23 de abril de 2024 22:40

Garimpando- Mais uma rua de alma encantadora

                                           Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                     avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Meu pai, Jair Noronha, quando jovem, morava lá e se lembrava,

deitado em sua cama, de ouvir passarem as carroças levando os mortos pela

varíola ou pela gripe espanhola. Isso tudo deixou marcas fortes na

minha visão da alma da Rua Coronel João Gomes.

 

            Continuando a me inspirar no escritor João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro do princípio do século XX que, em um livro, visitou a alma encantadora das ruas do Rio de Janeiro, hoje relembro os tempos passados em que encontro a alma encantadora da Rua Coronel João Gomes.

            A saudosa Chapada do artigo interior teve início nesta atual Rua Coronel João Gomes, que perdeu a denominação geográfica Chapada por estar em um planalto, e ficou com o nome do político queluziano. Talvez haja moradores desta rua que não sabem quem foi o homenageado com seu nome. Assim vou relembrar a história dele.

            João Gomes Ferreira era primo de Arthur Bernardes, que era um advogado nascido em Cipotânea, Estado de Minas Gerais, em 1875 e que, após concluir o mandato de governador do estado de Minas Gerais entre 1918 e 1922, foi eleito presidente da República a 15 de novembro de 1922. Esse primo ilustre prestigiava muito o Coronel João Gomes que, por sua vez, exerceu o cargo de Chefe do Executivo Municipal de Queluz de 1918 a 1922.

            Quando o Coronel João Gomes veio para Queluz, estabeleceu-se na Fazenda da Estiva, próxima às jazidas de manganês do Morro da Mina. Casou-se com D. Amélia Zebral Ferreira filha do Dr. Francisco José Pereira Z|ebral, médico dono da Fazenda das Três Barras, perto de Gagé, vindo morar no sobrado pertencente ao sogro na Rua Direita, hoje Comendador Baêta Neves, nº 134.  Depois o prédio passou para o negociante Mário Augusto Zebral.

            Vamos agora ao encanto do passado, quando eu estava sempre passando por ali absorvendo os encantos daquela rua. E não era somente o que via, mas também o que me contavam que ajudaram a construir a uma visão imorredoura de uma época, como esse fato que eu achava lindo: ali, mais ou menos na metade da extensão da rua, havia uma capelinha. Na minha “Agenda Santo Antônio” de Queluz, publicada em 1993, onde para certas datas havia poesias ou pinturas de lafaitenses, coloquei a foto de um lindo quadro pintado por Áurea Cabanella Menezes, que morava perto da capela e guardava muito bem a sua imagem e como era o seu entorno, dando-nos oportunidade de saber como era esse templo do passado queluziano.

            A capela da Piedade era muito singela. Branquinha. Uma cruz em cima da porta de entrada e outra cruz na ponta do telhado. Uma palmeira no fundo e mais umas árvores. Ficava afastada da rua, com uma entrada de terra com matinhos e arbustos rodeando o caminho. Minha mãe contava que havia coroado lá. Quando foi demolida, na primeira metade do século XX, a bela imagem de Nossa Senhora da Piedade com Jesus morto em seu colo foi levada para a Igreja de Santo Antônio e lá continua sendo venerada até hoje no altar. Na procissão que encerra a Trezena de Santo Antônio, em junho, quando a imagem de Santo Antônio vai pelas ruas ao redor da igreja, também vai a imagem de Nossa Senhora da Piedade.

            A rua de que estamos falando assistiu a muitos acontecimentos do passado, pois ali passavam as pessoas em demanda de Ouro Preto e outras localidades. Passaram D. Pedro I, D. Pedro II, Caxias e seu exército, Getúlio Vargas e os revolucionários de 1930, os despojos de Tiradentes em 1792. Meu pai, Jair Noronha, quando jovem, morava lá e se lembrava de, deitado em sua cama, ouvir passarem as carroças levando os mortos pela varíola ou pela gripe espanhola. Isso tudo deixou marcas fortes na minha visão da alma da Rua Coronel João Gomes.

                                                                       (Continua)

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