Presidente do Bairro Residencial defende retirada de moradores perto da barragem; CSN já solicitou alteamento de 11 metros

Warley Ferreira, presidente da associação dos moradores do bairro Residencial/Reprodução

Em meio a polêmica instalada em Congonhas em torno da desconfiança sobre a estabilidade das barragens, em especial da CSN, o Presidente da Associação Comunitária do Bairro Residencial, defendeu a retirada dos moradores para outro local mais seguro.

Cerca de 3,5 mil pessoas moram bem próximos a barragem da CSN cuja capacidade chega a 50 milhões de m² e é a maior da América Latina em área urbana. “Já conversamos com a comunidade e a solução seria a construção de um novo bairro para abrigar os moradores que ficam perto da barragem. Em caso de rompimento, a tragédia seria de proporções inimagináveis”, afirmou Warlei Ferreira.

Ele disse que os moradores querem uma solução imediata diante da apreensão vivencida por centenas de famílias.  “Nós não aguentamos mais viver sob a tensão, o medo insegurança. Muitos moradores nem dormem aqui de tanto medo. Se uma mina desativada em Brumadinho causou uma tragédia daquelas, imagina aqui em Congonhas”, questionou.

Warlei comentou que muitos moradores estão se transferindo. “ A situação piorou nos últimos dias e a tensão cresceu ainda mais. Muitos moradores estão mudando daqui pois não aguentam a pressão e o medo. Muitos estão alugando suas casas”, assinalou.

Segundo Warlei a situação de insegurança atinge Congonhas. “Em caso de rompimento a lama atingiria a cidade como um todo. Chegou a hora de desativar esta barragem antes de uma tragédia atinja nossa cidade. Temos que mobilizar a população”, finalizou.

Hoje a partir das 19:00 horas,  acontece reunião com a comunidade para discutir a situação da barragens em Congonhas. Diversos segmentos estarão presentes.

CSN solicitou alteamento de 11 metros em barragem

Barragem está localizada a menos de 200 metros do bairro Residencial/Reprodução
Barragem está localizada a menos de 200 metros do bairro Residencial/Sandoval de Souza

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) informou que há três barragens no complexo da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Congonhas, e um processo de revalidação de todo o complexo está em análise pelo órgão. A mineradora trabalha no limite de capacidade em suas barragens.

Um dos pedidos da empresa é de Licença de Instalação para alteamento a jusante da barragem de 11 metros. A barragem saltaria de 933 para 944 metros.

Localizada a 150 metros da comunidade do bairro Residencial Gualter Monteiro, a barragem, com capacidade de cerca de 50 milhões de metros cúbicos – volume similar ao de Fundão -, ainda é motivo de temor para aqueles que moram na cidade. “Em 1979, pequenas barragens de Casa de Pedra se romperam e ali começou a preocupação. Anos depois, em 2008, o bairro Santa Mônica ficou inundado com o rompimento da Barragem do Vigia. Já em 2015, o rompimento de uma barragem na Mineração Herculano, na cidade de Itabirito, nos deixou ‘ouriçados’”, conta Sandoval de Souza Pinto Filho, diretor de Meio Ambiente da União de Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon).

Sandoval atesta que o medo de rompimento da barragem é frequente. “Basta uma chuva e a apreensão é enorme. Tem gente que mora a 80 metros abaixo da barragem. O rompimento em Brumadinho só evidencia o nosso medo”, acrescenta, contando que um casal de amigos que trabalhava na Vale está desaparecido na tragédia que se abateu sobre o município da Grande BH.

O medo da barragem de Casa de Pedra se romper é passado de geração em geração. A fala de Sandoval sobre o medo em épocas de chuva é exemplificado em um caso contado por Rodrigo Ferreira. “Em 2018, houve uma forte chuva na cidade. As crianças de uma escola se assustaram com o barulho provocado por um trovão e começaram a gritar falando que a barragem tinha rompido. Foi um grande desespero, pois as professoras tiveram que acalmá-las e explicar que não houve rompimento”, diz.

