Confesso que o ano de 2020 foi um ano que não consegui ficar próximo da leitura, não lendo mais do que uns 3 ou 4 livros, mas ao ter em mãos um kindle, aquele leitor de livros digitais, a coisa mudou de figura. Já estou terminando meu terceiro livro. Li a biografia do jornalista Samuel Wainer e sua autobiografia (“Samuel Wainer: O Homem Que Estava Lá” e “Minha Razão de Viver”) e estou encarando “Getúlio Vargas, Meu Pai”, de Alzira Vargas. A seguir já entabulado a biografia Whalter Moreira Sales, de Luiz Nassif. Todos no formato digital. É muito mais prático, na minha opinião, pelo formato e fiquei livre do peso de manusear um pesado livro, recostado. É bom lembrar que autobiografias são passíveis de críticas, pois é óbvio que o autobiografado vai selecionar o que vai escrever, filtrando passagens que não lhe agrada, assim temos que ler esse tipo de leitura com uma certa reserva. Mas costumam ser interessantes também. Assim como biografias leituras sobre a história do Brasil fazem parte de minha predileção. Recomendo ainda a leitura das biografias de Garrincha (Ruy Castro), Barão de Mauá (Jorge Caldeira), Assis Chateaubriand (Fernando Morais), Roberto Carlos (Paulo Cesar de Araújo), Getúlio Vargas (3 volumes, escrito por Lira Neto), dentre várias outras. Os relatos das vidas principalmente dos políticos e dos poderosos (os jornalistas Assis Chateaubriand e Samuel Wainer são exemplos de pessoas que tiveram muito poder em suas mãos e são praticamente esquecidos hoje) são fantásticas porque nos mostra também o poder e a política da época. E ainda, nessas leituras a gente vê como que os vícios e a maneira de fazer uma mal política são, muitas vezes, os mesmos. Ou seja, na verdade nos últimos cem anos pouca coisa mudou na essência da condução da vida pública brasileira. Por exemplo, alguns políticos, para angariar fama e publicidade (e depois votos), desde séculos atrás, se vestem como se fossem os seres humanos mais capacitados a combater a corrupção, sendo que na verdade a única maneira de acabar com a corrupção é aplicar a lei, fazer justiça funcionar. Nenhuma pessoa sem se valer da Justiça, vai “acabar” com a corrupção. Ou sejam, se existe corrupção é porque alguém acredita que não será pego pelos braços da lei e por má formação de caráter vai fazer algum delito, visando obviamente o enriquecimento ilícito. Alguns se acham acima da lei, até por acreditar que tem amizades e interesses com gente poderosa. Outra tecla ainda fartamente utilizada é a famosa ameaça da implantação no Brasil do regime comunista. Nos idos de 1935 a Intentona Comunista foi mais do que um movimento, foi uma série de boatos direcionados a derrubar o governo e ainda por cima podemos dizer que ajudou a criar o clima que desembocou na implantação do Estado Novo, a famosa Ditadura Vargas, em novembro de 1937. Ora, acreditar que o povo brasileiro, mestiço e misturado, morador de uma grande cidade, no centro ou nas periferias, na mansão ou na favela, ou o morador de uma cidade de menor porte ou ainda mesmo na zona rural desse imenso e diversificado país, vai ser ideologizado a tal ponto e aceitar de bom grado uma forma de governo tão centralizada e distante, tirando dele seu barraco, seu iate, mansão, moto ou o seu corcel 73, é realmente acreditar em fantasmas. Qual congresso no mundo aprovaria leis tão draconianas? Qual democracia aceitaria isso? Em pleno século XXI? Não creio…