Curso fortalece a organização popular em Territórios dominados pelas mineradoras

A organização Esperança Maria, composta de advogadas e advogados populares, realizou Curso de Defensores de Direitos Socioambientais em Territórios Atingidos por Barragens no dia 23 de março (sábado), na Escola Municipal Dona Maria Castanheira, no bairro Campinho, em Congonhas MG. A atividade contou com o apoio do Fundo Casa Socioambiental e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

A partir de pergunta geradora, os cursistas relataram sérios problemas causados pela exploração irresponsável das mineradoras em conluio com governos e agravados pela omissão da Justiça, entre os quais se destacam as doenças físicas e psicológicas, a degradação do ambiente e do património cultural, o aumento do custo de vida e a corrupção.

Joana, que faz parte da comunidade quilombola do Campinho, disse que “quando lava verdura fica pó de minério no fundo’.

A contaminação do ar é tanta que se pode afirmar: em Congonhas se come e se respira e se bebe minério.

Fernanda Lages, membro do Instituto Esperança Maria, sintetizou assim o conceito de atingido: ele é uma categoria coletiva, ou seja, atingida é a classe oprimida; esse conceito é legado de muitas lutas desde a violência desastrosa da ditadura militar; não há atingido direto e indireto, todos somos atingidos, embora de formas diferentes; hoje o ‘Atingido’ é reconhecido enquanto sujeito de Direito na lei 14. 755, sancionada em 15 de dezembro de 2023.

Ela ainda disse que a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB) é importante instrumento de luta, por isso atingidos de todo o Brasil estão se mobilizando para a criação das condições objetivas com sua regulamentação.

O MAB agradece às organizações Esperança Maria, Funda Casa Socioambiental e Helen Leite, diretora da escola onde ocorreu a atividade.

MAB e comunidades vão denunciar empresas causadoras de doenças no Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais

Na manhã deste 9 de março (sábado), aconteceu o quarto encontro do MAB na região do Alto Paraopeba, em Murtinho, Congonhas. O bairro sofre com doenças provocadas pela poeira da mineração e com o intenso fluxo de caminhões das mineradoras na 040. Já existe no bairro um terminal de carregamento de minério da empresa SCOF e a Avante está implantando outro enorme sem diálogo com os moradores.

Quatro expositores ajudaram nos debates. Rafael Duda, diretor do Sindicato Metabase Inconfidentes,
denunciou o aumento da exploração, dizendo que cada operário paga seu salário nos primeiros 40 minutos de jornada de 8 horas; que vem ocorrendo achatamento da massa salarial desde 2015, com perda de 111 milhões na arrecadação Municipal. Lu Machado, psicóloga presidenta do Conselho Estadual de Saúde do Estado de MG, defendeu a Saúde enquanto direito humano e revelou que 50 por cento dos acidentes na 040 envolvem carretas das mineradoras. Mário Rodrigues, advogado militante do MAB, desmontou o mito da privatização, boa para a classe dominante e ruim para o povo. Ele lembrou que a Vale é exemplo do quanto a privatização é desastrosa, soterrando 272 pessoas no rejeito de minério. Mário disse também que a PNAB é uma importante conquista e que sua implementação vai exigir muita luta. Fátima Sabará, assistente social militante do MAB, disse que o MAB trabalha a organização do povo porque acredita na pressão popular.

Mais de uma dezena de pessoas fez uso da palavra na ‘fila do povo’. Carlos Roberto, morador de Murtinho e líder comunitário, defendeu a importância do encontro para formalização de pauta de luta. Márcia Menezes, professora, realçou a necessidade da união para enfrentar os desafios. Entre os encaminhamentos, denúncia das questões relacionadas à saúde no Conselho Estadual de Saúde e continuidade do trabalho da base nos bairros, com próximo encontro no mês de maio, em Lobo Leite.

O quarto Encontro do MAB na região do Alto Paraopeba faz parte da jornada de luta do “14 de março”, Dia Internacional de Luta em defesa dos rios, contra as barragens, pela água e pela vida.

Terceiro Encontro do MAB: denúncia da combinação mortal entre mineradoras/040, memória das vítimas e homenagem a Dona Geci

No dia 11 de janeiro (quinta), aconteceu reunião preparatória do terceiro encontro regional do MAB no Alto Paraopeba, que se realizará no dia 20 de janeiro (sábado), no Bairro Pires, em Congonhas MG.

