28 de março de 2024 11:49

Leitos de UTI podem se esgotar em Minas Gerais na quinta-feira, estima relatório

Esgotamento de leitos de UTI da rede pública pode acontecer na quinta-feira (25) segundo análise estatística e hipotética do Centro de Operações de Emergência em Saúde

Uma projeção feita pelo corpo técnico do Centro de Operações de Emergência em Saúde aponta que o esgotamento dos leitos de UTI da rede pública de Minas Gerais pode acontecer ainda nesta quinta-feira (25). A análise consta no relatório de transparência publicado no site do Minas Consciente – projeto estadual que orienta a reabertura do comércio nos municípios – na quinta-feira passada (18). O estudo estima que a necessidade de leitos será superior à quantidade existente após esta semana e a situação poderá se tornar mais complicada entre os meses de julho e agosto, período estimado para a ocorrência do pico da pandemia no Estado.

Apesar do órgão técnico declarar que trata-se de uma medida hipotética que depende da dinâmica de uso dos leitos de UTI e da aceleração da taxa de transmissão, o Centro de Operações detalhou no relatório que este é um “sinal de alerta para todo o Estado de Minas Gerais”. Além da suposta falência da rede pública de leitos, a dificuldade para encontrar medicamentos anestésicos para intubação no mercado também preocupa.

A hipótese do colapso próximo do Sistema Único de Saúde (SUS) pôde ser trazida à baila pelo promotor Luciano Moreira, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa da Saúde do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Ele relembra que o corpo de técnicos do órgão encaminhou ao Estado de Minas Gerais um estudo no mês de abril alertando que aquele não era o melhor momento para a retomada econômica. O estudo do Ministério Público, segundo ele, coincide com as conclusões de uma análise traçada pelo comitê da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que também acompanha os desdobramentos da pandemia de coronavírus.

“Em abril nós elaboramos um parecer independente que trouxe as mesmas conclusões obtidas pelo grupo da UFMG. A conclusão é que não deveríamos iniciar uma flexibilização no momento em que a curva está ascendente. Diante da estimativa do esgotamento dos leitos, existe uma recomendação do grupo que orienta o próprio Minas Consciente para que todas as regiões retornem à onda verde, aquela que orienta o funcionamento apenas dos serviços essenciais”, detalhou o promotor na manhã desta segunda-feira (22).

De acordo com o relatório do órgão ligado à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o pico da pandemia está estimado para acontecer em 14 de julho. Segundo o promotor, a preocupação é que não haja leitos para atender a demanda e o Estado acabe encarando um cenário próximo àquele vivido na Itália, onde médicos sentiram-se obrigados a uma escolha de Sofia – decidir os que vivem e os que morrem.

“O que está acontecendo agora é que com a flexibilização, e principalmente com a atitude de relaxamento da população, o pico da curva está sendo antecipado. Nós reconhecemos os esforços dos gestores municipais e estaduais, mas é impossível ter um leito de UTI para cada pessoa. O problema é que estamos caminhando para uma explosão de casos que pode vir a superar a capacidade assistencial. Nós podemos acabar entrando naqueles dilemas vividos pela Itália de termos que escolher entre quem vive e quem morre, quem vai ter acesso a um leito de UTI, quem não. É muito sério, as pessoas precisam se conscientizar, precisamos do distanciamento social para achatar a curva de modo que a demanda por leitos não sobreponha a nossa capacidade”, alerta.

A intenção de Moreira, segundo defende, não é ser alarmista, mas relembrar a importância da conscientização da população principalmente em um momento em que há crescimento na quantidade de infectados em Minas Gerais. É importante lembrar que julho tem sido o mês mais caótico desde o começo da pandemia. Dados da Secretaria de Estado de Saúde apontam que 18 mil dos cerca de 29 mil casos de Covid-19 aqui existentes foram confirmadas apenas no sexto mês do ano.

“Eu não quero ser alarmista, mas precisamos de uma conscientização do Estado, dos municípios, da área econômica e da população. Este é um momento sério. Não está determinado que haverá falta de leitos, mas existe um risco muito grande de faltar. Os municípios devem seguir a legislação estadual, cumprindo a Deliberação 17 do Comitê Extraordinário COVID-19 ou aderindo ao Minas Consciente. O Estado, por sua vez, precisa indicar claramente que só devem funcionar os serviços essenciais. As pessoas estão relaxadas, comparecendo a espaços públicos sem máscaras, não pode acontecer”, declara.

Risco de não ter medicamento

Outra preocupação do promotor Luciano Moreira é que os hospitais não consigam abastecer seus estoques com os medicamentos anestésicos necessários para a intubação de pacientes. Atualmente, segundo ele, esses remédios são dificilmente encontrados no mercado e, quando achados, estão com preços acima dos originalmente praticados.

“Os medicamentos anestésicos que integram o chamado kit de intubação estão em falta no mercado ou com preços muito elevados. Por exemplo, já foram apresentadas propostas ao Estado de medicamentos com preço até 300% acima do valor. É um problema também dos hospitais particulares que estão com dificuldades de comprar esses anestésicos. Então, de nada adianta ter o leito, ter o profissional capaz de realizar a intubação e não ter o medicamento, é um grande dilema”, esclarece.

Ele pondera que hospitais, municípios e estados já trabalham no remanejamento de estoques. “Outro cenário é que o Estado está tentando comprar remédios para atender não apenas as próprias unidades de saúde, mas também para repassar a municípios e outros prestadores. O terceiro cenário é que o Ministério da Saúde está tentando uma compra com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde. São possibilidades”, tranquiliza.

Apesar disso, ele conclui comentando que algumas unidades de saúde enfrentam neste momento uma baixa em seus estoques. “Alguns hospitais possuem estoques para um tempo maior, mas já sabemos de alguns que têm medicamentos apenas para os próximos 15 dias, ou até para menos. É um cenário muito sério, muito grave”. (O Tempo)

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