Com o fim do isolamento social, divórcios em Cartório de Notas caem 15% em Minas

O fim do isolamento social causado pela Covid-19 e o retorno das famílias à normalidade de suas rotinas de trabalho e estudo podem ser algumas das razões que fez com que o número de divórcios realizados em Cartórios de Notas, que havia atingido crescimento recorde durante a pandemia, caísse 15,1% nos 11 primeiros meses de 2022 em comparação ao ano passado, atingindo seu menor número desde o ano de 2010.
Em números absolutos foram 6.226 divórcios em Cartórios de Notas entre janeiro e novembro deste ano, frente a 7.332 em 2021, ano que marcou o auge da pandemia no país, e que obrigou a adoção de medidas de isolamento social por boa parte dos governos em território nacional. Os meses com maiores quedas foram novembro, julho e janeiro.
Os dados constam da Central Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados (Censec), base de dados administrada pelo Colégio Notarial do Brasil — Conselho Federal (CNB/CF) e que reúne as informações dos 8.354 Cartórios de Notas do país, responsáveis pelos atos de escrituras públicas, procurações, testamentos, atas notariais, autenticações e reconhecimento de firmas.

“Com o cenário de pandemia, surgiu a necessidade de as pessoas ficarem mais dentro das próprias casas e, consequentemente, o desgaste das relações entrou em evidência e muitos casais decidiram pelo divórcio. Além disso, o lançamento da plataforma e-Notariado permitiu a prática de diversos atos notariais em meio eletrônico, inclusive a escritura de divórcio, sem a necessidade de estar lado a lado com o ex-companheiro, de forma fácil, rápida e totalmente digital”, aponta Victor de Mello e Moraes, presidente do CNB/MG.
Na comparação entre os 11 primeiros meses deste ano com o mesmo período de 2020, primeiro ano da pandemia no Brasil, quando foram registrados 7.161 mil divórcios, a queda foi de 13,1%. Os meses de novembro, setembro e julho foram aqueles com maior diminuição. Já entre o primeiro e o segundo ano da crise sanitária da Covid-19 houve crescimento de 2,4% nas dissoluções de casamento no estado.

Divórcio online

Lançada em junho de 2020, em meio às restrições de deslocamentos causadas pelo ápice da crise sanitária no país, a plataforma e-Notariado, que pode ser acessada clicando aqui, regulamentada nacionalmente pelo Provimento nº 100 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), permite a prática de 100% dos atos notariais em meio eletrônico, entre eles todos os tipos de escrituras, procurações, testamentos e atas notariais. Para realizar o divórcio em Cartório de Notas o casal deve estar em comum acordo com a decisão e não ter pendências judiciais com filhos menores ou incapazes. O processo pode ser realizado de forma totalmente online, por meio da plataforma e-Notariado, onde o casal, de posse de um certificado digital emitido de forma gratuita por um Cartório de Notas, poderá declarar e expressar sua vontade em uma videoconferência conduzida pelo tabelião.

Após entrar em contato com o Cartório de Notas de sua escolha, é agendada uma videoconferência com o tabelião para realizar a escritura, que é assinada digitalmente com certificado digital Notarizado ou por ICP-Brasil, assinatura digital de padrão nacional utilizada, por exemplo, para declarar o Imposto de Renda. Os serviços desta plataforma também estão disponíveis em aparelhos celulares.

FONTE FOLHA DE BARBACENA

Mundo ‘nunca esteve tão perto de acabar com a pandemia’, diz diretor da OMS

‘Alguém que corre uma maratona não para quando vê a linha de chegada. Corre mais depressa, com toda a energia que restar. E nós, também’, afirmou

 O mundo “nunca esteve tão perto de acabar com a pandemia” de covid-19, que matou milhões de pessoas desde o final de 2019, afirmou nesta quarta-feira(14) o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

“Na semana passada, o número de mortes semanais por COVID-19 caiu para seu nível mais baixo desde março de 2020. Nunca estivemos em melhor posição para acabar com a pandemia. Ainda não terminou, mas seu final está ao alcance das mãos”, garantiu Tedros em coletiva de imprensa.

“Alguém que corre uma maratona não para quando vê a linha de chegada. Corre mais depressa, com toda a energia que restar. E nós, também”, afirmou o maior autoridade da OMS.

“Todos podemos ver a linha de chegada, estamos prestes a vencer. Seria realmente a pior hora para deixar de correr”, insistiu.

“Se não aproveitarmos esta oportunidade, corremos risco de ter mais variantes, mais mortos, mais problemas e incertezas”.

Segundo o último boletim epidemiológico publicado pela OMS, o número de casos caiu 12% na semana de 29 de agosto a 4 de setembro em relação à semana anterior, até 4,2 milhões de novos contágios declarados.

O número de infecções é, sem dúvida, muito maior devido aos casos leves não declarados e também porque muitos países desmobilizaram suas estruturas para realizar testes.

Em 4 de setembro, a OMS contabilizou mais de 600 milhões de casos oficialmente confirmados – um número que se presume muito inferior ao real, assim como o número oficial de óbitos: 6,4 milhões no mundo.

FONTE ESTADO DE MINAS

“Pandemia está longe de acabar”, diz diretor da OMS

Tedros Ghebreyesus refuta ideia de que a variante ômicron do coronavírus seja benigna. Diretor-geral também expressa preocupação com baixas taxas de vacinação em alguns países.

A pandemia de covid-19 “está longe de acabar”, afirmou nesta terça-feira (18/01) o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), alertando contra a ideia de que a variante ômicron seja benigna.

“A ômicron continua varrendo o planeta. (…) Não se enganem, a ômicron causa hospitalizações e mortes, e mesmo os casos menos graves sobrecarregam as instituições de saúde”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus em entrevista coletiva em Genebra, Suíça.

“Esta pandemia está longe de acabar, e dado o incrível crescimento da ômicron em todo o mundo, é provável que surjam novas variantes”, acrescentou.

Em 11 de janeiro, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ponderou que, embora a doença ainda esteja em fase de pandemia, a disseminação da variante ômicron deve transformar a covid-19 em uma doença endêmica com a qual a humanidade pode aprender a lidar.

“À medida que a imunidade aumenta na população – e com a ômicron, haverá muita imunidade natural além da vacinação – avançaremos rapidamente para um cenário mais próximo da endemicidade”, disse Marco Cavaleri, chefe da estratégia de vacinas da EMA.

Na Suíça, o ministro da Saúde, Alain Berset, também estimou na semana passada que a variante ômicron poderia ser “o começo do fim” da pandemia.

Mas o chefe da OMS é mais cauteloso e ressaltou que a variante ômicron não é benigna.

“Em alguns países, os casos de covid parecem ter atingido o pico, dando esperança de que o pior desta última onda já passou, mas nenhum país está fora de perigo ainda”, disse Tedros Ghebreyesus.

O diretor-geral expressou especial preocupação com o fato de muitos países ainda possuem baixas taxas de vacinação contra a covid. “As pessoas correm mais risco de sofrer de formas graves da doença ou de morrer se não forem vacinadas.”

A “ômicron pode ser menos grave em média, mas a narrativa de que é uma doença leve é enganosa (…) e prejudica a resposta geral e custa mais vidas”, completou Tedros.

Segundo a OMS, na semana passada foram reportados mais de 18 milhões de novos casos de covid-19 no mundo.

A pandemia de covid-19 provocou mais de 5,5 milhões de mortes em todo o mundo. O número de casos identificados da doença passa de 332 milhões, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

jps/lf (AFP. Lusa, ots)

FONTE DW.COM

OMS prevê fim da pandemia de covid-19 em 2022

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização, fez a previsão durante entrevista coletiva em Genebra

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que 2022 deverá ser o ano “em que acabaremos com a pandemia”. Tedros Adhanom Ghebreyesus fez a previsão durante entrevista coletiva em Genebra. Ele também defendeu a redução da desigualdade no acesso às vacinas.

Com o surgimento da variante ômicron, detectada na África do Sul em novembro e muito mais contagiosa, países enfrentam uma quinta onda de covid-19 e apertam as restrições. O chefe da OMS alertou para os riscos das reuniões familiares neste período de festas.

“No próximo ano, a OMS está empenhada em fazer todo o possível para acabar com a pandemia”, acrescentou. “Se quisermos acabar com ela, devemos acabar com a desigualdade (no acesso às vacinas), garantindo que 70% da população de todos os países esteja vacinada até meados do ano que vem”, disse Tedros.

Cidades do nordeste dos EUA registram um alarmante aumento no número de casos da covid-19, fenômeno abastecido pela ômicron. Em Nova York, os novos registros de infecções aumentaram 80% ao longo das duas últimas semanas. Filas imensas de cidadãos para realizar o teste PCR se formaram na Times Square, um dos pontos turísticos mais frequentados de Manhattan. Em Washington, o número de contágios diários é três vezes maior do que os registrados no começo do mês.

A variante ômicron se tornou amplamente dominante no país, respondendo por 73,25% das novas infecções por covid-19 durante a semana encerrada em 18 de dezembro, de acordo com dados das autoridades sanitárias. A cepa representa 96,3% dos novos casos em três estados do noroeste (Oregon, Washington e Idaho).

O presidente Joe Biden deve discursar hoje à nação sobre a ameaça representada pela ômicron. “Vamos ter semanas ou meses difíceis, à medida que nos aproximamos do inverno no Hemisfério Norte”, admitiu o infectologista Anthony Fauci, assessor de Biden para a crise sanitária. Ontem, Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, descartou que o presidente anunciaria um “confinamento”. “Este não é um discurso sobre confinar o país. Este é um discurso para ressaltar e ser direto e claro com os americanos sobre os benefícios de estar vacinados.”  

Europa

No dia em que teve divulgada uma foto na qual aparece em uma reunião social durante o lockdown, o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, disse que se reserva a possibilidade de impor novas restrições antes do Natal. Ontem, 91.743 casos da covid-19 foram registrados em 24 horas — o segundo número mais alto desde o início da pandemia. Pelo menos 12 mortes são atribuídas à ômicron no Reino Unido. Por sua vez, Portugal realizará, hoje, um encontro extraordinário do Conselho de Ministros para decidir sobre medidas de isolamento social. A informação foi divulgada, ontem, pelo jornal Público.

