Artista sul-africano Haroon Gunn-Salie mostra ao público resultado de imersão no
cenário da tragédia que arruinou o Rio Doce e cidades da região de Mariana.
Dez meses após a tragédia histórica em Mariana, interior de Minas Gerais, o Museu de Congonhas recebe uma exposição audaciosa, que une arte e realidade: AGRIDOCE. Realizada pelo sul-africano Haroon Gunn-Salie, primeiro artista estrangeiro a expor no novo museu, a instalação tem como proposta resgatar a tragédia ocorrida na região de Mariana, em novembro de 2015, sob a ótica da arte e levantar provocações sobre as respostas que ela pode trazer à vida real. A exposição será aberta ao público no próximo domingo, 4 de setembro, às 11h, e fica em cartaz até março de 2017.
Entre fotos e vídeos que retratam as consequências do incidente, público terá contato com a estrutura de uma casa real, extraída do distrito de Paracatu de Baixo, e reconstruída dentro da galeria. Artista propõe também uma obra inédita em sua montagem mineira, criada exclusivamente para Congonhas. O público verá na galeria as consequências de um eventual desastre ambiental diante de um dos mais importantes patrimônios culturais do país, os profetas de Aleijadinho, marco turístico da cidade de Congonhas.
Sobre a exposição “Agridoce”
Logo após o desastre ocorrido na região de Mariana, em novembro de 2015, Haroon Gunn-Salie, artista plástico sul-africano radicado no Brasil passou por uma imersão no que sobrou do lugar soterrado e estabeleceu contato com as pessoas que viviam por ali – 19 pessoas morreram no desastre e centenas ficaram desabrigadas. Durante esse período, ele conheceu a família de Aparecida Marcelino, uma mulher de 46 anos que trabalha como faxineira em uma escola de Mariana. Aparecida morava em sua casa com três filhos, de 18, 17 e 12 anos, e perdeu tudo no desastre.
A partir do contato que teve com essa família, Haroon, que estava no Brasil com o objetivo de realizar uma exposição de trabalho inédito – ele foi selecionado para o 1º Prêmio SP-Arte/Videobrasil – decidiu fazer daquela casa, daquele local, objeto de sua nova instalação. Para isso, contou com o apoio da família e, em um trabalho minucioso, desconstruiu a casa do local real e a transportou para dentro de uma galeria, em São Paulo. A exposição, que ficou em cartaz na capital paulista de abril a junho, chega pela primeira vez a Minas Gerais.
Novidade inédita
Com o objetivo de manter a exposição como um espaço ativo, além da casa da família Marcelino, Haroon trará uma nova proposta artística de diálogo entre o desastre das barragens e a cidade de Congonhas, local de sua nova exibição, que promete ser a grande novidade da exposição. O artista criou réplicas das esculturas dos 12 profetas do mestre Aleijadinho, símbolo máximo da cidade e obra-prima do Barroco, e irá submetê-las aos efeitos de um desastre às proporções do ocorrido em Mariana.
“O objetivo é provocar o público sobre como seriam os efeitos sociais e históricos de um desastre desses se, ao invés de uma comunidade humilde como a de Paracatu de Baixo, a lama acometesse patrimônios históricos como a cidade de Congonhas. Como seria a reação das autoridades? Como seria a reação da população?”. Com essa proposta, serão exibidos pedaços e fragmentos das esculturas de Aleijadinho em meio à lama e ao caos de um hipotético rompimento de uma das barragens que cercam a cidade.
Haroon Gunn-Salie
Deslocamento forçado, desterramento, trauma, narrativa oral e história são os temas recorrentes na obra do jovem artista que despontou no cenário artístico internacional com seu trabalho de graduação em 2012. Intitulado Witness (Testemunha), a instalação site-specific relatava e atualizava a história dos antigos residentes do District Six em Cape Town, removidos à força durante o Apartheid. Este primeiro corpo de trabalho é profundamente autobiográfico: Gunn-Salie chegou a ser preso, quando ainda era um recém-nascido, junto com a mãe, ativista política antiapartheid, falsamente acusada de um atentado. Esses primeiros anos de sua vida, passados na clandestinidade da resistência política, foram a ele recontados pelos pais. A partir dessa experiência de uma memória construída por narrativas orais e subjetivas, ele adotou a noção de observador participativo, que passou a informar sua arte. Graduado em Escultura, Gunn-Salie adotou a prática colaborativa como uma metodologia na qual a obra de arte é concebida e executada a partir do diálogo intenso e da ação coletiva da comunidade, uma tendência que a crítica britânica Claire Bishop denominou virada social (social turn).
Sobre o Museu de Congonhas
Inaugurado em dezembro de 2015, o Museu de Congonhas foi construído ao lado do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, a partir de um projeto do arquiteto Gustavo Penna. O espaço é o primeiro museu de sítio do Brasil, ou seja, ele se propõe a explicar a história e as tradições da cidade e da região que está no seu entorno. O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, para onde o Museu dedica sua principal atenção, está localizado no Morro Maranhão, na zona urbana de Congonhas. Sua construção teve início em 1757 e se estendeu até o começo do século XIX. Trata-se de um conjunto arquitetônico e paisagístico formado pela Basílica, escadaria em terraços decorada por esculturas dos 12 profetas em pedra-sabão e seis capelas com cenas da Via Sacra, contendo 64 esculturas em cedro em tamanho natural. No conjunto, trabalharam os artistas de maior destaque do período, como o escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), e o pintor Manoel da Costa Athaíde (1760-1830).
SERVIÇO
Exposição “Agridoce” – Haroon Gunn-Salie
De 4 de setembro de 2016 a março de 2017
No Museu de Congonhas – Alameda Cidade de Matosinhos de Portugal, Congonhas (MG)
Ingressos: R$10,00
Horários de funcionamento:
Terça-feira: das 9h às 17h
Quarta-feira: das 13h às 21h
Quinta-feira a domingo, das 9h às 17h