O roteiro é um filme de drama. Os personagens são 3 jovens que ao final se transformaram em réus. Os jovens nasceram em ruas próximas, cresceram e partilharam a infância, juventude e morreram juntos em uma tragédia que as famílias querem esquecer. Com paus e pedradas, 7 homens agrediram e espancaram Roney Aparecido, 27, David Felipe, 25, e Pedro Soares, 29. Era um sábado de aleluia, dia 26 de março do ano passado. Para as famílias o que ocorreu foi uma barbárie.
Um dia após o júri popular absorver os acusados pelos assassinatos, classificando como legítima defesa, os familiares falaram a nossa reportagem ainda abalados pelo resultado, já que os réus cumpririam a pena de 1 ano e 8 meses em regime aberto. Esta foi a decisão do Conselho de Sentença proferida ontem, dia 6, após mais de 12 horas de julgamento no Fórum de Lafaiete. Na defesa das 3 vítimas estava o promotor Carlúcio Fleurs Dias.
A revolta e a dor tomaram conta dos familiares e amigos. Na casa de David Felipe dos Santos, no Jardim do Sol, o clima mistura revolta, tristeza e desolação. Ele era o 6º filho do casal Cristina dos Santos e João Felipe. A casa onde moram é simples. Ele era ajudante de pedreiro e colaborava no sustento da casa. “Nosso filho entrou como vítima e saiu como réu no julgamento. Ele e os outros foram humilhados. Não se faz justiça com as próprias mãos”, reclama a irmã, Fernanda Cristina. Toda a família assistiu lado a lado o júri. “Foi muita maldade e crueldade para não dar em nada. De que adiantou todo este sofrimento? No julgamento, o advogado de defesa jogou o processo no chão e esnobou das vítimas”, relatou soluçando o pai de David. “Não é justo o que ocorreu”, pontuou a irmã Priscila Caetano.
Um amigo e vizinho de David, Charles Anselmo, contou que onde moram a revolta tomou conta da rua. “Não tem explicação o que ocorreu”, indignou-se. Daniel Caetano trabalha como menor aprendiz no próprio fórum onde ocorreu o júri de seu irmão David. Ele conhece os juízes, funcionárias e advogados. “Estou indignado com tudo e com a falta de respeito com as vítimas e seus familiares no júri. Somente Deus para nos ajudar nestes momentos. È muita atrocidade para nossas famílias aguentarem. Acredito que os jurados não levaram em conta a forma como foram agredidas as vítimas”, conta Daniel que se prepara assumir a missão de pastor evangélico.
Outros familiares
Da casa de Daniel, nossa reportagem se deslocou a menos de 70 metros e chegamos a residência da família da vítima Roney Aparecido Veríssimo.
Ele era pedreiro e, como seu colega David, ajudava no sustento da família. “Os 3 cresceram juntos, vieram juntos e trabalham juntos”, relata emocionada a mãe, Maria das Graças Macário, 57 anos. Roney era um dos 4 filhos dela. Desde quando ela chegou em casa após o júri conta que chora sem parar. “Entregamos tudo nas mãos de Deus. Agora somente a justiça divina já que humana prendeu nossos filhos e deixou os culpados soltos. Meu filho não volta mais e a revolta ficou”, disse. Evangélica, ela é resignada. “A justiça de Deus não falha. No júri eles desrespeitaram a memória de nossos filhos como de suas famílias”.
Outra família
Uns 800 metros separam as casas onde moravam David e Roney da residência do jovem operador de ponte, na Magnesita, a 3ª vítima, Pedro José da Silva, nos Moinhos. Na sala onde fomos recebidos pela sua mãe, Roseli Marques Soares, cuidadora de idosos, as fotos do filho estão espalhadas em porta retratos enfeitando a mesa e ilustrando diversos momentos de sua vida. Na parede um banner do filho.
Rosani é viúva e Pedro era filho único. Das 3 vítimas ele era o único casado e deixou uma filha de 13 anos, Amanda Eduarda. Ela foi ao júri. “Achei humilhantes aqueles momentos. Tratar um processo como lixo é tratar nossos filhos como lixo também, como ocorreu no júri. Meu filho não merecia o que ocorreu com a absolvição dos autores. Minha vida perdeu certo sentido e fiquei sem chão”, relatou Roseli já em prantos. “Durante o dia me pego em choro ao lembrar-me do Pedro. Que sociedade é essa”, questionou.
A pelada
Daniel, irmão de David, conta que a amizade e a vivência entre os jovens eram constantes, tanto que semanalmente eles jogavam futebol juntos em uma turma. Dias após dos assassinatos, os colegas se reuniram e rezaram antes de uma partida em memória aos colegas mortos de forma trágica. A tristeza era tanta que decidiram encerrar de vez a “pelada”.