O movimento que busca encontrar caminhos sustentáveis para a Congonhas do futuro recebeu um grande impulso com a realização do Startup Weekend Congonhas, entre a última sexta-feira e esse domingo, 5 de março, no QG da Inovação, criado pela Prefeitura no bairro Rosário. Este é um evento intensivo de trabalho em equipe, formada por estudantes e profissionais diversos para que montem times e criem novas startups em apenas 54 horas, com o apoio de mentores e de especialistas. Os participantes tiveram a possibilidade de passarem pelos altos e baixos da vida de empreendedor e, principalmente, se conectarem com o mundo da inovação.
A edição de Congonhas foi realizada pelo Google, Techstars e I Love Pixels e contou com o apoio da Prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Tecnologia, Faculdade e Colégio Santa Rita (FASAR), Grupo UNINTER e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).
Após terem suas ideias aprovadas na sexta, as oito equipes participantes do Startup Weekend Congonhas foram para as ruas, no sábado, para identificarem a existência real do problema que inspirou cada uma dessas ideias. Na etapa seguinte, os 64 inscritos tiveram de encontrar uma solução para o problema e iniciar o projeto do mínimo produto viável, ou MVP.
Após esta verdadeira maratona de negócios e cercadas por um time de organizadores voluntários e mentores, as sete equipes passaram pela prova decisiva, os pitches (ferramenta usada pelos empreendedores para “vender” o projeto da sua empresa para potenciais investidores) que foram avaliados por uma banca formada por três jurados: Ludimila Gonçalves, assessora jurídica para Startups e Microempresas; Lorraine Acipreste, diretora de Interação com Ecossistema e Mídias Digitais da Comissão de Direito para Startups da OAB MG Oficial, associada AC Minas Jovem e membro FIEMG Jovem; e Aristides Rocha Araújo, responsável pela coordenação do escritório SEBRAE da microrregião Alto Paraopeba e Inconfidentes e pela gestão de todos os projetos e ações desenvolvidas nos 19 municípios.
Em primeiro lugar ficou a equipe que desenvolveu a startup “Viaje Já”. Formada Fernando Baia, Gabriel Valentino, Luiz Gustavo Alves Alvarenga, Silvia Fernandes, Rebecka Pignataro e Hallex Meneghel, a equipe ganhadora partiu da dificuldade das pessoas em definir para onde viajar e como fazer o roteiro da viagem.
Um dos integrantes, Hallex Meneghel, natural de São Paulo e estudante da UFSJ Campus Alto Paraopeba, exemplifica a ideia, citando o que acontece geralmente com ele mesmo. “Postei um story, aqui do evento mesmo, dizendo que estava em Congonhas e diversos amigos perguntaram se eu estava em São Paulo. Então é preciso divulgar mais a localização de Congonhas e tornar a visita a cidade mais fácil, já que é um destino turístico que precisa ser conhecido. E nossa ideia pode ajudar neste processo. Esta necessidade se encaixa na proposta da Prefeitura que quer nos ajudar a alavancar ideias como esta, aqui mesmo no QG da Inovação”, diz.
Rebecka Pignataro já havia participado de dois eventos do gênero. “Por isso, eu já vim um pouco preparada, mas o Startup Weekend me surpreendeu mais. Aqui tivemos um compartilhamento de ideias, de experiências, foi um trabalhado em equipe. Agora queremos tocar o negócio. Com o envolvimento que o curso proporciona, criamos um grande vínculo entre os membros da equipe que nos permite levar este nosso projeto para o mercado”, assegura e completa: “Eu tomei conhecimento deste espaço através neste evento e ele está de portas abertas para quem quiser utilizá-lo”, testemunha.
Em 2º lugar, ficou a startup “Meu Sócio”, que pretende juntar programadores que não possuem ideia com pessoas que possuem ideias.
Em 3º, chegou a “Avalia Aí”, cuja proposta é a avaliação das condições de carros usados para compra. Estas equipes estão pré-selecionadas pela Prefeitura de Congonhas para participarem de um programa de estímulos ao empreendedorismo e a inovação.
A menção honrosa ficou com a startup “Respire”.
Os oito projetos de startup ficarão expostos no QG da Inovação, à rua do Rosário, nº 220, no bairro Rosário, para inspirar novas equipes. As três primeiras classificadas estão pré-inscritas para o programa de aceleração de startups criado pela Prefeitura. Será aberto um edital para que empreendedores participem de uma experiência como esta, só que com duração de 8 meses, para que startups saiam do QG da Inovação já em operação e gerando dinheiro. Ao final desta jornada, haverá prêmio para os vencedores.
O evento também surgiu de uma ideia
Após participarem do Startup Weekend Circuito do Ouro, em Mariana, os empreendedores Geordane, Túlio e Kleider decidiram trazer para Congonhas uma edição com apoio do poder público e da iniciativa privada.
