte do currículo. Eu pendia para o curso de Letras…. Mas, depois, imaginei que, desde o início do século XIX, a palavra já era a forma dominante de comunicação, e que o curso de comunicação social poderia ser considerado um curso de Letras “do futuro”, já que além da palavra, incluía o rádio, a televisão, o cinema…. mal suspeitávamos da revolução da internet!…

            No entanto, meu pai era absolutamente contra eu fazer jornalismo. Esperava que eu estudasse direito, odontologia, medicina. Dizia: ‘jornalista, Patricia? Um a cada mil é que dá certo….’ Mas eu tinha 17 anos e não ligava muito para estatísticas. A cada trimestre, o sonho ficava mais distante. Aí houve o concurso. O reconhecimento, o prêmio (em dólar!!!) As pessoas começaram a fazer uma campanha com papai. ‘Deixa ela tentar jornalismo, ela deve escrever bem….’

            Papai não fazia por mal. Hoje entendo que para ele, que estudou apenas até o segundo grau, e para minha mãe, que fez até a quarta série, estudar era o único jeito de fazer uma alavanca social. De fato, nenhum dos oito irmãos do papai tinham filhos formados. Estudar era caro, dispendioso para famílias que moravam na roça como eles. Eu seria a primeira neta a alcançar o status de um diploma universitário. Meu pai achava difícil a empregabilidade de um jornalista e, pior, ganharia muito pouco… Não posso discordar. Mas para os jovens idealistas, o que é o dinheiro?

            Por causa do prêmio, papai cedeu. Fiz vestibular e passei na UFJF. Lá, tive uma oportunidade ímpar. As aulas eram de manhã e à tarde. No entanto não eram seguidas. Isto fazia “buracos” na grade. Era costume, na época, os estudantes procurarem disciplinas de interesse em outros departamentos as quais se encaixassem nestes intervalos ociosos. Durante os 4 anos e meio em que estive lá, fiz aulas na geografia, artes, direito, psicologia… uma autêntica “Universidade”. Claro que eu não dava valor pra isso. Ansiava por trabalhar e por colocar a mão na prática.  Os alunos criticávamos o curso muito teórico. Hoje em dia, vejo que me tornei uma profissional diferenciada por esta bagagem. Dou muitas palestras em faculdades de jornalismo (sempre de graça, porque, afinal, meu ensino foi público, e devo — desta e de outras maneiras — um retorno para a sociedade). Nestas oportunidades, eu digo para os alunos (que também estão sempre ansiosos por já entrar no mercado de trabalho) — cada coisa a seu tempo!!!… aproveitem agora, porque depois, tendo que fechar um texto, ,entregar uma produção, fica muito mais difícil ter tempo e disponibilidade para ler, refletir, discutir…

            Pois bem, me formei em 1997. Nos últimos cinco meses em Juiz de Fora, consegui meu primeiro emprego como temporária no Jornal Tribuna de Minas. Era para ser um mês. Quando estava no quarto, o chefe de redação propôs me efetivar. Ai eu pensei: meu namorado está em São Paulo, meus pais em Lafaiete, por que ficar em Juiz de Fora?”

                                                                (Continua)

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