Colaboração: BHZ

Moradores de Congonhas se preocupam com aumento da capacidade de barragem

Casa de Pedra. Pelo menos quatro bairros são vizinhos da barragem e seriam diretamente afetados em caso de um rompimento/Reprodução

Se antes da tragédia de Mariana, quem morava perto de uma barragem já vivia apreensivo, depois que Fundão se rompeu em 2015, matando 19 pessoas e deixando milhares desabrigadas, o medo aumentou ainda mais. Segundo o inventário de barragens feito pelo Estado, de 2018 para 2017, o índice de estruturas sem estabilidade garantida caiu de 6,2% para 3,3%. Mas o recuo não reduz os temores. Na cidade histórica de Congonhas, onde estão os 12 profetas feitos de pedra-sabão por Aleijadinho, a barragem da mina Casa de Pedra, da CSN, está prestes a receber a licença ambiental que falta para ser alteada em mais 11 m. Mas a população tem sido contra, porque tem medo de a estrutura não aguentar mais rejeitos do que já comporta atualmente. “Eles até podem tirar a gente do pé da barragem. Mas, se acontecer alguma coisa, afeta a cidade toda. E não tem mais Aleijadinho para fazer as coisas aqui não”, afirma dona Maria Helena.

Aos 75 anos e com a visão debilitada por causa de diabetes, dona Maria diz que, se o pior acontecer, ela nem sequer tem condições de correr. Para o marido dela, Jésus Pereira, 72, a melhor saída seria deixar tudo como está, sem aumentar a capacidade da barragem. “É claro que a gente tem medo, porque nunca sabemos se é mesmo seguro. Se deixassem do jeito que está, sem levantar mais, dentro dela, tá pouco, era melhor”, afirma Jésus.

A CSN quer elevar de 933 m para 944 m a altura da barragem onde deposita os rejeitos da mina de Casa de Pedra. Segundo a empresa, o pedido foi feito em 2014 e, desde então, está sendo avaliado.

O subsecretário da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais (Semad), Anderson Aguilar, explica que o processo de licenciamento está na fase final e pode ser votado nas próximas reuniões do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Formado por representantes do poder público, da sociedade e de órgãos fiscalizadores como o MP, o Copam dá a palavra final. “A empresa já apresentou estudos solicitados, os técnicos da Semad fizeram vistoria em campo para verificar a compatibilidade com o que de fato é real. Sentimos necessidade de mais informações, que já foram solicitadas e apresentadas. Agora é só uma questão de amadurecimento do processo para que ele seja votado”, ressalta.

Estado de alerta. No fim do ano passado, a CSN precisou fazer obras para conter vazamentos no dique de sela e passou por vistorias da Semad, da Agência Nacional de Mineração (DNPM) e do Ministério Público (MPMG). Por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o MP, a empresa se comprometeu a corrigir as falhas. “Todos os laudos técnicos e documentos atestando a estabilidade das estruturas foram protocolados junto aos órgãos responsáveis”, destaca a CSN.

O diretor de gestão de resíduos da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Renato Brandão, afirma que, mesmo cumprindo as recomendações e realizando as obras para garantir a estabilidade, a barragem da CSN agora ganha atenção especial. “Todo ano fazemos um inventário indicando as barragens que não têm estabilidade. A barragem de Casa de Pedra nunca entrou nesse balanço, mas, como qualquer barragem que sofre algum incidente, ela terá um acompanhamento diferenciado”, afirma Brandão.

Impacto direto

Risco. Segundo cadastro da prefeitura de Congonhas, o rompimento afetaria cerca de 4.700 moradores dos bairros Residencial, Eldorado, Gran Park e Cristo Rei.

Abaixo-assinado foi entregue à ALMG

Moradores de Congonhas se mobilizam contra o alteamento da barragem. “A manifestação mais sólida é um abaixo-assinado com mais de 2.000 assinaturas, entregue à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Isso mostra que a população não aceita isso. Até o prefeito já se mostrou contrário, quando, em 2016, se recusou a dar a carta de anuência”, lembrou o diretor de meio ambiente da União das Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon), Sandoval de Souza.

Segundo o subsecretário da Semad, Anderson Aguilar, essa carta já não é mais necessária. O secretário municipal de meio ambiente de Congonhas, Neylor Araão, destaca que, mesmo sem essa obrigatoriedade, a prefeitura está atenta para garantir a segurança. “O licenciamento pode ser da alçada do Estado, mas a prefeitura está aqui para cobrar da empresa um plano de longo prazo, com planejamento de segurança. Não dá para querer altear a cada vez que precisar”, afirma.

A CSN, por meio de nota, diz que está atenta às mudanças. A empresa vem testando e implantando novas tecnologias para aproveitar o rejeito de suas barragens e para empilhamento de material seco.

Fonte: O Tempo

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