O encanto e magia: Noiva dos Cordeiros promove arraiá em grande estilo; conheça a história deste lugarejo que ganhou fama internacional

Situado em Belo Vale, o lugarejop Noiva dos Cordeiros encanta os visitantes e neste sábado (8) acontec o 21º Arraía da Noiva em grande estilo com quadrilhas, música e comidas típicas. O evento acontece a partir das 20:00 horas. Agende-se!

Conheça a história deste lugarejo que ganho fama internacional

A vila de Noiva de Cordeiro fica escondida entre morros e plantações de Belo Vale, Minas Gerais. Os 300 moradores chamam o lugar de “pedacinho do céu” e dividem toda a comida que é colhida: a laranja, a pimenta, a mexerica, o café, o maracujá. Quando preciso, eles fazem uma roda de conversa para expor dilemas, impasses, dificuldades e opinar sobre o futuro. Mas ainda há uma característica bem importante: a maioria dos moradores  é mulher. 
Elas colhem laranja e algodão na lavoura, mas também fazem artesanato e tecelagem para vender na cidade. Outra parte das mulheres integra a cozinha comunitária de Noiva do Cordeiro. Todos os trabalhos são feitos por elas, que também são artistas, professoras ou as duas coisas. 
Turistas são bem-vindos. Em 2014, um inglês candidatou-se para conhecê-las e fazer uma reportagem. Elas já estavam acostumadas com esse tipo de visita: Noiva do Cordeiro já era famosa e bem noticiada pelos jornalistas de Minas Gerais. Nunca houve problemas e, por isso, era fácil acreditar na índole e na curiosidade genuína de um jornalista, ainda mais um estrangeiro.
Harry Wallop, o inglês, foi recepcionado com o roteiro típico dessas visitas: tomou suco de laranja, comeu mexericas, almoçou tutu de feijão com couve e torresmo. Depois, foi dar uma volta e gravar as entrevistas. Terminado o trabalho, tomou o primeiro avião para Londres.
Na semana seguinte, a reportagem de Wallop foi publicada no jornal britânico The Telegraph. Era a estreia de Noiva do Cordeiro no circuito mundial. Era difícil mensurar a repercussão e, provavelmente, esperava-se algumas visitas a mais, como quando Noiva aparecia em alguma emissora local. Não foi bem assim.
Além do texto, a reportagem foi gravada em vídeo. Wallop aparece rodeado pelas moradoras de Noiva. Talvez algumas delas falassem inglês, mas não estavam no momento. As mulheres da vila também são bem-humoradas, gentis ou encabuladas e, mesmo se tivessem entendido as intenções de antemão, seriam educadas e sorridentes. Mas, caso tivessem achado ruim o teor das perguntas, também não teria importância: a história vinha pronta de fábrica.
“Todos os moradores daqui são mulheres…”, narra o repórter, rodeado por elas. Ele olha para a câmera e, neste momento, faz um complemento importante: “... ao menos durante a semana”. 
Wallop continua. Para uma das moradoras, questiona se seria um “bom partido”. A mulher responde que, sei lá, sim? kkk. A pergunta era um prenúncio. 
O título da reportagem contou com toda a delicadeza de um editor de tabloide inglês. Em letras garrafais, foi categórica: “O quão desesperada por amor está este VALE DE MULHERES Lindas? Repórter tenta a sorte de conseguir um casamento nessa vila de mulheres bonitas no Brasil”.
Boom. Explodiu de audiência. Foi uma das mais lidas e assistidas do jornal, com números imbatíveis. Para dar uma dimensão do que aconteceu, vale conhecer alguns dados.
Uma notícia com grande repercussão no Brasil se limita ao… Brasil. Temos cerca de 215 milhões de pessoas e entre 170 a 180 milhões com acesso à internet. A gente pode acrescentar aí, no máximo, alguns perdidos de Portugal e Angola. No máximo. É bastante gente, mas. 
Uma reportagem de sucesso no Reino Unido abrange, além da Inglaterra, a Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales (67 milhões de pessoas). E a Irlanda, ali perto (5 milhões). Mas não só. 
Ela também é replicada em telejornais em todas as ex-colônias do Império Britânico. E se tem algo que os britânicos fizeram neste planeta além da máquina a vapor, foi colonizar. São ilhas, territórios e países de proporções continentais, como seu filho mais capitalista, os Estados Unidos da América (330 milhões). Podemos acrescentar ilhas da Ásia ao Caribe que falam inglês.
Tem um país, porém, muito importante para dar proporção ao que iria acontecer. A Índia também é uma ex-colônia dos britânicos. Neste momento, existem mais de 1 bilhão de indianos e eles são crazy na internet. São os maiores consumidores de redes sociais do planeta: são ávidos e muito, muito populosos no YouTube e Facebook. Você já pode ter percebido isso por aí quando foi seguido por um pelotão de indianos estranhos no Instagram.
A história de  Noiva do Cordeiro espalhou rapidamente na Índia. E foi embora. Com o mínimo de esforço, encontrava-se a “vila de mulheres solteiras” em jornais do Cazaquistão, Paquistão, China, Alemanha, Polônia, Chile e em países do Oriente Médio, como Árabia Saudita, além de Argentina e Bolívia. Sem contar, claro, dezenas de “reações” à “terra das mulheres solteiras desesperadas” no YouTube em uma porção de idiomas e com requintes de detalhes.
O jornalista, Wallop, tinha um traço comum entre os homens britânicos: não era bonito. (O Beckham e o Idris Elba são exceções; a maioria dos ingleses parece o Rooney com o sex appeal do Monty Python). Por outro lado, as mulheres de Noiva são especialmente bonitas. Isso deixou uma mensagem no ar: se aquele cara conseguia uma mulher em Noiva, qualquer um em qualquer lugar do mundo conseguiria. Era fácil. Muitos indianos compreenderam o recado. 
Na manhã seguinte da publicação, Aroldi “Canela” acordou assustado com o toque do único orelhão de Noiva do Cordeiro. “Uai!”, respondeu para a voz ouvida pelo telefone. Ele sabia que era inglês e, possivelmente, o cara do outro lado tenha entendido um “why?” e desligado. Mas o aparelho voltou a tocar. O segundo e terceiro idioma já eram desconhecidos por Canela. 
Insatisfeitos por serem atendidos por um homem no paraíso das mulheres, os estrangeiros iniciaram uma caça nas redes sociais. 
A primeira vítima foi a professora, bailarina e agricultora Karol Fernandes. Ela acordou com o celular vibrando sem parar: dezenas de mensagens que lhe pediam um número de celular. Pouco importava se Karol era professora, bailarina ou agricultora. Dali em diante, era considerada uma mulher desesperada para casar com o primeiro homem que pudesse resgatá-la da solidão.
“Entrei no Facebook e tinha muito, muito pedido de amizade. Quando subi em casa e fui conversar com as meninas, estava todo mundo comentando a mesma coisa. Depois, a gente descobriu que foi por conta da matéria dizendo que as mulheres daqui estavam procurando marido”, diz, ainda meio surpresa. A rotina mudaria bruscamente nos meses seguintes.
Keila Fernandes, uma das mulheres mais famosas de Noiva, é muito parecida com Lady Gaga. Ela ouvia tanto sobre a semelhança que, em 2006, assim que um poste de internet foi instalado em Noiva, procurou as músicas de Gaga, decorou todas as letras e se apaixonou pela artista. “Ela não tem preconceito. Tem liberdade. E aqui a gente é livre, livre de tudo”, me justificou.
É um traço comum entre as mulheres de Noiva: elas são incentivadas a atuar, cantar, fotografar e desenvolver qualquer habilidade artística além do trabalho diário e dos estudos. Elas não são condenadas ao trabalho doméstico, à gravidez ou aos mandos e desmandos de maridos. 
Keila, então, uniu o talento dos moradores e se tornou Lady Gaga. Escalou maquiadores, bailarinos, figurinistas e atores para criar um espetáculo. O nome artístico também veio fácil: trocou Lady por Keila e ficou conhecida como Keila Gaga, a Lady Gaga de Minas Gerais.
Os moradores serviram como termômetro para avaliar o show que, aprovado pela crítica, pegou estrada e foi aprimorado. Foram acrescentados mais holofotes com o tempo, com gelo seco e figurinos cada vez mais escalafobéticos, como os de Gaga. Keila acrescentou até um caixão, aberto pelos bailarinos, de onde sai para cantar. A semelhança física entre as duas é, de fato, enorme. Com o tempo, Keila Gaga fez  aparições em programas de TV locais e em eventos rurais.
Muitos queriam casar com a Lady Gaga mineira. Na verdade, a exigência nem era tão alta assim. Só queriam uma noiva e pronto, fim de conversa. “A maioria [das mensagens] dizia que as mulheres da comunidade são muito bonitas. E que, se eu não quisesse casar, poderia ser alguma outra menina daqui”, ela me disse.
O inglês nem imaginava o tamanho da confusão. “Eu conversei bastante com ele, tinha um intérprete. Achava lindo aquele idioma, né?”, relembra a moradora Márcia Fernandes, agricultora e cantora famosa com a dupla sertaneja Márcia e Maciel. Ela também foi procurada nas redes.
Era questão de tempo até brotar um maluco atrás de mulher. E foi o que aconteceu. 
Certo dia, um moço da “Árábia” passou pela porteira com um intérprete e alguma criadagem importada. Para surpresa de ninguém, ele estava afim de casar. Noutro dia, também  apareceu um israelense, que se dizia soldado do Exército, também interessado em casamento. 
Como prova de fogo, eles eram submetidos a pequenas pegadinhas: o israelense, por exemplo, foi levado para “buscar uma onça” no mato. Até então destemido, ele saiu com as pernas bambas quando um arbusto se mexeu. Assim como o árabe, voltou solteiro para casa.