Na programação, Mesa de debate na parte da manhã sobre a combinação mortal entre a ganância insaciável das mineradoras e as condições precárias da rodovia 040. Na parte da tarde, momento cultural com presença de artistas populares e homenagem a Dona Geci Soares Marcos. O terceiro encontro do MAB se encerrará com caminhada e Ato na passarela do Pires em memória das vidas ceifadas pelas mineradoras e pela 040 privatizada.

A homenagem a dona Geci, nascida no dia 20 de maio de 1940, em Caranaiba, e hoje moradora de Congonhas, se justifica principalmente por sua participação nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e por ser militante do MAB, tendo se engajado ativamente na luta vitoriosa contra a prepotência da CSN no seu intento de construir barragem de rejeito em Santa Quitéria, local onde Dona Geci morava.

Entre os debatedores, teremos nomes reconhecidos pelo histórico de luta: Rafael Duda, Diretor do Sindicato Metabase Inconfidentes; Lourdes Machado, Psicológica Presidente do Conselho Estadual de Saúde; Sandoval de Souza Pinto Filho, graduado em Direito e ativista ambiental e social; e Mário de Lima Rodrigues Jr, advogado militante do MAB.

Os parentes e conhecidos das vítimas da 040 e das mineradoras são convidados a trazer cartazes e cruses para o encontro. Nossa indignação será transformada em luta, pois é tempo de avançar na participação popular.

Após controvérsias, MAB afirma que Política de Barragens valerá pra danos em Mariana e Brumadinho

Segundo representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, a Lei não é retroativa mas os danos provocados pelos rompimentos são continuados

Após controvérsias sobre a validade da Política Nacional dos Atingidos por Barragens (PNAB), que foi sancionada com veto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última sexta-feira (15), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) afirma que, embora não seja retroativa, a lei valerá para os danos e as vítimas das barragens em Mariana e Brumadinho. Foi vetado na lei o trecho que tornava a PNAB inconstitucional, pois dava margem para interpretação de retroatividade para os desastres ocorridos em 2016 e 2018. Para garantir a tramitação rápida do textos e a aprovação ainda neste ano, o veto foi combinado com o próprio Movimento dos Atingidos por Barragem, pois se o texto redigido na Câmara fosse alterado no Senado, a peça teria que voltar para avaliação dos deputados.

Segundo Andreoli, a negociação do MAB garantiu a aprovação do texto. Caso contrário, oito anos após o rompimento de Mariana, o Brasil continuaria sem uma política que contemplasse os direitos de atingidos. “É importante dizer que a PNAB é uma grande conquista histórica, inédita, que vai garantir direito dos atingidos por barragem no Brasil. Em relação ao veto sobre a palavra ocorrido, não tem a ver com não reconhecer direitos. A questão dessa palavra, ela colocava em debate a constitucionalidade ou não da PNAB. E para garantir a plena constitucionalidade, ou seja, a legalidade dessa lei, foi feita com emenda de redação no Senado e depois vetada essa palavra”, afirmou.

Aplicável à Mariana e Brumadinho

Brasíia (DF), 15.12.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, saciona Projeto de Lei n° 27882019 que institui a Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB). Foto: Ricardo Stuckert/PR

No entanto, segundo Joceli Andreoli, um dos coordenadores do MAB, a PNAB continua valendo para as vítimas das barragens de Brumadinho e Mariana, já que os danos provocados pelo rompimento são continuados e ainda não foram ressarcidos. Ainda de acordo com ele, o direitos dos atingidos é algo presente e não retroativo, por esse motivo a lei incide sobre os casos. “A PNAB vale para Brumadinho e Mariana? Vale. Porque Mariana e Brumadinho, primeiro, são crimes continuados, ou seja, com danos futuros, inclusive, porque está muito bem descrito na lei as barragens que serão enquadradas a essa lei e ela se enquadra. As duas, e também quando fala na Constituição Federal, no seu artigo 5º, sobre a retroatividade da lei, fala que só não retroage se atingir prejudicando o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Nesses três casos, Brumadinho e Mariana, eles não se enquadram, ou seja, é um crime que ainda está em andamento, não foi reparado, o processo continua, então é um fato presente e com danos futuros, portanto isso faz-nos afirmar que a PNAB terá uma plena efetividade em relação a esses crimes, porque eles, inclusive, foram os motivadores de criar uma lei no Brasil para garantir direitos”, explica Joceli.

