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Calor em Minas: especialistas dão dicas para evitar problemas de saúde

Reforço na hidratação, alimentação equilibrada, cuidados com a pele e trato com a máscara em tempos de pandemia estão entre as orientações

A onda de calor que atinge Minas Gerais, que promete elevar a temperatura em até 45ºC em algumas regiões do estado, acende o alerta quanto aos cuidados com a saúde, sobretudo com crianças e idosos. O Estado de Minas ouviu especialistas de diversas áreas que deram orientações de como prevenir problemas durante o tempo seco, principalmente em tempos de pandemia da COVID-19, em que se faz necessário o uso de máscara.
Tudo começa pelo cuidado com a pele, já que fica em evidência no que diz respeito à exposição aos raios solares. Os danos podem ser bastante agressivos, podendo causar queimaduras, reações alérgicas, prejuízos ao metabolismo celular, além de câncer de pele. De acordo com o dermatologista Lucas Miranda, a luz solar é a principal causadora do efeito envelhecido da pele – em maior escala do que o envelhecimento normal. O principal método para se proteger, além de ficar na sombra, é utilizar o protetor solar, reaplicando o produto a cada três horas.

“Por vivermos numa região de alta exposição solar, a maioria das pessoas acaba se expondo ao sol por um período longo mesmo sem perceber, durante o deslocamento do dia a dia, ou mesmo dentro de ambientes com janelas, por exemplo. Inclusive na faixa de horário menos aconselhável, que é de 10h às 16h, e sem adotar medidas simples de proteção, como o filtro solar e proteção física. Mesmo os que usam filtro solar, em geral, não têm o hábito de reaplicar a cada 3 horas e acabam se esquecendo de regiões importantes, como as mãos, nuca ou orelhas”, disse o especialista.
O calor também pede reforço na atenção à hidratação. Por isso, além de ingerir água, sucos naturais e chás, por exemplo, é recomendável se alimentar de produtos in natura, como frutas e legumes. Refrigerantes e sucos industrializados, por terem adoçantes ou açúcares, não podem ser consideradas fontes adequadas para hidratação.

“Levando em consideração a importância da individualização do planejamento alimentar, vale ressaltar que qualquer prescrição alimentar e/ou hídrica deve ser realizada por um nutricionista. Entretanto, como orientação geral podemos considerar que  um indivíduo adulto deve ingerir em torno de 35 ml de líquidos a cada quilo de peso que possuir.

Essa regrinha de bolso é diferente para os idosos. No envelhecimento a recomendação seria entre 25 e 30 ml de líquidos a cada quilo de peso”, afirma Nathalia Sernizon Guimarães, nutricionista e residente de pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
Quando o assunto é calor, muitas pessoas pensam logo em uma cerveja gelada. Para esses, um aviso: a dica é ingerir bebidas alcoólicas de maneira leve ou moderada, uma vez que, em excesso, pode resultar em desidratação.
“A recomendação é fazer uso leve/moderado e, se possível, evitar pois o álcool afeta o nosso sistema nervoso, interferindo na capacidade do organismo em regular a temperatura. Isso faz com que o bebedor se torne mais sensível ao calor e, consequentemente, o expõe a situações de desidratação”, salienta Nathalia.

Trabalhadores, de olho no protetor solar

Alguns profissionais possuem maior exposição aos raios solares, como é o caso de carteiros e entregadores por aplicativo, por exemplo. De acordo com Lucas Miranda, pessoas que exercem funções ao ar livre e que estejam expostas ao sol têm três vezes mais chances de desenvolver, ao longo da vida, doenças como o melanoma e cânceres de pele não melanomas. Por isso, a principal recomendação é fazer o uso do protetor solar. 
“Entre as principais recomendações está a de aplicar proteção solar em toda a região da pele que ficará exposta, pelo menos meia hora antes de se expor ao sol, todos os dias, independente da intensidade do sol ou de tempo nublado. A região exposta inclui não só o rosto, também a nuca, lábios, orelhas, pescoço e mãos, que muitas vezes são negligenciados. Para os lábios, há produtos específicos”, observa Miranda.
Trabalhadores em exposição direta ao sol, de forma prolongada, precisam fazer uso do protetor solar de duas em duas horas, segundo o especialista, sobretudo em áreas descobertas. O fator recomendado é o 50 ou mais. Além disso, o uso de chapéu é indispensável, assim como visitas regulares ao dermatologista.
Para pessoas acima de 60 anos que trabalham nas ruas, a atenção com a saúde tem que ser redobrada. Aos autônomos, a principal dica é que evitem o sol de 10h às 16h. Caso contrário, a recomendação é para que a pele seja protegida, assim como a cabeça, com a utilização de chapéu ou boné. A garrafa d’água, neste caso, também se torna a melhor amiga, segundo a geriatra e especialista em cuidados paliativos, Juliana Duarte.
“O cuidado é para tentar proteger a pele. Protetor solar, boné – é importantíssimo proteger a cabeça – e, realmente, nos momentos de pico, evitar. Deixa o trabalho para os momentos de quando o sol estiver mais baixo, evite os horários de calor extremos na rua. Tentar se organizar para fazer tudo em horários mais frescos. Isso para autônomos. Quem não for, tem que se cuidar da melhor forma que puder, como protetor solar, chapéu para proteger a cabeça, ter sempre uma garrafinha de água e fazer pequenos descansos.”

