Garimpando- Mais uma Rua de Alma Encantadora – 6

                                               Merecidamente recebeu da Câmara Municipal o título de cidadão

lafaietense,por serviços prestados à comunidade.

 

Continuando o poema de Elizabeth Coutens de Menezes:

Em teus porões repousam os ratos

Entre lodos, mofos, restos de ti.

Caçam, calmos, os lindos gatos.

Pousada triste, dá-te pra mim.

 

Tranca, lento, janelas, portas

O belo sol logo ao surgir.

Bela morada das almas tontas,

Deixa que eu viva e morra ai.

 

Morada velha, quem são teus donos

Que não te deixam bela fluir?

Mostrando histórias de longos anos,

Alegres ou tristes, conta-as para mim.

 

Pousada triste, velha morada,

Meus sonhos voam por aqui.

Angústias choro, como em penumbras,

Debaixo em cantos sobras de mim.

 

Agora vamos andar mais um pouco. Outro vulto surge, outro ilustre morador da Rua Coronel João Gomes. Seu nome? Geraldo Ottoni Costa. Nasceu em Virginópolis, antiga cidade de Nossa Senhora do Patrocínio de Ganhães. Veio para Conselheiro Lafaiete, onde também residiram seus pais por muito tempo, e aqui estabeleceu sua residência, participando, com  muito brilho, do crescimento e do progresso de nossa terra com sua existência pródiga de grandes serviços para a comunidade.

O Sr. Geraldo nasceu no dia 30 de dezembro de 1910, filho de Raimundo de Paula Costa e Úrsula Ottoni Costa, tendo seu pai sido diretor do Grupo Escolar “Domingos Bebiano”, em nossa cidade. Sua mãe era descendente do ilustre estadista Teófilo Benedito Ottoni, que, além de político, teria criado a cidade de Filadélfia, hoje conhecida como Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Casou-se com Nair Martins da Costa.

Vamos fazer aqui uma digressão sobre esse antepassado ilustre do Sr. Geraldo: Teófilo foi deputado provincial por Minas Geraisdeputado geral e senador do Império do Brasil de 18641869 e um dos principais líderes do Movimento de 1842, no qual Queluz teve um papel preponderante. Como Caxias venceu a revolução, Teófilo foi preso, processado,  julgado e absolvido por unanimidade em Mariana e, posteriormente, beneficiado pela anistia geral decretada pelo imperador D. Pedro II. Entre outros even tos importantes, promoveu o desenvolvimento e a colonização do Vale do Rio Mucuri. Também iniciou um processo de pacificação, colonização e civilização dos indígenas.

Continuando a história de Geraldo Ottoni, um detalhe muito  interessante, porque pouco comum na época. Teve vinte filhos, dos quais sobrevivem doze.

Como funcionário público da Secretaria de Estado da Fazenda, chegando ao cargo de Coletor Estadual, trabalhou nessa profissão por mais de trinta anos, aposentando-se, no ano de 1962, na classe de Inspetor da Fazenda. Devido ao trabalho, percorreu diversas cidades de Minas Gerais, como, por exemplo, Conselheiro Pena, Resplendor, Ouro Preto, Belo Horizonte e, finalmente, Conselheiro Lafaiete, adotando  esta cidade como sua morada definitiva, pois aqui nasceram quase todos os seus filhos. Merecidamente recebeu, da Câmara Municipal, o título de cidadão lafaietense, por serviços prestados à comunidade.

(Continua)

     Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                                               avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Garimpando -Mais uma rua de alma encantadora – 5

Pousada velha que me aconchegas,Cheirando a pó e a jasmim.

Elizabeth Coutens de Menezes

 

Continuando a falar de Professor José Ignacio: embora o poema iniciado no artigo anterior seja muito grande, sou tão encantada com ele que não resisto, tenho de colocá-lo até o final. Além da técnica impecável de versificação, com um ritmo harmonioso, originalidade e leveza de estilo, muitas rimas ricas bem ao gosto dos clássicos, de domínio escorreito da língua,  em escrita e vocabulários  cultos, além de tudo isto ressalto que os versos enaltecem, com justiça, a Sociedade São Vicente de Paulo, que  é uma força beneficente forte em nossa cidade e sempre funcionou na Rua Coronel João Gomes. Assim, continuando:

 

    São Pedro ia falar… Mas não lhe foi possível

            Pois um rumor enorme, um alarido incrível,

Por todo o Azul ecoou, contínuo, sem cessar!

