‘Cultura da PC vitimou colega’, diz diretor do sindicato dos escrivães

A morte da escrivã da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) Rafaela Drumond, de 31 anos, na última sexta-feira (9/6), levantou dúvidas sobre a rotina de trabalho e a pressão que sofrem os agentes do estado. Rafaela trabalhava em uma delegacia em Carandaí, na região do Campo das Vertentes, e tirou a própria vida na casa dos pais em Barbacena, na mesma região de Minas. 

gundo o diretor do Sindicato dos Escrivães de Polícia do Estado de Minas Gerais (SINDEP-MG), Marcelo Horta, o dia a dia dos policiais é estressante, e isso é somado a um ambiente de trabalho nada saudável. Rafaela havia denunciado supostos casos de assédio moral e sexual dentro da unidade em que atuava. “A gente entende que é uma tragédia o que aconteceu. É uma tragédia anunciada. O sindicato tem atuado fortemente no combate ao assédio que é uma coisa terrível que acontece na polícia”, disse.

Imagens e áudios que circulam nas redes sociais mostram relatos da policial que, em alguns deles, detalha os assédios que sofria. Ela também reclamava das escalas de trabalho e da falta de folgas. “Ele ficava dando em cima de mim. Teve um povo que foi beber depois da delegacia, pessoal tinha mania disso de fazer uma carne. Ele começou a falar na minha cabeça, e eu ficava com cara de deboche, não respondia esse grosso. De repente ele falava que polícia não é lugar de mulher. No fim das contas, ele me chamou de piranha”, disse ela em um dos áudios.

Para Marcelo, o problema está enraizado na instituição. Ele diz que a Polícia Civil pouco faz para coibir casos como o de Rafaela. “A grande luta é que a polícia não está dando apoio. Ela tem uma metodologia de trabalho arcaico. É preciso reformular a metodologia de trabalho, que não é eficiente e gera muito prejuízo. A cultura institucional precisa ser melhorada. É essa cultura, do século passado, que faz com que o machismo, assédio, autoritarismo ainda impere. É contra esse tipo de atitude que estamos lutando. Infelizmente, esse tipo de cultura que vitimizou nossa colega”, relatou.

Atualmente, o Sindep-MG possui mais de dez denúncias de assédio contra agentes no estado. “Temos mais de dez casos investigados pelo sindicato. O assédio atinge um número muito maior porque as pessoas têm medo de denunciar. Temos percebido que quem denuncia sofre um ataque institucional”, explicou o diretor.

“Sonhava em ser delegada”

O pai de Rafaela foi o primeiro a encontrar seu corpo no quarto da residência. Em conversa com a reportagem, Aldair Drumond contou que a jovem tinha o sonho de ser delegada. “Desde a faculdade, a missão dela era ser delegada. Isso aumentou ainda mais depois que ela trabalhou no Ministério Público. Ela me disse que queria seguir carreira. Surgiu o concurso de escrivão, ela fez e passou em segundo lugar. E agora estudava para ser delegada, era esse o foco dela”, disse.

Aldair também disse que havia notado uma diferença no comportamento de sua filha nos últimos meses. “A Rafaela era muito alegre, falando, gostava muito do trabalho. Mais ou menos no meio de fevereiro percebi que ela deu uma recaída, ficou mais fechada. Perguntei se aconteceu algo com ela e ela tava assim porque estava estudando muito, focada no concurso”, explicou.

Veja a nota da PCMG na íntegra:

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), mais uma vez, presta condolências aos familiares, amigos e colegas da Escrivã de Polícia Rafaela Drumond.

A Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária (SIPJ), por meio da Inspetoria-Geral de Escrivães, além de uma equipe da Diretoria de Saúde Ocupacional (DSO), do Hospital da Polícia Civil (HPC), foram no município de Carandaí para acolhimento e atendimento dos servidores.

A PCMG instaurou procedimento disciplinar e inquérito policial, com o objetivo de apurar as circunstâncias que permearam os fatos.

A PCMG reforça que o Centro de Psicologia do HPC oferece atendimento psicológico clínico, por meio de sessões presenciais e também por teleconsulta, para servidores da ativa, aposentados e dependentes, da capital e do interior do estado. Ademais, o HPC dispõe do plantão psicológico, que consiste em um dispositivo de escuta especializada, sem necessidade de agendamento, serviço amplamente divulgado aos servidores.

A PCMG conta com a sensibilidade da sociedade como um todo, neste momento de luto da Instituição e dos familiares da Escrivã Rafaela Drumond, face às circunstâncias de seu falecimento. 