O assédio deixou de preocupar tanto os moradores, que começaram a achar engraçado o monte de bocó atrás de mulher. Além do mais, tamanha atenção internacional era improvável para uma sociedade habituada à exclusão. 

Apesar de próximo a Belo Horizonte, a vila viveu a maior parte da sua própria história em isolamento. Os habitantes sofreram preconceito por décadas. Uns o chamavam de bruxa, outros de fanáticos, ou coisa pior. 
Noiva do Cordeiro surgiu de um amor e de um divórcio. No fim do século 19, Maria Senhorinha de Lima se casou com o francês Arthur Pierre, por imposição da família. O casamento arranjado era ótimo para a família, mas faltou combinar com a própria Maria.
A mulher estava apaixonada por outro homem e pediu separação. Em uma atitude bastante corajosa na época, foi viver com o amante chamado Chico Fernandes, sem papel passado. O divórcio era um pecado sério, tanto quanto viver em comunhão sem a bênção de um padre. Claro, sem falar no adultério. 
“Nisso de separar e amigar, ela sofreu uma discriminação muito grande no município, inclusive da Igreja Católica, que não aceitou os dois”, conta Canela. Segundo ele, o padre excomungou até a quarta geração da família de Maria Senhorinha. O casal marginalizado, então, mudou de Roças Novas para Belo Vale para evitar a chateação.
Chico e Maria Senhorinha tiveram nove filhos. Assim como a mãe, as herdeiras também eram chamadas de prostitutas e adúlteras, na boca pequena ou de maneira bem vocal. Era costume desviar da fazenda recém-inaugurada por Maria. Em alguns anos, o lugar ganharia um nome: Noiva do Cordeiro. 
Mas, existiu um homem que não se intimidou. Na verdade, ele quis fazer um rebranding em Noiva. Na década de 50, Anísio Pereira, com 43 anos, casou com uma das netas de Maria Senhorinha chamada dona Delina, que tinha 15 anos. Juntos, eles tiveram mais dez filhos para povoar a fazenda.
Anísio era um homem profundamente religioso. Mandou erguer uma igrejinha e fundou a Igreja Noiva do Cordeiro, que deu nome ao povoado. Como estavam todos excomungados, eles decidiram criar a própria religião. Era uma coisa meio protestante, meio católica. Um meio termo esquisito. 
Uma das primeiras medidas da nova ordem foi proibir a música. As mulheres foram obrigadas a usar roupas de mangas longas e saiotes até os pés. A dança, claro, também foi proibida. Como dançar sem música? 
Na verdade, mal se trabalhava na lavoura. “Era só rezar e pregar”, diz Canela. Anísio dizia que a religião poderia ser a única forma de escapar do inferno, já que a igreja oficial não tinha interesse em salvá-los.
A conversão coletiva não adiantou muito. O adultério de Maria Senhorinha  continuava condenável pela opinião pública. Agora, tinha mais um xingamento na boca do povo: os vizinhos achavam Noiva do Cordeiro uma seita de fanáticos. Desta vez, não era exatamente mentira, mas a oposição crescia internamente. 
O criador da obra, Harry Wallop (reprodução/telegraph)
No começo dos anos 90, mais de três décadas depois, os herdeiros de Delina e Anísio haviam crescido e, francamente, estavam  de saco cheio daquela esquema. O pastor tinha mais dificuldade em proibir viagens para Belo Horizonte, onde os jovens voltavam cheios de referências e liberdades. A cada ano, ficava ainda mais evidente a possibilidade de um motim.
As perguntas começaram a incomodar a família. Cansados, os dissidentes conseguiram aprovar uma assembleia para reivindicar o direito a dançar, cantar e a trabalhar. Mais importante: queriam dar um fim na igreja própria.
“Tinha muita coisa boa da igreja, mas o fanatismo precisava acabar. Por que acreditar que só aqui estava certo e o resto do mundo errado? Como que só umas famílias aqui do interior estavam salvas e o resto do mundo não está?”, questiona Canela, um dos descendentes de Anísio.
Para surpresa de todos, o pastor aceitou a vontade da maioria. A impressão é que a seita foi mantida até que alguém reclamasse mas, como ninguém tinha dito nada, o trem continuou por tempo demais. 
A igreja foi fechada e foi aprovada uma norma incomum no campo: dali em diante, os moradores de Noiva do Cordeiro não teriam mais religião. Eles são livres para acreditar em Deus ou qualquer outra coisa, mas os cultos não são mais permitidos. A dança e a música foram liberadas e as mulheres não seriam mais submissas aos homens, nem a casamentos ou religiões.
Poucos anos depois, Anísio morreu. A viúva, Dona Delina, virou a matriarca de Noiva do Cordeiro e criou rodas de conversa para deliberar melhorias coletivas e desabafos pessoais. As mudanças envolveram dar mais liberdade para as mulheres, que formavam a maioria.
Em uma dessas conversas, um morador chamado Pedro Fernandes levantou a mão e pediu a palavra. Havia algo importante para falar: havia entendido que era um homem homossexual. Tinha apenas 13 anos de idade. Surpreendentemente, todos aceitaram numa boa.