            Eram preces liriais, numa súplica imensa,

            Pedindo, com calor e afervorada crença,

Que aquela alma de escol no Céu pudesse entrar!   

            Surpreso, o Santo olhou e viu, então, aos lados,

            Fremente multidão de bem-aventurados,

            De joelhos, a implorar, com os braços estendidos…

Aqueles que no mundo, à luz da caridade,

Foram, do Vicentino, os pobres socorridos.

São Pedro disse ao fim: – De injusto rejeito a pecha!

Para a alma vicentina o Céu jamais se fecha!

Dileto amigo, entrar aqui podeis, um momento!

Mas daí-me o vosso nome, é para o registro.

E aquela alma falou, falou apenas isto:

Eu me chamo MANOEL LINO DO NASCIMENTO.

 

Nessa hora, todo o Céu fremiu festivamente!

Arcanjos, serafins, em ronda exul, fremente,

Puseram-se a cantar: HOSANAS AO SENHOR!

Tudo era luz e som no páramo divino!

Em honra ao bom, ao justo, ao Vicentino

Que fora, em Romaria, aos pés do Criador!

                                               19/07/1951

 

Como viram os leitores, o antigo morador da rua encantada era mesmo iluminado.

Tenho focalizado apenas os moradores mais antigos, já sedimentados na alma da rua. E ainda há mais outros ilustres na rua pequena, mas tão grande de significação. Aguardem!  Mas vou abrir parênteses, exceção,  na característica antiguidade, para colocar uma pessoa da geração atual, que pertence à casa já focalizada de D. Áurea, da família Cabanellas. Pois onde citei a pintora existe, também, de geração nova, uma poetisa muito talentosa: Elizabeth  Coutens de Menezes, filha do Sr. Armando e D. Áurea. Amostra da sensibilidade de Elizabeth está na antologia “Poetas Queluzianos e Lafaietenses”, que organizei no ano de 1991:

 

POUSADA VELHA

                                        Elizabeth Coutens de Menezes

 

Pousada velha que me aconchegas,

Cheirando a pó e a jasmim.

Nem te descubro nem desconheço

E não vejo quando chegar aí.

 

(O poema continua no próximo artigo)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A nudez eu vesti, apaziguei conflitos!

Fome e sede matei! Senhor, fui Vicentino!

 

(Continua)

 

Garimpando -Mais uma rua de alma encantadora

  Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                                               avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

O pranto eu enxuguei de inúmeros aflitos!

A nudez eu vesti, apaziguei conflitos!

Fome e sede matei! Senhor, fui Vicentino!

                                                                          José Ignacio Dias de Faria

Um morador antigo, personagem da encantadora Rua Coronel João Gomes, era o Professor José Ignacio Dias de Faria. Eu me lembro muito dele, na década de quarenta, quando ia com meu pai à sua escola, pois meu pai era muito amigo dele.

            Esse senhor muito ilustre nasceu em Conselheiro Lafaiete, no dia 1º de fevereiro de 1889. Seus pais eram Francisco Dias de Faria e Maria José de Jesus, e um de seus filhos era o competente advogado Sinésio Dias de Faria, falecido há poucos anos. Foi professor primário da primeira Escola Noturna da cidade, onde exerceu o magistério por mais de trinta anos.

Numa época mais antiga foi “fabriqueiro”, isto é, zelador  da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Fabriqueiro era, em tempos passados, a pessoa encarregada de recolher os rendimentos de uma igreja, administrar todo o patrimônio da mesma e zelar pela conservação de alfaias e parâmetros, como podem verificar nos dicionários. Era, assim, algo de muita responsabilidade e um cargo que só pessoas muito qualificadas podiam exercê-lo.

Foi, também, Amanuense da Secretaria da Câmara Municipal e Secretário do Cartório Eleitoral. Amanuense era o nome que se dava antigamente ao secretário de repartição pública. Dirigiu os primeiros trabalhos do Censo Demográfico neste município cabendo-lhe, pelo trabalho, um prêmio. Fundou diversas Conferências Vicentinas , sendo responsável pela compra do terreno e construção do Asilo de Velhos São Vicente de Paulo. Provedor da Irmandade de Santo Antônio de Queluz e, por várias vezes, Presidente do Conselho Particular Vicentino, em ambas as entidades religiosas atuou com responsabilidade, dinamismo e alcançou para as mesmas grandes frutos.

Vejam, leitores, que participação maravilhosa na história encantada da rua que está sendo focalizada!