Crianças e idosos

Em temperaturas elevadas, os cuidados valem para todos, mas, principalmente, para crianças e idosos. A principal recomendação, de acordo com especialistas, é de que usem óculos e bonés ou similares, sem contar a constante hidratação. Para jovens, o estímulo tem que ser constante.
Hidratação é importante para o organismo em qualquer fase de vida de uma pessoa. É recomendável que os pais ou os cuidadores estimule a criança a beber bastante água e sucos naturais de frutas durante o dia, de preferência nos intervalos das refeições, para manter a hidratação e a saúde”, aconselha Nathalia Sernizon.
Já Juliana Duarte chama a atenção para o fato de que a composição do corpo de um idoso tem 50% ou menos de água. De acordo com a especialista, essa é uma das características do envelhecimento normal, sem ter doenças associadas. Ou seja, a chance de haver uma desidratação de pessoas acima de 60 anos aumenta consideravelmente com as temperaturas elevadas.

“Com o calor excessivo, o que acontece é a desidratação. A chance de um idoso desidratar é muito maior do que de um adulto. Além disso, a gente soma outras coisas: em relação ao envelhecimento normal, existe, também, o fato de o idoso sentir menos sede. Também faz parte do envelhecimento normal, ele não precisa de estar doente. Por quê? Por causa do comando central mesmo. Temos centros no cérebro que nos fazem sentir fome, sede, e existe uma desregulação que acontece com a idade, de sentir menos sede”, pontua Juliana.
Há idosos que fazem uso de medicamentos diuréticos, cujo efeito é liberar maior quantidade de líquido do corpo, sobretudo pela urina. Mas Juliana alerta: caso haja sinais de desidratação, como tontura, vistas escuras ao levantar e sonolência excessiva, o médico tem que ser consultado para que seja avaliada a possibilidade de uma mudança na medicação.
“É importante, realmente, não esperar sentir sede, nem para o próprio idoso beber água e nem para ser oferecido a ele. O ambiente tem que ser o mais fresco possível e, também, ficar atento sobre sinais de desidratação: tontura, sensação de escurecimento visual ao se levantar, às vezes dor de cabeça, até mesmo uma sonolência excessiva. Aí realmente tem que ligar para o médico, falar o que está sentindo, porque neste momento fazemos algumas recomendações, de até de mudança de medicação, às vezes o idoso usa diurético o ano inteiro e chega no calor excessivo a gente pode trocar, usar outra medicação que diminua a desidratação, além de orientar medidas que possam resolver o problema.”

Máscaras

O período quente deste ano se tornou atípico por causa da pandemia, uma vez que é obrigatório o uso da máscara em locais públicos. Mas, com as temperaturas altas, a umidade nos acessórios aumenta. Por isso, a recomendação de Unaí Tupinambás, infectologista e membro do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte é: levar uma máscara extra ou adotar o uso da chamada face shield, protetor facial transparente que cobre todo o rosto.
“A orientação que a gente tem dado é para trocar a máscara, sempre que for possível, por protetor facial. O protetor facial pode ser menos desconfortável. Claro, um protetor facial de boa qualidade. Caso não tenha condições de ter o protetor facial, a máscara pode ser trocada a cada duas horas, o tempo em que ela ficar úmida”, disse.

Clubes e práticas esportivas

Desde o último fim de semana, clubes sociais estão liberados em Belo Horizonte. Em algumas regiões do estado, o sinal verde já havia sido dado. Apesar da flexibilização, os cuidados precisam continuar sendo redobrados, sobretudo em espaços fechados, como vestiários.

“Evitar de ficar em ambientes fechados, como em vestiários, ficando o mínimo de tempo possível. Se possível, trocar de roupa só em casa, ficar em área externa do clube, na beira da piscina, enfim… sempre mantendo o distanciamento de dois metros das pessoas que estão no mesmo ambiente”, alerta Unaí.
Já em relação aos raios solares, o dermatologista Lucas Miranda reforça a importância do uso do protetor solar a cada três horas – ou menos, se houver excesso de transpiração e contato com a água -, além de acessórios, como chapéus e óculos escuros.
“São ambientes (clubes, sítios e afins) em que costuma haver a exposição direta, intencionalmente, nos horários mais críticos da radiação solar, o que não é recomendado. Isso acontece em várias situações, seja para se bronzear, seja para se refrescar na piscina, ou praticar atividades coletivas ao ar livre…Apesar de não recomendado, sabemos que isso acontece, então, a dica é redobrar o cuidado. Usar malhas com fator de proteção solar, protetor solar à prova d’água, que deve ser reaplicado a cada 3 horas e sempre que houver suor excessivo ou contato com água. Usar chapéus e óculos escuros também são importantes como barreira física.”
A recomendação para evitar a faixa de horário em que há maior incidência de luz solar – 10h às 16h – também é reforçada por Juliana Duarte. A geriatra reconhece a importância do sol para idosos, mas que não é recomendado que entrem em contato com os raios no período citado – muitas das vezes extensivo até as 17h.
“É importante, de uma forma geral, para o idoso, a exposição a luz natural, pois ajuda a regular sono… é importante a exposição à luz natural. O sol tem sua importância, principalmente por causa da vitamina D, mas nessa época de calor muito grande, temos que evitar a hora de pico, principalmente depois das 10h e antes das 17h. Esse horário de 10h às 17h é de sombra e água fresca. Não dá para brincar nesse momento de época quente”, conclui.

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