Projeções indicam que pandemia continuará impactando o país, mesmo que em ritmo mais ameno, pelo menos até o início de 2021
Estamos no mês de agosto e já nos aproximamos dos seis meses desde o registro da primeira pessoa infectada pelo novo coronavírus no Brasil. Em cerca de 180 dias houve uma média 18,5 mil casos diários e a pandemia se espalhou por todo o território nacional. Em decorrência da nossa grande diversidade geográfica, social e cultural, o controle e o monitoramento da covid-19 têm sido bastante complexos. O Brasil apresenta diversos ritmos do surto pandêmico, afetando amplos segmentos da sociedade e, em maior ou menor intensidade, as distintas regiões do país.
No dia 17 de agosto se completa cinco meses desde a primeira morte pela covid-19 no Brasil. No período de 150 dias houve uma média diária de 705 óbitos. Os números mais elevados ocorreram na 30ª Semana Epidemiológica (SE), de 19 a 25 de julho. No mês de agosto o ritmo da pandemia diminuiu um pouco, embora ainda esteja em um patamar alto. A população brasileira está cansada e a sociedade está fragilizada, porém, as projeções indicam que a pandemia continuará impactando a morbimortalidade do país, mesmo que em ritmo mais ameno, pelo menos até o início de 2021.
O panorama nacional
Os dados oficiais registraram 3.317.096 pessoas infectadas e 107.232 vidas perdidas no dia 15 de agosto, com uma taxa de letalidade de 3,2%. Foram 41.576 novos casos e 709 óbitos em 24 horas. O general de divisão do Exército Brasileiro, Eduardo Pazuello, Ministro interino da Saúde desde o dia 15 de maio, contabilizou nos 93 dias de sua interinidade 3,1 milhões de casos e 93,2 mil mortes, com uma média diária de 33,5 mil casos e 1.003 mortes.
O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de casos no território nacional entre 01/03 a 15/08 e a média móvel de 7 dias. Nota-se que o número de pessoas infectadas cresceu continuamente até a 30ª semana epidemiológica (SE), de 19 a 25 de julho.
O cume da variação diária ocorreu no dia 29 de julho, com 69.074 novos casos e a maior média diária de todas as semanas epidemiológicas. O valor máximo da média móvel dos casos foi também no dia 29/07 (com 46.393 casos) e a boa notícia que a média móvel começou a cair a partir de então e ficou em 43,5 mil casos no dia 15/08. Pode ser que o pico já tenha passado, mas o número de pessoas infectadas continua alto e em um limiar muito elevado.
O gráfico abaixo mostra a variação média diária do número de casos no Brasil nas diversas semanas epidemiológicas (SE). Nota-se que o número de pessoas infectadas passou da média de 397 casos na 13ª SE (variação relativa de 19,4% ao dia), para 37.620 pessoas na 27ª SE (2,6% ao dia), um aumento de quase 100 vezes. Houve uma queda nas duas semanas seguintes e um grande salto para 45.665 casos na média diária da 30ª SE. Nas três semanas seguintes os números diários foram menores. Como sempre fazemos todos os domingos, apresentamos uma projeção para a 34ª SE (16 a 22/08), com estimativa de 43.051 casos diários no Brasil, com aumento relativo de 1,25% ao dia.
O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de óbitos no território nacional entre 17/03 a 15/08 e a média móvel de 7 dias. Nota-se que o número de vítimas fatais cresceu rapidamente até o final de maio e nas 11 semanas seguintes tem oscilado em torno de 1 mil mortes por dia. O cume da variação diária ocorreu no dia 29 de julho, com 1.595 óbitos em 24 horas. Mas neste dia a média móvel indicava um valor de 1.052 óbitos, sendo que o pico da média móvel foi de 1.097 óbitos no dia 25 de julho. A 30ª SE (19 a 25/07) foi a mais letal de todo o período. Nas duas últimas semanas o número médio diário de mortes ficou pouco abaixo de 1.000 óbitos.
O gráfico abaixo mostra que o número de vítimas fatais foi de 13 óbitos ao dia na 13ª SE (variação relativa de 29,7% ao dia), passou para 387 óbitos diários na 18ª SE e chegou a 976 óbitos diários na 22ª SE (24-30/05). Nas semanas seguintes o número diário oscilou em torno de 1.000 óbitos e bateu o recorde de 1.097 óbitos na 30ª SE. Seguindo a tendência de queda das últimas 3 semanas, nossa projeção indica que deve haver uma leve queda para o nível de uma média de 958 mortes diárias na 34ª SE (16 a 22/08), com variação relativa de 0,87% ao dia.