Mas agora vem a parte de uma beleza especial, a parte lírica, vem a alma de poeta. Não conhecemos outras poesias dele, mas deviam ser lindas. Só veio a mim um poema, feito com o apuro da poesia clássica, no qual ele homenageia o vicentino Manoel Lino do Nascimento, e que, com sua delicadeza lírica, é uma amostra da grandeza literária do autor:

A ÚLTIMA ROMARIA

 

(Os pobres a que tiverem socorrido no mundo

virão, eles mesmos, abrir-lhes as portas do Céu)

São Vicente de Paulo)

    HOMENAGEM AO SAUDOSO VICENTINO

PROFESSOR MANOEL LINO DO NASCIMENTO

Certa manhã, de um céu azul, primaveril,

Mãos em cruz sobre o peito, aspecto patriarcal,

Ao Paraíso chega uma alma peregrina.

Bate de leve… Então São Pedro, o venerável

Porteiro de Jesus, o atende e inquire, afável:

Quem é?… Quem busca a paz desta Mansão Divina?

O recém-vindo explica, em tom humilde e meigo:

Senhor, eu fiz na terra o apostolado leigo,

Praticando as lições do Mestre Divino!

O pranto eu enxuguei de inúmeros aflitos!

A nudez eu vesti, apaziguei conflitos!

Fome e sede matei! Senhor, fui Vicentino!

                                  (Continua)

 

 

 

Garimpando-Mais uma rua de alma encantadora – 3

GARIMPANDO

NO ARQUIVO NO “JAIR NORONHA”

                                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                                               avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

 

Deixa que eu vá contigo pela estrada

Nesta manhã serena, entretecida

De verdes polvilhados de alvorada

 

Estive pensando sobre a Rua Coronel João Gomes antes de escrever este artigo e fiquei maravilhada com a alma que nela enxerguei hoje, pensando no que já tinha visto outro dia e no que visualizei para mais adiante. São tantos poetas bons, como vocês vão ver , em um trecho tão  pequeno da cidade, uma extensão de pouco mais de 200 metros.  A alma desta rua é linda, poética, artística, prodigiosa.

Pensei no último artigo no qual focalizei Dr. Astor Vianna, dando uma pequena amostra de sua obra. Mas o poeta era grande demais! Tenho que colocar outras poesias porque o tempo passa e as pessoas ficam esquecidas. Ele não merece isso, portanto é necessário ampliar o foco sobre ele e mostrar mais outros sonetos de sua lavra para admiração de quem não o conhece pela poesia. Reconheço que ele é uma figura importante na formação da alma desta rua, porque a força da alma vem muito do passado.

Assim, vamos ver um soneto maravilhosamente lírico e romântico por ele oferecido à sua esposa dona Helena, pessoa que foi muito querida pelos que conviviam com ela:

 

PARA HELENA

 

Deixa que eu vá contigo pela estrada

Nesta manhã serena, entretecida

De verdes polvilhados de alvorada,

Antes que o sol desperte a dor e a vida.

 

Seremos dois assim, mas na escalada,

Tendo-te junto ao peito defendida,

Nem sentirás, por certo, a caminhada

Que vai daqui ao pé daquela ermida.

 

Lá ficarei contigo e, ao sol poente,

Enlevados e mudos, certamente

Havemos de sentir essa ternura

 

Que compensando penas e amargores,

Esbate os tons e abranda tanto as dores

Que faz do amor uma verdade pura.

 

E que joia de amor filial neste soneto dedicado à sua mãe, D. Cefisa:

 

                   PARA MAMÃE

 

Quanta meiguice teu olhar cansado

Derrama em minha vida a cada hora!

Vele ou repouse, em tudo, como agora,

De ti me vem o amparo desejado.

 

Não sei se sentes, mãe, quanto te adora

Todo o meu ser, no beijo que, trocado,

Tua bênção querida ele te implora,

A cada dia apenas começado.

 

Basta um olhar, um vinco no semblante,

Para que teu afeto transbordante

Mitigue a chaga do meu sofrimento.

 

Na paz te alegras, mas, num só instante,

Fazendo tua minha mágua hiante

Tornas maior que o meu teu sofrimento.

 

(Continua)

Garimpando- Mais uma rua de alma encantadora – 2

Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                                                  avelinaconselheirolafaiete@gmail,com

 

A vida, imensa tortura,

Breviário de amargura,

Que eu transponho a chorar,

Tem sabor de veneno.