FONTE CORREIO BRASILIENSE

Diário da Covid-19: Controle da inflação depende da vacinação e do fim da pandemia

Pandemia provoca aumento no preço dos alimentos e insegurança alimentar, especialmente nos países de renda mais baixa

A pandemia da covid-19 fez a economia mundial cair 3,1% em 2020, marcando a maior recessão da produção internacional desde a Grande Depressão da década de 1930. Mas a perspectiva geral era de uma recuperação consistente em 2021 e 2022. Todavia, novas ondas pandêmicas contribuíram para a ruptura das cadeias produtivas globais, para a redução da oferta das diversas fontes de energia e para o aumento dos preços dos bens e serviços, inclusive o preço dos alimentos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que a inflação no mundo deve seguir em alta até o fim de 2021, mas pode arrefecer no ano que vem, retomando aos níveis pré-pandemia. Na atualização do relatório World Economic Outlook (WEO), divulgado dia 12 de outubro, o FMI considera que a inflação global pode piorar se surgirem novas variantes do coronavírus antes da vacinação avançar nas áreas mais pobres do planeta.

O FMI deixa claro que não é útil criar uma divisão artificial entre economia e pandemia, como se o crescimento econômico fosse prioritário em relação ao controle da covid-19. Na verdade, o desempenho econômico será tanto melhor quando menor for o impacto do coronavírus. Assim, o Fundo Monetário defende que a saída para a crise atual é controlar a pandemia e aumentar a vacinação.

O panorama nacional da covid-19

O Ministério da Saúde divulgou os dados nacionais da covid-19, registrando 21.638.726 pessoas infectadas e 603.152 vidas perdidas, no dia 16 de outubro de 2021. A média móvel de 7 dias caiu para 10,2 mil casos e a média de mortes ficou em 332 óbitos diários. O Brasil está em terceiro lugar no ranking global de casos acumulados atrás apenas dos EUA e da Índia. No número acumulado de mortes está em 2º lugar, atrás apenas dos EUA e ocupa o 7º lugar no coeficiente acumulado de mortalidade.

As curvas epidemiológicas de casos e de óbitos estão em queda, apresentando os menores valores desde maio de 2020. O gráfico abaixo mostra as médias móveis do número de casos e de óbitos no Brasil entre 21/03/2020 e 16/10/2021. Nota-se que o número de pessoas infectadas cresceu continuamente no Brasil até o primeiro pico da curva epidemiológica com média de 46,4 mil casos em 29 de julho de 2020. Em seguida, a média móvel iniciou uma trajetória de queda até início de novembro.  Contudo, o número de casos voltou a subir e apresentou dois picos entre março e junho de 2021, com média móvel acima de 70 mil casos diários (os maiores valores da série). No dia 23 de junho a média móvel de infectados foi de 77,3 mil casos e desde então os números caíram consistentemente e já estão próximos de 10 mil casos (7 vezes menos do que o pico).

Na curva que mostra o número médio de vidas perdidas, o primeiro pico ocorreu entre maio e julho de 2020, quando ficou acima de 1 mil vítimas fatais diárias. Entre agosto e outubro a média caiu para um patamar abaixo de 400 óbitos diários, mas subiu no mês de novembro e chegou no pico de cerca de 3 mil mortes diárias em abril. A última vez que a média diária de mortes ficou acima de óbitos 2 mil óbitos foi no dia 22 de junho de 2021 e, desde então, os números de mortes da covid-19 caem consistentemente e chegaram a 332 óbitos no dia 16 de outubro a menor média em cerca de 1 ano e meio.

Portanto, parece que o pior já passou e existe uma tendência de queda dos números da pandemia em todo o território nacional. Oxalá esta realidade se mantenha. Segundo o Imperial College, a taxa de transmissão do coronavírus no Brasil ficou em 0,60, o menor valor desde início da medição. Mais da metade dos municípios brasileiros não registraram mortes no mês passado. Por conseguinte, o momento é favorável ao controle da doença, especialmente porque a imunização tem avançado e cerca de 50% da população brasileira já têm a vacinação completa. Todavia, todo cuidado é pouco, pois novas mutações do coronavírus estão sempre ameaçando espalhar a transmissão. A luta contra novos surtos precisa ser redobrada.

O panorama global da covid-19

Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo chegou a 240,4 milhões de pessoas infectadas e somou 4,9 milhões de vidas perdidas para a covid-19, com uma taxa de letalidade de 2%. As médias móveis estão em 404 mil casos e 6,7 mil óbitos. Já são mais de 200 países e territórios com mais de 1 mil casos da covid-19 e 36 países com mais de 1 milhão de casos. Há 5 países com mais de 200 mil óbitos da pandemia.

O gráfico abaixo mostra as médias móveis do número de casos e de óbitos no mundo entre 01/04/2020 e 16/10/2021. O número internacional de infectados aumentou continuamente em 2020 e apresentou 3 picos em 2021 (janeiro, abril e agosto), sendo que o cume de toda a série ocorreu no final de abril com média acima de 800 mil casos diários. No dia 26/08 foram registrados 662 mil casos diários em média e, desde então, os números caíram para 404 mil casos no dia 16/10/2021. A primeira subida do número de mortes aconteceu em março de 2020 e o pico da média móvel ocorreu em meados de abril com cerca de 7 mil vidas perdidas por dia. Novo pico foi alcançado em janeiro de 2021 e a média móvel ultrapassou 14 mil mortes diárias. Os números caíram em fevereiro, mas voltaram a subir chegando a 13 mil mortes diárias no início de maio. No dia 26/08 foram registrados 10,2 mil óbitos em média e, desde então, os números caíram para 6,7 mil óbitos no dia 16/10/2021.

Os montantes globais da pandemia estão em queda e a perspectiva é que a morbimortalidade continue diminuindo na medida em que a cobertura vacinal avance. Mas o patamar de casos e óbitos ainda é alto e existe uma preocupante lacuna na cobertura mundial das vacinas.

A vacinação nacional e global

O mundo chegou a 3,75 bilhões de pessoas vacinadas, com pelo menos uma dose, no dia 15 de outubro, segundo o site Our World in Data. Num mundo tão heterogêneo, evidentemente o processo de vacinação não é equitativo. Mas de modo geral, a vacinação tende a avançar mais rápido naqueles países ou regiões com os maiores coeficientes de mortalidade.

Observa-se nos gráficos abaixo que o Brasil com um coeficiente de mortalidade de 2,8 mil óbitos por milhão de habitantes tem uma taxa de vacinação (com pelo menos uma dose) de 73%. A América Latina com coeficiente de 2,7 mil óbitos por milhão tem taxa de vacinação de 64% e a América do Norte tem coeficiente de 1,8 mil e taxa de 59%. A Europa tem coeficiente de 1,7 mil óbitos e taxa de 58%, enquanto o mundo tem coeficiente de mortalidade de 621 óbitos por milhão e taxa de vacinação de 47%.

Já a Ásia com coeficiente de mortalidade abaixo da média mundial (de 246 óbitos por milhão), possui taxa de vacinação bem superior ao padrão global (com 54% dos asiáticos com pelo menos uma dose). O destaque é a Oceania que possui o menor coeficiente de mortalidade (apenas 57 óbitos por milhão), mas já atingiu 53% da população do continente vacinada. O continente africano é o que possui a menor taxa de vacinação (somente 7,6% da população vacinada com pelo menos uma dose), mas também possui o segundo menor coeficiente de mortalidade (com 157 óbitos por milhão de habitantes).

Considerando apenas a vacinação completa entre os países, o gráfico abaixo mostra que há 86 países e territórios com taxa de vacinação completa acima da percentagem brasileira (48% dos brasileiros estão com a imunização completa). Por exemplo, a Nova Zelândia tem um coeficiente de mortalidade de apenas 6 óbitos por milhão de habitantes, mas já garantiu a vacinação para 54% dos neozelandezes.

De fato, a vacinação é fundamental para o controle da convid-19. Mas a imunização vacinal não é a única forma de minimizar os impactos do coronavírus. Os países e cidades que conseguiram fazer uma rígida barreira sanitária, rastrearam e monitoraram a propagação do vírus e adotaram medidas de prevenção e um bom acompanhamento médico, tiveram menor número de vidas perdidas.

Um estudo do Imperial College de Londres comparou o controle da Covid-19 em 14 capitais brasileiras e demonstrou que fatores como os investimentos nos recursos de saúde, otimização da atenção à saúde e a preparação adequada para o enfrentamento à pandemia foram essenciais para o melhor desempenho da capital mineira no enfrentamento à doença. O estudo indica que se todas as capitais avaliadas tivessem a mesma condução que Belo Horizonte adotou, cerca de 328 mil mortes teriam sido salvas no Brasil.

Pandemia, inflação e aumento do preço dos alimentos

Como vimos no início deste texto, o relatório WEO do FMI (de 12 de outubro) considera que o controle da pandemia é um pré-requisito para a retomada sustentada da economia e alerta que caso a Covid siga tendo impacto prolongado, o PIB global pode encolher em até US$ 5,3 trilhões nos próximos cinco anos. O cenário de crescimento econômico baixo e inflação alta gera o risco de estagflação global, situação em que preços sobem e os países não crescem, mesmo que os governos apliquem estímulos fiscais e monetários. Mas este quadro pode ser evitado com o avanço da vacinação e o fim da covid-19.

Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá: isto é mentira! Mas, as misérias são reais

A disrupção dos fluxos de valor em função da pandemia atinge diversos setores econômicos. O desligamento de fábricas de semicondutores durante o auge da emergência sanitária foi um dos fatores responsáveis pela escassez do componente, atingindo não somente a indústria automotiva, mas também a produção de bens eletrônicos e computadores. A crise energética tem múltiplas causalidades. No Brasil, o fator principal é a seca e o baixo nível dos reservatórios que está reduzindo a produção de eletricidade. Na Europa, a crise é devido à escassez de gás natural e na China é por falta de carvão mineral (o combustível mais poluidor).

Em geral, o aumento do preço da energia faz aumentar o preço dos alimentos. Em meio à pandemia este processo se agrava com a diminuição da oferta de fertilizantes e outros insumos. A pressão sobre o preço dos bens de subsistência veio de vários lados: do aumento geral dos custos de produção e transporte, da volatilidade dos preços, dos estoques baixos, da falta de containers que prejudicam o comércio internacional e dos efeitos das mudanças climáticas. Neste contexto, o FMI considera que a inflação deve seguir forte em alguns países emergentes por reflexo da alta do preço dos alimentos, do petróleo e da perda de valor das moedas locais frente ao dólar e ao euro, o que encarece as importações. O preço da comida tem subido em países de renda mais baixa, aumentando a fome e as dificuldades para os mais pobres.

