Dívida de Minas com a União: relembre principais momentos do debate sobre o RRF

Prazo para fim da carência do pagamento da dívida de Minas Gerais com a União foi prorrogado mais uma vez; O TEMPO relembrou os principais momentos do debate entorno da dívida que hoje chega a R$160 bilhões

Com a prorrogação do prazo para carência do pagamento da dívida de Minas com a União, na noite desta quarta-feira (13), a busca por soluções para o débito bilionário passa para uma nova fase. Após a votação da adesão do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais ter sido suspensa, a proposta alternativa de renegociação da dívida apresentada pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD), passa a ser analisada, tanto no Parlamento Nacional quanto no legislativo mineiro.

O novo prazo para a volta do pagamento da dívida é abril de 2024 e, até lá, o Governo Federal e Estadual de Minas Gerais, além do Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa, precisam apreciar a nova proposta, que prevê, entre outras coisas, a possibilidade de federalização da Cemig, da Codemig e da Copasa.

O debate entorno da dívida de Minas, que hoje chega a quase R$160 bilhões, vem de desde 1998, quando então governador Eduardo Azeredo assinou contratos com o Governo Federal repassando a dívida do Estado à União. Na época, o valor que deveria ser pago pelo estado era de R$14,8 bilhões, sob juros de 7,5%.

Relembre principais pontos acerca da dívida de Minas Gerais:

1998 – Programa de Apoio à Reestruturação e Ajuste Fiscal dos Estados (PROES): 

O Governo Federal assume as dívidas dos estados, entre eles Minas Gerais, e o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB) assina contratos com a União estipulando um pagamento de R$14,8 bilhões, que deveria ser feito de forma parcelada pelos próximos anos, sujeitas a juros e correção monetária.

1999 – Moratória de Itamar: 

O novo governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), solicita a suspensão do pagamento da dívida por 90 dias e tenta desatrelar o Estado do débito, mas acaba sendo isolado pelo governo. Dívida cresce 84,11%, saindo de R$18,6 bilhões para R$34,3 bilhões.

2011 – Mobilização contra a dívida:

A sociedade civil mineira começou a se mobilizar contra o pagamento da dívida e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais instaurou uma Comissão Especial da Dívida Pública.

2017 – Possibilidade do Regime de Recuperação Fiscal: 

O ex-presidente Michel Temer (MDB) sancionou lei do Regime de Recuperação Fiscal, que permite a renegociação da dívida dos estados com a União sob uma série de regras estipuladas. Para aderir ao programa, é preciso da autorização da Assembleia Legislativa do estado.  

2018 – Suspensão do pagamento da dívida por cinco anos: 

Ao fim de seu governo, o ex-governador Fernando Pimentel (PT) conseguiu uma liminar na Justiça que suspendia o pagamento da dívida por cinco anos, na época avaliada em R$114,3 bilhões. A decisão vence no dia 20 de dezembro de 2023. 

2019 – Primeira tentativa de adesão ao RRF: 

Ainda no início de seu governo, o governador Romeu Zema (Novo) enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei para permitir a adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), mas o PL nunca foi votado e foi arquivado no fim de 2022. 

Junho de 2023 – Volta do debate em torno do RRF:

O governador Romeu Zema solicitou o desarquivamento do Projeto de Lei (PL) 1.202/19, que autoriza a adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). 

Outubro de 2023 – Dívida em R$160 bilhões:

Sem ser paga por cinco anos, a dívida de Minas Gerais com a União cresceu 44,97% entre janeiro de 2019 e outubro de 2023. O projeto de adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal foi aprovado nas comissões da Assembleia Legislativa e segue para plenário.

23 de outubro de 2023 – Críticas ao RRF: 

O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Martins Leite (MDB), disse que o plano de recuperação fiscal apresentado pelo governo Romeu Zema (Novo) não resolveria a dívida do Estado com a União e defendeu alternativas. 

“Estou dizendo que, daqui a nove anos, um novo presidente da ALMG vai estar discutindo com um novo governador o mesmo problema, ou talvez pior, porque, na verdade, os valores que não serão pagos nestes próximos nove anos vão ser jogados para frente, aumentando a dívida do Estado”.

Novembro 2023 – Viagem de Zema à China: 

governador de Minas Gerais viaja para China para uma missão internacional de atrair investimentos para o Estado. Em mensagem enviada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Zema pontuou que o intuito da viagem é promover a imagem do ambiente de negócios mineiro, além de fortalecer e consolidar relacionamentos com parceiros chineses e japoneses.

