“Fora Presidente”. “Se não tem competência entra a concorrência”. Estes bordões eclodiram no plenário da Câmara durante duas horas em que manifestantes, usuários e movimentos sociais se uniram para protestar, gritar e achincalhar as péssimas condições dos serviços da Viação Presidente, em Lafaiete. Os 13 vereadores apoiaram a causa.
Pela primeira vez o aumento abusivo da passagem, proposto pela empresa, mobilizou tanto a comunidade lafaietense. Ela reivindica o bilhete a R$ 3,82, aos atuais R$2,90. Na plateia o coro dos cidadãos insinuava: “chega de negociata”. Antes da audiência, que ocorreu ontem à noite, dia 24, uma passeata percorreu as principais ruas da cidade arrastando consigo a indignação popular.
Com cartazes, caras pintadas e braços em punhos, os lafaietenses tomaram a Câmara, ganhando o apoio de trabalhadores, lideranças e usuários. Na audiência, por mais que se esforçassem, os representantes da Presidente, com cobertura velada do presidente do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT), Valdney Alves, foram evasivos as respostas que justificassem o aumento.
Valdney Alves mediou a audiência, agindo à revelia de seus membros. Ele se portou, a todo instante, como um escudo às críticas e denúncias contra a empresa. Isso ficou mais que evidente nas suas intervenções em detrimento a população. Ele age, desde o início do processo de revisão tarifária, como soldado da Viação Presidente, contrariando os interesses legítimos de milhares de trabalhadores que usam o transporte público em absoluta decadência. Qual o lado que ele representa ou finge representar? E o conselho?
Depoimentos
Ficou demonstrada a insatisfação popular nos mais de 30 depoimentos de lideranças quando elas desabafaram sobre o sacrifico cotidiano no uso do transporte público.
Mães de filhos especais, amigos e familiares de cadeirantes, idosos, gestantes, estudantes, jovens conscientes, usuários em geral e gente simples da periferia impuseram sua voz de protesto contra os barões do monopólio do transporte coletivo. A empresa insiste em descumprir o contrato que a Câmara já investiga, mas o presidente Valdney quer votar o mais breve a possibilidade de aumento.
Vaias
A viação Presidente foi representada na audiência por Celso Nepomuceno. Dos inúmeros questionamentos, dúvidas e protestos, ele deixou o plenário sob uma sonora vaia espontânea, oriunda do clamor popular. A empresa finge que escuta e depois dá às costas a Lafaiete, sob a omissão, durante décadas de fiscalização pública.
Esta omissão consentida gerou este monstro que ataca o bolso do trabalhador ao invés de servir aos usuários, a missão principal da concessionária.
Diante das denúncias de afronta ao interesse do consumidor e até mesmo aos direitos humanos, o representante da Presidente justificou que o aumento é consequência da queda de usuários e do o elevado custo da gratuidade que chega a 30%. “Mas a gratuidade não é generosidade da empresa. É um direito. A empresa prega a exclusão”, disparou uma mulher.
Sem definição
Sem solução sobre o aumento, o conselho atribuiu a si a responsabilidade de definir o valor do reajuste. O que se espera é que a decisão seja às portas abertas, ao contrário das atitudes do presidente do Conselho, Valdney Alves.
Agora, o conselho de transporte aguarda um parecer técnico da prefeitura sobre a planilha enviada pela empresa que sugeriu o valor do possível aumento de 35%. “Precisamos cobrar uma contrapartida de qualidade e humanização do transporte antes de falar em reajuste”, disse um representante popular.
Contra a imprensa
“Ainda não tem nada definido”, proferiu Valdney quando foi atacado durante audiência por barrar o CORREIO DE MINAS na entrada à reunião ocorrida na quinta feira, dia 23, no Solar do Barão de Suassuí (Castelinho). Ele justificou que buscava uma união entre os vereadores e a empresa em torno de um consenso sobre o aumento. “Somos contra o aumento’, sentenciou o presidente da Câmara, Sandro José (PSDB). “A Câmara é independente por isso quando sentimos um cheiro de armação e deixamos a reunião”, disparou João Paulo Pé Quente (DEM). O conselho está pressionado por todos os lados e o Ministério público deve ser acionado e atuação de Valdney já é alvo de críticas.
Papel de bobo
Um usuário questionou que a empresa Presidente “faz o povo de bobo” ao pedir um aumento fora da realidade e ao mesmo tempo negociar um outro valor, como em anos anteriores. “Ou a empresa tem má gestão ou é age de má fé. Ela só usa argumentos pífios para justificar o aumento”, frisou Fabrício Alexandre. “O conselho vai continuar omisso?”.
Reclamações
A omissão da Presidente em responder os questionamentos dos vereadores em ofícios enviados a empresa foi alvo de críticas sobre o cumprimento do contrato.
Já a população desabafou contra a superlotação, troca de horários, desvios de rotas, sucateamento dos veículos, emplacamentos fora do município, constantes atrasos, enfim, a população pediu “um basta no serviço da Presidente”. “Se é por falta de adeus, ela deve deixar o serviço. Chega de enganação”, frisou o vereador Fernando Bandeira (PTB).
Rosilene Bandeira, mãe de um filho especial, fez um desabafo emocionante cobrando a humanização do transporte público.
Discussão
Há menos de 15 dias da audiência, membros do conselho de trânsito foram empossados. “Será que eles têm, em curto espaço de tempo, condições técnicas suficientes para julgar e definir o aumento da passagem?”, questionou Pé Quente. “Se aumentar, vamos parar Lafaiete”. Era o grito dos populares após a audiência cobrando a data quando será votado o percentual de aumento.
Mas, esta reunião será aberta ou terá uma justificativa “técnica” que vai impedir a participação da imprensa ou da população? Com a palavra o conselho de trânsito. Afinal quem manda no aumento da passagem: o presidente ou a presidente. Em caso de dúvida……