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Hoje é dia das Violas de Queluz: o maior símbolo cultural e da identidade permanece vivo na história de Lafaiete

Hoje (29), comemora-se o Dia Municipal da Viola. A história mais famosa das Violas de Queluz remonta há exatos 142 anos que Dom Pedro II pernoitou em Lafaiete. O cenário histórico desta passagem foi entre as Praças Barão de Queluz e Tiradentes. Possivelmente o imperador passou pela cidade com sua comitiva em uma viagem administrativa para acompanhar a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB).
No caminho para Ouro Preto, onde seria inaugurado um ramal férreo, o então imperador Dom Pedro II e sua esposa Teresa Cristina fizeram uma parada em Queluz de Minas (hoje, Conselheiro Lafaiete), em 1881.

A comitiva que os recebeu quis impressionar. Convidou dois dos mais celebrados violeiros da cidade, Luiz Dias de Souza e José de Souza Salgado, que prepararam para os convidados uma serenata memorável. E, para coroar a festa, separaram dois dos melhores instrumentos já produzidos pelos artesãos do município, sendo uma pertencente ao capitão Francisco Furtado, ex-tabelião do 1º ofício de Queluz, e outro de propriedade do Barão de Queluz, João Tavares Maciel da Costa.
Os anfitriões foram bem-sucedidos em seu objetivo. Tanto que Pedro II não deixou de registrar aquele encontro em seu diário de viagens e deu atenção especial às violas, descrevendo traços do instrumento com detalhes. “O imperador tinha o hábito de registrar todos os acontecimentos das suas passagens, e, quando ele escreveu sobre os violeiros, aproveitou para fazer algumas anotações sobre uma viola que era feita com ‘embutidos’ – termo usado por ele para se referir ao trabalho de marchetaria. Isso mostra como o instrumento despertou a curiosidade do imperador”, relata Max Rosa, que é músico, colecionador e luthier, especializado na produção de violões de corda de aço.
Anos depois, os dois instrumentos entraram para a história, e Rosa havia tomado conhecimento deles apenas por meio de livros. Até que em 2018, ele soube da localização de uma das peças, que estava com outro colecionador residente no Rio de Janeiro. “Ele não tinha nenhuma relação com a viola ou com a cultura de Minas Gerais. Estava com o instrumento porque o achou interessante, bonito, e cheguei até ele, me apresentei; ele conheceu o meu trabalho e reconheceu que aquela viola precisava voltar para Minas Gerais”, situa Rosa, que adquiriu a viola imperial e, em seguida, levou quase um ano para restaurá-la, deixando-a apta para ser tocada novamente.

Mais história

No seu pernoite, José de Souza Salgado tocou com uma viola do então Barão de Queluz, e, Luiz Dias de Souza com uma que pertenceu ao Sr. Francisco de Assis Bandeira, os acordes que encantaram o Imperador.
Salgado passou a fabricar violas para a Corte. Seu ofício – arte repassada ao longo de gerações – foi transmitido a seus descendentes, que até meados do século passado ainda construíam violas. A última viola fabricada pela família Salgado foi feita no ano de 1969.
Este é o contexto histórico no qual se remonta uma parte da história magnífica da antiga Queluz hoje Conselheiro Lafaiete. Segundo relatos, Em meados do século XIX a então cidade de Queluz tinha grande parte de sua economia movimentada através da produção das Violas de Queluz. Eram mais de 20 fabricantes. A cidade chegou a ser o epicentro em produção no Brasil, tanto que levou o nome de “Terra das Violas”.

A viola

Viola de Queluz é uma das variantes regionais da viola brasileira, especificamente produzida em oficinas da região de Queluz, entre o final do século XIX e início do século XX, tendo sido registrada como um patrimônio imaterial da cidade.
De fabricação artesanal, foram inspirada nas “violas toeiras”, de Portugal. As famílias de artesão, Meirelles e Salgado eram donas das oficinas mais famosas da região no final do século XIX e início do XX, se sobressaíram na confecção destas violas. Seus instrumentos eram vendidos principalmente por ocasião do jubileu que se realizava em Congonhas do Campo, ponto de convergência de fiéis das mais diversas procedências, atraídos pelos milagres do Senhor de Bom Jesus (que dá nome ao Santuário de Matosinhos em Congonhas, também conhecido pelas obras de Aleijadinho e Ataíde). A Viola de Queluz é uma das identidades culturais mais importantes de Conselheiro Lafaiete. “Neste dia 29 de novembro, nossos parabéns as famílias Salgados e Meirelles por ter nos dado de herança esta relíquia. Violeiros, seresteiros, cantadores e poetas do Brasil, saudai entre nós o limiar da erudição. Uma viola é uma vida, um pássaro a cantar, uma árvore a viver na eternidade”, diz o poeta e um dos editores do livro “Viola de Queluz – Família Souza Salgado”, de Valter Braga de Souza.

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