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Ex-aluna da UFSJ que estuda novos tratamentos para o câncer é premiada nos EUA

Cientista premiada em Harvard é egressa da UFSJ

A pesquisadora Amanda Ouchida, ex-aluna da UFSJ, reside atualmente nos Estados Unidos, onde participa de pesquisa de novos medicamentos para o tratamento do câncer, pela qual recebeu menção honrosa da Universidade de Harvard. 

De Cláudio (MG), onde nasceu e cresceu, foi estudar Bioquímica na UFSJ, fazendo parte da orgulhosa primeira turma do Campus Dona Lindu. “Sem os professores que eu tive, e sem o que eu aprendi na UFSJ, eu não teria chegado até aqui”, faz questão de afirmar, logo no início desta conversa. Graduada, Amanda foi direto para o doutorado, na mesma área, cursado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), com período sanduíche na Harvard Medical School, em Boston, Massachusetts. Partiu para o pós-doutoramento em Biologia do Câncer no Karolinska Institutet (Suécia), voltando para os Estados Unidos, a fim de cursar o segundo pós-doutorado, no Albert Einstein College of Medicine (Nova York). Atualmente, Amanda é cientista no Broad Institute of MIT and Harvard.

“Fazer parte do avanço da Ciência em tempo real é muito gratificante”

Identificar novos alvos e fármacos para o tratamento do câncer é o principal foco da pesquisa em estágio pré-clínico de que Amanda participa. Difere de outros estudos já existentes, pois possibilita fazer a conexão entre as informações e testar as drogas para vários tipos de câncer ao mesmo tempo. “Por enquanto, estamos pesquisando o fármaco que combate a causa da doença. A plataforma que utilizamos nos permite testar mais de 100 mil fármacos em 750 diferentes tipos de câncer ao mesmo tempo, culminando no aceleramento dos estágios iniciais do desenvolvimento de fármacos. Ainda é preciso validar e fazer vários testes. Do estágio atual da pesquisa, até chegar ao paciente, são cerca de 10 anos,” conta a pesquisadora.

Os tratamentos atuais para o câncer nos Estados Unidos, segundo Amanda, já estão mais personalizados, e combinam as drogas que existem com análise individualizada do paciente e uso de quimioterápicos, que geralmente causam muitos efeitos colaterais. “Nossa  tentativa é diminuir e prolongar a vida do paciente com mais qualidade”, explica.

Da UFSJ para Harvard

Amanda começou a graduação em 2008 e defendeu seu TCC em 2011. “Como primeira turma, passamos por vários desafios durante nosso tempo na UFSJ, que foram desde a reestruturação da grade curricular ao melhoramento da infraestrutura do Campus. Devemos sempre lembrar que crescemos e nos desenvolvemos juntos, o que não impediu que tivéssemos um ensino de qualidade.” Foram os ensinamentos e exemplos dos professores que a motivaram a fazer pós-graduação. “Fazer o curso de Bioquímica na UFSJ me proporcionou o conhecimento básico, assim como me forneceu as ferramentas necessárias para que eu crescesse e me desenvolvesse como cientista”, avalia.

Durante o pós-doutorado, Amanda percebeu que gostaria de ver o conhecimento que produzia na bancada chegar até quem realmente precisa. “Eu queria ter um impacto positivo na vida de tantos pacientes que sofrem com câncer. Assim, comecei meu segundo pós-doutorado com um enfoque mais clínico. Foi um período de bastante aprendizado, no qual pude não só rever conceitos que aprendi na minha graduação, como também entender como nós, bioquímicos, somos essenciais no processo de descobrimento de novos fármacos”, complementa. 

Cientista e mulher

Esse desejo pela Ciência vem da sua prevalente curiosidade e do querer saber como as coisas funcionam, características marcantes entre cientistas. Apesar de a profissão não ser muito difundida no Brasil, Amanda sempre acreditou que a Ciência é capaz de mudar não só o mundo em que vivemos, mas também a vida daqueles que a vivenciam. Seus estudos a ajudaram muito na percepção de mundo e no entendimento de quem ela é hoje, e do que pode fazer para melhorar o mundo em que vivemos. “Além disso, minha mãe e meu padrasto sempre me incentivaram a estudar. A vontade de mostrar a eles que seus esforços não foram em vão me motivou para que eu continuasse me aperfeiçoando na carreira científica”, afirma a pesquisadora.

Sabe-se que o ambiente científico ainda é dominado pelos homens, e Amanda confirma: não é nada fácil ser uma cientista, mulher, latina, nos Estados Unidos. “Dificilmente vemos mulheres em cargos de liderança por aqui. Se já é difícil para as mulheres cientistas americanas, imagine para nós, latinas, que tentamos conquistar nosso espaço. Devemos ser fortes e nos unir. Infelizmente, a todo momento temos que provar que somos competentes e independentes. Nossa ciência é de qualidade e independe de sexo, raça ou orientação sexual”, relata a cientista. Mas, ainda sim, os Estados Unidos são um país que fomenta a Ciência e entende que sem ela não há progresso. Por isso, Amanda consegue desenvolver sua função e segue apaixonada pela Ciência, mesmo diante das dificuldades na progressão de carreira para as mulheres latinas cientistas no país. 

Premiação

O Prêmio ScientistA foi promovido pela Dimension Sciences e pelo grupo Mulheres do Brasil do Vale do Silício, para premiar e homenagear mulheres brasileiras que fazem Ciência nos Estados Unidos. O comitê científico avaliou 54 aplicações. Amanda ficou entre as sete finalistas e recebeu menção honrosa pelo trabalho desenvolvido no Broad Institute. “Esse prêmio representa muito para mim! Mostrou que estou no caminho certo e que, apesar da trajetória não ter sido fácil, meu esforço foi reconhecido. E também vem exaltar nós, mulheres latinas que fazemos Ciência nos Estados Unidos da América, assim como é um incentivo para jovens cientistas brasileiras que querem seguir essa carreira. O ScientistA veio mostrar que tudo isso é possível”, comemora.

Ciência e Educação

A jovem cientista Amanda Ouchida nos deixa uma importante mensagem para estes tempos sombrios, no qual o mundo se encontra adoecido pela pandemia da covid-19: “Devemos nos unir por um ideal comum: a Educação. Todos nós temos o direito de recebê-la. Acredito que todos devemos ser um pouco cientistas. Ser curiosos e verificar as tantas informações (incorretas) que são disseminadas no nosso país. Em tempos de fake news, qualquer informação recebida deve ser avaliada e confirmada por fontes adequadas e confiáveis. A pandemia veio reforçar que o investimento em ciência e tecnologia é muito importante! Só a Educação vai fazer com que nosso país avance.”

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