08 de novembro de 2023 – Vice-governador se reúne com Governo Federal:

À frente do governo de Minas Gerais durante viagem de Zema, Mateus Simões (Novo) se encontrou com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e disse que há um compromisso do governo de rever as taxas de indexação das dívidas dos Estados para possibilitar o pagamento sem inviabilizar as administrações estaduais. “Governo federal não é banco para viver às custas de juros cobrados dos Estados”, afirmou ao estimar que cerca de R$24 bilhões da dívida mineira são juros e que precisam ser revistos.

16 de novembro de 2023 – Rodrigo Pacheco entra no debate: 

Procurado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite, o presidente do Congresso Nacional, senador mineiro Rodrigo Pacheco (PSD), se reuniu com parlamentares mineiros e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), para debater a dívida do estado e o Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

Ele apresentou ao Governo Federal uma proposta alternativa de renegociação da dívida à União, que prevê a possibilidade de federalização da Cemig, da Codemig e da Copasa. Como contrapartida, a União abateria o valor de mercado das estatais dos R$156,57 bilhões do passivo. Ainda está previsto o direito do Estado em recomprar as empresas em até 20 anos. Outros dois pontos do documento apresentado a Lula preveem que o Estado ceda à União o crédito a que terá direito do acordo de reparação do rompimento da barragem da Mina do Fundão, em Mariana, em 2015; e que o Executivo federal abata a dívida os R$8,7 bilhões do acordo firmado entre o governo Zema e a União para compensar as perdas de arrecadação com a Lei Kandir – Lei Complementar 87/1996. 

20 de novembro de 2023 – Zema não consegue se encontrar com Lula: 

Durante viagem à Brasília no Dia da Consciência Negra, o governador de Minas Gerais tentou ser recebido pelo presidente Lula para discutir os termos da renegociação da dívida do estado, mas não conseguiu. Ele se reuniu, então, com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

06 de dezembro de 2023  – Governo de Minas pede adiamento do prazo da dívida: 

O governador Romeu Zema confirmou ter acionado a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Supremo Tribunal Federal (STF) para adiar por três meses o prazo de volta do pagamento da dívida de Minas, marcado para o dia 20 de dezembro.O chefe do Executivo de Minas Gerais afirmou, ainda, que a proposta alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) apresentada pelo presidente do Congresso Nacional não avançou para além da “falação”.

07 de dezembro de 2023 – Troca de farpas entre Haddad e Zema: 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, recebeu em sua residência oficial os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira de Oliveira, para discutir o pagamento das dívidas do estado de Minas Gerais com a União. Em sua fala, Haddad teceu inúmeras críticas à postura de Zema e disse que mineiro não tem ajudado no processo, mas sim atrapalhado com críticas públicas direcionadas ao presidente do Senado e ao presidente Lula. 

“Inexplicavelmente, o Zema ao invés de se alinhar ao presidente Pacheco para resolver o problema, ataca nas redes sociais e na imprensa o único mineiro com autoridade a tomar providências. Na minha opinião, o governador não ajuda com esse tipo de conduta. Fica o apelo para que o Zema adote uma posição mais construtiva e menos conflitiva com o presidente do Congresso Nacional, que é quem, afinal, vai deliberar sobre o tema. Porque qualquer que seja o acordo, vai ter que passar pelo Senado, e a pior coisa que ele pode fazer, não tendo feito nada durante cinco anos, é agredir aquele que vai pautar o que for fechado com a Fazenda Nacional e com o governo federal. Fica aqui o apelo, não é hora de ficar batendo boca, fazendo graça na imprensa.”

08 de dezembro de 2023 – Oposição a Zema vai à Brasília: 

Um grupo de 23 deputados mineiros se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para apoiar a proposta alternativa apresentada pelo presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco.

13 de dezembro de 2023 – Prazo para volta do pagamento da dívida de Minas é adiado novamente: 

O Supremo Tribunal Federal (STF) prorrogou, até 20 de abril de 2024, o prazo do fim da carência do pagamento da dívida de R$156,57 bilhões de Minas Gerais com a União. Imediatamente após a decisão, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Martins Leite, suspendeu a votação em primeiro turno do Regime de Recuperação Fiscal (RRF). 

FONTE O TEMPO

Com R$ 23 bilhões em caixa, governo mente ao dizer que precisa aprovar RRF para não atrasar salários

Um documento do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) desmente o discurso do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de que salários de servidores atrasarão, caso a Assembleia não aprove o Regime de Recuperação Fiscal (RRF). 

No último dado disponível, referente a agosto de 2023, o estado tinha em caixa mais de R$ 22,34 bilhões de saldo, bem como R$ 1,39 bi em aplicações financeiras. 

