Daniel Silva, de 19 anos, segue internado no CTI da Maternidade São José; PM esclareceu os fatos e diz que agiu em legítima defesa
“Eu quero justiça com meu filho. Ele era um jovem que todos consideravam no bairro. Era uma pessoa de família, de igreja e nunca teve passagem policial. Até agora ainda não sei o que realmente passou com ele. Quero somente a verdade do que ocorreu e justiça. Quero a punição aos culpados”.
Assim desabafou Dona Dalva Aparecida da Silva, 53 anos, mãe do jovem Daniel Filho, de 19 anos, filho único, que está internado no CTI do Hospital e Maternidade em estado de coma. Ele levou um tiro da PM durante uma ação policial nos primeiros minutos de domingo, dia 15. Segundo familiares, a versão da polícia não trouxe explicações suficientes para esclarecer os fatos.
Nossa reportagem esteve no bairro Paulo VI na manhã de segunda feira, dia 16, na residência de Dona Dalva. Ela contou somente ficou sabendo da internação de seu filho por volta das 7:00 horas, mais de 6 horas após os incidentes. “Fui comunicada por uma funcionária do hospital, caso contrário, nem sei que horas iria ficar sabendo da situação do meu filho”, comentou. Ainda bastante abatida com os acontecimentos, ela frisou a idoneidade de seu filho.
“Ainda não sei o que aconteceu e quem estava com ele. Falaram que é um casal. Quero detalhes de tudo que aconteceu”, comentou. Ainda ontem ela esteve no 31º Batalhão onde recebeu os documentos de seu filho. “Ainda hoje quero esclarecimentos. Sinto uma dor angustiante de tudo o que está acontecendo com meu único filho. Ele não merece o que fizeram com ele. Espero mudar esta imagem do que eles estão passando sobre Daniel. Esta é a dor de uma mãe”, disse Dalva que é viúva.
Èdson Maurício, tio de Daniel, também revoltou-se com a situação ainda não explicada em torno do tiro levado pelo sobrinho. “Olha ele tinha todas as qualidades de um bom filho, um bom amigo. Aqui no bairro todos gostavam dele. Ele não é bandido como muitos estão falando, por isso queremos esclarecimentos do que ocorreu de verdade”, comentou.
Sérgio Júnior saiu em defesa de seu vizinho. “Eu o conheço desde a infância e era um cara dez. Ele não seria capaz de fazer o que estão dizendo. Ele tinha todas as qualidades de um jovem de bem”, confirmou.
Istefânia Brás, amiga da família, contestou a versão da polícia. “Nem bandido iria mostrar um revólver de brinquedo para atiçar a polícia. Ele não faria isso. A ainda mais levar um tiro pelas costas. Daniel não teria coragem desta atitude que a PM está falando. Não tem lógica”, contestou.
Revolta popular
Revoltada com a ação policial, a comunidade, amigos e associações de diversos bairros fizeram uma manifestação na BR 040 bloqueando a rodovia, na noite do dia 15. O ato marcou a indignação dos moradores em relação ao incidente ocorrido. Os manifestantes queimaram pneus e por mais de 5 horas a BR ficou paralisada causando um grande engarrafamento. Somente por volta das 10:30, a BR foi liberada.
Segundo testemunhas, logo no início da manifestação, por volta das 19:00 horas, os policiais chegaram ao trevo do Paulo VI atirando contra as pessoas. “Eu estava lá com meus dois filhos e vi tudo. Os policiais, sem qualquer justificativa, já que era uma manifestação pacífica, chegaram atirando. Não sabemos porque isso aconteceu. Foi uma ato de muita covardia”, disse uma moradora do Paulo VI que não quis se identificar.
A família de Daniel Silva afirmou que levará o caso a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Daniel está ainda está internado no Hospital em estado grave.
A versão dá sua versão dos fatos
Em nota enviada a imprensa, a PM fez uma defesa da ação policial. “Em 14/05/2016 em Conselheiro Lafaiete, por volta das 00h50min, Guarnição Policial militar recebeu através da rede rádio denúncia segundo a qual um veículo de Fiat/Uno de cor escura com três ocupantes teria sido visto rondando comércios da cidade pelo que iniciou-se o rastreamento do citado veículo suspeito o qual foi localizado e os ocupantes ao perceberem a iminente abordagem deslocaram com o veículo pela BR 040 empreendendo fuga pela citada rodovia realizando manobras perigosas mesmo com as ordens de parada dirigidas aos ocupantes pelos policiais.
Na altura do bairro São Dimas o ocupante do banco traseiro do veículo veio a dispensar um objeto retangular pela janela e em seguida apontou um outro objeto com um cano para a guarnição aparentando ser uma arma de fogo pelo que os policiais militares, em defesa própria, efetuaram disparos de arma de fogo vindo um disparo alvejar o passageiro do assento traseiro o qual foi imediatamente socorrido pela guarnição ao Hospital Maternidade São José.
Em vistoria no interior do veículo foi encontrado em cima do banco traseiro e próximo ao autor ferido um simulacro de arma de fogo bem como 16 (dezesseis) invólucros de substância esverdeada com odor e característica semelhantes à maconha, materiais que foram recolhidos e devidamente subscritos no Boletim de Ocorrência.
Em varredura pelo local de interceptação do veículo foi localizado um celular marca Samsung que fora lançado para fora do veículo sendo que confirmou em seguida tratar-se de produto de furto perpetrado pelos ocupantes do veículo, os quais foram identificados pela vítima.
Em relação ao condutor do veículo, os Policiais Militares constataram sinais notórios de embriaguez sendo constatado, após o emprego do equipamento etilômetro, a medida de 0,38 mg/L, que caracteriza o crime de embriaguez ao volante, sendo enquadrado ainda, o condutor, na Contravenção Penal de Direção Perigosa. O veículo, por estar com a documentação atrasada, foi devidamente recolhido.
Todos os procedimentos legais foram adotados em relação aos envolvidos. Os autores foram encaminhados à autoridade de polícia judiciária para as providências cabíveis sendo os policiais militares que participaram da ação encaminhados até a autoridade de polícia judiciária militar encarregada, conforme os mandamentos jurídico-militares previstos para as providências legais cabíveis”.
Fotos:Reprodução