“Eu sempre fui bem aceito, até que fiz 16 anos e fui estudar em Belo Horizonte para terminar o ensino médio”, relembra. “Lá, percebi que muitos tinham medo da reação das pessoas e faziam ‘um teatro’ durante 24 horas. Percebi que quando um gay assume homossexualidade lá fora, tem de explicar para as pessoas o que ele é. Aqui, não. As pessoas me ajudaram a entender quem eu era”. 
Pedro é professor de ciências e também bailarino de Keila Gaga. A cada quinze dias, a artista e a dupla Márcia e Maciel fazem apresentações nas “noites da viola” -- um baita avanço onde a música e a dança foram tão proibidas e perseguidas.
Nos quatro dias onde me hospedei em Noiva, em 2018, dona Delina esteve doente e não pôde me recepcionar. Pelo que entendi, ela fez uma reforma para aceitar a entrada de ex-dependentes químicos, órfãos e pobres com famílias desestruturadas para trabalhar e viver na vila - em especial, mulheres. Outra medida foi impor a divisão igualitária de tarefas. As duas ações transformaram a fazenda familiar em vila, que também recebeu uma escola.
O número de moradores, então, aumentou para 80, com cerca de 300 moradores. Delina tornou-se uma força política na região. Internamente, passou a ser chamada de “grande mãe” e criaram até um hino para homenageá-la, que é cantado com lágrimas nos olhos pelas mulheres. Para ser honesto, toda essa adoração fervorosa personalista me soou esquisita demais. Ou, talvez, eu seja só mais um forasteiro julgando mal o ecossistema de Noiva? É um dilema que não tenho resposta. 
A confusão  internacional foi causada, em parte, por um mal entendido. O repórter gringo leu uma reportagem brasileira sobre uma fazenda de mulheres, incomum na Inglaterra e em qualquer lugar do mundo. No texto original, uma moradora brinca: para namorar, ela saía dela. Todos eram primos ou amigos de infância, o que matava totalmente o clima.
Quando o gringo chegou, era um dia útil. Em dias assim, os homens vão para a cidade trabalhar ou transportar a colheita. Ele até tentou avisar: “.... ao menos durante a semana”. Quer dizer, concluiu meio certo a partir daquilo que viu, mas o restante foi machismo com acréscimo de humor inglês. Uma combinação terrível. 
Para ser franco, Wallop até tentou rechear a história com citações à força feminina e a colheita de mexerica. Está tudo no vídeo. Claro, logo depois questiona Keila Gaga se ele seria “good husband material”.  Claro, existia um motivo para o questionário intrometido, pra dizer o mínimo.
Em entrevista a um podcast, ele contou que o jornal pagou o avião, a gasolina e a grana do freela. Quer dizer, eles queriam a história da “vila de mulheres solteiras desesperadas para casar em um país considerado exótico”. Por mais que ele se esforçasse, a publicação seria nestes termos. Sendo bem gentil, Wallop até aparenta um leve constrangimento como mensageiro da pauta. 
O maior medo era ser furado pelo The Daily Mail, o maior tablóide do mundo, dona de uma má reputação há mais de 100 anos. O The Telegraph não queria perder mais uma batalha centenária. Em termos de missão, a notícia deu certo para os editores. Wallop diz que foi uma piada inofensiva.
Cinco anos depois, desde que estive em Noiva, mais de 40 reportagens apareceram por lá, da América até o Japão. Graças ao trabalho torto dos ingleses. Muitos repórteres, porém, mudaram a abordagem. Com o avanço do direito das mulheres nesse período, as piadinhas machistas foram retiradas e foi acrescentada a união de  uma pequena sociedade matriarcal.
Rosalee Fernandes, uma das filhas de dona Delina e Anísio, não gosta de dizer que Noiva ficou famosa devido a uma notícia falsa. Para ela, a fama veio com a autossuficiência alimentar e o acolhimento dos desgarrados do campo. “A família Noiva é muito grata à mídia pelo apoio em uma época muito difícil de exclusão que vivíamos”. Sem ressentimentos, eu acho.
Lembro de tomar uma dosezinha de cachaça de um alambique próximo e de passar a noite conversando com eles. Na minha volta, foi presenteado com um pacotão de mexerica  que soltava aquele ar cítrico e calmante até São Paulo. Não me esqueço do sol de fim de tarde batendo na pimenta biquinho ou nos campos alaranjados. 
Até onde sei, nenhum gringo casou em Noiva do Cordeiro. Mas, quase nove anos depois da publicação do gringo, entrei no Facebook delas e, surpreendentemente, havia o comentário de um indiano. “Quer casar comigo?”, traduzido porcamente pelo cara no Google Translate. Sério, cara.

Talentos: artistas e músicos lançam DVD e gravação ocorre na charmosa Noiva dos Cordeiros; veja aqui o vídeo clipe da canção “Belo Vale”

Acontece no dia 13 de abril a gravação do DVD “Belo Vale Cantar”, dos artistas Márcia & Maciel e 5 de Keila GaGa (cover da americana Lady Gaga). O evento acontece na charmosa comunidade rural de Noiva dos Cordeiros e será fechado devido a capitação de áudio/vídeo para favorecer a qualidade do gravação. O trabalho musical tem 18 músicas composições próprias e regravações conhecidas.

