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Congonhas discute meios para fortalecer o combate às drogas

O trabalho de prevenção ao álcool e outras drogas e de reabilitação de usuários, coordenado pela Prefeitura, por meio de sua Assessoria Especial Antidrogas, tem avançado em Congonhas, mas ainda há muito o que se fazer nesta área. Com a finalidade de fortalecer esta política pública de prevenção, tratamento e reinserção social de dependentes químicos, principalmente de jovens, além de alinhar as iniciativas municipais às estaduais sobre a temática, foi realizada, no final do mês passado, a Conferência Municipal de Políticas Sobre Drogas, que apontou as diretrizes para o Município, o Estado e o País avançarem nesta área.

A Assessoria Especial Antidrogas é vinculada ao Gabinete do prefeito realiza um trabalho de rede com a Sedas, Saúde e Assistência Social. De acordo com o assessor especial de Políticas Antidrogas do Município e presidente do Conselho Municipal Antidrogas (COMAD) Dalton Barboza Campos, estava na hora de discutir o tema com as lideranças e a juventude locais com objetivo de minimizar o número de jovens usuários de álcool e outras drogas. “E a Conferência foi muito proveitosa neste sentido. Levantamos propostas que nos ajudarão a prevenir o envolvimento de mais pessoas com as drogas. Como exemplo, para a área da educação, elas apontam para a necessidade de ampliarmos o trabalho de prevenção nas escolas. Outro caminho que surgiu foi a utilização das redes sociais e a mídia como um todo para informar a população dos riscos causados pelas drogas e onde buscar auxílio. Na área de segurança, saúde e assistência social, as propostas sugerem a ampliação de outros projetos  de prevenção e reinserção social destes jovens, inclusive fortalecendo o Conselho Municipal da Juventude. A função do Conselho Municipal Antidrogas (COMAD) agora é acompanhar a implementação dessas diretrizes em Congonhas”, diz.

Quando o prefeito Zelinho convidou Dalton Barboza Campos para assumir o cargo de assessor especial de Políticas Antidrogas da Prefeitura de Congonhas, pediu a ele que fizesse a interlocução entre Governo, CAPS AD e as famílias. “Tenho percebido que este trabalho tem dado muito resultado. Há o acompanhamento das famílias de pacientes de Congonhas e até o transporte delas até as comunidades terapêuticas. Às vezes, além do tratamento químico, precisam de carinho, do acesso a uma religião, temos exemplos de belos trabalhos feitos por diferentes religiões. Estamos no corredor fronteira com a Bolívia, Brasília, Belo Horizonte, BH e Rio de Janeiro, por isso é fácil o traficante chegar a Congonhas. Mas o problema está pelo País todo. Na verdade, este é o mal do século. A droga não atinge somente a família, mas os vizinhos também. Este trabalho da Assessoria Especial com a Saúde e a Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social (Sedas) tem sido muito benéfico para Congonhas”.

Palestra

O médico psiquiatra e homeopata Luiz Andrade ministrou uma palestra durante a Conferência tratando exatamente do tema proposto por ela. Para ele, a Conferência é uma troca de ideias sobre uma área em quê não temos certezas absolutas. Leia a seguir a transcrição do trecho da palestra que trata principalmente a prevenção às drogas:

– O que é a dependência química? É uma vulnerabilidade que nós todos temos. Todo ser humano é um pré-dependente químico por natureza, por causa do vazio existencial, todo ser humano é dual por natural por natureza (matéra/energia, corpo/espírito, adulto algumas em algumas coisas, infantis em outras) e dessa dualidade surge o vazio existencial. O vazio do estômago se chama fome e o vazio existencial se chama angústia, que não é tristeza, depressão, doença, é ausência de sentido para a vida. Esta, pra ter sentido, precisa de haver uma sustentação. O que sustenta o sentido da vida são várias duplas de pilares: a religião e os prazeres, a família e os amigos, o trabalho e o lazer. Se a pessoa não consegue ter ‘alimentos consistentes’ para preencher este vazio existencial, ela vai precisar de anestésicos potentes.