Sonhava em ser delegada’, diz mãe de escrivã da polícia que se matou em MG; família cobra justiça

“O sonho da minha filha era ser delegada. Acabaram com a vida dela”. O desabafo carregado de tristeza e seguido de choro é de Zuraide Drummond, de 57 anos. A auxiliar veterinária é mãe da escrivã Rafaela Drummond, de 32, que se suicidou. A morte da servidora da Polícia Civil de Minas Gerais, lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata, acende um alerta para a pressão psicológica sofrida pelos profissionais, visto a circulação de áudios deixados por ela indicando pressão psicológica e assédio moral.

Rafaela sempre se dedicou aos estudos, conforme relembra a mãe, já que deseja ingressar na instituição. O sonho começou a tomar forma com ela ocupando o cargo de escrivã, mas uma mudança no comando da delegacia de Carandaí fez com que tudo mudasse.

“O delegado falava diretamente que não sabia como ela havia passado na Polícia Civil, pois era desequilibrada e louca”, disse Zuraide. A irmã de Rafaela, Karoline Drummond, conta que a familiar tentou transferência de cidade, pois não estava mais suportando a perseguição sofrida, que aconteceu até mesmo por um colega de trabalho.

“Teve uma vez que ela sofreu assédio sexual por um colega. O homem se inconformou por Rafaela não querer ter tido algo com ele durante uma confraternização e virou bebidas, além de uma mesa sobre ela. Na época, ela comunicou o fato para o delegado que respondeu: ‘quer que eu faça o quê?’”.

A dedicação de Rafaela com os estudos foi acompanhada por um amigo, que optou pelo anonimato. “Nós estudávamos juntos para sermos delegados. Era o grande sonho dela. Eu fiquei em choque com a notícia da morte. Ela não chegou a comentar sobre os assédios comigo, apenas que tinha muita pressão no serviço, mas nada específico”.

Saudade e desejo de justiça

Rafaela é definida pelos familiares e amigos como uma pessoa alegre. “Tinha uma vida social muito boa, mas de uns dias para cá estava muito calada. Não conversava com ninguém e estava bem deprimida. Ela chegou a comentar com alguns amigos a vontade de tirar a própria vida. Com nós da família nada disse”, revelou a mãe.

Antes de morrer, Rafaela pediu ajuda de conhecidos na divulgação dos desabafos deixados. “Eu não aguento mais ter que me reerguer todo dia e em todas as áreas”, escreveu em uma das mensagens enviadas a uma amiga. O desejo por justiça é comum entre aqueles que estimam por Rafaela.

“Espero que a morte da minha irmã não seja em vão. Ouvi autoridades policiais comentando que este tipo de assédio é comum, só que estamos falando de uma sobrecarga desleal. Eu quero justiça”, disse Karoline. O amigo, por sua vez, pede mudanças na Polícia Civil.

“Agora, diante desta tragédia, que aconteça uma mudança na corporação. É preciso mudar essa política na instituição. Se continuar assim, quantas pessoas vão precisar morrer? A Rafaela não é a primeira e nem mesmo a última”, afirmou.

Investigação

Um procedimento disciplinar e um inquérito policial foram instaurados para apurar as denúncias referentes aos fatos, conforme esclarecido pela Polícia Civil em nota encaminhada a O TEMPO

“A Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária (SIPJ), por meio da Inspetoria-Geral de Escrivães, além de uma equipe da Diretoria de Saúde Ocupacional (DSO), do Hospital da Polícia Civil (HPC), estão no município de Carandaí para acolhimento e atendimento dos servidores”, disse a instituição afirmando que prestou condolências aos familiares, amigos e colegas da escrivã. A reportagem entrou em contato com a delegacia de Carandaí, no entanto, não teve as chamadas atendidas. 

Asembleia de Minas debate morte

A morte da escrivã Rafaela Drumond será tema de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A reunião deverá ocorrer na primeira semana de julho, em data ainda a ser definida. A realização da audiência foi determinada nesta terça-feira (13), após requerimento do deputado Sargento Rodrigues (PL), durante encontro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa. 

“A falta de efetivo nas forças de segurança é um problema gravíssimo, para o qual há tempos venho cobrando do governo uma solução. O caso da Polícia Civil é ainda mais grave, pois a instituição tem o maior déficit de profissionais. As consequências da sobrecarga de trabalho dos servidores são sérias, com alto índice de afastamentos por motivo de saúde, aumento de absenteísmo e o adoecimento mental. Não dá para o governo esperar outras tragédias, como essa, para tomar uma atitude efetiva”, destaca o deputado.

Conforme definido nesta terça-feira (13), deverão comparecer a Chefe de Polícia Civil, Dra. Letícia Gamboge, o Secretário de Estado de Governo, Igor Eto, e a Secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto. A audiência irá debater a morte da escrivã e o quadro de saúde mental dos policiais civis do Estado. 