Ainda de acordo com ele, a PNAB acaba, de alguma forma, regulamentando e dando diretrizes à Lei Ambiental, que já está sendo aplicada. “Outro aspecto é que esses dois crimes são crimes considerados crimes ambientais também, e a Lei Ambiental é muito clara que o poluidor deve ser o pagador, portanto a empresa tem que indenizar, tem que reparar. Qual é o problema? O problema é que faltava dizer quem era os atingidos, como devem ser reparados e quais são os seus direitos, e isso a PNAB traz muito bem e vamos usar em todos seus aspectos para garantir os direitos da população atingida por esses dois maiores crimes socioambientais do nosso país”, acrescentou.

FONTE ITATIAIA

“Tempo, Rio e Movimento”: live de lançamento de livro de padre ativista das causas ambientais e sociais da região

O livro reúne 19 crônicas que trazem recortes do cotidiano e marcam um tempo específico dos acontecimentos: Pandemia, CRIME das mineradoras, Luta dos Atingidos e Atingidas e Organização Popular. O olhar se dá a partir do Município de Congonhas/MG; cidade histórica que tem a maior barragem de rejeito em área urbana de toda a América Latina. O livro é escrito por Antônio Claret Fernandes (Padre Claret), membro da coordenação do MAB.

O objetivo do livro é socializar reflexões e contribuir na auto-sustentação do Movimento.

No dia ?️ 26/05, às ⏰ 19h30; teremos o lançamento online do livro, com Programação Cultural diversa e a divulgação dos postos de distribuição.

Venha acompanhar conosco‼️
Transmissão pelos seguintes canais:

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Escola Fé e Política Dom Luciano

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Movimento Atingidos por Barragem (MAB) se reúnem com Aloizio Mercadante

Nesta semana representantes do Movimento Atingidos por Barragem (MAB) se reuniram com Aloizio Mercadante, coordenador das equipes de transição do futuro governo Lula, para discutir a pauta das populações atingidas por barragens, que abrange uma proposta relacionada à “política de reparação dos direitos dos atingidos” e outra à “proteção e segurança das populações e comunidades atingidas”. Essas políticas seriam viabilizadas a partir da criação de um organismo de Estado para atendimento das populações e territórios atingidos pela construção de grandes obras (de águas, minas e energias), por rompimento de barragens e por casos de eventos extremos decorrentes de mudanças climáticas.

O Movimento ainda cobrou a realização de um grande debate nacional sobre o tema da transição e política energética, com mecanismos democráticos de participação popular, para se discutir os preços e tarifas do setor. Na reunião também foi entregue uma carta assinada por organizações e parlamentares denunciando a falta de legitimidade do atual desenho do acordo da Repactuação do Rio Doce. A carta reivindica que o mesmo seja feito pelos órgãos do governo eleito e com ampla participação dos atingidos.

MAB promove ação para melhorar sistema de captação de água em comunidades

No dia 22 de março, no Dia Mundial da Água, uma equipe do Movimento Atingidos pelas Barragens (MAB) prosseguiu com os esforços e ações de melhoria do sistema de armazenamento e distribuição de água que vai beneficiar 90 famílias, sendo 70 do Barnabé, 5 da chacara dos Vieiros e 15 do Bela Vista, em Congonhas, párea de mineração.

A equipe foi até a chegada da água, reconhecendo o ambiente com a ajuda do diácono Ronei. A visita a campo é importante para montagem do arranjo do sistema que atenda, da melhor forma, todas as famílias. A iniciativa é uma parceria entre o MAB, as comunidades e o Mandato Coletivo ligado ao deputado federal Padre João Carlos (PT). A organização do povo é fundamental para a conquista de direitos.

Nota do MAB – Bacia do Rio Doce: 6 anos depois, atingidos continuam em luta por justiça

Após seis anos do rompimento da barragem da Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, em Mariana (MG), atingidos cobram construção de moradias devastadas, remoção do rejeito dos rios e responsabilização criminal dos envolvidos.

No reassentamento de Bento Rodrigues, apenas 10 moradias das 244 foram finalizadas depois de quase 6 anos. Não há prazo para a conclusão. Não foi feita a remoção do rejeito das áreas atingidas e as comunidades estão convivendo com ele sem nenhuma orientação e cuidados. Das 21 pessoas denunciadascriminalmente pelo Ministério Público Federal (MPF), apenas cinco ainda se encontram no processo que apura as mortes, inundação e crimes ambientais.

