O secretário de coordenação de projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), da União, Tarcísio Gomes de Freitas, confirmou que a Via 040 sondou o governo sobre a possibilidade de devolução. “Já existem tratativas a respeito. A concessionária ofereceu um desconto muito agressivo no pedágio na época da licitação (2013), que chegou na casa dos 60% (abaixo do teto fixado pelo governo) e causou impacto na receita”, disse. Ainda segundo Freitas, a empresa controladora da Via 040, a Invepar, tem como acionista o grupo OAS, envolvido na Lava Jato. “Isso dificulta o acesso a crédito. O contrato é inexequível”, ressaltou.
Nessa quarta-feira (31), em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a morosidade das obras e o licenciamento ambiental foram debatidos. “Existe um problema de diminuição do tráfego, aumento da inflação, e também de liberação do BNDES”, afirmou o gerente de relações institucionais da Via 040, Frederico Souza. De acordo com um funcionário da concessionária que pediu para não ser identificado, o banco deveria financiar 70% das obras, mas ainda não teria repassado a verba. “Assim que tiver sanção (da MP), vamos fazer análise minuciosa. A concessionária está fazendo todos os esforços para dar continuidade ao contrato”, disse Souza.
Raio X. A concessão do trecho à Via 040 começou em março de 2014, com prazo de 30 anos. O contrato prevê a realização de obras de recuperação e manutenção, serviços operacionais, conservação e aumento de capacidade, incluindo a duplicação de mais de 700 km. Até o momento, 73 km foram duplicados, a maior parte em Goiás, segundo a concessionária. No entanto, 11 praças de pedágio estão em funcionamento há quase dois anos, dez delas em Minas.
Segundo Freitas, se a MP for sancionada e a concessionária realmente desistir do trecho, ela deve instaurar o processo de relicitação para evitar que o contrato seja extinto por caducidade – declaração dada pelo governo federal em caso de inadimplência da empresa. “A caducidade é um processo mais lento e doloroso porque envolve o abandono do trecho”, pontuou. Ele disse que, caso o processo de relicitação seja oficializado, a União tem interesse em fazer acordo para o fim do contrato.
A Via 040, por meio da assessoria de imprensa, não confirmou nem negou a intenção de entregar a concessão da rodovia. Entretanto, admitiu que “a frustração de demanda”, com a queda no fluxo de veículos pesados aos níveis de 2010, e o aumento de 80% no preço do cimento asfáltico, principal insumo das obras rodoviárias, “comprometem a operação”. Do início do contrato até dezembro passado, a concessionária informou ter investido R$ 1,78 bilhão e arrecadado R$ 425 milhões.
Resposta
Contato. A assessoria de imprensa do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) foi questionada pela reportagem sobre o montante de dinheiro já repassado à Via 040, mas não houve resposta.
Viabilidade
União já faz novas pesquisas
Caso a relicitação do trecho realmente aconteça, o novo contrato de parceria vai prever duplicação de um trecho menor, conforme o secretário de coordenação de projetos do PPI, Tarcísio Gomes de Freitas. Segundo ele, todo o processo deve levar cerca de um ano.
“O novo trecho a ser duplicado será menor, e a duplicação vai acontecer onde houver volume de tráfego que a justifique. O ritmo de investimento deve ser governado pela demanda, porque todas as obras revertem-se em tarifas”, afirmou.
Segundo ele, os estudos para a adequação do trecho e a realização da relicitação já estão sendo contratados. “O processo leva quase um ano, mas tem que levar, porque estamos falando de um contrato que vai significar os próximos 30 anos da rodovia e precisa ser bem-estruturado. Do jeito que foi feito, não saímos do lugar, e o usuário paga a tarifa sem saber por que”, disse.
Sobre a possibilidade de relicitação, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que “está discutindo os termos contratuais para encontrar a melhor forma de solucionar a questão”. O órgão administra no país 21 concessões de rodovias, que totalizam 9.969,6 km.
Análise. Para o especialista em trânsito Márcio Aguiar, com a relicitação, a duplicação, que deveria ter ocorrido há anos, pode ficar mais distante. “Quando uma empresa entra no certame, deve estudar os riscos da concessão para evitar a devolução, que cria transtorno grande para o usuário”, pontuou. (RM)