A dependência química é a cruz e o carma da humanidade. São tantos os indivíduos acometidos por ela, como já foi a lepra, a tuberculose e outras doenças, que não adianta procurar uma causa única do problema, há as menores, as médias e as maiores. Este é o maior problema em termos de saúde na área mental e de ocupação das vagas em hospitais; de assistência social, porque além do paciente o problema afeta cerca de oito pessoas em seu entorno, sem falar que cerca de 80% dos casos de violência doméstica estão ligados ao uso inadequado da bebida alcoólica, também porque a maioria das pessoas que estão envolvidas com as drogas não consegue completar seu ciclos educacional; de segurança pública, como roubos, assaltos, envolvimento com o tráfico, já que das 73 mil pessoas encarceradas em Minas entre 65%  e 70% destas estão relacionadas as drogas. Os dependentes não utilizam somente as drogas sintéticas, mas também o cigarro, as bebidas alcoólicas, remédios para emagrecer, os calmantes, que desenvolvem dependência química também.

– O que é preciso para que a prevenção seja eficaz? Ela envolve uma sociedade que cria seus filhos numa cultura baseada nos valores éticos, morais, espirituais, de esforço (para tentar fazer a criança ser melhor que ela mesma nos esportes, estudos, artes e no autruísmo. Assim ela passa a buscar, não a perfeição, mas o melhor de sim para aquele momento), e de razoabilidade (que dizem respeito a levar em conta nossas emoções, a intuição, mas decidir de acordo com a razão).

– Quais os agentes que devem se envolver no tratamento químico? Primeiro é preciso dizer que discutir se ela vai resolver, deixar  o paciente decidir, ter livre arbítrio é erro de estratégia, de percepção. Portanto, família, sociedade, Estado e técnicos têm que estar participando do processo. Não adianta deixar nas mãos de quem está com a consciência alterada a decisão de querer melhorar ou não. Seria mais ou menos como não ajudar um deprimido que quer se suicidar, entendendo que ele quer se suicidar.
Muitas vezes, a gente interna involuntariamente o paciente, medica e, quando a pessoa melhora, ela pergunta para você, médico: – Como é que eu cheguei aqui? Eu não me lembro. Ou seja, temos que atuar.

São essenciais neste contexto ainda a fiscalização, repressão e reinserção social.

Par a membro do Conselho Municipal de Políticas Antidrogas e guarda municipal, Marilene Soares da Silva, “a Conferência superou as expectativas, porque reuniu os principais órgãos que atuam no Município e até fora dele das áreas de saúde, educação, segurança pública, a sociedade civil, seja por parte das associações comunitárias, entidades religiosas, em torno da discussão de propostas de políticas públicas para a juventude, conforme a necessidade de Congonhas. O COMAD é um conselho atuante em Congonhas e vem desenvolvendo um excelente trabalho de prevenção às drogas. Ele atua de forma preventiva, realizando palestras educacionais nas escolas públicas e empresas privadas, juntamente com o Cabo PM Tarcizio, instrutor do PROERD, e a Guarda Municipal, em passeatas de conscientização e blitzen educativas. O COMAD atua ainda em conjunto com o Conselho Municipal de Segurança Pública (Consep), o Conselho da Criança e do Adolescente e em 2018 deverão ser implantados projetos em rede. Estamos trabalhando para que, em breve, ele possua  um fundo para arrecadar recursos para desenvolver seus projetos”.

Reinserção social

Um dos diversos exemplos do resultado do desenvolvimento de políticas públicas em Congonhas chama-se Paulo Roberto de Morais, de 48 anos e morador do Primavera. “Passei por uma fase crítica de uso de bebida alcoólica. Antes eu era contra o internamento, mas estava bebendo entre três e quatro vezes ao dia, já não conseguia trabalhar. Então um dia avisei pra minha família que podia tomar providências, porque eu já não tinha mais força para vencer o álcool sozinho. Então minha família procurou o Dalton [Assessor Especial de Políticas Antidrogas da Prefeitura] e a Silvinha [que atua na Ass. Espec.] que tomaram as providências, isso há cerca de 3 anos, e me internaram na Comunidade “Vencer”, em Cláudio, [no Centro-Oeste de Minas]. Ouvi palestras, participei do trabalho de laborterapia cerca de 3 horas por dia, rezei muito e vivi grandes momentos de lazer lá também. Minha família sempre me apoiou neste período e contou com a ajuda da Assessoria Especial para ir me visitar também. Com a minha vontade, da minha família e a ajuda da Prefeitura e daquela comunidade, estou vencendo esta luta. Sem esta ajuda a gente não sai dessa. Depois disso, eu já fui a Cláudio algumas vezes dar o meu testemunho e ajudar na recuperação de outras pessoas. Tenho vontade de continuar este trabalho ao lado da Assessoria Especial, do COMAD e de todos os outros parceiros desta iniciativa”, diz Paulo, que atualmente trabalha como motorista.

