“Inundação de aço chinês”: Gerdau suspende 600 contratos de trabalho e pode começar demissões

alta das importações no Brasil é um dos assuntos mais comentados no Congresso Aço Brasil 2023, principal evento do setor, que ocorre nesta quarta-feira (27/09) em São Paulo. Alguns dos maiores representantes da indústria, como o diretor-presidente e CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, pressionam o governo federal por mais proteção ao produto nacional e indicam que, caso uma medida não seja tomada contra o que alguns chamam de “inundação de aço chinês”, pode haver demissões no setor no curto prazo.

Cerca de 600 dos 20 mil trabalhadores da Gerdau estão com o contrato suspenso há cerca de quatro meses, segundo ele. “Estamos com uma planta no Ceará completamente parada, uma planta no Estado de São Paulo e, de norte a sul, temos turnos que não estão operando”, listou. Werneck afirmou que os funcionários “estão na iminência de ser desligados”, caso o cenário não mude. “Os próximos 30 dias são cruciais para uma medida seja tomada pelo governo federal”, continuou.

A ideia do setor é aumentar temporariamente a tarifa de importação do aço para 25%, patamar adotado pelos EUA, por parte dos países da União Europeia e, mais recentemente, pelo México, também com iminência de adoção pelo Chile. Atualmente, a tarifa é de 9,6%, com algumas execções.

Em Minas Gerais, onde se concentram aproximadamente 60% da capacidade produtiva da Gerdau, os empregos não são afetados por ora, sublinhou Werneck. Mas o cenário pode mudar, acrescentou: “de alguma forma, temos tentado direcionar essas pessoas que estão sem produzir aço para outras atividades de investimento. Temos conseguido manejar esse problema de uma forma melhor no Estado. Mas é inevitável que, daqui a pouco, tenhamos que começar a ver com um olhar mais intenso a situação de Minas também”.

A situação pode se repetir em outras empresas. O presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração na América Latina, Jefferson De Paula, projetou: “vamos produzir 1,3 milhão de toneladas a menos do que orçamos na Arcelor por causa dessa situação. Pode-se entender que isso vai acabar gerando um problema social no país”, declarou.

Mais de 60% de toda a capacidade produtiva da Gerdau estão concentradas em Minas Gerais | Crédito: Gerdau/Divulgação

“Estamos tendo uma competição desigual. Se a ociosidade continuar ou piorar, vamos parar plantas. As pesosas primeiro ficam em lay off, em casa, recebendo e, depois, não tem jeito. As empresas são assim”, completou.

Em agosto, a importação de aço para o Brasil chegou a quase 500 mil toneladas, o dobro da média habitual. A principal origem do aço importado é a China, que oferece subsídios estatais para parte de suas empresas — por isso, seus produtos desembarcam mais barato em outros países, o que o setor siderurgico nacional considera uma concorrência desleal.

O setor alega que aumentar a alíquota do imposto de importação e dificultar a entrada de aço chinês mais barato no Brasil não levará a aumento de preço do produto nacional. “Qual será o impacto inflacionário? Nenhum. Não é racional imaginar que uma indústria que opera com 40% de capacidade poderia aumentar o preço por uma mera alíquota de importação”, disse o conselheiro do Instituto Aço Brasil e diretor presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima. 

A adoção de uma alíquota de imposto de importação maior, contudo, pode prejudicar outros setores, avaliam alguns analistas. CEO da Arko International, pesquisador sênior do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS) e especialista visitante do Institute of the Americas em relações China-América Latina, Tiago de Aragão explica que o governo chinês pode revidar em outras frentes. “Se o governo brasileiro tiver posição de impedir a entrada de aço no Brasil, a resposta chinesa será no agro. Isso tende a paralisar o Brasil na tomada de decisão”, ponderou.

Setor do aço vive deterioração e “tempestade perfeita”

CEOs de algumas das principais companhias de aço do Brasil reuniram-se no Congresso Aço Brasil e concordaram que o setor vive o que chamaram de uma “tempestade perfeita”, cenário que soma uma ociosidade de 40% da produção, dificuldade em exportar e o crescimento das importações. O Instituto do Aço projeta que 2023 terminará com cerca de 40% a mais de importações de aço do que o ano anterior.

No começo dos anos 2000, 1,4% das importações de aço no Brasil vinham da China. Em 2023, o número saltou para 54,2%, enquanto os chineses se esforçam para escoar sua produção excedente de cerca de 191 milhões de toneladas de aço. A produção anual do Brasil equivale a somente 11 dias de produção na China, segundo o Instituto Aço Brasil.