A instituição enfrenta um grave problema com um déficit de servidores, o que ocasiona sobrecarga de trabalho, agravada pela falta de equipamentos e estrutura. “São constantes os relatos recebidos de servidores que se sentem vulneráveis, com cobranças excessivas e perseguições por parte de superiores”, destaca o comunicado sobre a audiência.

Zema promete apuração sobre morte de escrivã e PM: ‘não temos o que esconder’

O governador Romeu Zema (Novo) lamentou, nesta segunda-feira (12/6), as mortes de um policial militar em serviço e a de uma escrivã da Polícia Civil que se suicidou após ser vítima de assédio. O governador afirmou que em um “Estado do tamanho de Minas Gerais, infelizmente, casos como esses estão sujeitos a acontecer”. No entanto, o chefe do Executivo garantiu apoio aos familiares, além de investigações com transparência.

“Lamento muito a perda dessas pessoas. Tudo isso tem sido apurado com máximo rigor. A Controladoria-Geral na minha gestão teve um avanço enorme. Hoje não há nenhum processo engavetado, nenhum processo que seja movido por perseguição ou para privilegiar alguém”, destacou o governador em coletiva de imprensa realizada depois da entrega de 65 notebooks — desenvolvidos pela Google e voltados para educação para professores da rede estadual.

“Nós não temos o que esconder. Isso tem de ficar claro. Lamento muito que esse tipo de fato esteja acontecendo. Lembrando que em um Estado que tenha 320 mil funcionários, que é maior que a grande maioria das cidades, fatos dessa natureza estão sujeitos a acontecer, coisas absurdas. Que isso seja apurado, e o Estado vai dar total apoio aos familiares, aos colaboradores, aos servidores”, completou o governador.

Entenda

Nesta segunda-feira (12), um policial militar morreu após um acidente durante perseguição no bairro Letícia, região de Venda Nova, em Belo Horizonte. A viatura, com outros dois militares, seguia uma moto quando foi atingida por um Fiat Uno. O caso ocorreu no cruzamento das ruas Carlos Torrezani e Antônio Marcos da Cruz e com o impacto capotou.

Segundo o Corpo de Bombeiros, dois militares conseguiram sair da viatura, mas um dos integrantes ficou preso às ferragens, inconsciente, bastante ferido e sofreu uma parada cardiorrespiratória. A viatura do Samu realizou o atendimento ao militar, mas foi constatada a morte no local do incidente.

Neste fim de semana, uma escrivã da Polícia Civil de Minas Gerais, lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata, suicidou após ser vítima de assédio e pressão psicológica.

Suicídio da escrivã

A servidora morreu no último final de semana em Barbacena, na região do Campo das Vertentes. Áudios e vídeos compartilhados por ela apontam para um possível cenário de assédio moral e sexual, sobrecarga de trabalho e ingerência de seus superiores.

Uma situação, que segundo o Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindep-MG), acomete outros servidores que atuam na mesma delegacia onde atuava a escrivã, na cidade de Carandaí, na Zona da Mata.

Fonte: Jornal O Tempo

Escrivã da polícia civil que morreu teria sido vítima de assédio moral e sexual e ingerência de seus superiores

A escrivã da Polícia Civil de Minas Gerais, Rafaela Drummond, 31 anos, lotada em Carandaí (MG), teria suicidado no final de semana por estar sendo vítima de assédio e pressão psicológica. A servidora morreu em Barbacena, áudios e vídeos compartilhados por ela apontam para um possível cenário de assédio moral e sexual, sobrecarga de trabalho e ingerência de seus superiores.

A Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária (SIPJ), por meio da Inspetoria-Geral de Escrivães, além de uma equipe da Diretoria de Saúde Ocupacional (DSO), do Hospital da Polícia Civil (HPC), estão no município de Carandaí para acolhimento e atendimento dos servidores”, disse a instituição afirmando que prestou condolências aos familiares, amigos e colegas da escrivã.

Em entrevista ao jornal o Tempo a mãe de Rafaela disse: “O sonho da minha filha era ser delegada. Acabaram com a vida dela”. O desabafo carregado de tristeza e seguido de choro é de Zuraide Drummond, de 57 anos. A auxiliar veterinária é mãe da escrivã Rafaela Drummond, que se suicidou. A morte da servidora da Polícia Civil de Minas Gerais, lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata, acende um alerta para a pressão psicológica sofrida pelos profissionais, visto a circulação de áudios deixados por ela indicando pressão psicológica e assédio moral.

Nossa equipe se solidariza com familiares da Rafaela neste momento de imensa dor. Fonte: Jornal O Tempo.

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