Para Geordane Silva, proprietário da Brigadeiros Gourmet, a metodologia que leva em conta a dor do cliente como parte do processo para se conseguir entregar a ele a solução é eficaz. “Tirei muito proveito dela na minha empresa, depois que voltei do evento de Mariana. Estes 64 participantes do Startup Weekend Congonhas, mesmo os que não vão se tornar empreendedores, treinaram estimular a criatividade, o trabalho em equipe e a capacidade de resolver problemas, o que é necessário sempre que há contato humano. Desta vez, as equipes trouxeram problemas que seus membros viveram. O bacana vai ser quando eles ficarem tão experientes na relação com esta ferramenta que o olhar para qualquer acontecimento apontará uma oportunidade. Nos próximos 5 anos, vão acontecer coisas que a gente ainda não tem ideia, é tudo exponencial, não temos controle sobre isso. Ou nos inserimos no ecossistema inovador, ou vamos ficar para trás. O que a cidade ganha com este evento e este movimento primeiro é este start, porque é o indivíduo que faz a coisa girar. A Prefeitura não vende nada, o Estado também não, eles só fomentam, ajudam como aconteceu desta vez. No CLA, evento para lideranças empreendedoras, os outros participantes ficaram surpresos quando contei a eles que em Congonhas a Prefeitura coordena um ecossistema de inovação e abriu um espaço para o desenvolvimento de negócios inovadores. Noutros lugares, o poder público entra só para foto”, brinca.
Outro realizador do evento e sócio da Tree Vantagens, primeira startup de Congonhas, Túlio Lima Niquine Avelar Silva afirma que a premissa da startup é identificar um problema e resolvê-lo de forma pouco onerosa e até gratuita. “Eu observei que o acesso ao plano de saúde é oneroso. Quando possuía outra empresa, não tinha condições de bancá-lo para meus colaboradores. Sempre que minha filha ficava doente, eu a levada a um pediatra particular. Então participamos do Startup Weekend Mariana, inicialmente nossa ideia não foi aprovada. Mas com a metodologia que aprendemos lá, desenvolvemos o modelo de negócio em Congonhas e, após 8 meses, a empresa foi aberta. Faz um mês e meio do lançamento dela, o processo não foi tão rápido, mas já temos bastantes usuários, mais parceiros da área de saúde e bem estar estão nos procurando, e para estes últimos não há custo. Financeiramente, levando em conta o pouco tempo, estamos bem”, testemunha.
Túlio diz que um dos motivos de terem trazido o evento para Congonhas foi acreditar que “a mineração, o concurso público e a faculdade, que não são dispensáveis, também não são as únicas formas de levar alguém para o mercado com integridade. No mundo inteiro o mercado que mais cresce é o das startups, pelo potencial de expansão e a forma de monetização que utiliza. Elas trazem benefício para a população. A que criamos em Congonhas, se obtiver sucesso aqui, poderá fazer bem para gente no Amapá, Santa Catarina e em diversos lugares”, projeta.
A visão do mentor
Um dos mentores do Startup Weekend Congonhas foi Vinny Machado, especialista em inovação e treinamentos corporativos, e que, além de idealizador, continua atuando como Embaixador e Curador do Startups & Makers da Campus Party Brasil.
Após ser mentor em 19 Startups Weekend, o que mais o surpreendeu nesta edição foi ouvir jovens dispostos a seguirem como voluntários neste movimento de inovação e empreendedorismo. “Não é tão normal as pessoas quererem se engajar e ajudarem a comunidade. Se você conseguir canalizar esta força com a da iniciativa privada e a Prefeitura, é possível trabalhar na solução de muitos problemas. É possível aqui criar soluções para a gastronomia, turismo, mobilidade urbana, para a mineração, ganhando dinheiro e mudando a vida de muita gente. Os 64 participantes desta edição mostraram muita energia. Foi incrível perceber como estão abertos à mudança, porque se muda muito da ideia até se chegar ao projeto final em uma atividade como esta, as pessoas estavam competindo contra os valores e crenças limitantes, e não contra outras pessoas. O mais interessante foi a quantidade de gente sugerindo ideias. E quando a gente batia, eles assimilavam e agradeciam. Aqui o mais importante foram as equipes, e não as ideias. O espírito de colaboração que vi aqui foi um dos melhores de todos os eventos em que já fui, de verdade”, avaliou.
Vinny ficou surpreso também com a preparação que Congonhas já apresenta para seguir firme neste movimento de inovação e tecnologia. “A cidade já tem o QG da Inovação, o que é raro no Brasil, principalmente porque foi criado pelo Município. Aqui há a mistura do governo, por meio da Prefeitura e do SEBRAE, das faculdades e da iniciativa privada. Essa conversa tríplice precisa continuar. As pessoas devem vir para o QG da Inovação para, juntas, construírem o que elas desejam para a Congonhas do futuro. Este movimento foi impulsionado pelo Startup Weekend, cujo barato não foi ensinar a criar grandes empresas ou a ter grandes ideias, e sim alimentar essa fagulha para que ela vire uma bela labareda de inovação e empreendedorismo. Quando a gente tem soluções a encontrar para a mineração e para a cidade história com seus usos e costumes específicos e para o turismo é porque há também oportunidades gigantescas a serem exploradas. Eu vi aqui que a área gastronômica tem bastante potencial para se desenvolver, como o turismo de negócios. Fiquei sabendo de grandes eventos: Jubileu, o Festival da Quitanda, o Circuito Gastronômico de Sabores, entre outros. A rede hoteleira começa a se estruturar, a cidade tem boa conectividade, está perto da capital do Estado. Por isso, é preciso utilizar os mecanismos da inovação, negócios digitais e aplicativos para tirar proveito destes atrativos. É preciso agora introduzir no QG da Inovação um hub digital para conectar Congonhas e cidades ao redor, a fim de que mais negócios sejam desenvolvidos, mais empreendedores sejam ajudados e mais valor seja criado, porque quanto mais pessoas arriscam, mais a economia é movimentada, gerando emprego e atraindo mais inovação”, sugere.