Ao todo, serão 18 músicas, sendo 13 músicas de Márcia & Maciel e 5 de Keila GaGa contando com as participações especiais de Xonadão do Trio Parada Dura, Padre Alessandro Campos, Fabiano Cazeca e Renan Maia

Já está em todas as redes sociais e no streaming o vídeo clipe da com a canção “Belo Vale”, composição de Márcia e Maciel, exaltando a cultura, a arte, os valores, as belezas e patrimônio cultural de Belo Vale. A Intenção do DVD é divulgar Belo Vale como referência nacional de cidade turística. A Intenção do DVD é divulgar Belo Vale como referência nacional de cidade turística.

A gravação do DVD terá abrangência nacional e internacional, sendo que é material de audiovisual, de fácil divulgação tanto como matéria física quanto virtual, já que as imagens e músicas serão disponibilizadas através de mídias físicas, bem como serão colocadas a disposição do público, gratuitamente, em vídeos de internet como Youtube e nas redes sociais.

Noiva do Cordeiros: a singularidade e a sua cultura

Márcia e Maciel e Keila Gaga são oriundos da comunidade rural de Noiva do Cordeiro, comunidade que desenvolveu um modo de vida alternativo e sustentável baseado na vida comunitária com o trabalho coletivo e prática do amor ao próximo, este inusitado modo de vida produziu uma comunidade autônoma, com sujeitos responsáveis uns pelos outros, Noiva do Cordeiro cresceu socialmente, economicamente e culturalmente e ganhou visibilidade internacional por sua história e cultura peculiar, hoje a comunidade nais/programas de prestígio nacionais e internacionais. Em 2010 a Associação Noiva do Cordeiro realizou o projeto Noiva do Cordeiro em Cena, que formou os artistas Márcia e Maciel e Keila Gaga, que através da arte divulgam a cultura e a história de Noiva do Cordeiro, eles já contam com uma grande visibilidade na mídia por terem participado de grandes programas de televisão.

Veja o vídeo.

Associação “Marias de Peito”, de Noiva dos Cordeiros, expõe produção artesanal em BH

Exposição, que fica em cartaz até sexta (24), traz artigos produzidos por 67 mulheres da Associação Noiva do Cordeiro

A Galeria de Arte da Assembleia recebe nesta semana a mostra da Associação Noiva do Cordeiro, do município de Belo Vale (Região Central). Os visitantes podem conferir os trabalhos expostos desta segunda (20/6/22) a sexta-feira (24), das 8 às 18 horas. A mostra faz parte do programa Assembleia Cultural.

Estarão disponíveis para venda e apreciação produtos artesanais como colchas de retalhos, de fuxico e de crochê, tapetes, bolsas ecológicas, patchworks, queijos, doces, geleias, conserva e molhos. Todos os trabalhos são feitos à mão pelas artesãs da comunidade.

A Associação Noiva do Cordeiro é uma comunidade rural. O vilarejo é composto por mulheres, que viveram isoladas por mais de um século. Atualmente toda a produção artesanal  da comunidade é feita por um grupo de mulheres, chamado “Marias de Peito”, que conta com 67 integrantes. Cada produto é único, refletindo toda a cultura e a identidade centenária da Associação Noivas do Cordeiro.

Noiva do Cordeiro: vila dominada por mulheres tem estilo único e coletivo em MG; conhecia a magia deste lugarejo

(Por Arnaldo Silva) Noiva do Cordeiro é distrito da cidade de Belo Vale, no Vale do Paraopeba. A cidade está a 82 km de Belo Horizonte e Noiva do Cordeiro a 17 km distante de Belo Vale.

História
          A história de Noiva do Cordeiro começa a partir de 1890, no século XIX, quando Maria Senhorinha de Lima, nascida em Casa Branca, distrito de Belo Vale, foi forçada por seu pai a casar-se com Arthur Pierre. Mas o grande amor de Maria Senhorinha era Francisco Fernandes, morador do distrito de Roças Novas.
          Mesmo casada, mantinha relacionamento com seu antigo amor. Quando se descobriu grávida de Chico Fernandes, como era chamado, decidiu abandonar seu casamento e viver com seu amante.
          O ato de Maria Senhorinha de Lima foi um escândalo na época, considerado uma afronta aos preceitos religiosos católicos. Era uma época de rígidas normas religiosas e sociais e de extremo preconceito para quem ousasse desafiar tais normas.
          Maria Senhorinha de Lima foi excomungada, bem como sua descendência até a quarta geração amaldiçoada, pelo padre Jacinto, da paróquia local. Sem contar a reação de sua família, que não escondeu a excomunhão de Senhorinha de Lima e a atitude do casal, fazendo questão de tornar o fato público. Isso gerou ações de extremo preconceito e hostilidades ao casal, por parte dos moradores da região.
          O casal optou em viver em Roças Novas, mas chegando ao local, foram hostilizados pelos moradores. Chico Fernandes tinha terreno, herdado de seu pai e para lá foi com Senhorinha.
O velho e o novo casarão
          Chico e Senhorinha passaram a viver de forma isolada, longe da sociedade, nas terras herdadas por Chico, no mesmo lugar que está hoje a comunidade de Noiva do Cordeiro.
          Construíram sua moradia e nesse local formaram uma família de 12 filhos.
          Os filhos de Chico e Senhorinha cresceram, formaram novas famílias. A comunidade crescia e o casarão também. Mesmo quem viesse de outras localidades, eram acolhidos e ficavam. Com o tempo, se transformaram em uma grande família, vivendo num só lugar.
          A antiga casa construída pelo casal já não comportava mais tanta gente. Um outro casarão foi construído, com dois pavimentos, mais cômodos, salas grandes, cozinha enorme e muitos quartos. Esse casarão é chamado pelos moradores de Noiva do Cordeiro de “Casa Mãe”. É nesse casarão que a comunidade se reúne e faz suas refeições. Além de ser a casa de várias famílias atualmente, foi a casa de praticamente toda a comunidade, em décadas passadas.
          A antiga casa que viveu o casal Chico e Senhorinha foi reformada e nela atualmente, vivem duas famílias. Além desta casa e da “Casa Mãe”, atualmente toda a comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por 85 casas.
          Francisco Fernandes e Maria Senhorinha de Lima foram sepultados no cemitério do distrito de Santana em Belo Vale MG, ao lado da Igreja de Santana.
Isolamento, preconceito e discriminação
          Mesmo vivendo isolados e distante da sociedade, o casal, bem como seus filhos, continuaram a serem vítimas de hostilidades, preconceitos e discriminações. As mulheres que viviam no casarão, eram tidas como prostitutas e adúlteras pela sociedade, e o lugar não era bem visto na região.
          A sociedade não perdoava o adultério de Senhorinha, além das consequências morais e sociais impostas pela excomunhão e maldição por 4 gerações, que o casal sofreu.
          Chico e Senhorinha e seus descendentes sofreram um violento lacre social, principalmente nas primeiras décadas do século XX. Fruto de uma sociedade que julga, condena e discrimina, tendo como base preceitos de puritanismo religioso e social.
          As mulheres de Noiva do Cordeiro eram difamadas, maltratadas e discriminadas pela sociedade e não conseguiam trabalho. Eram isoladas socialmente.
          A vida era dura naqueles tempos, muito difícil. O casarão abrigava todas a mulheres solteiras e não solteiras. As que tinham um companheiro, conheceram seu par na própria comunidade.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família e ao longo do tempo, outras pessoas foram acolhidas pela comunidade, a maioria tem algum tipo de parentesco entre si, mesmo que bem distante.
          Viver no casarão, compartilhar e dividir o que tinham, era a forma que encontraram para sobreviverem à solidão e o isolamento. No casarão, tudo era compartilhado e dividido entre todos.
          As mulheres trabalhavam duro na roça. Plantar e colher era a única forma que encontraram para sobreviverem à fome. Plantavam para comer, comia do que plantavam.
Porque Noiva do Cordeiro?