*O repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil

“Inundação de aço chinês”: Gerdau suspende 600 contratos de trabalho e pode começar demissões

alta das importações no Brasil é um dos assuntos mais comentados no Congresso Aço Brasil 2023, principal evento do setor, que ocorre nesta quarta-feira (27/09) em São Paulo. Alguns dos maiores representantes da indústria, como o diretor-presidente e CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, pressionam o governo federal por mais proteção ao produto nacional e indicam que, caso uma medida não seja tomada contra o que alguns chamam de “inundação de aço chinês”, pode haver demissões no setor no curto prazo.

Cerca de 600 dos 20 mil trabalhadores da Gerdau estão com o contrato suspenso há cerca de quatro meses, segundo ele. “Estamos com uma planta no Ceará completamente parada, uma planta no Estado de São Paulo e, de norte a sul, temos turnos que não estão operando”, listou. Werneck afirmou que os funcionários “estão na iminência de ser desligados”, caso o cenário não mude. “Os próximos 30 dias são cruciais para uma medida seja tomada pelo governo federal”, continuou.

A ideia do setor é aumentar temporariamente a tarifa de importação do aço para 25%, patamar adotado pelos EUA, por parte dos países da União Europeia e, mais recentemente, pelo México, também com iminência de adoção pelo Chile. Atualmente, a tarifa é de 9,6%, com algumas execções.

Em Minas Gerais, onde se concentram aproximadamente 60% da capacidade produtiva da Gerdau, os empregos não são afetados por ora, sublinhou Werneck. Mas o cenário pode mudar, acrescentou: “de alguma forma, temos tentado direcionar essas pessoas que estão sem produzir aço para outras atividades de investimento. Temos conseguido manejar esse problema de uma forma melhor no Estado. Mas é inevitável que, daqui a pouco, tenhamos que começar a ver com um olhar mais intenso a situação de Minas também”.

A situação pode se repetir em outras empresas. O presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração na América Latina, Jefferson De Paula, projetou: “vamos produzir 1,3 milhão de toneladas a menos do que orçamos na Arcelor por causa dessa situação. Pode-se entender que isso vai acabar gerando um problema social no país”, declarou.

Mais de 60% de toda a capacidade produtiva da Gerdau estão concentradas em Minas Gerais | Crédito: Gerdau/Divulgação

“Estamos tendo uma competição desigual. Se a ociosidade continuar ou piorar, vamos parar plantas. As pesosas primeiro ficam em lay off, em casa, recebendo e, depois, não tem jeito. As empresas são assim”, completou.

Em agosto, a importação de aço para o Brasil chegou a quase 500 mil toneladas, o dobro da média habitual. A principal origem do aço importado é a China, que oferece subsídios estatais para parte de suas empresas — por isso, seus produtos desembarcam mais barato em outros países, o que o setor siderurgico nacional considera uma concorrência desleal.

O setor alega que aumentar a alíquota do imposto de importação e dificultar a entrada de aço chinês mais barato no Brasil não levará a aumento de preço do produto nacional. “Qual será o impacto inflacionário? Nenhum. Não é racional imaginar que uma indústria que opera com 40% de capacidade poderia aumentar o preço por uma mera alíquota de importação”, disse o conselheiro do Instituto Aço Brasil e diretor presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima. 

A adoção de uma alíquota de imposto de importação maior, contudo, pode prejudicar outros setores, avaliam alguns analistas. CEO da Arko International, pesquisador sênior do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS) e especialista visitante do Institute of the Americas em relações China-América Latina, Tiago de Aragão explica que o governo chinês pode revidar em outras frentes. “Se o governo brasileiro tiver posição de impedir a entrada de aço no Brasil, a resposta chinesa será no agro. Isso tende a paralisar o Brasil na tomada de decisão”, ponderou.

Setor do aço vive deterioração e “tempestade perfeita”

CEOs de algumas das principais companhias de aço do Brasil reuniram-se no Congresso Aço Brasil e concordaram que o setor vive o que chamaram de uma “tempestade perfeita”, cenário que soma uma ociosidade de 40% da produção, dificuldade em exportar e o crescimento das importações. O Instituto do Aço projeta que 2023 terminará com cerca de 40% a mais de importações de aço do que o ano anterior.

No começo dos anos 2000, 1,4% das importações de aço no Brasil vinham da China. Em 2023, o número saltou para 54,2%, enquanto os chineses se esforçam para escoar sua produção excedente de cerca de 191 milhões de toneladas de aço. A produção anual do Brasil equivale a somente 11 dias de produção na China, segundo o Instituto Aço Brasil.

*O repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil

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