19 de maio de 2024 01:25

Vivendo sob o medo e a apreensão, comunidade denuncia impactos da mineração

Levando suas bandeiras de luta em defesa da terra e da água e denunciando os impactos da mineração predatória na região, a Comunidade de Botafogo, no município de Ouro Preto (MG), acolheu na quarta-feira, 1º de maio, da 32ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Arquidiocese de Mariana.

O evento reuniu aproximadamente 500 pessoas, incluindo romeiros das cinco regiões pastorais da Arquidiocese de Mariana, sacerdotes e diáconos do clero marianense e moradores da comunidade. Presenças marcantes também no ato foram das Pastorais Sociais, como a Afro-Brasileira (PAB) e Juventude (PJ), ativistas de movimentos populares, sindicatos, representantes de entidades e da Comissão Pastoral da Terra em Minas Gerais (CPT-MG), além de autoridades políticas estaduais, municipal e federal.

Foto: Clara Lamacié/Diário de Ouro Preto

Trazendo como tema “Terra e água, dom de Deus, direito humano, fonte de justiça e vida!” e o lema “Ao Senhor pertence à terra e tudo o que nela existe” (Dt 10,14), a concentração da 32ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras foi realizada a partir das 7h30 em frente à Capela Santo Amaro. Segundo a comunidade, o templo é anterior às igrejas históricas de Ouro Preto.

“A Capela de Santo Amaro é o elo dessa comunidade, é onde todos se encontram”, descreveu a professora aposentada Jussara do Rosário Ferreira, ao jornal Diário de Ouro Preto. “Hoje é um momento muito importante porque esse encontro é maior, com outras comunidades que estão passando pelos mesmos conflitos e [que] sempre envolvem a mineração. Botafogo não é um lugar de minerar, é lugar de preservar. Por isso, que a gente acolheu a Romaria. Espero que a gente consiga barrar a mineração”, reforçou a moradora da comunidade.

Foto: Walysson

“A nossa luta é pela vida”

Tendo no centro das reflexões a ameaça da mineração na Comunidade de Botafogo, durante o ato, várias pessoas e representações manifestaram-se contra a atividade mineradora realizada de forma predatória, o interesse de empresas em explorar a região.

No local, uma instalação com projeção de vídeos, fotos e depoimentos dos moradores foi montada pela comunidade para trazer relatos sobre os impactos e os riscos da mineração no Botafogo. Atualmente, são cinco empreendimentos que querem minerar na localidade.

Outro clamor levantado e que acompanha a Romaria desde sua primeira edição, em 1991, foi o respeito à dignidade e aos direitos dos trabalhadores, por remuneração salarial justa e contra as explorações no mundo do trabalho.

Caminhada saiu pela rodovia.

“Nessa Romaria, unimos fé e cidadania a serviço da vida e da esperança. Em causa está o Reino de Deus e a necessidade de oferecer a todos o sabor do Evangelho em vista da construção permanente de uma sociedade justa, fraterna, inclusiva e reconciliada. Firmamos assim nosso compromisso com a vida, a justiça social e a inclusão social pela soberania popular, sobretudo diante da mineração em nossos territórios. Recordamos a importância do trabalho, mas trabalho com dignidade e em vista de um desenvolvimento integral da sociedade, na linha de ecologia integral”, disse o Assessor Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Padre Marcelo Moreira Santiago, à ocasião.

Após as falas, os presentes caminharam pela Rodovia dos Inconfidentes (BR 356), retornando pela comunidade. A 32ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras foi concluída com a celebração da Santa Missa presidida pelo Padre Marcelo e um almoço partilhado oferecido pela comunidade.

Foto: Tiago Fernandes

Na avaliação de Padre Marcelo, o evento foi muito bem-sucedido e participativo. “Nós saímos dali renovados. Pude ver isso no semblante e também nas partilhas que ouvimos no decorrer da Romaria, compreendendo que devemos unir fé e cidadania a serviço da vida, nos organizarmos melhor, unindo forças, em vista de condições melhores para nossa gente à luz do projeto de Deus: o mundo bonito para uma humanidade feliz”, afirmou.

Para o Assessor Arquidiocesano das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Padre Paulo Barbosa, a peregrinação foi símbolo de união, fé, organização e solidariedade. “A Romaria deixa, então, esse sinal de presença da Igreja na transformação da sociedade. A Igreja continua vivamente atuante por meio das Pastoras Sociais coordenadas pela Dimensão Sociopolítica”, disse.

Sobre a Romaria

Chegada da peregrinação à Capela Santo Amaro. Foto: Darcy Carvalho

Realizada desde 1991, a Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Arquidiocese de Mariana surgiu a partir da Campanha da Fraternidade daquele ano que teve como tema “A Fraternidade e o Mundo do Trabalho” e o lema “Solidários na dignidade do trabalho”.

“O gesto concreto, iniciado a partir da Forania de Ponte Nova, foi o de realizar uma Romaria local que, em sua primeira vez, aconteceu no Santuário de Nossa Senhora das Graças, em Urucânia (MG). Àquele momento, se tinha presente, entre tantos desafios ligados ao mundo do trabalho, a situação da monocultura da cana-de-açúcar, a saúde e condições de trabalho e remuneração dos trabalhadores nos canaviais em toda aquela região”, explicou Padre Marcelo sobre o contexto em que surgiu a peregrinação.

Desde então, vem sendo realizada todos os anos no dia 1º de maio, data em que se comemora o Dia do Trabalhador e a festa de São José Operário. Dentre os seus objetivos, a Romaria visa mostrar o esforço da Igreja em se colocar ao lado da classe trabalhadora e de seus desafios, abrindo um espaço para o diálogo e reflexão.

Após ter sido realizada por 15 anos consecutivos em Urucânia, atualmente, o evento é itinerante, tendo sido escolhida a Comunidade de Botafogo, no município de Ouro Preto, para acolhê-la em 2024.

Romaria foi encerrada com a celebração da Santa Missa. Foto: Clara Lamacié/Diário de Ouro Preto

 

 

FONTE ARQUIDIOCESE DE MARIANA

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