Dissabores que eu condeno,

Mas tem o céu, tem o mar…

Não adianta descrever a Rua Coronel João Gomes passando os olhos pela rua como é atualmente. Não adianta enxergar, de olhos bem abertos, esta rua moderna e cheia de movimento. Esta alma é a da realidade, importante, progressista. Mas a alma encantadora de qualquer rua vem do passado, a que permanece intata com o passar dos tempos. É preciso fechar os olhos ao explícito, que se nos apresenta claramente, sem dúvidas ou ambiguidade.  É preciso serrar as pálpebras e entrar no mundo das lembranças, que muitas vezes podem até nos enganar devido ao tempo transcorrido, vindo envoltas nas brumas do passado, mas que chegam belas e saudosas. É aí que vamos encontrar a alma encantadora da Rua Coronel João Gomes.

Embora não tenha conhecido pessoalmente a Capela da Piedade, como a enxerguei tão próxima através dos relatos dos antigos e da linda pintura de Áurea Cabanella…

Mas agora vem  o que conheci, desde menina. Em frente ao lugar onde se erguia a Capela, havia uma casa de frente muito extensa, de gente muito inteligente e culta: a casa do Dr. Astor, uma das mais ilustres figuras do século XX em nossa terra. Embora tenha nascido na cidade mineira de Pedro Leopoldo, as últimas décadas de sua vida decorreram aqui. Dr. Astor Vianna era filho de Sócrates C. Vianna e de Cefisa Pereira Vianna. Cursou a Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais. Foi o orador da turma quando se formou. Concluído o Curso de Direito, mudou-se para nossa cidade, a qual enriqueceu com a força de sua cultura e de seu trabalho. Aqui viveu até o fim de seus dias, em  janeiro de 1973. Assim mereceu muito bem  ser contemplado com o título de Cidadão Honorário de Conselheiro Lafaiete.

Entre tantas outras atividades, dedicou sua vida, de um  modo muito especial, ao Ensino. Foi diretor do antigo Colégio “Monsenhor Horta” e, também  nesse educandário,  professor de Português e Espanhol. Os alunos tinham muita admiração e carinho por ele e, anos e anos depois de formados, lembravam-se de seus ensinamentos com admiração e saudade. Lecionou também em Barbacena, na EPCAR. Participou ativamente na fundação da Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete.

Jornalista combativo, disseminador de conhecimentos nos seus artigos escritos em estilo de grande beleza, levava os leitores ao convívio com a linguagem escorreita, concisa e elegante, era orador de elevada eloquência e conferencista brilhante. Também se destacou na Política, sendo vereador em vários mandatos. Um ser humano de tal quilate é claro que marcaria fortemente sua passagem naquele logradouro.

E poeta, que poeta! Impossível não dar uma amostra de seu estro iluminado. Quando organizei a antologia “Poetas Queluzianos e Lafaietenses”, em 1991, quem fez o prefácio foi o ilustre e grandioso homem de Letras, Dr. Vivaldi Moreira, na época presidente da Academia Mineira de Letras, que apreciou  imensamente um poema de Dr. Astor, obra tão bonita que não posso deixar de partilhar com os leitores. Comprovem:

VIDA

  A vida, imensa tortura,

  Breviário de amargura,

 Que eu transponho a chorar,

   Tem sabor de veneno.

Dissabores que eu condeno,

 Mas tem o céu, tem o mar…

A vida, que duro açoite,

Tem o frio, a dor, a noite,

Que eu sofro sem me queixar…

Mas, onde quer que eu esteja,

Faço da dor uma Igreja,

E entro nela pra rezar!

                                                                                     (Continua)

Garimpando- Mais uma rua de alma encantadora

                                           Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                     avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Meu pai, Jair Noronha, quando jovem, morava lá e se lembrava,

deitado em sua cama, de ouvir passarem as carroças levando os mortos pela

varíola ou pela gripe espanhola. Isso tudo deixou marcas fortes na

minha visão da alma da Rua Coronel João Gomes.

 

            Continuando a me inspirar no escritor João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro do princípio do século XX que, em um livro, visitou a alma encantadora das ruas do Rio de Janeiro, hoje relembro os tempos passados em que encontro a alma encantadora da Rua Coronel João Gomes.

            A saudosa Chapada do artigo interior teve início nesta atual Rua Coronel João Gomes, que perdeu a denominação geográfica Chapada por estar em um planalto, e ficou com o nome do político queluziano. Talvez haja moradores desta rua que não sabem quem foi o homenageado com seu nome. Assim vou relembrar a história dele.