Neste dia 5 de novembro de 2021, completam-se seis anos do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, de propriedade da Samarco Mineração S.A, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, as duas maiores mineradoras do mundo na produção de minério de ferro.

Este rompimento derramou 48,3 milhões de metros cúbicos de lama na natureza que percorreram cerca de 650 km entre Mariana (MG), até a foz do Rio Doce, no povoado de Regência, município de Linhares (ES), espalhando-se por várias comunidades ao norte e ao sul da foz, contaminando boa parte do litoral capixaba. Atingiu, pela sequência, o córrego Santarém, o rio Gualaxo do Norte, o rio Carmo e 100% do rio Doce.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), nesta data, denuncia que a Vale continua com todo o processo nas mãos, inclusive sendo beneficiada pela atuação do Poder Judiciário brasileiro. Apesar da gravidade da situação, já são mais de 2 mil dias sem reparação para os atingidos. A impunidade é evidente. Na região, o lucro foi colocado acima da vida. O crime se “renova” cotidianamente nos locais por onde passa a lama de injustiças.

Empresas fecham a porta de entrada da reparação

Apesar do pagamento em dinheiro para milhares de atingidos por meio do Sistema Simplificado de Indenização (Novel), passados quase seis anos, as cláusulas do Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) de 2016, não foram completamente executadas. Dos 42 programas desenhados para a reparação, apenas 4 estão em execução mais avançada, nos quais há maior dispêndio de recursos. São eles: a) cadastramento dos atingidos; b) o programa de indenização c) o programa de pagamento de auxílio financeiro emergencial; d) o programa de reconstrução de vilas.

Mesmo assim, ainda há, no mínimo, 60 mil cadastros sem finalização, o que pode significar, aproximadamente, 200 mil pessoas aguardando ter acesso a porta da reparação. Para “resolver” o assunto, a Justiça Federal desfigurou o papel da assessoria técnica, que teria a tarefa de acompanhar este processo, inclusive na sua revisão completa para atualizar de forma correta os registros de danos. No lugar, colocou uma perícia judicial ligada ao mercado financeiro e sem qualquer conhecimento da realidade social da Bacia para revisar os cadastros. Como fazer uma reparação integral e justa se a porta de entrada está fechada para a maioria dos atingidos?

Água e saúde: direitos que o dinheiro não paga

Após 6 anos do crime da Samarco, Vale e BHP Bilinton
Rejeitos da lama chegando ao mar em Regência (ES). Foto: Acervo Mídia Ninja

Até hoje, há diversas comunidades com dificuldade de acesso à água. Muitas moradias recebem água de má qualidade, vindas de poços artesianos perfurados pela Fundação Renova que apresentam cheiro e coloração. A Justiça Federal reconheceu, recentemente, o chamado “dano água”. São R$ 2 mil por dia em função do não abastecimento que resulta do rejeito no rio, mas isso não resolve a problemática profunda que tem a ver com a qualidade e confiança naquilo que chega nas torneiras de milhares de pessoas.

Como não foi feita a remoção do rejeito das áreas atingidas, as comunidades estão convivendo com ele sem nenhuma orientação e cuidado. Ao longo dos anos, sem nenhuma resposta ou orientação da Fundação Renova, as pessoas voltaram a usar a maioria das áreas atingidas ao redor dos rios com plantios e pastagens. A recuperação do rio é uma reivindicação importante dos atingidos ao longo da bacia para que possam voltar a fazer uso dele como fonte de renda, alimento e lazer. Não há, porém, um plano claro para que isso aconteça, com prazos estabelecidos e com segurança para as famílias atingidas.

Como resultado, há diversos problemas de saúde ainda sendo relatados pela população, principalmente, de alergias respiratórias e de pele. Para essas pessoas, não há nenhuma ação da Fundação Renova que resolva o problema. Os municípios atingidos da Bacia do rio Doce elaboraram planos de ação em saúde desde 2019, mas apenas 2 (Mariana e Barra Longa) foram aprovados pela Fundação Renova, para que ela possa arcar com os seus custos. Da mesma forma, não há a continuidade dos estudos de impacto à saúde por parte da Renova, o que já foi objeto de aplicação de multas por descumprimento de acordo.

