Construção de porto seco de minério ameaça captação de água em Entre Rios de Minas

Duzentos empregos temporários e 85 fixos compensam o risco de se afetar o abastecimento de água de uma cidade com cerca de 15 mil habitantes? Essa é a pergunta que os moradores de Entre Rios de Minas, na região Central de Minas Gerais, devem se fazer até o próximo dia 25 de julho, quando acontece a primeira reunião entre a população e a empresa JMN Mineração, que pretende implantar um terminal ferroviário de minério – também chamado de “porto seco” – na zona rural do município. 

O mega-empreendimento, segundo o arquiteto, urbanista e professor da UFMG, Roberto Andrés, está tirando o sossego dos moradores do povoado da “Barrinha”, uma região com diversas fazendas de produção ecológica e áreas verdes recheadas de nascentes que fazem parte das bacias do rio Brumado e São Francisco. 

“Trata-se de um patrimônio ambiental rico, e a população está preocupada desse empreendimento afetar isso.  Pelo que se sabe até agora, há poucos estudos de impacto ambiental e não houve nenhuma audiência pública, procedimentos que são previstos pelas leis ambientais para um empreendimento como este”, argumenta o professor. 

Evandro José Diniz, de 58 anos, é morador da cidade desde a infância e integrante da ONG Ecologia pela Paz (Ecoppaz), que vem atuando na cidade na luta, não contra a empresa, mas por um empreendimento sustentável e sem riscos para toda a população. 

Faixa anuncia risco para água da região da Barrinha, em Entre Rios de Minas — Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

“Nós sabemos da importância do empreendimento para a cidade. Mas temos que pensar que o minério, no período que ficar acumulado no local, vai gerar muito pó e eles precisarão molhar. Quando chover muito, a lama formada será escoada e o destino dela vai ser o córrego da Barrinha, que deságua no rio Brumado onde, hoje, a captação de água da cidade é feita”, detalha o ambientalista. 

Além disso, ele acredita que, para construir o terminal ferroviário, seja necessário ocupar áreas no em torno da ferrovia já existente, onde estão várias nascentes e, até mesmo, uma cachoeira. “Algumas minas poderão ser comprometidas, seja qual for o aterro que pretendem fazer. Os moradores fizeram um levantamento via Google Earth e viram que, na região da Barrinha, temos cerca de 370 hectares de Mata Atlântica. Por isso, é o maior manancial de água doce do município”, alerta Diniz. 

Números falsos confundem a população

Nas redes sociais, em páginas em que a construção do empreendimento é debatida, é possível ver que a maior parte dos moradores de Entre Rios de Minas defende o empreendimento da JMN Mineração, sempre com o argumento de que a cidade precisa de empregos. 

Entretanto, segundo Evandro José Diniz da Ecoppaz, isso ocorre por que muitos receberam informações que não condizem com a realidade, como, por exemplo, de que serão gerados 500 empregos temporários e 400 fixos, um número bem acima do número real, confirmado para a reportagem de O TEMPO pela própria empresa. 

“É coplicado, pois tem uma divulgação excessiva desses números e faz a população defender algo que não é verdade. Existem outros locais que o empreendimento poderia ser construído sem colocar em risco o futuro das próximas gerações da cidade”, completa o ambientalista. 

A ONG já repassou dados e o caso é acompanhado pela promotora do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) da cidade. “Estamos de olho, mas é muito importante que a população participe da reunião no próximo dia 25, em que a empresa vai apresentar o projeto do terminal”, finaliza Diniz. 

Outro lado

Questionada pela reportagem de O TEMPO, a J. Mendes Logística, empresa responsável pelo terminal da JMN Mineração, informou, por meio de uma nota, que já apresentou uma série de estudos técnicos necessários para se avaliar a implantação do terminal ferroviário.

“Neste material estão disponibilizadas informações consistentes e embasadas que apontam total segurança operacional e ambiental do empreendimento. Esses dados serão analisados pelo órgão ambiental competente”, completa a empresa. 

A empresa destacou ainda que a construção e operação do terminal traria reflexos positivos para a cidade, destacando a geração de “200 postos de trabalho no período de implantação, bem como a abertura de 85 vagas no período de operação”, sendo que os trabalhos fixos poderiam ser ampliados futuramente. 

“Além do estímulo ao mercado de trabalho, o retorno por meio do recolhimento de tributos girará na casa dos R$ 20 milhões anuais, recursos que aumentarão a capacidade de investimento do poder público em áreas estratégicas para a comunidade, como educação e saúde”, continua a J. Mendes Logística. 

A empresa argumenta ainda que a infraestrutura proporcionaria uma redução de 21,3% na circulação de veículos de cargas pelas vias do município, o que aumentaria a segurança viária e, ainda, reduziria o consumo de diesel em 1,6 mihlão de litros por ano, o que, ainda conforme a emrpesa, representaria uma captura de 4,3 milhões de toneladas de gás carbônico.

Por fim, a empresa diz que “mantém diálogo aberto com a comunidade” e que está aberta para possíveis questionamentos sobre o empreendimento, tendo solicitado a reunião, que aconteceria no próximo dia 11 e foi alterada para o dia 25 de julho, na Câmara Municipal de Entre Rios de Minas.

-O Tempo

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