            João Gomes Ferreira era primo de Arthur Bernardes, que era um advogado nascido em Cipotânea, Estado de Minas Gerais, em 1875 e que, após concluir o mandato de governador do estado de Minas Gerais entre 1918 e 1922, foi eleito presidente da República a 15 de novembro de 1922. Esse primo ilustre prestigiava muito o Coronel João Gomes que, por sua vez, exerceu o cargo de Chefe do Executivo Municipal de Queluz de 1918 a 1922.

            Quando o Coronel João Gomes veio para Queluz, estabeleceu-se na Fazenda da Estiva, próxima às jazidas de manganês do Morro da Mina. Casou-se com D. Amélia Zebral Ferreira filha do Dr. Francisco José Pereira Z|ebral, médico dono da Fazenda das Três Barras, perto de Gagé, vindo morar no sobrado pertencente ao sogro na Rua Direita, hoje Comendador Baêta Neves, nº 134.  Depois o prédio passou para o negociante Mário Augusto Zebral.

            Vamos agora ao encanto do passado, quando eu estava sempre passando por ali absorvendo os encantos daquela rua. E não era somente o que via, mas também o que me contavam que ajudaram a construir a uma visão imorredoura de uma época, como esse fato que eu achava lindo: ali, mais ou menos na metade da extensão da rua, havia uma capelinha. Na minha “Agenda Santo Antônio” de Queluz, publicada em 1993, onde para certas datas havia poesias ou pinturas de lafaitenses, coloquei a foto de um lindo quadro pintado por Áurea Cabanella Menezes, que morava perto da capela e guardava muito bem a sua imagem e como era o seu entorno, dando-nos oportunidade de saber como era esse templo do passado queluziano.

            A capela da Piedade era muito singela. Branquinha. Uma cruz em cima da porta de entrada e outra cruz na ponta do telhado. Uma palmeira no fundo e mais umas árvores. Ficava afastada da rua, com uma entrada de terra com matinhos e arbustos rodeando o caminho. Minha mãe contava que havia coroado lá. Quando foi demolida, na primeira metade do século XX, a bela imagem de Nossa Senhora da Piedade com Jesus morto em seu colo foi levada para a Igreja de Santo Antônio e lá continua sendo venerada até hoje no altar. Na procissão que encerra a Trezena de Santo Antônio, em junho, quando a imagem de Santo Antônio vai pelas ruas ao redor da igreja, também vai a imagem de Nossa Senhora da Piedade.

            A rua de que estamos falando assistiu a muitos acontecimentos do passado, pois ali passavam as pessoas em demanda de Ouro Preto e outras localidades. Passaram D. Pedro I, D. Pedro II, Caxias e seu exército, Getúlio Vargas e os revolucionários de 1930, os despojos de Tiradentes em 1792. Meu pai, Jair Noronha, quando jovem, morava lá e se lembrava de, deitado em sua cama, ouvir passarem as carroças levando os mortos pela varíola ou pela gripe espanhola. Isso tudo deixou marcas fortes na minha visão da alma da Rua Coronel João Gomes.

                                                                       (Continua)

Garimpando – Parabéns pelo dia do índio

                                              Avelina Maria Noronha de Almeida

                                               avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Quanto ao valente Tibiriçá, pela genealogia já descobri um grande número de

descendentes dele em várias famílias antigas de Queluz,  não só estabelecidas

em Conselheiro Lafaiete como, também, em várias cidades

 vizinhas que foram distritos de nossa cidade.

            Dia 19 é o Dia do Índio. Parabéns para mim e para muitos moradores desta nossa cidade! Mas parabéns por quê?

            Quanto a mim, porque minha bisavó Francisca era descendente próxima de uma índia puri, como dizem, “pega a laço”, filha ou neta, ainda não descobri o certo. Além disso, o cacique Tibiriçá, índio tupiniquim, chefe de uma parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, primeiro índio colonizado e batizado por Anchieta e que, colaborando com os jesuítas Anchieta, Manoel da Nóbrega e Manoel de Paiva teve participação decisiva na fundação de São Paulo, também repelindo bravamente, em 1562, o ataque à vila de São Paulo pelos tupis, guaianás e carijós, é um dos meus décimo-quintos avós. Quando foi batizado, recebeu o nome de Martim Afonso Tibiriçá em homenagem ao fundador de São Vicente do qual foi grande colaborador.

            Que eu saiba, não sou descendente de índio carijó.