O panorama global
O dia 15 de agosto registrou a marca de 21,6 milhões pessoas infectadas e de 668,2 mil mortes, com uma taxa de letalidade de 3,6% no mundo. Foram 259 mil casos e 5,4 mil óbitos em 24 horas.
No gráfico abaixo, a curva do número de casos parecia indicar uma reversão em meados de abril, começando a esboçar um declínio. Porém, manteve a tendência de alta e acelerou a subida, com um recorde impressionante de quase 300 mil casos em 24 horas nos últimos dois dias de julho. A curva de mortalidade apresentou uma variação máxima diária em 16 de abril com 10,5 mil óbitos. A partir deste dia houve queda até o valor mínimo no dia 25 de maio. Porém, a variação diária voltou a subir e atingiu valores acima de 7.000 óbitos nos dias 06 e 13 de agosto. A pandemia continua avançando no mundo e o ajuste polinomial indica a continuidade do aumento da morbimortalidade na próxima semana.
A pandemia já atingiu mais de 210 países e territórios. No dia 10 de março, havia somente dois países com mais de 10 mil casos confirmados de Covid-19 (a China e a Itália) e havia 5 países com valores entre 1 mil e 10 mil casos (Irã, Coreia do Sul, França, Espanha, Alemanha e EUA). No dia 01 de abril já havia 50 países com mais de 1 mil casos, sendo 36 países com números entre 1 mil e 10 mil casos, 11 países com números entre 10 mil e 100 mil e 3 países com mais de 100 mil casos. Estes números aumentaram nos meses seguintes e no dia 15 de agosto já havia 153 países com mais de 1 mil casos sendo 70 entre 1 mil e 10 mil casos, 56 países entre 10 e 100 mil casos e 27 países com mais de 100 mil casos. Com mais de 1 milhão de casos apenas EUA, Brasil e Índia.
O avanço da pandemia nos países emergentes e no grupo BRICS
Os EUA são o grande destaque da pandemia tanto em número de casos, quanto em número de mortes. Mas logo em seguida vem uma série de países emergentes, pois a Europa e os países de alta renda já conseguiram controlar os impactos do Sars-CoV-2. A América Latina e Caribe que possuem 8,4% da população mundial respondem por 45% das mortes globais.
Mas depois dos EUA os 4 países que se destacam em número de casos são o Brasil, a Índia, a Rússia e a África do Sul. Estes 4 países mais a China (epicentro original da pandemia) fazem parte do grupo BRICS. No dia 15/08 os EUA registraram 5,5 milhões de casos, o Brasil 3,3 milhões, a Índia 2,6 milhões, a Rússia 917 mil, a África do Sul 584 mil e a China 85 mil casos, conforme pode ser visto no gráfico abaixo (em escala logarítmica).
Os EUA respondem por 26% do total de casos globais e o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) responde por 35% dos casos globais. Portanto, os 6 países respondem por 61% de todos os casos mundiais, sendo que a China (país mais populoso do mundo) responde por 0,4% dos casos e está na 33ª posição no ranking internacional.
Em relação às vítimas fatais, no dia 15/08 os EUA registraram 173 mil óbitos, o Brasil 107 mil óbitos, a Índia 50 mil óbitos, a Rússia 15,7 mil, a África do Sul 11,7 mil óbitos e a China 4,6 mil óbitos, conforme pode ser visto no gráfico abaixo. Os EUA respondem por 23% do total de vidas perdidas e o grupo BRICS responde por 25% dos óbitos globais. Portanto, os 6 países respondem por quase 50% do total de vítimas fatais do mundo, como pode ser visto no gráfico abaixo.
Os dados globais mostram que a pandemia continua avançando e que o pico do número diário de casos ainda não foi alcançado no mundo. Houve um pico do número diário de mortes em abril e, atualmente, o número diário de óbitos está em alto patamar, mas abaixo do pico anterior.
No Brasil o número diário de pessoas infectadas e de óbitos cresceu até o final de julho e apresenta uma leve tendência de queda no mês de agosto. Pode ser que o país já tenha começado a descida da curva epidemiológica. Porém, é preciso ter cuidado, pois com a maior flexibilização das atividades econômicas e sociais uma segunda onda pode surgir pela frente, como já aconteceu em vários outros países do mundo. É preciso estar atento e ser firme na adoção de medidas preventivas para eliminar a curva e não permitir o surgimento de uma segunda onda. (Projeto Colabora)