Tudo isto se reflete no Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) que atingiu valor recorde (em termos reais) em setembro de 2021, marcando 130 pontos, o valor mais alto desde 1974. O FFPI, mesmo com algumas oscilações, diminuiu durante todo o século XX, a despeito da população ter crescido 4 vezes e o PIB mundial aumentado cerca de 18 vezes entre 1900 e 2000. Porém, a realidade do século XXI está se mostrando diferente.

O gráfico abaixo mostra que a média do preço dos alimentos da última década do século XX (1990-99) foi de 77,9 pontos, passando para 82,5 pontos na primeira década do século XXI (2000-09) e para 103,6 pontos na década de 2010-19. Na média de 2020 e 2021 o FFPI deu novo salto para 111 pontos. Portanto, a pandemia aumentou o preço dos alimentos e, consequentemente, a insegurança alimentar.

Se a inflação e o aumento do preço dos alimentos é um fenômeno global, a situação brasileira é ainda mais grave. Segundo o IBGE, a inflação oficial para o mês de setembro de 2021 foi de 1,16%, o maior avanço para o mês desde 1994. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 10,3% nos últimos 12 meses, o que representa o triplo da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central, de 3,75% para este ano. Agravado pela desvalorização cambial, os itens que mais subiram foram exatamente os gêneros alimentícios, como arroz, feijão, batata, carne, leite e óleo de soja, que estão no cardápio básico da população.

Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) cerca de 20 milhões de brasileiros declaram passar 24 horas ou mais sem ter o que comer em alguns dias. Em torno de 24,5 milhões não têm certeza de como se alimentarão no dia a dia e já reduziram quantidade e qualidade do que comem. Outros 74 milhões vivem inseguros sobre se vão acabar passando por isso. No total, 55% dos brasileiros sofriam de algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve) em dezembro de 2020. A situação se agravou ainda mais em 2021.

Existem múltiplos desafios para o Brasil neste momento, pois, além de colocar um fim à pandemia, é preciso criar oportunidades de emprego e renda para os mais de 30 milhões de brasileiros que estão desempregados ou subutilizados, reduzir a inflação que já atingiu a casa de dois dígitos e controlar o preço dos alimentos. A fome já está se espalhando pelo mapa do país e o Brasil caminha para voltar ao mapa da fome.

FONTE PROJETO COLABORA

Covid-19: como se determina o fim de uma pandemia

A notícia de que São Paulo e outros oito Estados não registraram nenhuma morte por covid-19 na segunda-feira (8/11) foi recebida com muita comemoração e otimismo

Embora o acontecimento seja simbólico e reforce a melhora contínua da pandemia no país durante os últimos meses, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que é preciso colocar o fato em perspectiva e ter em mente que ainda há um longo caminho a ser percorrido antes de decretar o fim da crise sanitária.

“Estamos de fato na melhor fase desde o início de 2021, com um decréscimo imenso em casos, hospitalizações e óbitos. Mas os anúncios de que ninguém morreu de covid-19 devem ser analisados com cautela, até porque existe um atraso nas notificações”, pondera o médico Guilherme Werneck, membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

“E é preciso deixar claro que o fim da pandemia, quando realmente chegarmos lá, não significará o fim da covid”, completa o profissional da saúde, que também é professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

O virologista Paulo Eduardo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), concorda. “Com base no que sabemos sobre outros tipos de coronavírus, é provável que o Sars-CoV-2 [o responsável pela pandemia atual] se atenue com o passar dos anos e se torne um causador de resfriado comum. Mas a atual reemergência de casos na Europa mostra que ainda estamos longe disso”, analisa.

Já a médica Lucia Pellanda, professora de epidemiologia e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, destaca a importância da saúde coletiva e o caráter global do desafio que enfrentamos. “Como o próprio nome já diz, a pandemia é um problema mundial. E, enquanto a situação estiver ruim em alguma região, todos nós continuaremos sob risco.”

Mas como chegamos até aqui? E quais são as perspectivas mais otimistas e mais pessimistas para os próximos meses? Entenda a seguir como uma pandemia acaba — e o que pode acontecer na sequência dela.

Cenário positivo no Brasil e preocupante na Europa

Após um primeiro semestre muito duro, com centenas de milhares de casos e de mortes por covid-19, o Brasil está numa situação bem mais tranquila desde o final de julho e o início de agosto.

Para ter ideia, a média móvel diária de óbitos (que leva em conta os registros dos últimos sete dias) está atualmente em 236, de acordo com o painel do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

Um número desses só havia sido observado em abril de 2020, quando o vírus começou a se espalhar pelo país. No pior momento da crise sanitária, essa taxa chegou a atingir, em abril de 2021, um pico de 3.124 mortes diárias.

Médias móveis de casos e mortes por covid-19 do Conass
Legenda da foto,De acordo com médias móveis de casos e mortes por covid-19 do Conass, números estão em queda desde agosto

A sequência de boas novas culminou com a notícia, divulgada na segunda-feira (8/11), de que São Paulo não registrou nenhuma morte por covid-19 em 24 horas, fato que não havia acontecido nenhuma vez desde o início da crise sanitária.

Nesse mesmo dia, outros oito Estados brasileiros não tiveram óbitos pela doença: Acre, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Rondônia, Roraima e Sergipe. O Acre, aliás, está sem nenhum registro de morte há mais de dez dias.

Segundo os especialistas, há três ingredientes que ajudam a explicar essa melhora.

“É evidente que a vacinação é o principal deles. A partir de junho, momento em que a campanha ganhou força e a cobertura vacinal na população brasileira aumentou, tivemos uma queda substancial nas hospitalizações e nas mortes”, observa Werneck.

“Não podemos nos esquecer também do enorme número de casos que tivemos, o que certamente contribuiu para criar uma imunidade, e a adesão às medidas não farmacológicas, especialmente o uso de máscaras”, complementa o médico.

O cenário mais ameno permitiu que muitas cidades brasileiras aliviassem as restrições, que mantinham espaços de convivência, como restaurantes, bares e shoppings, fechados ou com horário de funcionamento e taxa de ocupação bem reduzidos.

Alguns prefeitos e governadores foram além e chegaram até desobrigar mais recentemente o uso de máscaras em alguns locais abertos.

Os especialistas, no entanto, temem que essa onda de otimismo e relaxamento reverta a tendência positiva e desperdice todas as conquistas do momento.

“É claro que a notícia de um dia sem mortes é excelente, mas não dá pra comemorar demais. Trata-se de uma data isolada e, quando vemos as estatísticas, ainda estamos com médias razoáveis de casos e óbitos por covid”, diz o médico Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

“Temos que ter cuidado para que a situação no Brasil não volte a piorar, como acontece agora na Europa, que está com uma nova subida nos casos e nas hospitalizações após fazer a reabertura”, aponta o especialista.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia, com uma piora considerável da situação no Reino Unido, na Alemanha, na Hungria, na Áustria e na Ucrânia.

Durante uma coletiva de imprensa no dia 4 de novembro, Hans Kluge, diretor regional da OMS, disse que a situação representa uma “grave preocupação” e que a região está “num ponto crítico para a ressurgência pandêmica”.

Profissionais da saúde na Rússia
Legenda da foto,De acordo com a OMS, a Europa voltou a se tornar o epicentro da pandemia de covid-19

A explicação para esse recrudescimento, segundo a avaliação do próprio representante da entidade, está no relaxamento das medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras e a prevenção de aglomerações, e a baixa taxa de vacinação em alguns países.

Não é possível afirmar que o mesmo cenário acontecerá no Brasil (até porque a campanha de imunização por aqui conta com uma maior participação popular), mas, até agora, a piora do cenário na Europa se repetiu alguns meses depois em nosso país.

“É possível escaparmos disso, a depender do comportamento das pessoas e das políticas públicas. Precisamos continuar com a vacinação e seguir com as camadas de proteção, como o uso de máscaras e o cuidado com as aglomerações e com a circulação de ar pelos ambientes”, indica Pellanda.

Como uma pandemia acaba?

Por algum tempo, aventou-se a possibilidade de que a imunidade coletiva (ou imunidade de rebanho) seria capaz de dar um fim à covid-19: conforme as pessoas ficassem doentes (ou, preferencialmente, fossem vacinadas) o Sars-CoV-2 não encontraria mais hospedeiros e deixaria de circular.

Mas o surgimento de novas variantes, como a Alfa, a Beta, a Gama e a Delta, junto com o conhecimento de que a imunidade contra esse coronavírus não dura para sempre e varia muito de pessoa para pessoa, praticamente descartou essa ideia.

Hoje em dia, há uma maior concordância entre os cientistas de que a pandemia de covid-19 se transformará aos poucos em uma endemia.

Isso significa que a doença continuará a ser frequente em uma (ou em várias) regiões do planeta, com um número de casos e de mortes esperados todos os anos.

É isso o que ocorre com uma série de outras enfermidades, como a malária, a febre amarela ou a própria gripe.

“O desafio será estabelecer um patamar admissível de casos e óbitos, o que exigirá um consenso não apenas da comunidade científica, mas de toda a sociedade”, antevê Werneck.

“E, para evitar que esses números voltem a subir novamente e tenhamos surtos ou epidemias no futuro, necessitamos de um sistema de vigilância muito forte, capaz de detectar aumentos repentinos e lançar mão de medidas preventivas. É o que acontece hoje com meningite e sarampo”, exemplifica o médico.

Pellanda concorda com essa dificuldade em estabelecer os critérios que determinarão o fim da pandemia atual.

“Estamos num período de instabilidade dos dados e não sabemos bem como será o futuro. Por isso, devemos desconfiar de qualquer pessoa que tenha muita certeza agora do que vai acontecer”, diz.

Exemplos do passado

Para entender os próximos passos do Sars-CoV-2, Brandão traça um paralelo histórico com outro tipo de coronavírus, o OC43, que possivelmente causou uma epidemia (ou até uma pandemia) no final do século 19.

“Você pode até nunca ter ouvido falar dele, mas provavelmente já foi infectado algumas vezes por esse vírus”, brinca o cientista.

“Após ter ‘pulado’ de bovinos para seres humanos, ele era agressivo. Mas, com o passar do tempo, foi atenuado por ciclos sucessivos de infecção na nossa espécie. Atualmente, o OC43 é um dos principais causadores do resfriado comum, quadro que é autolimitado e não costuma causar sintomas mais graves”, conta.

O virologista lembra que a “meta principal” de um vírus é se replicar, e não matar o seu hospedeiro. Portanto, um agente infeccioso que consegue criar essa “convivência pacífica” com o ser humano acaba atingindo seu objetivo com mais facilidade e permanece entre nós por um tempo prolongado.