“O valor do saldo equivale a oito folhas de pagamento de todo o funcionalismo público estadual”, comparou a professora Denise Romano, coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), durante coletiva da Frente Mineira em Defesa do Serviço Público, nesta segunda-feira (4).

Os resultados foram obtidos junto ao TCE por uma solicitação do deputado Lucas Lasmar (Rede). A solicitação foi um encaminhamento do Ciclo de Debates Endividamento de Minas Gerais, realizado pela Assembleia Legislativa nos dias 26 e 27 de outubro. 
 

ACESSE AQUI OS DADOS DISPONIBILIZADOS PELO TCE-MG


“Esse saldo é o buraco na estrada, é a falta de medicamento no hospital, é a falta de professora na escola. O estado não foi feito para dar lucro. O dinheiro no caixa do estado pertence ao povo de Minas Gerais”, destaca o auditor fiscal Hugo René, presidente do Sindicato dos Servidores da Tributação, Fiscalização e Arrecadação do Estado de Minas Gerais (Sinfazfisco-MG). 

Para o SERJUSMIG, a dificuldade em acessar os dados, que só ficaram disponíveis mediante uma solicitação da Assembleia ao TCE, é mais uma prova da falta de transparência do governo Zema (Novo). “As informações deveriam ter sido apresentadas à população pelo próprio governo”, ressalta o presidente do sindicato, Eduardo Couto.

Para ele, a omissão dos dados ocorre porque o governo tenta chantagear a população com o discurso de que é urgente aprovar o RRF, a fim de manter os salários dos servidores em dia. “Ele faz terrorismo falando de atrasos, mas isso é uma mentira, pois o governo tem saldo suficiente para rodar oito folhas do funcionalismo público”, destaca Couto. 

Zema não está preocupado com a dívida

Os dados do Tribunal de Contas jogam por terra a alegação do governo, de que não há dinheiro em caixa. “O estado hoje só está tendo os pagamentos em dia para fornecedores e para o funcionalismo devido a nós termos uma liminar no Supremo”, disse o governador. 

A liminar a que ele se refere manteve suspenso o pagamento da dívida com a União até 20 de dezembro. Segundo o governo, até essa data, é necessário aprovar o Projeto de Lei (PL) 1202/2019, de adesão ao RRF, e o Projeto de Lei Complementar (PLC) 38/2023, que cria um teto de investimentos estadual. Há mais de um mês, os dois projetos são discutidos em comissões da Assembleia, sob protestos diários de trabalhadores do serviço público. 

Paralelamente, as presidências do Senado Federal e Assembleia Legislativa discutem com o governo Federal uma alternativa ao RRF, que envolveria o abatimento de parte da dívida com a União, mediante a federalização de estatais como Cemig e Copasa e a transferência de recursos das compensações pelas perdas da Lei Kandir e do acordo de reparação pelo crime da Samarco na bacia do Rio Doce. 

Desde que Zema assumiu, a dívida só tem crescido (aumento de 50%), chegando a cerca de R$ 160 bilhões. Segundo especialistas, todo esse crescimento tem como base a rolagem de juros e o não pagamento das parcelas da dívida pelo atual governo. 

“Minas Gerais, o segundo estado mais rico da federação, tem uma dívida de R$ 160 bi e nós sabemos de onde ela veio, porque ela chegou a esse tamanho. Qual foi o grande investimento que nós, mineiros, aproveitamos, para que Minas tivesse uma dívida nesse patamar?”, questiona a auditora fiscal Maria Aparecida Meloni Papá, em entrevista ao podcast “Fala, SERJUSMIG!”. 

De volta às ruas 

Na terça-feira (5), a Assembleia retoma as discussões sobre o RRF. Às 11h30, o projeto de adesão (PL 1202) estará em pauta na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (CFFO). Às 16h, a mesma comissão retomará as discussões sobre o teto de investimentos. 

“Fica claro que Zema não está preocupado com a dívida, ele só quer levar adiante seu projeto de Estado mínimo para o povo e máximo para seus amigos, com privatização de estatais e entrega de serviços básicos como educação e saúde para empresas. Então, o RRF não é para fazer recuperação. Por isso, voltamos às ruas”, ressalta o presidente Eduardo Couto.

SERJUSMIG
Unir, Lutar e Vencer

FONTE SERJUSMIG

about

Be informed with the hottest news from all over the world! We monitor what is happenning every day and every minute. Read and enjoy our articles and news and explore this world with Powedris!

Instagram
© 2019 – Powedris. Made by Crocoblock.