5 de maio de 2024 20:16

Belo Vale (MG) revitaliza imóvel, futuro Centro de Cultura Imaterial e região pode ganhar roteiro turístico cultural

O relevante trabalho que o município de Belo Vale vem desenvolvendo para a proteção de seu patrimônio, bens culturais materiais e imateriais, ganha destaque no cenário cultural de Minas Gerais e atinge a expressiva pontuação de 24,20 de ICMS Cultural no exercício de 2024, o que o coloca entre os primeiros do estado. Desta vez, o foco está na área central do distrito de Santana do Paraopeba, sitio de grande valor histórico e cultural, berço da ocupação e primeiro núcleo urbano da cidade (1673). Denominada de “Casinha Velha”, provavelmente, construída no século XIX no povoado de Vargem de Santana, apresenta tipologia de elementos construtivos tradicionais: alvenaria em pau-a-pique, telhas coloniais e parte da estrutura embasada em pedras.

Foto: Tarcísio Martins, 2024; “Casinha Velha”, imóvel do século XIX, situado em Vargem de Santana, é remanescente de um valioso sítio histórico, berço da civilização do município.

“Programa Minas Para Sempre” contemplou restauro

O projeto arquitetônico de restauro está sendo possível pelo “Programa Minas Para Sempre”, iniciativa do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (CAOMA), órgão do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em parceria com o Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS). Contemplado em 17/07/2023, em cumprimento ao disposto na cláusula 4 do Termo de Compromisso, celebrado nos altos da Ação Civil Pública no. 5055004-90.2021.8.13.0024, tem como proponente o Instituto Joaquim Artes e Ofícios, que prevê um período de execução de 15 meses, para uma obra orçada em R$ 1.210.250,00.

Congado de Nossa Sra. do Rosário de Vargem de Santana, valioso patrimônio imaterial municipal ocupará o espaço.

A Secretária de Cultura de Belo Vale, Eliane Santos pretende que a edificação do patrimônio material, tombada em 2022, seja inaugurada e entregue aos habitantes da comunidade, no aniversário da cidade, em 17/12/2024. “Decidimos ocupar o imóvel com um Centro de Cultura de uso público, integrando-o à memória imaterial e, dando vez, às manifestações do tradicional Congado de Nossa Senhora do Rosário de Vargem de Santana, tombado em 2016, com registro no Livro Formas de Expressões, por seu valor histórico e cultural;” afirmou a secretária.

À esquerda, foto de Salomão de Vasconcellos (1943) revela paisagem de Vargem de Santana com a antiga capela dedicada à Imaculada Conceição, a qual substituiu à original capela de São Pedro, provavelmente, construída no século XVIII, e demolida, pelo estado de ruínas. Nota-se a Casinha Velha, na lateral.

À direita, foto de Tarcísio Martins, 2021. Vargem de Santana, atual Capela de Nossa Sra. da Conceição, em área revitalizada. O local recebeu a denominação primeira de ‘Roças de Matias Cardoso de Almeida’, (1673), pouso da Bandeira de Fernão Dias Paes.

Roteiro turístico histórico e cultural

A Casinha Velha está localizada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e, próxima à Casa da Bica que se situa na entrada do povoado, outro bem de preservação municipal. O perímetro de entorno de tombamento atinge uma área de 4,30 ha, o que garante sua proteção paisagística e características de ambiência no meio urbano. Ainda, está distante, a dois quilômetros da Capela de Sant’Ana (1735), o que poderá transformar a região no mais aprazível roteiro turístico cultural e natural de Belo Vale.

Imóvel pertenceu à família de José Lapa dos Santos

Foto Tarcísio Martins, 2023; Fachada lateral da “Casinha Velha” revela estrutura com embasamento em pedras, alvenaria em pau-a-pique e telhas coloniais. No entorno do imóvel será mantido o pomar e receberá um jardim.

A pesquisa histórica para compor o Dossiê de Tombamento, coordenado pela “Pólen Consultoria, Patrimônio e Projetos”, foi desenvolvida pela mestre em Ciência da Informação, Amanda Dabés de Carvalho. A pesquisadora entrevistou o ex-prefeito de Belo Vale José Lapa dos Santos, quem citou ter sido o imóvel de propriedade de sua família, nos anos de 1890. Segundo relatos, já em 1906 pertencia a Leocádia Fernandes, esposa de Jacinto Fernandes e dos filhos que nasceram naquela casa. O filho Décio Vieira dos Santos, quem tinha uma venda anexa ao imóvel, casou-se com Geni de Paula Vieira. Eles eram avós de José Lapa dos Santos (Lapinha) e, foram rei e rainha do Congado de Vargem de Santana.

Em 2021, a Escritura Pública de Desapropriação atestava que o imóvel pertencia às famílias de Geraldo Manoel Vieira e José Eustáquio Vieira, filhos de Décio e Geni. Através de Decreto no. 694 de 27/12/2021, a Prefeitura Municipal de Belo Vale tornou o imóvel de Utilidade Pública e procedeu-se com a desapropriação. O passo seguinte foi o tombamento definitivo por Decreto 948, de 21/12/2022, aprovado pelo então Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Natural de Belo Vale.

Texto e fotos: Tarcísio Martins, jornalista, membro do Conselho Municipal de Cultura; representante da APHAA-BV.

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