Em meio aos insultos, discussão levantou antigas rixas e mágoas entre vereadores; Gildo insinuou que aprovação do 13º foi moeda de troca na eleição da Mesa em 2013
O caldeirão da Câmara ferveu na noite de ontem durante a sessão. Mais de 2 anos depois de aprovado, o fantasma do 13º ronda novamente os corredores da Casa Legislativa e assombra os vereadores, principalmente quando as eleições batem á porta. Quando deixaram o plenário, por volta das 10:00 horas, o clima era tenso e os ânimos “estavam “a flor da pele” entre os vereadores.
Não faltaram troca de farpas, insultos, críticas, denúncias, dedo em riste, desabafo e briga entre os 13 representantes. A tensão marcou a votação do requerimento do vereador Zezé do Salão (PMN) para que a Mesa apresente um projeto revogando o pagamento do 13º salário.
Longo no início das discussões, o requerimento caminhava para a sua reprovação, a exemplo da semana passada quando os vereadores rejeitaram a proposta de redução pela metade de seus salários, mas aos poucos entre uma e outra justificativa o tom de acirramento foi elevando. “Olha temos este direito e quando votamos o projeto estava respaldado em um parecer do Tribunal de Contas. Não serei eu que vou revogar”, disse Benito Laporte (PROS).
João Paulo Pé Quente DEM) criticou Zezé do Salão. “Esse seu requerimento não vai acabar com o 13º. Votaria, sim, se o senhor apresentasse um projeto revogando o 13º”, desafiou, defendo que a Casa é enxuta em seus gastos.
Tarciano Franco (PRTB) também defendeu a legalidade do 13º, porém disse que a sua revogação atenderia ao momento de crise por que passa o país. “Vou votar pelo requerimento”, disse Franco.
O clima foi ganhando novos desdobramentos e calor das discussões inflamou o debate. “Todos os anos devolvemos recursos e o prefeito não faz nada. Estamos transferindo problemas que não são somente nossa culpa. Precisamos valorizar esta Casa para fortalecer os mandatos. Os candidatos lá fora que estão de olho em nossas cadeiras e eles que vão receber o 13º e o ônus será nosso. Queiramos ou não seremos tachados como a Câmara que instituiu o 13º”, comentou Pé Quente.
Toninho PT também argumentou pela legalidade do 13° e reconheceu que a polêmica desgastou a Casa. “Os Tribunais reconhecem que os vereadores ou deputados têm direito ao 13º. Na região diversas Câmaras recebem o salário extra. Não inventamos nada, podemos sim ter errado na questão da anterioridade”, disse.
Usando novamente a palavra, Pé Quente insistia que o autor deveria apresentar um projeto e não um requerimento. “Já que o senhor quer acabar com o 13º apresente de vez mande um projeto e ponha fim à polêmica. Assim voto com o senhor neste projeto de lei. O senhor está jogando esta Casa contra a população”, cutucou.
Em tom irônico, em poucas palavras, Divino Pereira (PHS) arrancou risadas entre os colegas com sua espontaneidade. “Tudo que for de13º devolvo na hora. Olha recebi o 13º e ainda tive que pagar o imposto de renda. Vamos acabar de vez com isso”.
Lenha na fogueira
Quem realmente pôs o dedo na ferida e incendiou os vereadores foi Gildo Dutra (PV). “Em 2013 durante a eleição da mesa o assunto do 13º já era discutido e foi moeda de troca no pleito. Como disse este não é o melhor momento para discutir esta matéria, pois vai passar como eleitoreira. Não vou usar esta bandeira para me reeleger mas por questão de ética o 13º não entra na minha conta. Talvez por isso não me reeleja”, comentou, mesmo assim defendendo a legalidade do benefício. “Fomos induzidos ao erro e por causa disso perdi a eleição da Câmara”, desabafou Dutra. “Da minha parte nunca ouvi falar do 13ª na eleição da mesa à época”, retrucou Toninho defendo que não será a extinção do benefício que vai acabar com a crise econômica, referindo-se ao seu colega anti-petista, Tarciano Franco. “Fico feliz em saber que o senhor é contra o golpe”, disse Toninho.
Com mais lenha na fogueira, Tarciano Franco revelou que o 13ª foi colocado em pauta após um acordo com os 13 vereadores em 2013. “Foi tudo combinado, mas o Pedro saiu fora”, disse. “Não participei de nenhum acordo. Não voto como não votei em um projeto que era ilegal”, defendeu Pedro Américo (PT).
Depois de troca de acusações, Zezé usou a palavra pedindo a retirada do requerimento. “Estou aqui propondo a todos que vou retirar o requerimento para apresentar um projeto assinado não só por mim mas por toda a Câmara acabando com o 13º”, propôs, revoltando Toninho do PT. “Parece palhaçada a gente ficar aqui discutindo mais de uma hora e agora ele retira o requerimento. Vou me retirar das discussões com muita indignação”, esbravejou, deixando o plenário.
Benito também provocou Gildo Dutra criticando sua postura. “Todas estas discussões estão cansativas e com muita incoerência. O senhor, como advogado, sabe que o 13º é legal e agora vem a favor do requerimento. Qual sua posição na verdade? Nós não tiramos este projeto debaixo da mesa”, questionou. Gildo não quis a réplica.
Qual a próxima novela?
Já avançava a sessão,quando Pastor Boaventura, o mais velho entre seus pares, fez uma análise das discussões. “Falaram em crise, mas qual crise? Se fosse assim o prefeito deveria decretar calamidade pública. Quem deve decidir se deveria ou não receber o 13º será a próxima legislatura. Não estou vendo tanta gente na rua assim pedindo esmola. Fico pensando qual será a próxima novela que vai desgastar esta Casa. Esta discussão nossa não vai surtir nenhum efeito para população”, resumiu.
Ao final da discussão o requerimento foi retirado da pauta e Zezé do Salão vai apresentar juntamente com a Casa um projeto revogando de vez o 13º salário em Lafaiete que não seria beneficiaria os vereadores, mas também prefeito, vice e secretários municipais.
Moeda de troca?
Em seu discurso no final do passado, quando perdeu a eleição para presidente da Casa, o vereador Carlos Magno também revelou que à época, em 2013, a apresentação de um projeto para instituir o 13ª foi discutida entre alguns de seus colegas e disse que poderia ter sido fundamental na derrota de Gildo Dutra.
Nova polêmica
Nesta semana, Zezé retirou, a pedidos de seus colegas, outros dois requerimentos que reduziriam o recesso parlamentar e obrigaria o vereador a cumprir 20 horas semanais de trabalho. Eles devem voltar a discussão esta semana inflamando ainda mais o clima na Casa.
Bastidores
Nossa reportagem acompanhou os detalhes da reunião de ontem na Câmara. O que se pode sentir é que os vereadores deixaram a Casa em um acirramento aberto e com feridas abertas. Apesar da roupa suja lavada em plenário o clima de cordialidade cedeu a rivalidade, a divisão e o enfrentamento.