Quanto aos muitos moradores de nossa cidade, não sei exatamente quantos e quais serão descendentes do cacique Tibiriçá, mas devem ser muito numerosos.  Já achei um bom número no estudo que estou fazendo das genealogias das famílias antigas de Queluz.

            Voltando à ascendência puri, é muito numerosa a descendência dos filhos de vóvo Chiquinha e Vovô João dos Santos que permaneceram e criaram família aqui em Conselheiro Lafaiete: Avelina Maria dos Santos Zebral, primeira esposa de Mário Augusto Zebral; Elir José dos Santos, casado com Sebastiana Vieira dos Santos e Maria José de Sena, casada com Cristóvão Martins de Sena (três filhas, Ascendina, Zulmira e Joana foram residir em outras cidades e tio Eurico não se casou).

Já detectei aqui em nossa cidade várias famílias não ligadas a mim que têm sangue puri, fato já descoberto por estudos ou tradição de família, mas, observando na rua pessoas que passam, quantas vezes vi traços inconfundíveis da raça: olhos oblíquos, pálpebras um pouco empapuçadas, pele com bela e forte cor de cobre e cabelos negros, lisos e abundantes, pés muito largos na parte da frente e sem curvatura na sola e tantos outros sinais. Nem todos aparecem numa só pessoa. No meu caso, a característica comprovadora está nos pés e nas pálpebras.

            Quanto ao valente Tibiriçá, pela genealogia já descobri um grande número de descendentes dele em famílias antigas de Queluz, não só estabelecidas em Conselheiro Lafaiete como, também, em várias cidades vizinhas que foram distritos de nossa cidade.

            Não podemos nos esquecer, também, que os primeiros habitantes deste nosso amado solo foram os belos e mansos carijós que aqui chegaram em busca do seu Campo Alegre, a “Terra Sem Males”.

            Assim, nossa homenagem aos nossos índios!

Garimpando- “A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS” – 2

                                  Avelina Maria Noronha de Almeida

                                       avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

 

A porta de entrada da casa de Elir e Sebastiana  nunca se fechava. Entravam e

saíam sem parar os vizinhos, acolhidos com muita amizade.

Belos tempos de convivência aqueles em que

as portas podiam ficar abertas…

 

            Continuo a seguir os passos do cronista do princípio do século XX, João do Rio, visitando a alma encantadora das ruas, sendo a primeira escolhida, já comentada no artigo anterior, a rua Duque de Caxias, antiga Chapada. Quando passo por lá, no trecho que vai do início da descida até a subida da Basílica do Sagrado Coração de Jesus – onde naquele tempo se erguia a singela Capela da Paz – entre casas modernas, lojas de roupas e outras especialidades, sapatarias, loja de móveis, salão de beleza, açougue, comércios diversos, consultórios, laboratório, farmácia, posto de gasolina, posto de saúde e tanta coisa mais, vou abstraindo magicamente do presente, mergulhando no passado, a alma encantadora da rua da Chapada, que me envolveu carinhosamente na minha infância, adolescência e mocidade.

            Antes de continuar com a imersão no clima daquela época encantada, vou falar sobre uma curiosidade. Achei, num livro da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, o testamento de um padre, escrito no princípio do século XX, no qual ele cita uma casa na rua da Chapada que,  atualmente, é rua Coronel João Gomes. Também no Museu Perdigão, num livro de impostos, vi registros de casas na rua que até hoje pertencem aos descendentes dos proprietários de então. E o nome estava muito bem posto naquela rua,

sabem por quê?

            Olhando no Google, como é definido o termo “chapada”? É um terreno com grande área plana no alto de um monte ou serra. Acontece que as palavras podem sofrer adulteração de sentido no decorrer dos tempos. E foi o que houve. Aquela rua cresceu, foi se espichando de casas, descendo o morro, até chegar na baixada, carregando o mesmo nome para local geográfico completamente diverso: descida e baixada. E o mais curioso é que, quando, no século XX, trocaram os nomes das ruas, a legítima chapada pela significação geográfica perdeu seu nome para rua Coronel João Gomes e onde não era chapada na característica topográfica continuou com o título, inadequado geograficamente, mas que o tempo consagrou. A mudança de nome para rua Duque de Caxias demorou. E hoje ainda muita gente, inclusive eu às vezes, indica o local com o nome antigo.