Sars-CoV-2
Legenda da foto,Com o passar do tempo, o Sars-CoV-2 pode se tornar mais ameno e virar um dos causadores de resfriados

Na contramão, um vírus muito agressivo, que mata rapidamente após a infecção, tem menos probabilidade de causar uma epidemia ou uma pandemia, já que a transmissão acaba prejudicada.

É o que acontece, por exemplo, como o Mers-CoV, um outro tipo de coronavírus responsável pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio (ou Mers, na sigla em inglês): o índice de letalidade dele chega a 37%, mas os casos ficaram restritos a alguns países em 2011 e 2015.

Será que esse fenômeno de atenuação acontecerá com o Sars-CoV-2? Não dá pra ter certeza disso.

“Vivemos um momento em que esse coronavírus está dando as primeiras voltas ao redor da Terra. Já foram duas e ele está na terceira, com o aumento recente da transmissão pela Europa”, explica Brandão.

“Por ora, não é possível afirmar categoricamente que o Sars-CoV-2 ficará mais ameno, a exemplo do OC43. Em termos evolutivos, essa é uma possibilidade que pode demorar alguns anos para acontecer”, continua.

“Portanto, não é hora de baixar a guarda. Esse coronavírus não está atenuado e a relação não é amigável o suficiente a ponto de deixarmos que ele circule livremente pela nossa casa”, completa o pesquisador.

Nessa mesma linha de raciocínio, não está descartada também a possibilidade diametralmente oposta: o surgimento de variantes do coronavírus ainda mais agressivas e com capacidade de driblar a proteção das vacinas disponíveis.

“Essa é uma realidade matemática: quanto mais o vírus se replica, mais versões dele aparecem e, consequentemente, maior o risco de surgirem mutações preocupantes”, ratifica Brandão.

E isso só reforça a ideia de que o problema é global e deveria ser tratado como tal. “Em algumas nações mais pobres, a proporção de vacinados segue muito baixa. Isso abre o risco de bolsões de covid-19 que podem ‘exportar’ o vírus novamente para o resto do mundo”, alerta Pellanda.

“A pandemia reforçou a noção de que toda a saúde é coletiva e está conectada com as pessoas ao redor e ao planeta inteiro. Enquanto um ser humano estiver em perigo, todos estaremos”, completa a médica.

Profissional de saúde vacina mulher
Legenda da foto,Vacinação contra a covid-19 pode ser periódica no futuro, especulam cientistas

É justamente por isso que os especialistas batem tanto na tecla da vacinação e dos demais cuidados não farmacológicos (uso de máscaras, evitar aglomerações, cuidados com a ventilação…).

As medidas preventivas podem até ser um pouco aliviadas se a situação de momento num país ou numa região for boa, mas não é possível abandoná-las por completo (a exemplo do que foi feito em alguns países europeus), pelo menos durante os próximos meses ou anos.

O mesmo raciocínio também se aplica à imunização: é provável que teremos a aplicação de novas doses de vacinas contra a covid-19 de tempos em tempos.

Embora o fim da pandemia ainda seja cercado de mistérios e pareça apenas uma perspectiva distante, Brandão se lembra de um discurso feito pelo então primeiro-ministro britânico Winston Churchill em 1942, em meio à Segunda Guerra Mundial, após uma vitória importante dos aliados contra os nazistas.

Na visão do virologista, a frase se aplica perfeitamente ao atual estágio da covid-19 no mundo: “Esse não é o fim. Não é sequer o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.”

FONTE BBC NEWS

Diário da Covid-19: Novembro será decisivo para o fim da pandemia

Brasil segue sendo um dos sete países com maior número de óbitos por milhão de habitantes, mas altas taxas de morbidade e mortalidade parecem ter ficado para trás

O Brasil vive um momento decisivo da emergência sanitária e o país pode ter um fim de ano bem mais tranquilo do que o último. O mês de outubro apresentou as menores médias de casos e mortes da pandemia, desde abril de 2020, como mostramos no artigo “Diário da Covid-19: Brasil na emergência sanitária, social e climática” (Alves, 31/10/2021). Assim, se houver continuidade das tendências de declínio das curvas epidemiológicas, o mês de novembro de 2021 pode marcar a inflexão para o fim da pandemia no Brasil

Há exatamente um ano, também houve uma queda nas médias de casos e mortes em outubro. Porém, ao invés da doença ficar sob controle, novembro de 2020 foi marcado pelo início da 2ª onda pandêmica no país. A diferença atual é que o Brasil já tem quase 80% da população vacinada com a primeira dose e se aproxima de 60% da população com a vacinação completa. Portanto, se os números de casos e mortes continuarem caindo em novembro, o Brasil pode estar perto do fim da pandemia.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 06 de novembro de 2021, o Brasil apresentou os menores números do ano. Na média semanal, foram 10.033 casos diários e 242 óbitos diários, valores só comparáveis aos dos primeiros dois meses da pandemia. No sábado (06/11), em volume acumulado, foram registradas 21.874.324 pessoas infectadas (mais de 10% da população nacional) e 609.388 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 2,8%. O Brasil continua sendo um dos 7 países com maior número de óbitos por milhão de habitantes. Mas parece que as altas taxas de morbidade e mortalidade da covid-19 ficaram para trás e, embora a covid zero ainda seja um sonho distante, já se vislumbra a minimização da doença em um horizonte próximo.

O gráfico abaixo mostra o número diário e a média móvel de 7 dias de casos da covid-19 no Brasil, do final de fevereiro de 2020 a 06 de novembro de 2021. Os registros cresceram no primeiro semestre de 2020 até o pico da 1ª onda que aconteceu em julho de 2020 com 40,7 mil pessoas infectadas diariamente. O pico da 2ª onda ocorreu em março de 2021 com 70,9 mil casos diários. Entre abril e junho os números permaneceram elevados e ficaram acima de 60 mil casos diários. Mas desde então, os números de infectados caíram para algo em torno de 10 mil casos diários, o menor valor desde meados de abril de 2020.

O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de óbitos no território nacional e a média móvel de 7 dias entre 14/03/2020 e 06/11/2021. Nota-se que o número de vidas perdidas cresceu rapidamente desde o primeiro óbito em meados de março até o final de maio quando ficou acima de 1 mil vítimas fatais diárias e se manteve neste patamar elevado até o pico de 1.061 óbitos no final de julho. Entre agosto e outubro a média caiu para um patamar abaixo de 400 óbitos diários, mas subiu no mês de novembro e chegou no pico de cerca de 3 mil mortes diárias em abril. A média móvel de 7 dias caiu abaixo de 1,8 mil óbitos no final de maio, mas voltou subir para a casa de 2 mil óbitos diários em junho. Desde então, felizmente, a média de óbitos caiu continuamente até ficar abaixo de 250 vidas perdidas diariamente nesse momento, em novembro de 2021.

O Brasil no panorama global

Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo chegou a 250 milhões de pessoas infectadas e ultrapassou 5 milhões de vidas perdidas por covid-19, com uma taxa de letalidade de 2%. No dia 05/11, a média móvel estava em 444 mil casos e 7 mil óbitos. Já são 205 países e territórios com mais de 1 mil casos acumulados da covid-19, sendo 112 países com mais de 100 mil casos e 36 países com mais de 1 milhão de casos.

O gráfico abaixo mostra o coeficiente de incidência (casos por milhão de habitantes) do Brasil, da Europa e do mundo de 01/06 a 05/11/2021. Nota-se que, no dia 24 de junho, o coeficiente brasileiro estava em 361 casos por milhão, bem acima dos coeficientes da Europa com 59 casos por milhão e no mundo com 47 casos por milhão. Mas no dia 02 de agosto o Brasil e a Europa tinham coeficientes de 164 casos por milhão e o mundo, 76 casos. Contudo, nos últimos 3 meses, os números brasileiros caíram e ficaram abaixo da média mundial, enquanto a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia global. No dia 05 de novembro o Brasil registrou 46 casos por milhão; o mundo, 56 casos, e a Europa, 319 casos por milhão de habitantes.

O gráfico abaixo mostra o coeficiente de mortalidade (óbitos por milhão de habitantes) do Brasil, da Europa e do mundo de 01/06 a 05/11/2021. No dia 19 de junho, o Brasil tinha um coeficiente de 9,7 óbitos por milhão, bem acima dos coeficientes da Europa e do mundo com 1,19 óbitos por milhão. Mas no dia 30 de setembro o Brasil e a Europa apresentaram coeficientes de 2,5 óbitos por milhão e o mundo teve 1 óbito por milhão de habitantes. Todavia, nos últimos 2 meses, o coeficiente brasileiro caiu para 1,1 óbito por milhão, pouco acima do coeficiente mundial de 0,9 óbito por milhão, enquanto a Europa chegou a 4,5 óbitos por milhão de habitantes, o maior valor entre os continentes.

Uma das explicações para o bom desempenho do Brasil na redução dos casos e óbitos da covid-19 é o avanço do processo de vacinação. O gráfico abaixo mostra que, no dia 05/11/2021, o Brasil tinha 76% da população vacinada, sendo 57% da população com a imunização completa e 18% somente com uma dose. O continente europeu tem números bem menores do que o Brasil com 60% da população imunizada, sendo 55% com vacinação completa e 5% com vacinação parcial. Os números médios do mundo são ainda menores, sendo os valores 50%, 39% e 11%, respectivamente.

A transição para a endemicidade

O mês de novembro está trazendo um fio de esperança para o fim da pandemia no Brasil. Todavia, é provável que tanto o país, quanto o mundo tenham que conviver com o vírus SARS-CoV-2 por muito tempo, embora em menor frequência e com baixa intensidade. Provavelmente, a pandemia deverá ser rebaixada para uma nova categoria. A palavra técnica para uma doença que hospedamos indefinidamente é endêmica. Isso significa que o agente causador da doença – o novo coronavírus – estará sempre circulando na população, causando alguns surtos periódicos mais ou menos previsíveis.

Nenhum país ainda entrou nas águas mais calmas da endemicidade. Na endemia, o número de casos e de óbitos permanecerá sendo um problema de saúde pública, mas em níveis mais baixos e mais próximos de outras doenças Infectocontagiosas como dengue, zika, chikungunya etc. Mais cedo ou mais tarde a pandemia vai acabar, mas a covid não vai desaparecer no curto e médio prazo.

