A cidade de Ouro Branco (MG) viveu uma forte crise política e social após a decisão da Prefeitura de cancelar um evento LGBTQIA+ que já havia sido aprovado pelo Conselho Municipal de Cultura, com recursos garantidos no valor de R$ 50 mil. A alegação do prefeito Sávio Fontes, de “falta de recursos”, foi recebida com indignação pela comunidade e por lideranças políticas e culturais. A base frágil já vem resistindo as medidas do gestor com diversos rumores de distensão.
A programação, marcada para o dia 28 de julho, seria realizada na Avenida Mariza de Souza Mendes, com atividades culturais, apresentações artísticas e ações de valorização da diversidade com shows. Para os organizadores, a atitude da Prefeitura é uma ação discriminatória e um ataque direto aos direitos humanos.

Na sessão da Câmara desta segunda-feira (9), os ativistas Fabrício Cardoso e João Faialo subiram à tribuna para denunciar o que classificaram como “discriminação institucional e censura cultural”, unindo oposição e situação em um discurso único, mostrando a fragilidade da decisão. “Isso não é apenas um evento, mas uma celebração cultural e afirmação de um movimento de nossa existência que é historicamente discriminado. Não vamos aceitar apenas justificativas de falta de recursos, já que os valores foram deliberados e garantidos no Conselho de Cultura”, declarou Fabrício Cardoso, citando que o evento chegou a ser publicado e divulgado pela prefeitura. “Entre diversos eventos programados, apenas o nosso foi suspenso. Que seja explicado se pode acontecer em outro dia”.


João Faialo criticou duramente a decisão e disse que o cancelamento é um retrocesso em uma cidade que se dizia aberta à diversidade. Ambos os ativistas foram apoiados por oito dos nove vereadores, que cobraram do Executivo a revisão imediata da decisão. Os dois representantes citaram a violência que passa a comunidade, a descriminação e exclusão latente em Ouro Branco, seja na saúde e no seio familiar.
Câmara reage e condena decisão do prefeito
“Foi um equivoco e já foi previsto o recurso. O Estado é laico”, considerou Nilma Aparecida (PT), argumentando que a festa não é uma parada gay de agressão moral, mas um evento cultural, afirmativo e de perfil inclusivo. “Essa luta é nossa”, manifestou Bruna D’Ângela (PV), citando que vai amanhã buscar informações e uma solução na reunião do Conselho de Cultura. “Não podemos mais aceitar uma cidade segregadora e discriminatória”, completou. “Somos seres humanos”, pontuou o Vereador Ivanildo Silva (Republicanos). “Não cabe ao Executivo se impor em uma decisão soberana do conselho de cultura. Isso não é uma questão política ou de bandeiras”, evocou Neymar Magalhães (Cidadania). Branca de Castilha (União) argumentou que se a decisão não for revista vai buscar meios legais para a realização do evento. “A questão foi política”, classificaram alguns vereadores.

O movimento ganhou força nas redes sociais, onde internautas acusam a Prefeitura de LGBTQIA+ e de usar justificativas técnicas para mascarar uma decisão política e preconceituosa. A Câmara Municipal agora pressiona por uma resposta oficial, e os organizadores do evento estudam medidas legais para garantir que o evento ocorra. Caso a Prefeitura mantenha o veto, novas mobilizações já estão sendo planejadas.
Ouro Branco virou palco de uma batalha simbólica que vai muito além da realização de um evento: está em jogo o respeito à cultura, à diversidade e à dignidade de toda uma comunidade.