O âmago afetivo, a essência da alma da Chapada para mim era a casa citada no artigo anterior, morada de meu bisavô carpinteiro João José dos Santos e de sua família. Muito extensa, muitos metros de frente, um pouco afastada da rua, tendo à frente um gramado, para mim era um palácio. Na década de quarenta e cinquenta era a única casa sem pintura daquela rua. Paredes da frente, paredes do interior e chão, tudo de terra batida. Que cheirinho gostoso quando se entrava nela! Nunca me esqueci! E havia tanta coisa curiosa! Minha bisavó, descendente de índia puri, como dizem,“pega a laço”, tinha um tatu que era como um cachorrinho de estimação e andava atrás dela o dia inteiro. A casa não tinha luz. À noite, acendiam uma fogueira numa cavidade no chão da grande cozinha, e a família e os vizinhos, sentados em volta, ficavam contando casos, principalmente engraçados e muitas vezes de assombração.

O terreno atrás era enorme, hoje cortado pela rua Padre Lobo. Ali minha bisavó plantava amendoim que colhia e, juntamente com os coquinhos de muitos coqueiros, fazia doces para vender.

Um outro lugar encantador era a casa do Sr. Serafim Sana, com longas varandas, onde eu, menina, ia sempre com meu pai. Ficou vívida na minha memória a lembrança do dono da casa caminhando entre os canteiros de um jardim muito lindo.

E a oficina do Sr. Norberto Rocha, no fundo da qual eram feitas lindas quadrilhas?

Os moradores da rua era como se fossem uma grande família. Do lado da casa de paredes de terra, havia um belo bangalô com heras na parede. Uma graça! A porta de entrada dessa casa, cujos donos eram tio Elir e tia Sebastiana, nunca se fechava. Entravam e saíam sem parar os vizinhos como se estivessem na casa deles, sempre acolhidos com muita amizade. Belos tempos de convivência aqueles em que as portas podiam ficar abertas o dia inteiro…

Fico até com pena de sair do clima tão fascinante e cair no asfalto de hoje.

Oh! alma encantadora da antiga Chapada!…

Garimpando

“A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS”

Avelina Maria Noronha de Almeida

                                       avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

 

Quando a tropa começou a passar em frente, até tremiam ao som das passadas fortes dos soldados. Acontece que o cachorro que ficara de fora, amarrado

 à sua casinha, assustou-se com aquela barulhada…

 

O título do artigo está entre aspas porque não é uma criação minha. É o nome de um livro e eu o achei tão sugestivo que quis usá-lo.

O autor do livro é um escritor do princípio do século XX, muito festejado pois era o maior cronista em sua época, João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, que nasceu em 5 de agosto de 1881 e faleceu em 23 de junho de 1921 as 39 anos. Por essas datas pode-se deduzir o espaço histórico focalizado.

Ele fazia um inventário das ruas da Cidade Maravilhosa em tempos de grandes transformações urbanas. Aliava sua grande capacidade de observação a muita perspicácia e sensibilidade para captar a alma que habitava em cada um dos espaços públicos por ele focalizados. Descrevia minuciosamente os detalhes, percebia a diversidades de cada tipo humano, o que havia naquela rua, as profissões, enfim, as peculiaridades do lugar com muita sinceridade, sem retoques, mas com fascinante escrita.

Era também repórter e não fazia as reportagens e as crônicas descuidadamente. Pesquisava, refletia, analisava. Por exemplo: certa vez ouviu os relatos de presos de uma Casa de Detenção e fez interessantes comentários no que escreveu, como de que os presos por crimes políticos nunca reconheciam sua culpa como outros presos o faziam. Não tenho forte conhecimento de que tipo de crimes políticos havia naquela época…

O certo é que me deu vontade de também sentir a alma das ruas e escrever sobre elas. Resolvi iniciar andando pela imaginação sobre o passado do caminho escolhido, pois os fatos antigamente acontecidos participam fortemente na formação da personalidade do mesmo. Pelo menos em minha mente.

Escolhida a rua Duque de Caxias, a Chapada da minha infância, pois era onde residiam parentes de minha mãe e, assim, era muito freqüentada por mim.

A primeira lembrança veio do que me contou meu tio Eurico, se não me engano. O foi tia Joana? Bom, não importa. Na Revolução de 1930, a cidade de Queluz estava apavorada com as notícias sobre as violências praticadas pelos soldados revoltosos nas cidades por onde passavam. O exército dos revoltosos já estava se aproximando de Queluz e o povo começou a se esconder com medo de sofrer violências. Quando alguém gritou que o batalhão já tinha apontado no princípio da rua, na casa de meu bisavô João dos Santos, um excelente carpinteiro, a família fechou todas as janelas e se reuniu na carpintaria, que ficava nos fundos da casa. Esconderam-se debaixo da grande mesa de trabalho do dono. Ficaram bem caladinhos para que o exército passasse sem percebê-los e incomodá-los.

