Ex-aluno da UFOP busca reconhecimento da vida republicana como patrimônio imaterial de Ouro Preto

Um dossiê elaborado pela Refop será avaliado pelo (Compatri) para validar o pedido ou não.

Ex-alunos e moradores das repúblicas estudantis de Ouro Preto buscam o reconhecimento da vida republicana como um patrimônio imaterial da cidade. A iniciativa foi proposta pelo ex-aluno da República Aquarius, Otávio Luiz Machado, que realizou o pedido formal junto à Prefeitura de Ouro Preto. 

Otávio Luiz, também conhecido por seu apelido republicano Jaka, se formou em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), é pesquisador e tem diversos estudos e publicações sobre as repúblicas da cidade. Atualmente, ele coordena o projeto “Aquarius Patrimônios”, que realiza um levantamento histórico sobre a sua república, que tem 52 anos, possui cerca de 200 ex-alunos e é a maior da América Latina.

Ser reconhecido como um patrimônio imaterial de Ouro Preto é um antigo sonho da comunidade de ex-alunos e moradores, segundo o historiador.

“Neste início de 2022, eu como estudioso sobre o assunto, conversei com as pessoas, com os órgãos, tive conhecimento sobre os passos e dei a entrada justamente vendo que não existe um instrumento por parte do poder público de reconhecimento mínimo das repúblicas. Construí a proposta, recolhi muitas assinaturas das pessoas da cidade e está crescendo a adesão ao movimento”, diz Otávio Luiz ao Mais Minas.

De acordo com o historiador, a iniciativa está em fase de encaminhamento, já levando o conhecimento da proposta ao Ministério Público de Minas Gerais. Otávio Luiz está otimista quanto ao êxito da proposta.

“As resistências que acreditávamos que teria, não está tendo. Por outro lado, a comunidade está muito solícita em relação a isso. Então, o pessoal entende o papel das repúblicas, embora uma vez ou outra há um exagero em relação a som, mas cada vez mais estamos mais convictos que têm que registrar”, comenta.

O presidente da Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop), Caio Barbosa, conta que há cerca de cinco anos, o movimento para tal reconhecimento foi iniciado, fazendo parte de um dos objetivos da Refop.

“Há uns cinco anos começamos a coletar fotos, vídeos e as histórias das repúblicas. A vida estudantil existe há mais de 100 anos, então entendemos que se trata de uma preservação fundamental para as práticas que incluem a sociedade em geral”, diz Caio ao MM.

O pedido foi encaminhado para o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural de Ouro Preto (Compatri) para elaboração de parecer técnico. Foram realizadas reuniões com a reitora da UFOP, Cláudia Marliére, com a Refop, com a secretária de Cultura e Turismo de Ouro Preto, Margareth Monteiro, e com o promotor Lucas Gonçalves para informar aos órgãos sobre a solicitação.

“Qualquer aprovação de registro de patrimônio intangível precisa ser submetido ao conselho de patrimônio. Então, estamos solicitando a documentação para o pessoal das repúblicas para poder apresentar em uma reunião no conselho. Precisamos de um material consistente, porque haverá uma discussão e uma avaliação. Quem aprova é o conselho, a gente só realiza o trabalho de registro”, explica Margareth Monteiro ao MM.

Qual a diferença entre patrimônio material e imaterial?

O patrimônio imaterial é intangível, por isso não é tombado, apenas registrado. São os saberes, os sabores e os fazeres. Precisa ser algo pautado em uma memória histórica. “O que é intangível, você registra, e o que é tangível você faz o tombamento, como em uma casa, igreja, bairro ou núcleo urbano”, diz Margareth.

Qual a diferença para Ouro Preto?

Ex-aluno da UFOP busca reconhecimento da vida republicana como patrimônio imaterial de Ouro Preto
Foto: Nathália Viegas/UFOP

Otávio Luiz vê um grande ganho para Ouro Preto o reconhecimento da vida republicana como um patrimônio imaterial da cidade. Segundo ele, tal iniciativa poderá proporcionar mais ações sociais entre a comunidade local e os estudantes.

“Queremos que os estudantes se relacionem melhor com a comunidade, com espaço para exposições, encontros, elaboração de projetos na área esportiva, já que tem repúblicas que têm quadra. A gente percebe que o momento é de a gente impulsionar, incentivar e fortalecer o que nós já temos de ações, porque assim que os estudantes terão mais reconhecimento em Ouro Preto e vão aprender mais”, comenta.

Segundo o historiador, muitos ex-alunos apenas vão até Ouro Preto na tradicional festa do dia 12 de outubro, quando celebra o aniversário da Escola de Minas. Porém, para ele, há muita coisa que pode ser feita durante o ano, além de festas.

“Os estudantes também vão aprender a conviver melhor com a cidade, tanto na parte de civilidade quanto de contemplação. Tem estudante que ficou quatro anos em Ouro Preto e nunca visitou uma igreja ou um museu. Da mesma forma, pessoas da cidade que nunca entraram em uma república”, diz Otávio Luiz.

Margareth Monteiro também vê com bons olhos o reconhecimento da vida republicana de Ouro Preto como um patrimônio imaterial da cidade. “Todo registro é muito bem-vindo, porque os envolvidos precisam fazer uma ‘salva-guarda’, que é a continuidade das atividades que tornem o patrimônio vivo”, declara a secretária municipal de Cultura e Turismo.

Preservação

Ex-aluno da UFOP busca reconhecimento da vida republicana como patrimônio imaterial de Ouro Preto
Foto: Divulgação/República Aquarius

Com as festas e a cultura republicana no geral, há episódios de perturbação do sossego, com som alto, ou mesmo trotes exagerados para os calouros da UFOP. Otávio Luiz diz que, com a “salva-guarda”, as repúblicas terão que aumentar o cuidado com o ambiente em que vivem.

“Todo patrimônio que é registrado precisa de instrumentos que garantam que aquilo seja preservado. Na nossa proposta temos alguns para que o bem não seja desvirtuado ou que tenha algum tipo de situação que acabe com ele. Acho que o ex-aluno é a peça de equilíbrio nesse tabuleiro. Enquanto tiver ex-alunos e ex-alunas para contar as histórias, falar da sua época e trocar experiências, a república se mantém, pois é algo passado a cada geração”, comenta.

FONTE MAIS MINAS

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