Moradia e assessoria técnica: negação daquilo que é básico

Quanto à reconstrução das comunidades atingidas há uma série de descumprimentos de prazos, diversos deles estabelecidos pela própria empresa ou por decisão judicial. A última delas determinava que, em fevereiro de 2021, deveriam estar construídos os 3 reassentamentos propostos no plano de reparação. Os reassentamentos de Gesteira e Paracatu de Baixo não têm nenhuma das 100 casas prometidas. No reassentamento de Bento Rodrigues apenas 10 moradias das 244 foram finalizadas depois de quase 6 anos. Não há prazo para a conclusão das obras. 

Neste contexto, a indenização chegou a quase 50 mil pessoas pelo Novel, mas o custo foi obrigar os atingidos a darem “segurança jurídica” para as mineradoras que tiveram que abrir mão de seus direitos, como o auxílio financeiro emergencial, e assinar uma quitação geral dos danos. Ao mesmo tempo, a forma de implementação do Novel praticamente acabou com todo o sistema de participação coletiva organizado e centralizou o encaminhamento no indivíduo, que agora transfere o protagonismo para advogados particulares, alguns destes ficando multimilionários. Assim, criou-se um ambiente para desmobilizar tanto jurídica, quanto politicamente o direito à assessoria técnica independente. E foi o que a Justiça fez.

Apenas Mariana, Barra Longa, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado tiveram direito à assessoria técnica garantido. Os outros atingidos dos mais de 40 municípios afetados foram negligenciados. No dia 4 de outubro, a Justiça Federal, atendendo quase todos os pedidos das empresas, acabou com o conceito e o objetivo inicial da assessoria técnica, proibindo quase todas as tarefas técnicas previstas, inicialmente, que são direitos já conquistados. Na decisão aparecem, no mínimo, 12 proibições e impedimentos para o trabalho das equipes. E qualquer estudo pedido pela comunidade só será feito se o juiz autorizar depois de consulta às mineradoras no processo.

Para piorar, a Justiça quer dificultar as entidades escolhidas de fazer trabalho presencial com as comunidades. Segundo a decisão “as Assessorias Técnicas devem PRIORIZAR a utilização dos meios de comunicação virtuais (plataformas digitais, revistas virtuais, “lives”, Youtube, pílulas de whatsapp), REDUZINDO E/OU EXCLUINDO, a utilização de instrumentos de comunicação físicos.”

Que Justiça é esta que dá com uma mão e tira com a outra? Uma Justiça que facilita o pagamento individual em dinheiro, ao mesmo tempo que desmonta todo um processo coletivo, dificulta estudos independentes, criminaliza os movimentos sociais, espalha desconfianças infundadas em entidades sem fins lucrativos reconhecidas por seu trabalho junto aos atingidos por barragens e fortalece a posição das mineradoras na Bacia.

Seis anos depois, continuamos em luta por Justiça!

Reivindicamos que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) demonstre que quer fazer a justiça atuar para os interesses das vítimas e não dos criminosos. A mesa de repactuação para um novo acordo “definitivo” entre governos e empresas que está em andamento com o envolvimento de várias instituições precisa acolher verdadeiramente os atingidos ou será apenas mais um espaço da divulgação midiática de uma iniciativa que nada vai resultar de objetivo para a reparação dos danos coletivos na Bacia, apenas fortalecer os interesses das mineradoras. Audiência Pública online não é participação. Queremos participar decidindo conceitos e políticas e tendo direito a instrumentos independentes de acompanhamento, estudos e coleta de dados.

A partir desta premissa, propomos as seguintes ações:

  1. Direito à Assessoria Técnica Independente, conforme acordo assinado em 2017.
  2. Modificações no NOVEL, com fim da quitação final e do fechamento do cadastro.
  3. Fundo para projetos coletivos dos atingidos.
  4. Fundo social para os atingidos por barragens de MG e ES.
  5. Programa de Transferência de Renda para combater a pobreza agravada pelo próprio rompimento ao longo dos anos.
  6. Nova Governança, menos burocrática e mais próxima dos territórios.
  7. Ações prioritárias para as mulheres e população negra atingida.
  8. Continuidade dos estudos ambientais e não finalização da pauta ambiental neste acordo.
  9. Valor do acordo deve ser baseado no valor de R$ 155 bilhões da ação inicial feita pelo Ministério Público Federal (MPF).
  10. Conquistas e avanços no acordo em Brumadinho como ponto de partida das negociações.