Evidentemente, a transição para a endemicidade acontecerá em momentos diferentes nos diferentes países e regiões. A covid zero pode ser viável em pequenas áreas. Por um lado, o futuro da covid-19 pode ser tão ameno quanto um resfriado comum, envolvendo apenas uma campanha anual de vacinação. Todavia, por outro lado, o tratamento na endemia do coronavírus pode ser mais oneroso do que a resposta à gripe, mantendo uma pressão avassaladora sobre os sistemas de saúde em alguns países.

A transição da pandemia para a endemia é um problema de saúde coletiva e deve ser enfrentada com testes, com máscaras, outras medidas de distanciamento social onde e quando necessário, além da universalização das vacinas. A farmacêutica Pfizer deu uma boa notícia neste início de novembro ao informar que sua pílula experimental para combater o coronavírus reduziu o risco de hospitalização e morte para pacientes de alto risco que participam de um teste do medicamento. A ciência está buscando alternativas para vencer a letalidade da covid-19 e deixá-la sob controle.

Assim, a combinação de medidas preventivas com avanços nas vacinas e medicamentos adequados poderá reduzir os riscos de transmissão do SARS-CoV-2, diminuir as fatalidades e apontar para o fim da pandemia. Provavelmente, a doença não desaparecerá total e definitivamente, mas os danos poderão ser minimizados e a imunização, maximizada. Para voltar ao cenário que existia antes do surgimento da covid-19, o fundamental é retomar a trajetória histórica do aumento da esperança de vida, em especial, a esperança de vida saudável.

FONTE PROJETO COLABORA

Diário da Covid-19: Controle da inflação depende da vacinação e do fim da pandemia

Pandemia provoca aumento no preço dos alimentos e insegurança alimentar, especialmente nos países de renda mais baixa

A pandemia da covid-19 fez a economia mundial cair 3,1% em 2020, marcando a maior recessão da produção internacional desde a Grande Depressão da década de 1930. Mas a perspectiva geral era de uma recuperação consistente em 2021 e 2022. Todavia, novas ondas pandêmicas contribuíram para a ruptura das cadeias produtivas globais, para a redução da oferta das diversas fontes de energia e para o aumento dos preços dos bens e serviços, inclusive o preço dos alimentos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que a inflação no mundo deve seguir em alta até o fim de 2021, mas pode arrefecer no ano que vem, retomando aos níveis pré-pandemia. Na atualização do relatório World Economic Outlook (WEO), divulgado dia 12 de outubro, o FMI considera que a inflação global pode piorar se surgirem novas variantes do coronavírus antes da vacinação avançar nas áreas mais pobres do planeta.

O FMI deixa claro que não é útil criar uma divisão artificial entre economia e pandemia, como se o crescimento econômico fosse prioritário em relação ao controle da covid-19. Na verdade, o desempenho econômico será tanto melhor quando menor for o impacto do coronavírus. Assim, o Fundo Monetário defende que a saída para a crise atual é controlar a pandemia e aumentar a vacinação.

O panorama nacional da covid-19

O Ministério da Saúde divulgou os dados nacionais da covid-19, registrando 21.638.726 pessoas infectadas e 603.152 vidas perdidas, no dia 16 de outubro de 2021. A média móvel de 7 dias caiu para 10,2 mil casos e a média de mortes ficou em 332 óbitos diários. O Brasil está em terceiro lugar no ranking global de casos acumulados atrás apenas dos EUA e da Índia. No número acumulado de mortes está em 2º lugar, atrás apenas dos EUA e ocupa o 7º lugar no coeficiente acumulado de mortalidade.

As curvas epidemiológicas de casos e de óbitos estão em queda, apresentando os menores valores desde maio de 2020. O gráfico abaixo mostra as médias móveis do número de casos e de óbitos no Brasil entre 21/03/2020 e 16/10/2021. Nota-se que o número de pessoas infectadas cresceu continuamente no Brasil até o primeiro pico da curva epidemiológica com média de 46,4 mil casos em 29 de julho de 2020. Em seguida, a média móvel iniciou uma trajetória de queda até início de novembro.  Contudo, o número de casos voltou a subir e apresentou dois picos entre março e junho de 2021, com média móvel acima de 70 mil casos diários (os maiores valores da série). No dia 23 de junho a média móvel de infectados foi de 77,3 mil casos e desde então os números caíram consistentemente e já estão próximos de 10 mil casos (7 vezes menos do que o pico).

Na curva que mostra o número médio de vidas perdidas, o primeiro pico ocorreu entre maio e julho de 2020, quando ficou acima de 1 mil vítimas fatais diárias. Entre agosto e outubro a média caiu para um patamar abaixo de 400 óbitos diários, mas subiu no mês de novembro e chegou no pico de cerca de 3 mil mortes diárias em abril. A última vez que a média diária de mortes ficou acima de óbitos 2 mil óbitos foi no dia 22 de junho de 2021 e, desde então, os números de mortes da covid-19 caem consistentemente e chegaram a 332 óbitos no dia 16 de outubro a menor média em cerca de 1 ano e meio.

Portanto, parece que o pior já passou e existe uma tendência de queda dos números da pandemia em todo o território nacional. Oxalá esta realidade se mantenha. Segundo o Imperial College, a taxa de transmissão do coronavírus no Brasil ficou em 0,60, o menor valor desde início da medição. Mais da metade dos municípios brasileiros não registraram mortes no mês passado. Por conseguinte, o momento é favorável ao controle da doença, especialmente porque a imunização tem avançado e cerca de 50% da população brasileira já têm a vacinação completa. Todavia, todo cuidado é pouco, pois novas mutações do coronavírus estão sempre ameaçando espalhar a transmissão. A luta contra novos surtos precisa ser redobrada.

O panorama global da covid-19

Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo chegou a 240,4 milhões de pessoas infectadas e somou 4,9 milhões de vidas perdidas para a covid-19, com uma taxa de letalidade de 2%. As médias móveis estão em 404 mil casos e 6,7 mil óbitos. Já são mais de 200 países e territórios com mais de 1 mil casos da covid-19 e 36 países com mais de 1 milhão de casos. Há 5 países com mais de 200 mil óbitos da pandemia.

O gráfico abaixo mostra as médias móveis do número de casos e de óbitos no mundo entre 01/04/2020 e 16/10/2021. O número internacional de infectados aumentou continuamente em 2020 e apresentou 3 picos em 2021 (janeiro, abril e agosto), sendo que o cume de toda a série ocorreu no final de abril com média acima de 800 mil casos diários. No dia 26/08 foram registrados 662 mil casos diários em média e, desde então, os números caíram para 404 mil casos no dia 16/10/2021. A primeira subida do número de mortes aconteceu em março de 2020 e o pico da média móvel ocorreu em meados de abril com cerca de 7 mil vidas perdidas por dia. Novo pico foi alcançado em janeiro de 2021 e a média móvel ultrapassou 14 mil mortes diárias. Os números caíram em fevereiro, mas voltaram a subir chegando a 13 mil mortes diárias no início de maio. No dia 26/08 foram registrados 10,2 mil óbitos em média e, desde então, os números caíram para 6,7 mil óbitos no dia 16/10/2021.

Os montantes globais da pandemia estão em queda e a perspectiva é que a morbimortalidade continue diminuindo na medida em que a cobertura vacinal avance. Mas o patamar de casos e óbitos ainda é alto e existe uma preocupante lacuna na cobertura mundial das vacinas.

A vacinação nacional e global

O mundo chegou a 3,75 bilhões de pessoas vacinadas, com pelo menos uma dose, no dia 15 de outubro, segundo o site Our World in Data. Num mundo tão heterogêneo, evidentemente o processo de vacinação não é equitativo. Mas de modo geral, a vacinação tende a avançar mais rápido naqueles países ou regiões com os maiores coeficientes de mortalidade.

Observa-se nos gráficos abaixo que o Brasil com um coeficiente de mortalidade de 2,8 mil óbitos por milhão de habitantes tem uma taxa de vacinação (com pelo menos uma dose) de 73%. A América Latina com coeficiente de 2,7 mil óbitos por milhão tem taxa de vacinação de 64% e a América do Norte tem coeficiente de 1,8 mil e taxa de 59%. A Europa tem coeficiente de 1,7 mil óbitos e taxa de 58%, enquanto o mundo tem coeficiente de mortalidade de 621 óbitos por milhão e taxa de vacinação de 47%.

Já a Ásia com coeficiente de mortalidade abaixo da média mundial (de 246 óbitos por milhão), possui taxa de vacinação bem superior ao padrão global (com 54% dos asiáticos com pelo menos uma dose). O destaque é a Oceania que possui o menor coeficiente de mortalidade (apenas 57 óbitos por milhão), mas já atingiu 53% da população do continente vacinada. O continente africano é o que possui a menor taxa de vacinação (somente 7,6% da população vacinada com pelo menos uma dose), mas também possui o segundo menor coeficiente de mortalidade (com 157 óbitos por milhão de habitantes).

Considerando apenas a vacinação completa entre os países, o gráfico abaixo mostra que há 86 países e territórios com taxa de vacinação completa acima da percentagem brasileira (48% dos brasileiros estão com a imunização completa). Por exemplo, a Nova Zelândia tem um coeficiente de mortalidade de apenas 6 óbitos por milhão de habitantes, mas já garantiu a vacinação para 54% dos neozelandezes.

De fato, a vacinação é fundamental para o controle da convid-19. Mas a imunização vacinal não é a única forma de minimizar os impactos do coronavírus. Os países e cidades que conseguiram fazer uma rígida barreira sanitária, rastrearam e monitoraram a propagação do vírus e adotaram medidas de prevenção e um bom acompanhamento médico, tiveram menor número de vidas perdidas.

Um estudo do Imperial College de Londres comparou o controle da Covid-19 em 14 capitais brasileiras e demonstrou que fatores como os investimentos nos recursos de saúde, otimização da atenção à saúde e a preparação adequada para o enfrentamento à pandemia foram essenciais para o melhor desempenho da capital mineira no enfrentamento à doença. O estudo indica que se todas as capitais avaliadas tivessem a mesma condução que Belo Horizonte adotou, cerca de 328 mil mortes teriam sido salvas no Brasil.

Pandemia, inflação e aumento do preço dos alimentos

Como vimos no início deste texto, o relatório WEO do FMI (de 12 de outubro) considera que o controle da pandemia é um pré-requisito para a retomada sustentada da economia e alerta que caso a Covid siga tendo impacto prolongado, o PIB global pode encolher em até US$ 5,3 trilhões nos próximos cinco anos. O cenário de crescimento econômico baixo e inflação alta gera o risco de estagflação global, situação em que preços sobem e os países não crescem, mesmo que os governos apliquem estímulos fiscais e monetários. Mas este quadro pode ser evitado com o avanço da vacinação e o fim da covid-19.

Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá: isto é mentira! Mas, as misérias são reais

Carolina Maria de Jesus (1914-1977)Escritora

A disrupção dos fluxos de valor em função da pandemia atinge diversos setores econômicos. O desligamento de fábricas de semicondutores durante o auge da emergência sanitária foi um dos fatores responsáveis pela escassez do componente, atingindo não somente a indústria automotiva, mas também a produção de bens eletrônicos e computadores. A crise energética tem múltiplas causalidades. No Brasil, o fator principal é a seca e o baixo nível dos reservatórios que está reduzindo a produção de eletricidade. Na Europa, a crise é devido à escassez de gás natural e na China é por falta de carvão mineral (o combustível mais poluidor).

Em geral, o aumento do preço da energia faz aumentar o preço dos alimentos. Em meio à pandemia este processo se agrava com a diminuição da oferta de fertilizantes e outros insumos. A pressão sobre o preço dos bens de subsistência veio de vários lados: do aumento geral dos custos de produção e transporte, da volatilidade dos preços, dos estoques baixos, da falta de containers que prejudicam o comércio internacional e dos efeitos das mudanças climáticas. Neste contexto, o FMI considera que a inflação deve seguir forte em alguns países emergentes por reflexo da alta do preço dos alimentos, do petróleo e da perda de valor das moedas locais frente ao dólar e ao euro, o que encarece as importações. O preço da comida tem subido em países de renda mais baixa, aumentando a fome e as dificuldades para os mais pobres.

Tudo isto se reflete no Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) que atingiu valor recorde (em termos reais) em setembro de 2021, marcando 130 pontos, o valor mais alto desde 1974. O FFPI, mesmo com algumas oscilações, diminuiu durante todo o século XX, a despeito da população ter crescido 4 vezes e o PIB mundial aumentado cerca de 18 vezes entre 1900 e 2000. Porém, a realidade do século XXI está se mostrando diferente.

O gráfico abaixo mostra que a média do preço dos alimentos da última década do século XX (1990-99) foi de 77,9 pontos, passando para 82,5 pontos na primeira década do século XXI (2000-09) e para 103,6 pontos na década de 2010-19. Na média de 2020 e 2021 o FFPI deu novo salto para 111 pontos. Portanto, a pandemia aumentou o preço dos alimentos e, consequentemente, a insegurança alimentar.

Se a inflação e o aumento do preço dos alimentos é um fenômeno global, a situação brasileira é ainda mais grave. Segundo o IBGE, a inflação oficial para o mês de setembro de 2021 foi de 1,16%, o maior avanço para o mês desde 1994. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 10,3% nos últimos 12 meses, o que representa o triplo da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central, de 3,75% para este ano. Agravado pela desvalorização cambial, os itens que mais subiram foram exatamente os gêneros alimentícios, como arroz, feijão, batata, carne, leite e óleo de soja, que estão no cardápio básico da população.

Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) cerca de 20 milhões de brasileiros declaram passar 24 horas ou mais sem ter o que comer em alguns dias. Em torno de 24,5 milhões não têm certeza de como se alimentarão no dia a dia e já reduziram quantidade e qualidade do que comem. Outros 74 milhões vivem inseguros sobre se vão acabar passando por isso. No total, 55% dos brasileiros sofriam de algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve) em dezembro de 2020. A situação se agravou ainda mais em 2021.

Existem múltiplos desafios para o Brasil neste momento, pois, além de colocar um fim à pandemia, é preciso criar oportunidades de emprego e renda para os mais de 30 milhões de brasileiros que estão desempregados ou subutilizados, reduzir a inflação que já atingiu a casa de dois dígitos e controlar o preço dos alimentos. A fome já está se espalhando pelo mapa do país e o Brasil caminha para voltar ao mapa da fome.

FONTE PROJETO COLABORA

Como acaba a pandemia? E por que mais especialistas estão otimistas?

Especialistas acham que o coronavírus circulará sempre, mas acreditam que nossa imunidade será duradoura e nos protegerá de adoecer com gravidade. Uma incógnita é saber exatamente quanto

Hoje escrevo sobre o futuro da covid-19. Na Espanha a vacinação vai de vento em popa e é inevitável pensar no que virá depois. Como vamos conviver com o vírus nos próximos anos?

Ninguém sabe com certeza como a pandemia acabará. Mas há aspectos com os quais muitos especialistas parecem concordar. Essa é minha tentativa de resumir esse consenso, levando em consideração que nada é 100% certo, de modo que é preciso lê-la com um “provavelmente” em cada frase.

  1. Não existirá imunidade de rebanho.
  2. O vírus será endêmico e circulará continuamente. Será, portanto, um problema sanitário de magnitude ‘X’.
  3. O lado bom? Os especialistas são otimistas com o ‘X’. Acreditam em duas coisas: (1) que a imunidade será muito boa contra a doença grave (após receber a vacina e com o fim da infecção); e (2) que será duradoura.

1. Não existirá imunidade de rebanho

Durante um tempo, se pensou que o final da pandemia poderia ser a imunidade de rebanho. Se gente suficiente estiver imunizada, por ter se vacinado e por ter se infectado, ao redor de um infectado não existiriam pessoas suficientes que permitissem a propagação do vírus. Ele se extinguiria como um fogo sem oxigênio. Mas esse cenário agora parece mais difícil. Por um lado, a variante delta é mais contagiosa, o que significa que o vírus precisa de menos pessoas suscetíveis de contraí-lo para conseguir um contágio. Por outro, ainda que as vacinas sejam excelentes nos protegendo de adoecer, não evitam a transmissão e a infecção com tanta eficiência.

A tabela (em espanhol) representa a porcentagem de pessoas que precisam ser vacinadas para ter imunidade de rebanho, em função de dois números: a transmissibilidade do vírus (R) e a eficácia das vacinas contra a transmissão (VEt). O resumo é que com as estimativas atuais, a imunidade de rebanho exigiria vacinar mais de 100% das pessoas, o que é impossível.

O vírus que saiu de Wuhan tinha um R de 2 ou 3, de modo que cada infectado passava a doença a duas ou três pessoas. Mas a variante delta é duplamente ou triplamente mais contagiosa (seu R estaria entre 5 e 9, segundo as últimas estimativas do Centro para o Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA). Hoje, essa transmissão também é impedida com máscaras, ventilação e distanciamento, mas na ausência dessas medidas, o único freio será a imunidade, que pode não ser suficiente. Sabemos que as vacinas reduzem muito a doença grave, mas não têm tanto sucesso para evitar a infecção, onde sua eficácia baixa, possivelmente, a 70%, de acordo com dados do Reino Unido.

  • A fórmula chave é a do número reprodutivo efetivo (Re), que é a média de contágios por infectado. Esse número deve ser menor do que um para suprimir por completo o vírus: : Re = R × (1 – PV × VEt), onde R é o número reprodutivo na ausência de imunidade, PV é a população vacinada (poderíamos somar os imunes por infecção) e VEt é a eficácia da vacina para evitar contágios. Reduzir o valor de Re continua sendo positivo, porque detém a expansão do vírus, mas para que retroceda até ser suprimido é preciso um valor abaixo de um.
  • Um sinal de como é difícil parar o vírus vem da Islândia: lá, desde 15 de julho, há 74% de pessoas vacinadas, mas justamente agora cresce a pior onda de contágios do país.

O que quero frisar é que a maioria dos especialistas – nem todos –, acha agora que não existirá imunidade de rebanho contra o vírus. Já em janeiro, 90% dos epidemiologistas consultados pela revista Nature diziam que era provável que se tornasse endêmico. Neste artigo do EL PAÍS, o epidemiologista Miguel Hernán diz que era “razoável” sugerir que se unirá aos quatro coronavírus endêmicos que nos causam resfriados todos os anos. Esse diagnóstico hoje é compartilhado por tantos ou mais cientistas do que em janeiro, quando o artigo foi publicado.

2. O vírus será endêmico, circulará continuamente. Será, portanto, um problema sanitário de magnitude ‘X’.

Se as vacinas não impedem a propagação do vírus e, como acontece com outros coronavírus, a imunidade natural é só temporária, os humanos e o SARS-CoV-2 alcançaremos um equilíbrio: passaremos da fase pandêmica à fase endêmica. O vírus circulará periodicamente entre nós causando surtos menores, talvez sazonais, e provavelmente – e isso é fundamental – de doença leve. Nós nos infectaremos novamente com o vírus a cada poucos anos. Em um mundo quase ideal, a situação pode ser tão benigna como com os quatro coronavírus que causam o resfriado comum. De fato, quem sabe se esses outros vírus, que agora nos preocupam pouco, não surgiram como grandes epidemias em algum momento do passado?

As pandemias mais recentes seguiram caminhos semelhantes: se tornaram menos graves após alguns anos (talvez porque nosso sistema imunológico aprendeu, porque os vírus mutaram para perder letalidade, ou pelos dois fatores). Mas são precedentes parciais, porque eram epidemias de gripe, que é um vírus diferente, e ocorreram há décadas, quando não tínhamos a tecnologia que temos hoje para entendê-las completamente.

Por isso é complicado prever como será o equilíbrio endêmico. “Há muita incertezas”, me disse Tom Wenseleers, bioestatístico em Leuven, “com a queda da imunidade, com novas variantes, com a gravidade das reinfecções e a evolução de novas variantes”.

Essas incógnitas decidirão a magnitude do problema de saúde pública que será conviver com o coronavírus, essa é o ‘X’.

3. O lado bom? Os especialistas são otimistas com o ‘X’. Acreditam em duas coisas: (1) que a imunidade será muito boa contra a doença grave (após receber a vacina e com o fim da infecção); e (2) que será duradoura.

Essas duas “são perguntas centrais”, me confirmou por e-mail Jennie Lavine, pesquisadora de doenças infecciosas em Emory (EUA). Em fevereiro, a bióloga publicou na revista Science simulações de como pode ser a transição à endemicidade da covid-19, sobre a hipótese esperançosa de que se comporte como outros coronavírus humanos: “a imunidade que bloqueia a infecção cai depressa, mas a imunidade que atenua a doença é duradoura”. Se isso se cumprir, seus resultados dizem que uma vez atingida a fase endêmica, quando a primeira exposição ao vírus for na infância, o SARS-CoV-2 talvez não seja mais virulento do que o resfriado.