Quando a tropa começou a passar em frente, até tremiam ao som das passadas fortes dos soldados. Acontece que o cachorro que ficara de fora, amarrado à sua casinha, assustou-se com aquela barulhada, ficou pulando feito doido e a corrente à qual estava preso raspava num zinco que estava perto fazendo, por sua vez, um grande barulho. Foi quando um dos que estavam lá dentro, não reconhecendo o barulho da corrente, gritou:

– “Tão” metralhando a casa!!!

Foi um pânico só. Saíram numa gritaria doida, correndo para o pasto que tinha no fundo, esbarrando em nos outros, caindo e se embolando numa debandada geral. Muitos se arranharam nos arames farpados da cerca.  Até que, o batalhão tendo passado e o cachorro sossegado, voltaram e souberam, pelos vizinhos, que não tinha havido nem um tiro…

(Continua)

Garimpamdo

MENTIRINHAS…

                            Avelina Maria Noronha de Almeida

                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

 

[…]nas pesquisas que tenho feito sobre a genealogia das famílias de Queluz,

das quais Conselheiro Lafaiete tem muitos descendentes, enorme número de pessoas

de nossa cidade tem como ancestral (16º, 17º ou 18° avô, conforme a idade)

Tibiriçá, o primeiro índio a ser catequizado pelo padre José de Anchieta

  O mês de abril tem duas datas comemorativas relacionadas com os índios do Brasil: uma delas é no dia 19. Coincidentemente, a outra é no dia 1º de Abril, quando a gente prega uma peça no outro e depois que ele cai em nossa conversa, falamos: PRIMEIRO DE ABRIL!!! Na citada data comemora-se o Dia da Abolição da Escravidão Indígena, porque o rei de Portugal publicou uma lei acabando com o cativeiro dos índios na Colônia, mais uma das mentirinhas históricas que encontramos no decorrer da história do Brasil.

            Mentirinha porque, de acordo com a lei, não poderiam ser escravizados novos índios a partir daquela data, mas não eram libertados os índios escravos adquiridos antes da promulgação da mesma, sendo a escravidão indígena oficialmente extinta só por um alvará de 1758, na época do Marquês de Pombal. Assim, a data comemorativa é mentirinha mesmo. E até essa data é em parte fantasia, porque, por “debaixo dos panos”, a captura dos indígenas continuou. Eu mesma tenho, depois daquela lei, uma trisavó índia puri que foi “pega a laço”, como dizem.

Vou fazer uma pequena interrupção para contar algo que acho muito interessante: nas pesquisas que tenho feito sobre a genealogia das famílias de Queluz, das quais Conselheiro Lafaiete tem muitos descendentes, enorme número de pessoas da nossa cidade tem como ancestral (16º, 17º ou 18° avô, conforme a idade) o índio Tibiriçá, o primeiro índio a ser catequizado pelo padre José de Anchieta, cacique (guaianá ou tupi – há divergência entre historiadores) de uma parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, tendo acompanhado Manuel da Nóbrega e Anchieta na obra da fundação de São Paulo.

Retornando à situação atual dos índios brasileiros: num certo sentido, a mentirinha continua até hoje. Por que? O que significa Liberdade?

Vejam esta definição no Google: “Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém”. Será que isso está acontecendo com a atual população indígena?

Apenas uma comparação de dados de épocas diferentes que deixo para a reflexão dos leitores:

Estima o genealogista Aníbal de Almeida Fernandes que, na época do Achamento do Brasil, havia de 500.000 a 1 milhão de indígenas, sendo os dois maiores grupos os Carijós e os  Tupinambás, ambos com cerca de 100.000 indígenas.

De acordo com IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foram registrados aproximadamente 734.131 mil pessoas que se consideravam índios. De acordo com o censo da Funai o número seja bem inferior, por considerar como índio apenas aqueles que vivem em reservas, com isso, a quantidade cai para aproximadamente 358 mil.

Só para ajudar na comparação e na reflexão:

Os índios eram os donos da terra. Veio o homem branco e praticamente tomou conta da terra.

E mais:

Brasil tem hoje 202.768.562 habitantes (duzentos e dois milhões e montoeira), estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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