7 de maio de 2024 00:11

Assassinatos no Rochedo: “As vítimas assumiram o papel de opressores e os opressores de oprimidos”, desabafa irmã em carta emocionada, carrega de dor e frustração

Ainda repercutindo o resultado do Júri popular, realizado na sexta feira passada, dia 7, no Fórum de Lafaiete, quando os 7 acusados de matar Ronei Veríssimo, 27 anos, e Pedro Silva, 29, e David, 25, ganharam regime aberto, nossa redação recebeu uma carta em tom emocionado. Escrita por Simone Santos, irmã de David, o teor é um desabafo público, revestido de dor, desolação e revolta que retrata o sentimento das 3 famílias das vítimas. Segundo a irmã, um dos familiares não pôde entrar no júri com a camisa estampada com o rosto de uma das vítimas. Leia a seguir.

 

“No dia 26 de março de 2016, um crime brutal, como nunca visto antes na história de Lafaiete, chocou a população. Uma festa no bairro Rochedo (região sudeste) terminou em uma terrível tragédia. Três jovens, sendo um deles meu irmão, que saíram para se divertir, foram espancados cruelmente em uma briga generalizada, que teve início por um motivo fútil, com golpes de chutes, socos, pedras, garrafas de cerveja, faca e pedaços de madeira. Por conviver com as vítimas, posso afirmar que meu irmão, David Santos, 25 anos, era negro, pobre e não residia em bairro nobre, mas era um rapaz trabalhador, honesto, carismático e com tantas outras qualidades… Poderia ficar citando-as por horas.

Ronei Veríssimo, 27 anos, e Pedro Silva, 29, não ficavam para trás, sendo eles também honestos e trabalhadores.  Esses jovens, que tinham um longo futuro pela frente, tiveram suas vidas ceifadas antes mesmo de chegarem aos 30, a chamada idade do sucesso. A tamanha brutalidade que meu irmão e seus amigos sofreram foi a ponto do crânio de um deles abrir, o rosto de outro ficar completamente desfigurado e outro com cortes profundos por diversas partes do corpo, ficando eles com lesões tão graves, que vieram a óbito. É um relato difícil de ler – e de escrever também – mas a população tem que estar ciente do que aconteceu. A partida deles deixou um imenso vazio e uma dor insuportável no coração daqueles que realmente os amavam. Juro, não sei quem sentiu mais dor, se foram eles ou se foram a família e os amigos, que tiveram que presenciar essa cena de barbárie ao chegar no local da tragédia. Vocês conseguem imaginar a dor de uma família ao ver um ente na situação em que eu relatei? Pois eu não só consigo imaginar, como a vivi. Após mais ou menos duas semanas de desespero e sofrimento, foram apontados sete acusados pelo triplo homicídio, sendo todos eles maiores de idade. Além desses culpados, menores também tiveram participação no crime, porém não foram nem sequer indiciados. Seis dos setes acusados foram presos, ficando um foragido. Posteriormente, o mesmo também foi preso. Um ano e três meses de espera e então aconteceu o tão esperado Júri Popular. Após 11 horas de muita tensão e ansiedade por parte de familiares e amigos das vítimas, os acusados foram sentenciados com apenas UM ANO E SEIS MESES DE PRISÃO em REGIME ABERTO.

Familiares e amigo de David Santos cobram Justiça

Essa sentença é abaixo da média para um TRIPLO HOMICÍDIO. Até uma mãe, que rouba biscoito para dar o que comer para os filhos, fica mais tempo na cadeia do que esses assassinos. NÃO HOUVE JUSTIÇA. Várias questões foram levantadas no Júri, e pude perceber que as vítimas, naquele momento, assumiram o papel de opressores e os opressores de oprimidos. Segundo a visão de um dos defensores dos acusados, foi rixa seguida de morte e não homicídio. Sendo assim, não há peso na sentença. Os covardes, que se encontravam em cerca de mais de 15 pessoas, continuaram a agredir as vítimas, estando estas já indefesas e inconscientes. Alguém, por favor, fala pra esse defensor que os três rapazes, vítimas desses assassinos, já pagaram com a própria vida! Mas tudo isso foi pouco para o mediador da “justiça”.

O que era pra estar em questão eram os erros dos sentenciados, só que eles assumiram o papel de vítima tão bem, que não abriu espaço para que isso acontecesse. Os acusados de tirarem a vida de três jovens, que tinham a vida toda pela frente, só tiveram como pena um ano e seis meses de prisão. Os “cumpridores da justiça”, a todo o momento se posicionaram de forma a acolher os acusados. Pude ver, por conta própria, o promotor que defendia as vítimas, sendo interrompido sucessivamente em suas falas. As vítimas não estão aqui para se defenderem, mas isso não tira seus direitos de serem defendidas. Entretanto nem entrar com a camisa deles, como forma de protesto e homenagem, a gente pôde. Foi alegado que “intimidaríamos” os jurados. Não havia sequer indícios de justiça, pois a mesma se perdeu na arrogância de um dos advogados dos culpados, que jogou os autos no chão e pisou como se fosse lixo, dizendo ainda, que a justiça foi feita na medida certa. Insulto e deboche sem igual! Em relação ao voto dos jurados, muito me espantou, pois os fatos, por si só, já falavam demais. Por outro lado, era de se esperar, pois a mesa dos jurados é composta por pessoas leigas e, pelo jeito, enxergam atrocidades como coisas banais.

Rosane, mãe de pedro, ainda não esqueceu a tragédia do filho

Os argumentos bem elaborados dos advogados dos acusados fariam até mesmo a Chapeuzinho Vermelho se passar por vilã. Sem contar, que ora insistiam em enaltecer as juradas, chamando- as de princesas, outrora em relatar a boa relação com o juiz. Particularmente, não sei onde toda aquela conversa entrava, pois não tinha nada a ver com o contexto, apesar de todo Júri ser um “teatro”.

Deixo aqui, então, minha mais sincera revolta e inquietação: Como é que ficam os familiares das vítimas? Até quando vamos permitir assassinatos de jovens honestos e o acolhimento aos assassinos?  Quando vai existir a efetivação da justiça para os pobres? Até quando vamos ter que aceitar a impunidade para menores infratores? Até quando um negro vai ser tachado de bandido? Nossa mãe nos educou para sermos honestos sempre, e não bandidos. E esse papel ela cumpriu com sucesso!

David e Ronei: futuro brilhante, mas as vidas foram ceifadas ainda na tenra idade

O significado da justiça se perdeu e, novamente estou de luto. Luto pelos nossos rapazes, sempre, mas, principalmente, luto pela justiça. Todas as palavras aqui escritas seriam poucas para expressar tamanha a minha indignação. A turma já está livre para continuar fazendo outras vítimas e destruindo outras famílias. Meu coração, minha alma, meu corpo e minha mente clamam para que os culpados sejam devidamente punidos. E acredito eu, que o sangue de David, Ronei e Pedro, ainda pulsa, gritando fortemente por JUSTIÇA. Enquanto vida eu tiver, lutarei por ela. NÃO SOU OBRIGADA A ACEITAR TAMANHA IMPUNIDADE. Eles tiveram suas vidas, sonhos e projetos interrompidos. Mas creio que agora estão em um lugar bem melhor que essa terra, e que no céu, alcançaram a felicidade que não encontraram aqui”.

 #QUEREMOSJUSTIÇA!
Ajude-me a divulgar, pois isso tem que acabar!

 Simone Santos, irmão da David.

Mais Notícias

Receba notícias em seu celular

Publicidade