“É uma porrada”. Assim expressou o genial cineasta lafaietense, Rodrigo Meireles, em seu mais novo trabalho. Chocante, reflexivo e provocativo. A novo curto expõe e confronta uma sociedade machista, segregadora, patriarcal e esvocrata e hipócrita nas suas relações sociais. Muito além da denúncia, “”Trindade” mostra uma sociedade em que o o racismo é uma prática velada.
A pré estreia do novo curta metragem, o 3º em sua promissora carreira (“João Batista” e “Anderson”), ocorrido ontem (16) à noite no auditório da TV Lafaiete, chocou, emocionou e arrancou lágrimas no público. Bem a seu estilo, de retratar figuras fora do padrão convencional e à “margem” da sociedade, os chamados outsider, desta vez o cineasta acertou em cheio em sua protagonista, principalmente neste contexto histórico político da atualidade brasileira.
Maria Trindade da Costa Vitória Rodrigues é lafaietense e moradora do Bairro Siderúrgico. Em sua casa humilde, se passam os mais de 30 minutos do curta. Os depoimentos nus e crus contam a vida da negra guerreira que viveu na pele o racismo e sentiu as chagas do preconceitos. Com as marcas da superação dos vales e tormentos pelos quais viveu ao longo dos seus 74 anos, Trindade é síntese de uma sociedade que marginaliza os negros. e ainda hoje insiste em excluí-los.
Mais que um exemplo de vida, o filme é encantador, mas instigador. Logo cedo, Trindade entrou no mundo alcoolismo, influenciado pelo pai. Única mulher de uma família de 6 irmãos, ela ingressou, por força das circunstâncias, na prostituição. Ela conta que foi abusada pelo pai. Ainda cedo perdeu o braço em um acidente na linha férrea da Rede Ferroviária. Assim que perdeu a mãe, deixou a família e foi trabalhar em São paulo como doméstica. Dos 9 filhos, hoje apenas dois estão vivos. O restante ela perdeu em função do alcoolismo e o do abandono.
Trindade conta sua história sem contornos, sem eufemismos sem mágoas. Por diversas vezes presa por desacato e brigas, foi levada a cadeia. “Não gosto do anonimato”, assumiu.
Hoje aos 74 anos, Trindade é uma negra que superou sua própria marginalização da sociedade e expõe como afronta a falsidade embutida no preconceito velado. Como ela própria conta, foi a força da fé capaz de transformar sua vida e a impulsionou as encontrar alimento espiritual e superar tantas mazelas sofridas. “Tudo foi para me provar”, assinalou com total sabedoria e compreensão da finitude humana.
Trindade é a primeira mulher lafaietense a ingressar no AA (Alcoólicos Anônimos) e lá desenvolve seu trabalho de tirar do vício tantas pessoas afundadas em paraísos artificiais em que a bebida provoca. “Passo firme, cabeça erguida. Tudo que aprendi eu quero ensinar aos outros”. Essa é Trindade! Autêntica, expontânea, sincera, sem filtros e sem rótulos! Um filme pujante no qual a artista principal é protagonista da sua própria história.
O filme
A pré estreia lotou o auditório quando a família da protagonista esteve neste momento marcante. A filha, Alzira Patrícia, emocionou ao anunciar, após deixar o alcoolismo, que entraria, a exemplo da mãe, no A.A. Com um ano e setes meses paralisada, ela contou parte de sua história também marcada pela superação.
O curta metragem segue agora para o circuito de festivais e com certeza será premiado pelo Brasil e pelo mundo afora.”Trindade desnuda a sociedade com força vibrante e tensionada das lentes do cineasta lafaietense.
Com certeza, Trindade já é sucesso e vai angariar muitos prêmios!
- Ficha técnica:Maria Trindade da Costa Vitória Rodrigues – Direção/Fotografia/Roteiro – Rodrigo Meireles
- Montagem – Rodrigo Meireles, Silnara Faustino
- – Som – Márcio Zaum
- Assistente de Direção – Bárbara Goulart
- Produção – Relógio Quebrado/ Estúdio Taidai Guilherme Augusto, Marcelo Lin, Marco Antônio Pereira, Joffre Faria Silva
- Assistentes de Produção – Iara Gomes, Ricardo Juper
- Produtor Executivo – Leonardo Meireles, Nilson Meireles
- Ideia original: Ana Paula Rodrigues
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