O otimismo de muitos especialistas vem de confiar nessa hipótese. Acham que a imunidade contra a doença grave será potente e duradoura. É importante frisar a palavra grave: sabemos que os vacinados podem se infectar e ficar doentes, mas se as reinfecções são muito mais leves, em uma altíssima porcentagem de pessoas e ocasiões, conviver com o coronavírus em 2030 será algo muito diferente do que fazê-lo em 2020.

“Sim, eu (e muitos outros) somos otimistas com a 1 e a 2”, me disse Lavine. A pesquisadora acha que os dados atuais sugerem um equilíbrio endêmico leve, mas lembra que ainda não o alcançamos.

Concorda Isabel Sola, do laboratório do coronavírus do Centro Nacional de Biotecnologia do CSIC (Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha): “Há razões para o otimismo, porque tanto a imunidade da infecção como a das vacinas protege, durante pelo menos um ano, das formas mais graves da doença”.

Por que o otimismo com (2)? Porque por enquanto a resposta imune parece boa e duradoura. “Sabemos que a imunidade das pessoas infectadas se mantém relativamente estável um ano depois. Os anticorpos caem mais nos primeiros 2-3 meses, mas depois se mantêm. E ocorre algo parecido com a resposta celular”, diz Sola. Levantar defesas duradouras é essencial a longo prazo e nesse sentido os precedentes do SARS-CoV (2003) e MERS-CoV (2012) são positivos: “Chegaram a ser encontrados linfócitos contra o primeiro SARS-CoV após 17 anos”.

  • E o otimismo com (1)? Porque as vacinas estão protegendo da doença grave com grande efetividade. Segundo os dados do Reino Unido, que são dos melhores, para os vacinados a doença grave se reduziu entre 91% e 98%. Ou seja, que o impacto do vírus é de 10 a 50 vezes menor. “As infecções pós-vacina com a delta são tipicamente muito mais leves do que as primeira infecções”, me disse Lavine.
  • Além disso, se acredita que a imunidade pode ser “incrivelmente protetora”. Por um lado, a reinfecção agiria como uma vacina de recordação. Por outro, o sistema imunológico ganharia habilidades com cada exposição – por exemplo, para reconhecer mais partes do vírus, além das espículas em que a vacina se baseia –, como afirmou o epidemiologista Michael Mina na New York Magazine: “É assim que nosso sistema imunológico aprende”.

4. Será como a gripe, algo mais leve ou algo pior?

A pergunta fundamental é se dentro de alguns anos conviver com a covid será um problema semelhante ao que provocam os coronavírus que causam o resfriado comum, mais parecido à gripe, ou algo ainda mais grave.

Há alguns dias, Ezra Klein fez essa pergunta a vários especialistas, que foram positivos, mais ou menos: “Se você é uma pessoa vacinada nos Estados Unidos, o risco de ter problemas com a covid é mais ou menos parecido a uma temporada normal de gripe”, disse o doutor Ashish Jha.

Wenseleers me respondeu por e-mail também otimista: “Acho que com a vacinação, a gravidade das ondas de covid pode se transformar em algo semelhante à gripe sazonal”. Mas afirma que não é algo certo: “Não vi ainda nenhuma estimativa formal de como seria exatamente o equilíbrio endêmico, porque há muitas incógnitas”.

Por isso, antes de comemorar essas perspectivas, vejo que duas cautelas são necessárias.

A primeira passa por aceitar que a gripe é um problema. É um mal cotidiano, mas isso não significa que não tenha importância: na Espanha foram hospitalizadas por gripe 50.000 pessoas em 2018 e faleceram, possivelmente, 15.000. A covid-19 acabar se tornando algo parecido à gripe pode ser um mal menor, mas não seria uma vitória completa. E mais, acho que logo surgirá outro debate: agora que todos sabemos como deter doenças infecciosas —com máscaras, ventilando e não indo trabalhar doentes —, não deveríamos pensar se é conveniente fazer mais contra  a gripe?

A outra cautela é que ainda existem várias incertezas sobre como será a convivência com uma covid endêmica.

  • Quão raras são as infecções graves? Sabemos que a eficácia da vacina é alta nos protegendo da hospitalização. Mas com margens que ainda vão de 91% a 98%, as implicações em um extremo e outro são muito diferentes. Se torcermos os números, as vacinas são ineficazes de 2% a 9% das vezes, o que como explicou o epidemiologista Adam Kucharski, significa multiplicar por quatro as hospitalizações em uma onda.
  • Quão raro é que as crianças adoeçam? A letalidade do vírus em crianças parece “um pouco mais alta do que se estima para a gripe sazonal”, segundo Lavine. Mas se o vírus irá circular, será relevante precisar da melhor forma possível esse risco pequeno.
  • A eficácia das vacinas pode decair? Sabemos que com o tempo é provável que impeçam menos os contágios (algo que já pode estar acontecendo), mas seria mais inquietante ver baixar sua eficácia contra as hospitalizações e a doença grave. Por exemplo, pode acontecer que essa proteção caia entre os idosos, pelo menos temporariamente, se seu sistema imunológico for mais lento.

Essas dúvidas são um motivo para ir devagar e não se lançar a abraçar o equilíbrio endêmico, deixando o vírus circular e nos despedindo de máscaras, distâncias e terraços. Outra questão são as pessoas sem vacinar, como disse Ed Yong na revista The Atlantic, se referindo aos EUA. Por exemplo, pensando em proteger as crianças e evitar surtos, os especialistas acham que seria preciso manter precauções na volta às aulas: “Os colégios devem continuar com medidas de mitigação – é algo que acredito firmemente”, disse Caitlin Rivers, a epidemiologista do John Hopkins.

Uma última razão para se manter em guarda são as mutações. A preocupação com elas tem sido pendular, entre o exagero e o esquecimento. Mas Lavine acha que essa é a terceira incógnita antes de se vislumbrar o equilíbrio endêmico: “o quão ‘ampla’ é a imunidade contra a doença, ou seja, quanta proteção oferece contra uma classe ampla de variantes”. Aqui os imunologistas voltam a ser otimistas, mas sem descartar que possam aparecer variantes capazes de saltar nossa resposta imunológica atual. Um relatório do painel de especialistas do Reino Unido diz que é uma “possibilidade real”. Felizmente, também traz uma boa notícia. Diz que outra “possibilidade real” é que o vírus evolua para ser menos patogênico, que cause uma doença mais leve, quando se instalar em seu hóspede: nós.

FONTE EL PAÍS

Diário da Covid-19: A Olimpíada do vírus e os cenários para o fim da pandemia

Cerca de quatro bilhões de pessoas já foram vacinadas no mundo, mas OMS não descarta uma quarta onda da doença

A covid-19 impediu a realização da Olimpíada em 2020, mas não inviabilizou a abertura dos Jogos de Tóquio no dia 23 de julho de 2021. Desde o final do século XIX, as Olimpíadas modernas são realizadas, em geral de 4 em 4 anos, mas foram canceladas em 1916 e 1940 por conta, respectivamente, das duas Grandes Guerras. Em 125 anos, houve boicotes, atentados, manifestações de racismo e xenofobia, escândalos de doping e campanhas de cancelamento, mas até mesmo a pandemia de influenza não inviabilizou os Jogos de Antuérpia em 1920.

A emergência sanitária atrapalhou, mas não impediu o início das competições esportivas, embora sem a plena vivacidade das cores das manifestações multiculturais que costumam ocorrer na alegre e saudável interação das delegações de todos os países do mundo. Decerto, o congraçamento dos atletas e das nações ficou prejudicado pela presença de um vírus microscópico que insiste em estragar a festa.

Todavia, a Olimpíada de Tóquio vai testar os limites da volta à normalidade (embora o que se considera normal tenha se tornado uma coisa muito relativa). Obviamente, cancelar os Jogos Olímpicos traria um grande prejuízo para toda uma geração de atletas que se preparou para as competições, assim como geraria enormes prejuízos financeiros para o Japão que investiu na infraestrutura do evento esportivo e para as empresas que investiram nas diversas etapas da preparação dos jogos. Mesmo com a falta de grande público nos estádios e a implementação de medidas de prevenção, vivemos na “Sociedade do Espetáculo” e o show não pode parar.

O processo global de imunização avança e cerca de 4 bilhões de pessoas já tomaram pelo menos uma dose de alguma vacina contra o SARS-CoV-2. Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde alerta para a possibilidade de uma quarta onda global da pandemia. O 3º pico mundial de casos e de óbitos ocorreu na segunda quinzena de abril de 2021. Os números caíram em maio e junho, mas voltaram a subir em julho, conquanto, em menor proporção do que nos dois picos anteriores, como mostra o gráfico abaixo com dados da Universidade Johns Hopkins.

A média de casos está subindo no mundo, no Japão e no Brasil neste final de julho de 2021. No dia 23/07 a média mundial foi de 67 casos por milhão de habitantes, sendo 218 casos por milhão no Brasil e somente 31 casos por milhão no Japão, conforme mostra o gráfico abaixo. Em números absolutos, o mundo tem média de 520 mil casos; o Brasil, 46,3 mil casos, e o Japão, 3,9 mil casos diários.

A média de óbitos está estabilizada ou caindo, conforme mostra o gráfico abaixo. No dia 23/07 a média mundial foi de 1,2 óbito por milhão de habitantes, sendo 5,3 óbitos por milhão no Brasil e somente 0,1 óbito por milhão no Japão. Em números absolutos, o mundo tem média de 9,5 mil óbitos, o Brasil 1.135 óbitos e o Japão 11,8 óbitos diários.

O Brasil sediou a 47ª edição da Copa América entre os dias 11 de junho e 10 de julho de 2021, quando o país tinha uma média diária de cerca de 60 mil casos e uma média de mortes de cerca de 1.700 óbitos. O Japão está organizando a 32ª edição das Olimpíadas modernas, na cidade de Tóquio, entre os dias 23 de julho e 8 de agosto de 2021, e na abertura dos jogos o país apresentou uma média diária de cerca de 4 mil casos e uma média de 13 óbitos diários.

Portanto, o risco de organizar o grande evento esportivo no Japão é muito menor do que o risco da organização da Copa América no Brasil. No dia 24/07, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou um total acumulado de 19,67 milhões de casos, com um coeficiente de incidência de 93,6 mil casos por milhão de habitantes, e um total de mortes de 549,5 mil óbitos, com coeficiente de mortalidade de 2,6 mil óbitos por milhão de habitantes. Na mesma data, o Japão registrou um total de 862 mil casos e de 15,1 mil óbitos com coeficientes de 6,8 mil casos por milhão e de 120 óbitos por milhão.