          Noiva do Cordeiro é um termo bíblico. O cordeiro simboliza Cristo e noiva, a Igreja. É o que tira o pecado do mundo. Soa contraditório uma comunidade ter sido formada a partir da excomunhão de Chico e Senhorinha de Lima, ter o nome religioso de Noiva do Cordeiro.
          A história do nome começa a partir da década de 1950, quando chega à comunidade, Anísio Pereira, pastor evangélico. O pastor ficou na comunidade, fundou uma igreja denominada Noiva do Cordeiro e por fim, casou-se com Delina Fernandes, nascida em 25 de agosto de 1944. Na época, Anísio Pereira tinha 43 anos e Delina, apenas 16. O casal teve 15 filhos.
          Pastor Anísio Pereira deu início a um processo de conversão de todos da comunidade e mudança radical no comportamento social e religioso das mulheres.
          Os cultos eram realizados no próprio casarão. A comunidade passou a ser conhecida por Noiva do Cordeiro.
          O porque que Anísio Pereira escolheu esse nome, é mistério, embora obviamente, a noiva de Cristo é a igreja. Ou seja, cada pessoa que se arrepende de seus pecados, aceita Jesus como seu salvador e se converte, passa a fazer parte da Igreja.
          Segundo a fé Cristã, é Jesus quem tira os pecados do mundo e salva o pecador. A noiva é a igreja se preparando para o casamento com o cordeiro, o Cristo, segundo a cristandade.
          Baseado em suas crenças, o pastor criou regras rígidas como orações diárias e longas, jejuns constantes e até castigos públicos. Proibiu ainda, entre outras coisas, bebidas alcoólicas, música, cigarros, cortar os cabelos e considerava um pecado gravíssimo o uso de qualquer tipo de contraceptivos. Dai a explicação para as famílias com grande número de filhos, nessa época.
          O fato de a comunidade ter uma igreja evangélica, aumentou mais ainda o preconceito da sociedade local, majoritariamente católica, contra as mulheres de Noiva do Cordeiro.
O fim da liderança de Anísio Pereira
          Por desconhecer ou não entender a vocação feminista e o espírito de luta das mulheres da comunidade, pastor Anísio foi perdendo força e influência. Tudo que elas faziam era considerado pecado, até que uma de suas filhas, Rosalee Fernandes Pereira, casada desde os 16 anos e aos 21, já com 3 filhas, decidiu contrariar as ordens do pai.
          Rosalee, escondida do pai e do próprio marido, liderou um grupo de mulheres da comunidade e se submeteram à cirurgia de laqueadura. Começa a partir desse ato o início do fim da liderança e domínio do pastor sobre a comunidade.
          Já idoso e desacreditado pela comunidade, pastor Anísio faleceu em 1995. Os dogmas e rígidos preceitos religiosos aplicados pelo pastor, foram sendo abandonados pela comunidade. Resta hoje apenas o nome, Noiva do Cordeiro, que permaneceu como nome da comunidade.
          Mesmo passando mais de um século após a fuga de Senhorinha e Chico, o preconceito e hostilidades da sociedade, continuaram. Se antes o casarão era mal falado e considerado abrigo de adúlteros e prostitutas, passou a ser chamado, após a morte do pastor Anísio de “morada do diabo”.
Delina Fernandes

          Com a morte de Anísio Pereira, sua viúva, Delina, assumiu a condição de líder da comunidade, bem como a propriedade do casarão e de toda a gleba, formada por 41 hectares.
          A comunidade, principalmente os jovens, começaram a experimentar o sabor da liberdade que nunca tiveram, como cortes diferentes no cabelo, roupas justas, maquiagens, além de experimentar o cigarro e o álcool. Tudo que era proibido, durante a vigência da liderança do pastor Anísio, começaram a experimentar.
          Delina assumiu a liderança da comunidade e buscou orientar os jovens, principalmente. Conseguiu conscientizá-los que o caminho que estavam indo não era o ideal, além de ser prejudicial à vida família, provocar atritos e dividir a comunidade.
          Fez questão de mostrar que, apesar da falta de liberdade nos anos de vida religiosa a que foram submetidos, a vida em comunidade, o amor ao próximo e a união, foram positivas para o fortalecimento de Noiva do Cordeiro. Que deviam ser livres sim, mas com responsabilidade
          Além disso, mostrou aos que excediam, que a comunidade podia aproveitar a liberdade que conquistaram e solidificar o amor, a união e o respeito que todos tinham entre si. Delina queria transformar a liberdade que passaram a ter em algo bom, para toda a comunidade. E conseguiu!
          Todos da comunidade são livres para viverem a vida conforme se sintam bem, mas longe de más companhias e das consequências do vício. Hoje, todos usam suas liberdades em prol da comunidade, da família, do respeito e união.
A Grande Mãe

          Delina, hoje com 77 anos, viveu, sentiu e presenciou todo o preconceito e discriminação sofridas por seus avós, pais, filhos e netos. As gerações mais novas, sabem da história de Noiva do Cordeiro e todo o sofrimento que as primeiras gerações passaram através da vida e memória de sua matriarca.
          Sua capacidade, equilíbrio, consciência, experiência, sabedoria e conhecimento da história de seus antepassados, fez de Delina, mestre, guru, líder e a “Grande Mãe” de Noiva do Cordeiro.
          Foi Delina a responsável pela união das mulheres de Noiva do Cordeiro. É a espinha dorsal da comunidade, a mãe de todos. Até mesmo quem não tem parentesco com Delina, a chama de mãe, tamanho o respeito e liderança da matriarca.
          Delina criou regras de convivência, comportamento e defesa das mulheres do povoado com base na união e respeito mútuo, sem imposições. “Todos são por um, e um é por todos”, essa era sua filosofia e a que rege a comunidade atualmente.          Delina conseguiu unir todas as mulheres e homens da comunidade em torno de sua filosofia, formando com isso uma comunidade sólida e unida.
A união que fortalece