3 anos de Brumadinho

Neste ano, caminhamos em solidariedade e organização com a Bacia do Paraopeba e com os atingidos do crime em Brumadinho, que, em 25 de janeiro de 2022, completará 3 anos. Nossas lutas são as mesmas. Nossas pautas buscam o mesmo objetivo e os violadores dos nossos direitos atuam da mesma forma. Compartilhamos o drama de vermos a Justiça deixar impunes os responsáveis pelas mais de 290 mortes nos dois crimes. No Rio Doce, da ação das 21 pessoas denunciadas criminalmente pelo Ministério Público Federal (MPF) apenas cinco ainda se encontram no processo que apura as mortes, inundação e crimes ambientais. A Justiça Federal entendeu que as 19 mortes em 2015 não foram homicídio.

Enquanto isso, no Paraopeba, o Superior Tribunal de Justiça (STJ),  aceitou o argumento burocrático da defesa de que a tragédia afetou sítios arqueológicos, que são de responsabilidade da União. Portanto, a competência jurídica muda e a acusação volta à estaca zero.

Somos as vítimas de crimes bárbaros que estão longe de uma correta solução e também de uma Justiça que está a serviço daqueles para quem o crime compensa. Hoje, mais do que vítimas, somos também um povo em luta disposto a colocar a vida acima do lucro. De cabeça erguida, seguiremos mobilizados, em mais um ano, para denunciar a violência das grandes corporações, a impunidade, a cumplicidade dos governos e do Poder Judiciário.

Anunciamos aqui, como atingidos e atingidas das bacias do Paraopeba, do Rio Doce e do litoral capixaba, que seguiremos em marcha, em luta, até que nossa região deixe de sofrer da “maldição da abundância” de água, minerais, terra, petróleo. Até que nossas riquezas sejam partilhadas entre nós, povo brasileiro, para que nenhuma criança nossa acorde sem saber se terá comida ou educação, até que sejamos uma pátria soberana, independente e de controle popular capaz de garantir todos os direitos e reparações plenas a todos e todas.

FONTEMOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGEM

Atingidos por Barragens (MAB) envia jovens em missão do Paraopeba ao Rio Doce

Aconteceu nesta terça-feira (14) o envio de Olívia e Pedro, jovens militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) que, após um ano de preparação, fazem sua transição da bacia do Paraopeba para a bacia do Rio Doce. A cerimônia ocorreu no salão da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Congonhas (MG), e contou com a presença de organizações parceiras do movimento como a Igreja, a Pastoral Operária, sindicatos, entre outros. 

À ocasião, Regina, mãe de Pedro, destacou a dedicação do casal à organização do povo e sua especial sensibilidade aos empobrecidos. Os jovens viajarão na próxima segunda-feira, dia 20 de setembro, a Ipatinga (MG), região do Vale do Aço, onde irão morar. De acordo com o vigário paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Congonhas, padre Antônio Claret Fernandes, a missão deles é, juntamente com mais dois militantes, coordenar os trabalhos do MAB em área do médio Rio Doce, que vai desde Itabira (MG) a Aimorés (MG), na divisa com o Espírito Santo, englobando em torno de 15 municípios.

“Esse deslocamento de militantes, prática comum nos movimentos populares, está inserido no contexto desafiante do crime da Samarco, BHP Billiton e Vale. O rompimento da barragem de rejeito de Fundão, em Mariana (MG), matou 20 pessoas e deixou um rastro de destruição na bacia do Rio Doce. Sem reparação até hoje, após seis anos, famílias atingidas continuam sem casa, sem os meios de subsistência e adoecendo, devido à contaminação com metais pesados e aos traumas de perda da história e da memória”, afirma padre Claret.

O sacerdote ainda pontua que “Congonhas, município drasticamente atingido pela exploração minerária, com imensa dívida social, 23 barragens de rejeito e pelo menos 5 mil pessoas em área de risco, acabou se tornando ponto irradiador do MAB no Alto Paraopeba”. Por essa razão, o MAB pretende enviar, por ano, dois jovens em missão para outras regiões de Minas Gerais e do Brasil. 

Texto: Colaboração do pe. Antônio Claret Fernandes

Imagens: Arquivo do Pe. Paulo Barbosa

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