Vinny cita uma experiência exitosa do Sul de Minas, de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí, que utilizaram o agronegócio e as universidades para inovarem. Aquela região do Estado é conhecida, atualmente, como o Vale da Eletrônica e produz equipamentos eletrônicos e até helicópteros.
Os outros mentores do Startup Weekend Congonhas foram Renata Veloso, professora no IFMG Campus Congonhas, Rodrigo Robles, Head de design UI/UX, Thaissa Mendes, agrônoma na Rizoflora Biotecnologia, e Kelson Douglas, com passagem como designer e responsável pelo planejamento em algumas das maiores agências de Minas, já tendo atendido marcas como Petrobrás, AMBEV, IVECO, Ministério do turismo e Caixa Econômica Federal. Nesse tempo ele conquistou prêmios como o Prêmio Octo, o primeiro lugar do CSS design Awards e até o de melhor designer digital do Behance Portfolio Reviews 2013.
Impulso à política de incentivo a inovação e tecnologia
Procurando diversificar sua economia, Congonhas está realmente investindo na busca da inovação tecnológica. Por isso, a Prefeitura criou recentemente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Tecnologia, que desenvolve uma política pública que visa a transformar Congonhas em um dos principais vales de inovação de Minas.
De acordo com o diretor de Inovação, Tecnologia e Novos Negócios da Prefeitura, Eduardo Marçal, Eduardo Marçal, o Startup Weekend Congonhas “foi um pré-lançamento do QG da Inovação e extrapolou toda a expectativa que se poderia ter. Nossa Diretoria iniciou suas atividades em fevereiro de 2018 e agora já recepcionamos um evento desta envergadura. A organização colocou limite de 60 inscrições e teve de abrir para mais algumas pessoas. Muitas cidades estão tentando provocar esse ambiente, e não conseguiram recepcionar um evento tão extravagante como vimos aqui neste final de semana. E este setup de discussão empreendedora, mais ligada a essa metodologia, comentada pelo Geordane [um dos realizadores do evento], com foco na dor do cliente ou da sociedade e na solução pode contribuir muito. Quem trabalha com eventos desta natureza, como o Startup Weekend, espera que saiam bons negócios deles. Nós, da Prefeitura, temos a expectativa que, além disso, esse encontro impulsione nossa política de inovação, tecnologia, novos negócios, ciência, pesquisa e parceria com a universidade. O público participantes da edição de Congonhas, formado basicamente de universitários e outras pessoas mais experientes, como a atriz Regina Baia, serviu para validar o evento e desperta para a necessidade de atrairmos outros eventos que nos ensinem a encontrarmos soluções. Este primeiro grande encontro no QG da Inovação foi um impulso de uma turbina do foguete para acelerar novos negócios no meio acadêmico, entre empreendedores até mesmo os tradicionais da cidade, de forma que tenham uma pegada nova, utilizando ferramentas novas. O Startup Weekend conseguiu fazer mais em um final de semana do que vínhamos produzindo em um ano. Foi um evento muito prático. Teve equipe que conseguiu criar e vender seu produto em um final de semana, aprendeu a lidar com o cliente e como validar o negócio em escala, que é a ideia central da startup”.
Como o público inicial é, em sua maioria, formado por universitários, surgiu, durante o evento deste final de semana, a ideia de a Prefeitura criar um programa continuado que ofereça bolsas a estes, para que dirijam projetos prioridade da própria prefeitura, como a colocação do ecossistema de inovação no ranking das Cidades Inteligentes do Brasil, as Smarts Cities, da Connected e Urban Sistems. Serão desenvolvidas as 12 verticais e, para cada uma delas, será gerada uma nova equipe. Deste processo, poderão sair startups no meio acadêmico com o apoio de professores do próprio campus. A Prefeitura já mantém parceria com a UFJS Campus Alto Paraopeba e o IFMG Campus Congonhas. “Seremos um ambiente singular na região, de desenvolvimento de projetos de pesquisa, focado em negócios e novos projetos para a própria Prefeitura. Outros exemplos de necessidade de novos avanços no nosso Município são a mobilidade, conectitivade, meio ambiente, segurança, saúde, educação. Mas este ambiente beneficiará ainda a indústria e novas oportunidade de negócios”, finaliza Marçal.