Moradores já sentem os efeitos da poeira na saúde, como também a falta de segurança e barulho; por minuto passam mais de 4 carretas pelas ruas
Gagé já viveu tempos áureos da produção minerária, mas agora amarga o abandono e moradores sofrem diuturnamente com o inferno de buzinas e do pó de minério que trazem risco à saúde.
Nossa reportagem esteve na comunidade onde ouviu os lamentos e relatos dos moradores com o drama vivido em Gagé. Há mais de 2 anos eles lutam para diminuir o intenso trânsito de carretas de minério que cortam o bairro para chegar até o embarque na ferrovia em Joaquim Murtinho.
As carretas para chegar ao seu destino usam o trajeto por dentro de Gagé já que em Murtinho a comunidade se mobilizou e exigiu o fim do trânsito.
Nos últimos tempos o volume dos caminhões de minério cresceu principalmente oriundo da crescente produção de minério da “Ferro Mais”, em Desterro de Entre Rios, JMM, em Passa Tempo, e Ferro Gusa, em Itaúna. As duas primeiras mineradores usam a MG 383 (Entre Rios) até chegar a BR 040 e ganhar a porto seco em Murtinho.
A empresa responsável pelo embarque é a Scoffi que há mais de 2 anos asfaltou as ruas de Gagé até a ferrovia e assim a produção ganhar a exportação.
Mas o trânsito vem gerando mais que transtornos em termos de segurança como também com impactos na saúde dos moradores. As ruas servem às carretas e é costume ver crianças brincando em meio ao trânsito pesado. E mais muitas ultrapassam os limites de velocidade oferecendo perigo ainda maior aos moradores.
Isso sem contar com as buzinas em alto som, o barulho e principalmente o pó de minérios espalhado por todas as vias do bairro. No interior das casas o pó se espalha por todos os cômodos.
“A gente não dorme aqui, seja de dia ou de noite. O trânsito é a noite toda. São caçambas batendo e buzina até mesmo de madrugada”, denunciou Roger Diego, 28 anos, que trabalha de turno em uma mineração e muitas das vezes não consegui dormir para repor o sono.
Ele mostra vídeos e fotos que evidenciam o intenso tráfego nas ruas, o excesso de velocidade e a poeira que se levanta quando as centenas de carretas cortam Gagé.
Segundo Diego, eles apelaram ao Ministério Público. Na semana passada um perito esteve no bairro e constatou as queixas dos moradores. São 4 caminhões que passam por minuto nas ruas. “A gente tinha uma vida tranquila e agora somos escravos desta situação”, lamentou Diego.
Outro morador, Wellington França, também quer uma solução.
“A gente anda muito preocupado com este trânsito intenso pela falta de segurança, falta de limpeza nas ruas com o pó derramado e muito barulho. Estamos pedindo socorro às nossas autoridades”, criticou.
Acordo?
No mês de março houve uma reunião entre o Departamento Municipal de Trânsito de Lafaiete, a Scoffi e os moradores. A empresa se comprometeu a jogar água diariamente para manter as ruas limpas e o trânsito das carretas ficaria restrito ao horário de 6:00 às 22:00 horas. Mas a Scoffi não vem cumprindo a acordo firmado.
Consenso
As lideranças do bairro afirmaram que estão esgotando todas as negociações e as tratativas com a Scofi para por um fim ao problema, mas não descartam até mesmo paralisar o trânsito. “O que a gente está esperando é promotoria impor um acordo a empresa. Não queremos vandalismo ou ações de confronto, mas caso não sejamos atendidos em nossos direitos a vida e à proteção de nossa saúde vamos sim parar o trânsito”, afirmou Roger Diego.
Algumas pessoas também cobraram a efetiva participação da associação dos moradores na causa da comunidade.
Mãe relata drama de seu filho
Nossa reportagem esteve em várias residências para ouvir as situações de risco à saúde causadas pela poeira e pó de minério que fazem parte do cotidiano das famílias.
Márcia Damasceno Chaves é mãe de Davi Damasceno, de 8 anos. Em setembro do ano passado, o trânsito de carretas crescia dia a dia.
Em certos horários do dia, as ruas ficavam embaçadas pela poeira que saía do chão e chegava até as residências. Algo insuportável para uma pessoa, principalmente para os idosos e as crianças, alvos preferenciais de alergia e problemas respiratórios.
Davi, que já sofreia de problemas respiratórios passou por uma crise mais aguda até expelir uma gosma de sangue. A partir desse dia as crises de rinite e alergia aumentaram. “Queremos apenas respeito ao ser humano. Não podemos continuar nesta situação de risco a nossa saúde e com o perigo batendo a nossa porta”, desabafou Márcia.
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