Se o Brasil tivesse os mesmos coeficientes do Japão teria somente 1,45 milhão de casos e 25,4 mil óbitos. Ou seja, no padrão japonês de combate à covid-19, o Brasil poderia ter evitado mais de 18 milhões de pessoas infectadas e poderia ter salvo cerca de 520 mil pessoas que perderam a vida no território brasileiro em decorrência de incompetência das políticas públicas de saúde, da corrupção, de posturas negacionistas e da falta de determinação no controle da pandemia.

Exatamente por ter a pandemia relativamente sob controle, o Japão decidiu realizar os Jogos Olímpicos de Tóquio no verão de 2021. Evidentemente, a realização da Olimpíada vai implicar no aumento da morbimortalidade. Sem embargo, existe um “trade off” entre realizar atividades sociais e esportivas e a preservação da saúde e da vida. Parece que as autoridades japonesas e o Comitê Olímpico Internacional resolveram correr um risco calculado. Não é uma decisão simples, pois existem muitos interesses em questão. O fato é que o mundo precisa reavaliar a filosofia básica destes grandes eventos que, em geral, tendem a dar mais destaque para a competição individual e nacional do que para a colaboração, a fraternidade e a solidariedade.

Zero covid ou baixa covid?

Assim como os japoneses tiveram de decidir sobre a realização dos Jogos de Tóquio, o mundo está diante do dilema de eliminar ou conviver com a covid-19. A revista The Economist publicou um relatório, no dia 22 de julho, por um lado, elogiando alguns países asiáticos que estabeleceram uma política de “Zero covid” e conseguiram salvar muitas vidas, além de obter grandes benefícios econômicos com a retomada das atividades produtivas e sociais. Países como Austrália, Nova Zelândia, China, Hong Kong, Macau, Cingapura, Taiwan e Vietnã adotaram políticas destinadas a eliminar a covid-19, em vez de viver com ela. Estas nações não hesitaram em adotar medidas restritivas de bloqueio quando surgiram surtos de casos do novo coronavírus.

Porém, The Economist considera que a abordagem de “Zero covid” praticada em partes de Ásia e Oceania proporcionou saúde e benefícios econômicos, mas ela seria uma estratégia totalmente vitoriosa somente se o resto do mundo tivesse adotado a mesma política. Da forma que ocorreu, adotada de maneira isolada é uma estratégia insustentável diante da necessidade de reabertura da economia internacional, pois os países citados podem enfraquecer permanentemente seus status de centros de negócios se não conseguirem liberalizar os controles fronteiriços.

Assim, na perspectiva econômica da revista britânica, a abordagem “Zero covid” corre o risco de minar em vez de estimular a atividade econômica e de manter os países à margem do renascimento nos fluxos internacionais de turistas e estudantes. As restrições de viagens de negócios e outras operações pode significar que algumas empresas optem por direcionar seus investimentos para outros mercados, dificultando a atração e a retenção de talentos estrangeiros. Por exemplo, cerca de 30% da população de Cingapura não tem cidadania nem estatuto de residência permanente e o país corre o risco de perder permanentemente essa mão de obra.

Inegavelmente, uma transição da estratégia de “Zero covid” para uma estratégia de “Baixa covid” deverá vir de maneira gradual e condicionada ao aumento da prevalência da vacinação. À medida que a cobertura de vacinação aumenta, os governos devem ampliar a reabertura das fronteiras com países com um perfil de risco semelhante, além de estabelecer menores requisitos de quarentena para residentes totalmente vacinados que retornam de outro continente. Hong Kong, por exemplo, planeja reduzir suas exigências de quarentena a sete dias para residentes vacinados que voltam de países de baixo risco, embora a vacinação não deva impedir totalmente a propagação do vírus, e conquanto a redução dos períodos de quarentena poderá aumentar a probabilidade de transmissão local.

Por conseguinte, a revista The Economist, que defende políticas liberais, considera que é melhor ter maior abertura fronteiriça e maior atividade econômica, ainda que com números baixos da covid-19, do que uma situação de zero covid às custas de uma economia mais fechada e controlada. Ela recomenda aos governos investir no convencimento de suas populações da necessidade de reabertura internacional, pois o fechamento de fronteiras por vários anos teria efeitos danosos, forçando os países a desenvolver economias mais autossuficientes e limitando as conexões comerciais, provavelmente prejudicando as relações internacionais. Obviamente, The Economist considera correta a realização dos Jogos de Tóquio em um ambiente de “Baixa covid”.

Quatro cenários para o futuro da pandemia

A pandemia da covid-19 já completou 20 meses e ainda não está claro quais serão os próximos desdobramentos. Pesquisadores americanos publicaram o artigo “Potential Covid-19 Endgame Scenarios: Eradication, Elimination, Cohabitation, or Conflagration?” no periódico acadêmico JAMA – Journal of the American Medical Association (Kofman et. al. 08/07/2021) onde traçam 4 cenários possíveis para o futuro próximo da pandemia: 1) erradicação; 2) eliminação; 3) coabitação; e 4) conflagração.

Segundo os autores, o cenário da Erradicação implica ter a circulação do novo coronavírus próxima a zero. Neste caso a imunidade derivada da vacina e da infecção teria que ser altamente eficaz, duradoura, capaz de prevenir a transmissão secundária e a reinfecção e proteger contra as novas formas de variantes. Este cenário se aplica melhor para alguns países e regiões e não para o plano internacional.

No cenário da Eliminação haveria diferentes incidências espaciais. Áreas com alta prevalência vacinal poderiam ficar livres do vírus, mas a circulação continuaria em outras regiões. Neste caso o sucesso aconteceria no médio e longo prazo e dependeria das medidas preventivas e do avanço da vacinação.

O cenário mais provável é o da coabitação com o coronavírus, situação na qual a proteção possibilitada pelas vacinas evitaria as manifestações mais graves da covid-19, além de diminuir o processo de transmissão comunitária das velhas e novas cepas do SARS-CoV-2. Haveria áreas livres da doença, mas as infecções continuariam mesmo que em níveis mais baixos. Neste caso, as atividades econômicas seriam retomadas plenamente, mas com medidas de prevenção para evitar novos surtos pandêmicos.

O cenário da Conflagração é o mais prejudicial, com elevado montante da população não vacinada e com a continuidade da circulação do vírus, mantendo elevados níveis de infecções e mortes. Surgiriam novas cepas, que poderiam escapar das vacinas. Neste caso o fim da pandemia não estaria contemplado no horizonte.

Infelizmente, o Brasil ainda está nesta pior fase, pois no dia 23 de julho o Ministério da Saúde registrou 108,7 mil pessoas infectadas no espaço de 24 horas, um dos valores mais altos em toda a pandemia. No dia 24/07 as curvas epidemiológicas brasileira apresentaram tendência de alta. Portanto, é urgente reforçar as medidas preventivas ao mesmo tempo que se avance no processo de vacinação.

A Olimpíada mais feminina da história

As mulheres não puderam competir na primeira Olimpíada da era moderna, que aconteceu em Atenas, em 1896. Na época, o Barão Pierre de Coubertin, fundador do Comitê Olímpico Internacional, disse que as mulheres tinham apenas o papel de: “coroar os homens vencedores”. Mas o tempo não para, o mundo gira e a realidade foi se alterando lentamente nos jogos seguintes.

O gráfico abaixo mostra que o percentual de atletas do sexo feminino passou para 2,2% nos segundos Jogos Olímpicos, acontecidos em Paris. Entre 1900 e 1920 o percentual de atletas do sexo feminino ficou entre 1% e 2,4%. Só atingiu o percentual de 20% em 1976, na Olimpíada de Montreal. Ultrapassou 30% em 1996 nos Jogos de Atlanta. Chegou a 40% na Olimpíada de Atenas de 2004. Nos Jogos de Londres (2012) e do Rio de Janeiro (2016) ficou próximo de 45%. Agora em Tóquio, pela primeira vez se chega praticamente à paridade de gênero, com 49% de mulheres disputando as provas esportivas.

Olimpíada de Tóquio: gráfico mostra maior participação feminina

Mas além da quase paridade de gênero no número de atletas, a Olimpíada de Tóquio estão sendo inovadoras em vários outros aspectos. Pela primeira vez na história, o Comitê Olímpico Internacional (COI) orientou os países a dividir entre homens e mulheres a honraria de ser porta-bandeira dos países, uma iniciativa para promover a igualdade de gênero. Os Jogos de Tóquio têm número recorde de atletas no time olímpico de refugiados, como mostrou Carla Lencastre, aqui no #Colabora (20/07/2021). Houve recorde de atletas LGBT+ e a jogadora Marta da seleção brasileira de futebol estreou estufando as redes e dedicando o gol à noiva, como mostrou Laís Malek, aqui no #Colabora (22/07/2021). Tóquio 2020 também pretende ser os jogos mais verdes da história com apostas em material reciclado e energia renovável, como mostrou Oscar Valporto, aqui no #Colabora (23/07/2021).

Em uma linda e oportuna homenagem a John Lennon e Yoko Ono a festa de abertura teve a apresentação da música Imagine, cujos versos pregam a irmandade universal:

“Imagine que não houvesse países

Não é difícil imaginar

Nenhum motivo para matar ou morrer

E nenhuma religião também.

Imagine todas as pessoas

Vivendo a vida em paz”

Mas os japoneses não decepcionaram em uma das cerimônias mais emblemáticos de qualquer Olimpíada que é o momento de acender o fogo que dá início à abertura dos jogos. A Chama Olímpica é um dos principais símbolos do evento esportivo e evoca a lenda de Prometeu que teria roubado o fogo de Zeus para o entregar aos mortais. A honraria coube à uma mulher mestiça – filha de mãe japonesa e pai negro do Haiti – nascida no Japão e criada nos Estados Unidos. A tenista Naomi Osaka acendeu a pira olímpica no estádio olímpico de Tóquio, no dia 23 de julho. Num país pouco afeito à imigração internacional, uma mulher negra que vive em dois continentes acendendo a pira olímpica é uma forma de dar concretude aos versos de John Lennon (um europeu branco):

“Imagine todas as pessoas

Partilhando todo o mundo

Você pode dizer que eu sou um sonhador

Mas eu não sou o único

Espero que um dia você junte-se a nós

E o mundo viverá como um só”

FONTE PROJETO COLABORA

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