Restrições de viagem em todo o mundo e queda sem precedentes na demanda fizeram com que 2020 fosse o pior ano na história do turismo mundial. Entre 100 e 120 milhões de empregos diretos correm risco, a maioria em pequenas e médias empresas. Viajantes que não fizeram viagens ao exterior deixaram de contribuir com aproximadamente US$ 1,3 trilhão para a economia mundial. Com um bilhão de chegadas internacionais a menos, o tombo foi de 74% em relação a 2019. Como comparação, em 2009, ano de crise econômica mundial, o número de desembarques teve uma queda de 4% em relação ao ano interior. Os dados do colapso do turismo internacional estão na primeira edição de 2021 do Barômetro Mundial do Turismo, boletim trimestral da Organização Mundial do Turismo (UNWTO, na sigla em inglês), agência especializada das Nações Unidas. Os números confirmam as previsões mais pessimistas feitas em abril do ano passado, no início da pandemia.
O mesmo documento, divulgado no final de janeiro, trata também de perspectivas para o turismo mundial neste ano e nos próximos. Nada animadoras, como era de se esperar com a pandemia ainda fora de controle. A estimativa atual da UNWTO é que leve de dois anos e meio a quatro anos para o turismo internacional retornar ao patamar de 2019. Com uma segunda onda de covid-19 e novas variantes do coronavírus, diversos países fecharam as fronteiras mais uma vez. Foram tomadas medidas restritivas para viagens domésticas e ampliadas as exigências de exames e quarentena para visitantes. Enquanto não houver vacina para a maior parte da população mundial, a retomada do setor de viagens e turismo seguirá lentamente e exigindo máscara, distanciamento social e álcool gel para um mínimo de segurança.
“A coordenação das medidas de redução de risco, como exames, rastreamento e vacinação, são fundamentais para viagens seguras. E, também, para que os países preparem a recuperação do turismo quando as condições permitirem”, destaca Zurab Pololikashvili, secretário-geral da UNWTO.
Especialistas em turismo nas Américas estão mais pessimistas que a média global
Para 2021 e além, a UNWTO diz que seu painel de especialistas está “cauteloso”. Metade acredita que será possível ver sinais mais fortes de recuperação do turismo mundial ainda no segundo semestre deste ano. A outra metade não acredita em retomada antes de 2022. Os especialistas das Américas estão mais desanimados que a média global: 58% apostam que o turismo internacional em seus respectivos países só começará a se recuperar em 2022. Os asiáticos são pessimistas: 68% não veem retomada no continente antes de 2022.
Quando o turismo internacional retornará ao patamar de 2019? No painel da UNTWO, 43% apostam em 2023, e 41%, em 2024. Os especialistas das Américas continuam cautelosos: 49% acreditam que somente em 2024 o turismo internacional em seus países voltará ao patamar de 2019; 33% arriscam 2023. Nas Américas estamos menos confiantes, mas, comparativamente, o continente teve o menor declínio de chegadas internacionais em 2020: 69%, enquanto a média global foi de 74% (número puxado pelos 84% da região Ásia e Pacífico, ainda com muitas restrições a viagens). Em números absolutos, a maior perda foi na Europa: 500 milhões a menos de desembarques internacionais em comparação com 2019.
Reino Unido, Portugal, França, Alemanha… Vários países europeus estão ampliando suas restrições a viagens. Mas não apenas na Europa. A Austrália, por exemplo, está fechada desde o início da pandemia, e não há nenhuma perspectiva de que a situação mude ao longo deste ano. O Canadá, onde empregos diretos no setor de viagens e turismo respondem por 8,8% do total no país, ou 1,67 milhão, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC na sigla em inglês), suspendeu até 30 de abril os voos de e para México e países do Caribe. Segundo dados recentes do mesmo WTTC, somente na América do Norte a perda de empregos no setor de turismo com a pandemia pode ficar entre 10,8 e 13,8 milhões de vagas.
No Brasil, turismo internacional já estava em queda antes da pandemia
Não há dados específicos sobre o Brasil na parcela do Barômetro do Turismo Mundial aberta para consulta pelo público em geral. Mas o número de chegadas internacionais no país, que nunca foi bom, já tinha piorado em 2019. Foram 6,3 milhões de visitantes internacionais, 4,1% menos do que em 2018, enquanto a média global teve um crescimento de 3,6%. O mercado doméstico brasileiro, um dos maiores do mundo, é o que salva parte do setor. O país, por conta da nova variante do coronavírus descoberta em Manaus e da má gestão da pandemia, está ainda mais isolado. Neste início de 2020, países tão diferentes quanto Colômbia, Portugal e Emirados Árabes Unidos suspenderam os voos de e para o Brasil.
“O turismo internacional no Brasil pode ter regredido 26 anos”, escreveu em janeiro Jeanine Pires em sua coluna no portal Panrotas, empresa de mídia brasileira especializada no setor de viagens e turismo. “Quando falamos de receitas do turismo, tão importantes quanto o volume de visitantes, as projeções indicam que podemos voltar ao patamar do ano 2000”, continua Jeanine, especialista em marketing turístico e presidente da Embratur entre 2006 e 2010,
A lenta recuperação da aviação internacional, somada à péssima gestão da pandemia no Brasil, à vacinação incipiente e à negligência em relação ao meio ambiente, entre outros fatores, não contribuem com expectativas otimistas de recuperação a médio prazo do turismo internacional por aqui. Com a vacinação aumentando gradualmente, a confiança voltando e as restrições aos deslocamentos sendo afrouxadas, podemos esperar que as viagens comecem a voltar ao padrão de segurança pré-covid-19. Um esforço global coordenado será fundamental.