30 de abril de 2024 17:04

Boa Morte, Belo Vale: Torre sinal de celular é instalada em sítio inventariado

Uma torre de antena de sinal de celular com 40 metros de altura foi instalada no Sítio do Cruzeiro, patrimônio histórico e cultural do final do século XIX, bem integrado e inventariado pela Secretaria Municipal de Cultura de Belo Vale. O Sítio se encontra no Passo da Fonte, em Boa Morte, povoado com trajetória de 300 anos de história na formação e identidade do Vale do Médio Paraopeba. A execução da torre foi feita pela Tera Telecomunicações Ltda, de Alpinópilis, MG, através de concorrência PRC no. 080/2020 e contrato 066/2020 firmado com a Prefeitura de Belo Vale, para instalação de outras quatro torres, na zona rural.

O Inventário de Proteção de Acervo Cultural do bem integrado Cruzeiro, elaborado em 2013, conforme o Plano de Inventário do Município de Belo Vale, instituído e aprovado, em 2008, foi coordenado pelo arquiteto Fernando Pimenta Marques. A instalação da torre da Boa Morte, não foi pauta de discussão do Conselho Municipal de Cultura, nem mesmo da Associação Comunitária da Boa Morte (ACBM).  A torre foi levantada atrás do Cruzeiro. – Com 6,40 metros de altura, trabalhado em braúna, está locado em um platô de 20 metros quadrados, delimitado por muro de arrimo de pedras secas e escada de três degraus em pedra empilhada. O sítio data-se do século XIX, e estaria ligado às manifestações religiosas da Capela da Boa Morte; descreve a historiadora Rute Costa. O Cruzeiro original foi erguido junto à formação do Sítio, por missionários, e substituído pelo mal estado de conservação. O atual, terceiro no mesmo local, foi erguido pela comunidade há mais de 21 anos.

APHAA-BV: Faltou diálogo para a locação da torre

A Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (APHAA-BV), integrante do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Natural de Belo Vale, considerou em reunião ordinária, online, de 16/12/2020, que não houve diálogos com instituições e comunidade da Boa Morte. Apontou falta de comunicação entre as secretarias municipais de Obras, Cultura e Meio Ambiente, no tocante à locação da torre erguida numa região privilegiada: um mirante que proporciona vistas da Praça e da serra da Boa Morte. A Entidade trabalha um documento, para entrega a órgãos públicos locais. 

Linha de Transmissão: fato semelhante em 2014

Em 2014, houve ampla discussão da Associação Comunitária da Boa Morte (ACBM), inclusive, com Audiência Pública que reivindicou uma reavaliação do traçado da Linha de Transmissão (LT) de 500 KV- Estreito Itabirito 2. O debate considerava normas da Fundação Palmares (MINC), para proteção dos habitantes do povoado, certificado como Comunidade Remanescente de Quilombola. Naquele momento, a ACBM não permitiu que a LT passasse em território boa-mortense. Acionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), através de Inquérito Civil, para averiguar se houve irregularidades no processo de licenciamento ambiental, feito pela Superintendência Regional de Regularização Ambiental (SUPRAM). O projeto do Ministério de Minas e Energia (MME) teve como concessionária e empresa espanhola ‘Abengoa’.

Os diretores da APHHA-BV consideram que a instalação da torre, deveria seguir o mesmo nível dos debates ocorridos para a Linha de Transmissão. Algumas pessoas da comunidade foram questionadas: uns com receio de tocar no assunto; outros, surpresos por não se discutir a questão local.  A APHAA-BV entende que a instalação de uma torre em Boa Morte é essencial: favorece a comunicação dos nativos, visitantes e empresas da região. A entidade pedirá a realocação do equipamento com estudo de viabilidade. A geografia do povoado oferece pontos altos que atenderiam ao projeto, evitando, que a instalasse no sitio inventariado no núcleo urbano, com possíveis riscos à saúde dos habitantes, pela radiação do sistema dos sinais. Consultada via e-mail, sobre a posição da secretaria Municipal de Obras, a Chefia de Gabinete da Prefeitura não retornou dentro do prazo solicitado. A reportagem não fez contato com a Tera Telecomunicações Ltda.

Texto e fotos: Tarcísio Martins, Jornalista e ambientalista  

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