          Com o tempo, os papéis de todos começaram a serem definidos. As mulheres cuidavam dos afazeres do casarão e da lavoura e os homens buscaram trabalhos fora, para garantir a subsistência de suas famílias e comunidades. As mulheres foram cuidar das terras e os homens, partiram em busca de trabalhos na indústria de mineração e outros segmentos, em outras cidades.
          De todo o rigor imposto pelo pastor Anísio, Delina reconhece que o pastor ensinou à comunidade sobre o que é o amor e a importância da união de todos. Mas concluiu que não precisa passar fome, frio e fazer sacrifícios para se tornar filha de Deus. Por isso, continuou a reunir a comunidade e fortalecer a união de todos.
          Deus está presente no coração e vida das famílias de Noiva do Cordeiro, mas não em templos de paredes e sim em seus corações, que consideram morada de Deus.
          Creem e temem a Deus, respeitam a todas as doutrinas religiosas, mas não veem necessidade de uma religião, para ter fé em Deus, manifestar amor ao próximo e viver em harmonia. Vivem o amor em família, ao próximo e o respeito, pois acreditam ser que é a base da fé em Deus.
          São conscientes de sua história e da experiência de terem convivido, há mais de um século com preconceitos, difamações, calúnias, fofocas e humilhações. A dor depura a alma, fortalece o coração e o discernimento. Isso tudo se transforma em um aprendizado e experiência de vida, que passa de geração por geração.
Vila das mulheres

          Embora a comunidade de Noiva do Cordeiro seja formada por mulheres e homens, praticamente em proporções iguais. São 45% são mulheres, 40% homens e 15%, crianças. Mas o que mais se vê na comunidade são mulheres. Isso dá a impressão de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade só de mulheres.
          Os homens não são vistos sempre na comunidade, por um motivo muito simples. Não tem emprego na comunidade e para conseguir o sustento de suas famílias, tem que ir para outras cidades em busca de trabalho.
          Os homens de Noiva do Cordeiro trabalham em empresas de mineração da região e em outras cidades, como em Horizonte. Só retornam à comunidade nos fins de semana ou em dias de folga, para ficarem com suas famílias. Durante a semana, somente mulheres, crianças e adolescentes ficam em Noiva do Cordeiro.
Uma grande família

          A vida em Noiva do Cordeiro, é desde sua formação, em torno do casarão. A comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por cerca de 420 pessoas. Atualmente, são cerca de 90 famílias, formando uma comunidade de cerca de 300 pessoas. Estima-se que mais ou menos 120 pessoas com origens na comunidade, vivam em outras cidades de Minas e até em outros estados.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família, que ao longo do tempo acolheu outras pessoas que passaram a residir na comunidade, todos de Noiva do Cordeiro, de alguma forma, tem algum grau de parentesco, mesmo que bem distante.
Trabalho em comunidade

          O dia a dia de trabalho em Noiva do Cordeiro é muito bem organizado. Trabalharam em forma de mutirão. As mulheres exercem as funções de acordo com suas vocações.

          Quem gosta de cuidar da lavoura, vai para a lavoura. Quem gosta de cozinhar e arrumar a casa, exerce essas funções. Quem prefere educar as crianças na escola da vila, dá aulas. Quem prefere trabalhar na fábrica, com artesanato, vai fazer o que gosta.
          A vida é em comunidade, mas todas são donas de si e suas escolhas e gostos são respeitados. A ninguém é imposto nada.
          A exceção é pela faixa etária. Evita-se ao máximo pessoas de mais idade, seja homem ou mulher, exercer atividades na lavoura, que é um trabalho mais pesado. Os mais velhos fazem trabalhos mais leves, como por exemplo, na fábrica de confecções.           Caso os idosos da comunidade não tenham condições de trabalhar, ajudam com parte de suas aposentadorias quando alguém precisa comprar remédios, viajar para fazer consultas e outras necessidades. Todos se ajudam de alguma forma. Ninguém fica desamparado em nada na comunidade.
Mulheres belas e vistosas

          Jovens, entre 20 e 35 anos, as mulheres de Noiva do Cordeiro são belas e vistosas e não tem dia ruim para o trabalho. Seja com sol, chuva ou frio, seguem para o trabalho do dia a dia com um sorriso no rosto.

          É assim desde o começo. Vão para o trabalho juntas e retornam juntas. Colhem o que plantam, comem do que colhem.
Trabalho na roça e na fábrica
          O dia começa antes do amanhecer do sol com o tilintar das brasas no fogão a lenha do velho casarão. É o café da manhã sendo preparado. Após a refeição da manhã, seguem para o trabalho, todas juntas.

          O trabalho na roça e na comunidade é dividido e organizado em forma de cooperativa. Uma parte das mulheres ordenham, alimentam os porcos e cuidam das galinhas. Outras aram a terra, capinam e cortam lenha. Outras trabalham na lavoura, plantando arroz, feijão, milho, mexerica, café, mandioca e hortaliças em geral.

          Quando podem, os homens da comunidade também ajudam nos serviços da roça, como na capina.
          Outra parte fica na comunidade cuidando dos filhos, fazendo produtos de limpeza e outras na pequena fábrica de roupas, tapetes e colchas. Boa parte da matéria prima da fábrica vem de doação como retalhos, que possam ser reaproveitados na produção de roupas e adereços de acordo com a necessidade da comunidade e demanda comercial.
           As peças feitas na fábrica, tem hoje um bom mercado, mas o começo não foi fácil. Tentaram inicialmente vender a produção da fábrica em Belo Vale e comunidades rurais, mas as vendas eram pequenas.
          Mesmo assim, não desanimaram. Pegaram a produção da fábrica e foram para Belo Horizonte, oferecendo seus produtos de porta em porta.
          Hoje, uma parte da produção da fábrica é vendida na própria comunidade para turistas e visitantes, que sempre vem à Noiva do Cordeiro. Outra parte da produção é vendida em feiras e exposições de artesanato em várias cidades mineiras. Uma parte da produção agrícola fica na própria comunidade, outra parte, é vendida para a Ceasa de Belo Horizonte.
          As máquinas da pequena fábrica só param na época da colheita quando todas se juntam e vão para roça.
A comunidade de todos