Nos dias 30 e 31 de outubro, acontecerá a Conferência Estadual de Políticas Sobre Drogas, em Mariana, com o objetivo de aprimorar os trabalhos de políticas sobre drogas voltadas para a juventude.

Delegados eleitos durante a 2ª Conferência Municipal de Políticas Sobre Drogas:

Governamentais: titular – Suzi Aparecida da Silva (CAPS AD), suplente – Marilene Soares da Silva (Guarda Municipal).

Não Governamentais: titular – Warley Ferreira Rezende, suplente – Márcio Ferreira Apolinário.

Propostas apontadas pela 2ª Conferência Municipal de Políticas Sobre Drogas:

A Conferência Municipal de Políticas Públicas Sobre Droga, com o tema, “Políticas Sobre Drogas para a Juventude” foi dividida em quatro eixos. Destes surgiram as seguintes propostas para Congonhas e o Estado:

Educação

1- Trabalhar as relações de gênero, possibilitando discussão e visão mais ampliada do jovem sobre os riscos, papeis sociais exercidos por eles e determinados pela cultura. Tais papeis correm o risco de serem reforçados pelo uso de álcool e outras drogas, uma vez que este uso traz (o quê?) de empoderamento e realização.

Meio de implementar: ampliar as ações do Programa de Educação em Sexualidade e Cidadania (PESC), setendendo seu campo de atuação para a Educação Infantil, como medida preventiva.

2- Dar mais voz aos jovens fazendo deles agentes de transformação social, oportunidando espaço de expressões de opiniões, necessidade, interesses essenciais na construção dos projetos de vida.

Meio de implementar: otimizar Grêmios Estudantis.

3- Criar espaços de participação das famílias, como parceiros na construção de projetos para o desenvolvimento global do jovem.

Meio de implementar: estreitar a articulação da escola e comunidade do entorno.

Redes sociais e mídia

1– Criar uma comissão multidisciplinar e intersetorial para planejar, executar e monitorar ações educativas sobre o uso das redes sociais e mídias para a vinculação da informação sobre as drogas.

Meio de implementar: reunir representantes governamentais e não governamentais dos diversos serviços e seguimentos do Município para formar a comissão e efetivar ações.

2- Utilizar os canais oficiais de comunicação do Município (site, página do Facebook, sistema de transmissão em vídeo e rádio da Prefeitura) e a mídia espontânea para divulgar as ações de prevenção ao uso abusivo de drogas ou de outra natureza relativas ao tema das drogas.

Meio de implementar: divulgar por estes canais projetos nas áreas de esporte, educação, cultura, saúde e assistência social que previnam o início do uso abusivo das drogas. Produzir textos, vídeos e conteúdos para rádio que informem sobre a prevenção e a forma de tratamento.

3- Solicitar a Prefeitura a criação de um aplicativo para uso da população como canal de comunicação e divulgação de eventos, serviços e informações que tratem tanto do aspecto preventivo quando do tratamento de pacientes usuários de drogas.

Meio de implementar: acionar a Secretaria de Comunicação e Eventos e o Departamento de Informática da Prefeitura para a criação do aplicativo.

4- Formação permanente para os profissionais da Educação sobre como se apropriarem das redes sociais e mídias como estratégia pedagógica para trabalhar temáticas variadas com a das drogas.

Meio de implementar: estabelecer ações permanentes de formação para os profissionais da Educação.

Participação cidadã do jovem

1ª – Prevenir o uso e o abuso de álcool e outras drogas.

Meio de implementar: utilizar o Programa de Educação em Sexualidade e Cidadania (PESC) como meio de  interação, participação, informação, debate, capacitação e divulgação sobre a temática das drogas.

2ª – Fortalecer o Conselho Municipal da Juventude como espaço de deliberação para o exercício do controle social das políticas públicas de juventude.

Meio de implementar: agilizar o processo de eleição do conselho, descentralizar as reuniões, promover uma participação mais efetiva dos jovens no conselho e construir um plano decenal de políticas públicas sobre drogas para a juventude, que inclua dentre outras questões discussões de âmbitos políticos, culturais, educacionais, de identidade, gênero, sobre drogas lícitas e ilícitas, além de capacitações.

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