Megaprojeto da Vale planeja minerar a 3 quilômetros da “capital mineira do ecoturismo”

Além de Conceição do Mato Dentro, mineroduto pode atravessar mais dez municípios próximos à Serra da Serpentina

A mineradora Vale S.A. requereu liberação para seu novo empreendimento em terras mineiras. De magnitudes gigantescas, o projeto Serra da Serpentina pretende explorar minério de ferro e se instalar nas regiões Norte e Nordeste do estado, atravessando 11 municípios, a aproximadamente 180 quilômetros de Belo Horizonte.

O complexo Serra da Serpentina planeja ser formado por inúmeras cavas, uma usina de tratamento de minério, um mineroduto de 107 quilômetros de Conceição do Mato Dentro a Nova Era, cinco pilhas de rejeitos, além de outras estruturas. O projeto promete ser tão grande que para sua construção serão montados 17 canteiros de obras.

Os 11 municípios diretamente atravessados, de acordo com o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), são: Antônio Dias, Carmésia, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Itambé do Mato Dentro, Morro do Pilar, Nova Era, Passabém, Santa Maria de Itabira, Santo Antônio do Rio Abaixo e São Sebastião do Rio Preto.
 


No mapa, retirado do relatório apresentado pela Vale, é possível ver as áreas das cavas e a linha do mineroduto (em lilás), de Conceição a Nova Era / Rima Serra da Serpentina

Licenças

Como o empreendimento é de classe 6, ou seja, de grande porte e com o mais alto potencial poluidor ou degradador, precisará de três licenças: a licença prévia, a licença de instalação e a licença de operação. A Vale ainda está na primeira etapa, segundo o site da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Minas Gerais.

Números enormes, exceto o de empregos

O Rima foi produzido pela empresa Amplo a pedido da Vale e está protocolado na Superintendência Regional de Meio Ambiente Jequitinhonha desde outubro deste ano. No documento, os impactos mensurados também são de grandes proporções.

A implantação do projeto prevê alterar a paisagem de uma área de 5,3 mil hectares, o equivalente a mais de 5 mil campos de futebol. Para retirar o minério, a Vale pretende cavar 1,9 mil hectares e usar mais 2,3 mil hectares para empilhar rejeitos úmidos e secos. A maior pilha será a P010C e deve ocupar uma área equivalente a 834 campos de futebol.

O projeto ainda pretende se assentar na serra que dá o seu nome. Assim, a Serra da Serpentina terá pelo menos 30 quilômetros ocupados pela mineração.

Durante quase 40 anos, a Vale deseja retirar da terra 1,7 bilhões de toneladas de minério de ferro bruto. Nessa jornada, o maior número de pessoas empregadas ao mesmo tempo no complexo será de 1.462 pessoas, segundo o relatório.

Impactos imensuráveis

A maior parte da exploração de minério está planejada para acontecer no município de Conceição do Mato Dentro, a cerca de três quilômetros da sede municipal. 

“Uma cava está na região central do município de Conceição. Vai afetar a zona urbana e uma série de comunidades que já são atingidas pelo projeto Minas-Rio”, preocupa-se Juliana Deprá, integrante da coordenação estadual do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), relembrando os problemas causados pela mineradora inglesa Anglo American.

O projeto Minas-Rio construiu um mineroduto na região, com 529 quilômetros, o maior do mundo. O da Vale, no projeto Serra da Serpentina, alcançará 107 quilômetros, passando dentro da sede municipal de Santa Maria de Itabira e bem próximo às sedes de Morro do Pilar e Santo Antônio do Rio Abaixo.

Para Juliana, essa obra significa o aprofundamento do “saque” do minério brasileiro. “O mineroduto leva nossa água junto e a gente nem vê o rastro do minério”, critica.

A ambientalista mineira Maria Tereza Corujo, conhecida como Teca, acha difícil apontar um dos impactos como o mais preocupante. “Vai ter, por exemplo, a supressão da vegetação, que gera impacto na qualidade do ar, e depois vai impactar na saúde das pessoas próximas e da natureza”, pontua. “Na questão ambiental, e com suas implicações sociais, tudo é sistêmico”.

“O projeto como um todo é o maior impacto”, conclui.

Falta de respostas

O governo de Minas foi questionado pela reportagem sobre uma possível ação judicial contra o projeto, mas não respondeu. A mineradora também foi questionada e também se absteve. O espaço continua aberto a manifestações.

Edição: Larissa Costa

FONTE BRASIL DE FATO MG

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