          Com o dinheiro da venda da produção agrícola, da fábrica e juntando com o dinheiro que os homens da comunidade, doam, conseguem comprar sementes, bois, porcos, galinhas, ferramentas, além de ajudar em tratamentos médicos, reforma de casas, transporte dos moradores para outras localidades, caso necessitem, etc.
          Além disso, com esse dinheiro, compram matérias primas para a pequena fábrica e ainda, investem em melhorias na comunidade, além de manter as despesas da “Casa Mãe”, que são muito grandes.
          Todo o serviço comunitário é voltado para o sustento de todas as famílias da comunidade. Trabalham muito, mas não ao ponto de levantarem 4 da manhã e só retornarem no fim da tarde. Não são escravas do serviço. Isso porque trabalham em comunidade, em mutirão. Assim, o trabalho rende mais, é feito em menos tempo e se torna menos cansativo. Não trabalham para enriquecer e sim para terem o necessário e manter a qualidade de vida de todos da comunidade.
          Embora ninguém em Noiva do Cordeira seja rico, todos vivem na fartura, com conforto, segurança e tranquilidade.
          Em horas de folga, boa parte das mulheres da vila fazem pequenos trabalhos, como cigarro de palha, artesanato, ou seja, cada uma encontra uma forma de ganhar um dinheiro extra para comprar coisas pessoais como por exemplo, produtos de beleza, uma roupa nova, um celular melhor, fazer um passeio, etc.
          Quando alguém da comunidade quer algo e não tem condições financeiras para conseguir, todos ajudam, fazendo vaquinha.
          O foco da vida em Noiva do Cordeiro não é o dinheiro e sim no bem estar de todos e preservação vida em comunidade, da união, fraternidade, amor e respeito ao próximo.
          O trabalho em comunidade de Noiva do Cordeiro é um trabalho coletivo para o bem de todos, seguindo a filosofia da matriarca Delina: “Todos são por um, e um é por todos”
Lazer, diversão e o Sábado da Viola

          O maior lazer dos moradores de Noiva do Cordeiro é o prazer em estarem todos juntos, seja nas refeições, no trabalho da roça e nas horas de descanso. A maior diversão e alegria em Noiva do Cordeiro é o convívio saudável em família.

          Mulheres e homens da Vila, tem talentos natos para a música, artes cênicas e dança. Todos os sábados, no grande salão da Casa Mãe, acontece o sábado da Viola com a presença de toda a comunidade.

          São apresentações artísticas feitas pelos próprios moradores em apresentações solo, em duplas, como a dupla sertaneja Márcio e Maciel que compõem inspirados na história de Noiva do Cordeiro ou em grupos, como o grupo da Keyla Gaga (cover de Lady Gaga).
          Além disso, durante o Sábado da Viola, tem apresentações do grupo de teatro Quinta Geração, o Coral da Noiva e outras atividades culturais.

          É uma diversão para todas as idades e envolve toda a comunidade, além ser um momento de manifestação da união de Noiva do Cordeiro. Após as apresentações, alguns moradores sobem no palco para agradecer algo ou mesmo, se desculpar por algo que tenha feito.
          O Sábado do Viola é um momento de cultura, diversão e lazer, mas também de fortalecer a união, amizade e sentimento de amor e respeito que todos tem uns pelos outros.
O mundo e o Brasil descobre Noiva do Cordeiro
          No século XX, a história de Noiva do Cordeiro, era pouco conhecida em Minas e no Brasil. No século XXI, foi diferente.
          A epopeia de Noiva do Cordeiro despertou interesse da imprensa, com a comunidade e sua história se tornando conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
          O canal de televisão por assinaturas, GNT, foi o primeiro veículo de comunicação da documentar e tornar conhecida em todo o Brasil, a história de Noiva do Cordeiro. Mas foi no ano de 2014, que a epopeia de Noiva do Cordeiro ganhou os holofotes nacionais e internacionais, de forma mais contundente.
          De uma hora para outra, Noiva do Cordeiro virou notícia mundial através de reportagens de sites jornalísticos britânicos, alemães, americanos, turcos, tailandeses e chineses. Esses sites divulgaram matérias com um tema totalmente fora da realidade de Noiva do Cordeiro, apresentando a comunidade como terra de mulheres solteiras, para casamento.
          Nas reportagens dos sites de notícias estrangeiros, o vilarejo era mostrado como terra de mulheres solteiras em busca de casamentos. “Alerta aos solteiros: jovens de comunidade no Brasil estão em busca de homens’, era a manchete de um site. Em outro, a manchete era: “Cidade brasileira faz apelo aos solteiros.”. Até o Telegraph, de Londres entrou na história, com o título de sua matéria: “O vale das beldades brasileiras espera solteiros”.
          O erro das manchetes e reportagens, claro, causou enorme alvoroço na comunidade e perplexidade entre os mineiros.
          Além disso, as reportagens despertaram o interesse de vários homens solteiros de vários países do mundo, que acreditando na história, se interessaram em conhecer as mulheres solteiras de Noiva do Cordeiro. Foram vários homens, de vários países que vieram até Noiva do Cordeiro em busca de casamento.
          Com o tempo, a situação foi esclarecida através de informações corretas aos estrangeiros que apareceram na comunidade e à imprensa.
          Os estrangeiros e a imprensa de modo geral, conheceram melhor a história e a forma de vida das mulheres, bem como a história da comunidade. E ainda, que as mulheres da vila não estavam em busca de casamentos, e muito menos, desesperadas para casar, como mostravam às reportagens de jornais estrangeiros.
          O positivo nas matérias dos sites de notícias internacionais na comunidade foi o temor dos homens de Noiva do Cordeiro que não estavam levando muito a sério os namoros com as mulheres da comunidade. Trataram de assumir logo a relação, temendo perder suas namoradas para homens estrangeiros. O resultado foi o afloramento do amor entre os casais de Nova do Cordeiro e a solidificação de muitas uniões.
A epopeia de Noiva do Cordeiro na grande mídia

          Outro ponto positivo das reportagens internacionais foi que Noiva do Cordeiro se tornou conhecida não só no mundo, mas no Brasil e em Minas Gerais.
          A partir das reportagens internacionais, a imprensa brasileira se interessou mais à fundo Noiva do Cordeiro, bem como outros veículos de comunicação internacionais.
          Diversas emissoras de tv´s, jornais e revistas de Minas Gerais, do Brasil e de todo o mundo, já mostraram a história de Noiva do Cordeiro, bem como apresentadores de programas de TVs regionais e nacionais, além de Fernando Gabeira, que foi à Noiva do Cordeiro para fazer um documentário sobre a história da Comunidade, dentre outros tantos.
Estilo de vida únicos no mundo

          A presença de veículos de comunicação nacionais e internacionais, bem como de turistas brasileiros e de vários países do mundo, fez a comunidade entender que o estilo de vida da comunidade era diferente do restante do Brasil.
          Em Noiva do Cordeiro se vive em família, com foco no amor, na fraternidade, na solidariedade, na vida em comunidade e na busca de se tornarem pessoas melhores, a cada dia.
          É um ajudando o outro e todos trabalhando para todos. Perceberam com isso a diferença da vida na comunidade para o estilo de vida do restante do Brasil e do mundo. Não há a busca desenfreada por enriquecimento e individualidade, tradicional na sociedade capitalista que vivemos.
          Vivem de forma diferente e são felizes assim. Perceberam que eram diferentes e que a comunidade em que viviam era um lar familiar, um lugar onde são felizes e se sentem seguras.
          A forma de vida em Noiva do Cordeiro é única no Brasil. Foi um processo que surgiu naturalmente, ao longo de mais um século, para se protegerem da fome, do preconceito, da discriminação e solidão.
Exposição positiva

          Toda a exposição da mídia, ao longo dos últimos anos, foi muito importante para a comunidade, pois tiveram contato com a imprensa e pessoas de diferentes culturais, línguas e histórias de todo o mundo.
          Foi um aprendizado, que ajudou a comunidade a evoluir humanamente. Em Noiva do Cordeiro se valoriza o ser humano e não os bens materiais. Com tudo isso, aprenderam a dar mais valor ainda à comunidade e ao estilo de vida que viviam.
          É uma comunidade única no mundo. Todos são desapegados dos sonhos de consumo do capitalismo. Vivem o amor, a fraternidade, a amizade, o respeito ao próximo, a união entre todos e a vida em família.
Noiva do Cordeiro pelo mudo

          Foram inúmeros convites para cursos, palestras, estudos e viagens pelos Brasil e vários países do mundo. A convivência com pessoas de outras culturas foi muito importante para a comunidade, pelo conhecimento adquirido, pela maior evolução humana, principalmente, por entenderem o grande exemplo e valores humanos de Noiva do Cordeiro.
          Um fato importante a destacar é que mesmo com o convívio com outras culturas em viagens pelo Brasil e vários países do mundo, buscaram aprender e conhecer os estilos de vida diferentes do que vivem, com o objetivo de evoluírem humanamente. Em momento algum mostraram interesse em evolução material.
          As belas mulheres que cantam, dançam, interpretam, continuam na lida na roça, na fábrica, vivendo na comunidade e vivendo a vida em família, onde se sentem segura, protegidas e são felizes. Buscam sempre seguir o conselho da matriarca, Delina, que é sempre buscar ser melhor a cada dia.
Talento artístico para o mundo

          Com a exposição na mídia, o talento artístico da comunidade tornou-se conhecido com os grupos da comunidade, principalmente da banda de Keyla Gaga (a cover de Lady Gaga), se apresentando em eventos e mega eventos por Minas e outras cidades brasileiras, além da banda ser conhecida também em outros países, através de vídeos e reportagens diversas.
          Isso fez com que a comunidade e os artistas tivessem mais contato com a internet, entenderem sobre organização de shows, eventos, além de conhecerem as tendências musicais e outros idiomas. Foi um aprendizado profissional, que levou maior aprimoramento dos artistas de Noiva do Cordeiro.
          Com isso, os shows artísticos dos grupos de Noiva do Cordeiro, estão no mesmo nível dos grandes shows, de artistas famosos.
Estrutura para turistas

          Em Noiva do Cordeiro todo visitante e turista é bem-vindo e são recebidos com muito calor humano e alegria pela comunidade.
Não tem pousada e nem restaurante. Normalmente os turistas vem e voltam no mesmo dia. Caso alguém queira ficar, são recebidos nas casas das famílias da Vila, que preparam os quartos da casa, o café da manhã, bem como o almoço.
          Para atender às necessidades da comunidade, foi criada uma loja com produtos de beleza, bijuterias, calçados, etc. Isso evita que os moradores tenham que se deslocarem para a cidade grande para comprarem esses itens. O turista pode adquirir ainda os trabalhos feitos na fábrica, como tapetes, roupas e colchas.
Visão da sociedade atual
          Se no passado, Noiva do Cordeiro foi uma comunidade isolada, marginalizada e discriminada, devido ao amor de Chico Fernandes e Senhorinha, pela igreja evangélica instalada no local e pela opção da comunidade em não ter religião e nem frequentar igrejas, hoje é bem diferente.
          Noiva do Cordeiro é respeitada na cidade de Belo Vale, nos povoados e cidades das redondezas. As barreiras sociais que isolaram a comunidade, foram diminuindo ao longo do tempo, permitindo com isso uma convivência amigável e respeitosa com sociedade regional e a igreja, tanto católica, quanto evangélica.

Comunidade única
          Em termos gerais, a visão é de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade única. Um jeito ideal e correto de viver em comunidade, sonhado por filósofos, intelectuais, por pacifistas, ambientalistas, enfim, por todos que buscam uma vida em sociedade harmoniosa, solidária, cooperativa, com respeito e união fraternal.
          Só que chegar a esse nível de convivência social, não é fácil. Não tem apenas que ter vontade, um grupo ou um sonho, mas uma opção pelo desprendimento de dogmas religiosos, de filosofias materialistas, do egoísmo, do consumismo desenfreado, da ganância pelo conforto material e do individualismo.
          Desprender disso tudo não é fácil e a maioria não está disposta a abrir mão do conforto individual, para viver uma vida coletiva. Por isso, vão à Noiva do Cordeiro, admiram a história, a forma como vivem em comunidade, o estilo de vida simples e desprendido de ambições materiais, mas param por aí. Optam por continuar a vida que levam.
          O estilo de vida da comunidade de Noiva do Cordeiro se formou ao longo de mais de um século, até ser o que é hoje. Pais dão exemplo de vida em comunidade, desprendimento e trabalho comunitário e os filhos aprendem. E assim segue o aprendizado e solidificação da vida em comunidade.
          O estágio atual atingido por Noiva do Cordeiro foi uma consequência gradual da união, respeito, amor ao próximo, aprendizado e evolução de todos da comunidade.
Melhor vila turística do mundo
          Melhor Vila Turística do Mundo é um concurso anual promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo do concurso é premiar pequenas comunidades alinhadas com 17 objetivos relativos ao desenvolvimento sustentável, definidos pela entidade. Entre esses objetivos destacam a preservação ambiental, preservação das tradições, da promoção da igualdade social e de gênero, produção agrícola sustentável, fome zero, consumo e produção responsáveis, etc.
          O concurso é anual e cada país pode indicar até 3 vilas. A indicação só pode ser feita pelo Ministério do Turismo. No caso, as prefeituras indicam suas vilas e a equipe do Ministério do Turismo analisa e escolhe três para concorrerem com as vilas do mundo.
          Noiva do Cordeiro preenche os quesitos para entrar para o seleto grupo das Melhores Vilas Turísticas do Mundo. Cabe a prefeitura de Belo Vale tomar a iniciativa junto ao Ministério do Turismo. Vale a dica.

about

Be informed with the hottest news from all over the world! We monitor what is happenning every day and every minute. Read and enjoy our articles and news and explore this world with Powedris!

Instagram
© 2019 – Powedris. Made by Crocoblock.