Incertezas com variante delta acendem alertas para uma “pandemia oculta”

Especialistas pedem cuidados e atenção redobrada, pois nova cepa tem sintomas mais leves, mas é muito transmissível, o que aumenta risco de explosão de casos e novas variantes

A cidade de Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo, confirmou os primeiros casos da variante delta do coronavírus. O anúncio foi feito em entrevista coletiva, que contou com a participação de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, do Hemocentro de Ribeirão Preto e de autoridades do município.

Rodrigo do Tocantins Calado de Saloma Rodrigues – Foto: Reprodução/Fapesp

Foram identificados oito pacientes com a nova variante em uma amostra de 30 sequenciamentos genéticos, representando cerca de 25% dos casos. “Os contaminados possuem idades entre 26 e 90 anos, apresentaram sintomas leves e já tinham tomado pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, dois deles já com as duas doses”, conta o professor Rodrigo do Tocantins Calado de Saloma Rodrigues, da FMRP e diretor científico do Hemocentro de Ribeirão Preto.

A confirmação dos casos acendeu um sinal de alerta entre os pesquisadores e na população. É que, com a vacinação adiantada e as restrições diminuindo, a presença de uma nova cepa trouxe novos questionamentos entre os pesquisadores e voltou a causar insegurança na comunidade.

Segundo o professor  Benedito Antônio Lopes da Fonseca, da FMRP, o número de casos da variante delta, proporcionalmente, coloca a cidade como a segunda do Estado com mais casos da nova cepa, atrás apenas da capital paulista, onde cerca de 37% dos casos são dessa variante. 

Delta pode ser duas vezes mais transmissível

Pesquisas internacionais apontam que a variante delta é duas vezes mais transmissível que a cepa original, explica o professor Fonseca. “Por conta disso, nós ainda vamos ver um número de casos muito elevado”, projeta o especialista. 

Fonseca ainda destaca que a manifestação clínica da delta também é diferente, sendo mais frequentes as dores de cabeça, de garganta e no corpo, além de febre e coriza. “Como as manifestações clínicas são mais leves, é provável que a demanda maior seja de leitos de enfermaria, ao contrário do que vem acontecendo desde o início da pandemia; desta forma, o sistema de saúde vai ter que se readaptar para atender esses pacientes em modo ambulatorial”, avalia o professor. 

José Sebastião dos Santos – Foto: Reprodução/Fapesp

Mas o professor alerta que os sintomas leves também necessitam de cuidados e atenção redobrada para que não se transforme em uma “pandemia oculta”. Para Fonseca, como a manifestação clínica desta variante parece não ser tão grave é possível que muitas pessoas não procurem atendimento médico.

Para enfrentar uma possível explosão de casos da nova cepa, “o sistema de saúde precisa se fortalecer”, garante o especialista em saúde pública e professor da FMRP José Sebastião dos Santos. Entretanto, “a tarefa é difícil e pode levar anos, pois necessita de equipes que produzam bons indicadores e um grande desempenho, o que demanda um alto investimento e recursos financeiros”. 

Medidas de enfrentamento seguem as mesmas 

Muitas cidades do Brasil estão diminuindo as restrições de funcionamento do comércio nas últimas semanas. Mas, segundo Luzia Márcia Romanholi Passos, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Ribeirão Preto, o município continua com as medidas protetivas que já estavam sendo seguidas ao longo da pandemia, como usar máscaras, evitar aglomerações e praticar o distanciamento social. 

Com relação ao comércio, a indicação é que os estabelecimentos continuem funcionando e seguindo as orientações vigentes no decreto municipal, sem retrocesso. “Nossa recomendação é a manutenção das medidas protetivas colocadas até o momento, contando com o apoio da população”, ressalta Luzia. 

Fernando Bellissimo Rodrigues – Foto: Reprodução/Fapesp

O infectologista e professor da FMRP Fernando Bellissimo Rodrigues concorda com a decisão e diz que “não se justifica retroceder no isolamento e no fechamento de serviços, neste momento”. Mas ressalta que é preciso prudência e observar os exemplos ao redor do mundo. “Não podemos relaxar precocemente no uso de máscaras, como foi feito nos Estados Unidos, que precisaram voltar atrás”. Segundo ele, é possível viver a vida o mais próximo do normal, desde que mantendo as medidas de prevenção à doença que “não tem prazo para acabar”.

Como fica a vacinação?

Estudos mostram que a delta pode infectar também pessoas que já tomaram a vacina contra a covid-19, como aconteceu em Ribeirão Preto. Apesar disso, especialistas avaliam que é cedo para fazer afirmações sobre a eficácia, ou não, do imunizante contra a nova cepa. 

E, com o objetivo de reforçar a proteção contra a doença, o Ministério da Saúde anunciou a aplicação da terceira dose em grupos prioritários. Para o professor Rodrigues, o que deveria ser discutido “é uma questão de equidade”. É que muitos países estão sendo questionados por aplicarem a terceira dose na população, enquanto outros sequer vacinaram com a primeira dose os grupos prioritários. 

Por: Robert Siqueira e Giovanna Grepi

FONTE JORNAL USP

Variantes do coronavírus, sobretudo Delta, reforçam incerteza global

Avaliação é que o crescimento fora dos EUA se concentrou nos países desenvolvidos e na China, mas emergentes ainda enfrentam problemas

Os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) afirmam que as variantes do coronavírus, em especial a delta, reforçam as incertezas sobre o cenário econômico global. A análise consta na ata da última reunião de política monetária, divulgada nesta quarta-feira.

Na visão dos dirigentes a economia internacional acelerou no segundo trimestre deste ano, após um início fraco.

A avaliação é que o crescimento econômico fora dos Estados Unidos se concentrou nos países desenvolvidos e na China, apoiado pelas campanhas de vacinação, a eliminação de restrições de saúde pública, adaptação econômica ao vírus e a reabertura do setor de serviços.

“A situação foi bem diferente em algumas economias emergentes, onde a baixa taxa de vacinação deixou as populações vulneráveis a novas ondas de infecções”, dizem os dirigentes na ata.

Retirada de classificação

O documento informou que a entidade tirou de sua comunicação a classificação de “fraco” para descrever a atividade dos setores mais afetados pela pandemia de coronavírus nos Estados Unidos. No lugar desta descrição, os dirigentes concordaram em afirmar que estes setores “não se recuperara plenamente”, de forma a refletir os avanços da economia americana, afirmou o documento.

Segundo o documento, divulgado nesta quarta, a atividade do setor industrial permaneceu contida por gargalos na cadeia produtiva, que afetam principalmente o setor automobilístico.

Já o setor de construção sofreu com a escassez de matérias-primas, enquanto a demanda por domicílios se fortaleceu.

FONTE INFO MONEY

Retorno das aulas presenciais gera insegurança em pais e professores

Nova etapa de flexibilização em São Paulo permitiu a volta às aulas com 100% dos alunos; comunidade escolar teme pelo aumento do número de casos de Covid-19 em razão do despreparo das escolas para seguir os protocolos de segurança

Com a nova etapa de flexibilização do Plano São Paulo, nesta semana a rede pública e privada de ensino passou a receber 100% dos alunos, mesmo sem a imunização completa dos professores. A decisão do governo Dória, em um momento que o país ainda registra uma média móvel de quase mil mortes diárias, gera insegurança em toda a comunidade escolar. 

“Desde o começo da pandemia eu já tinha em mente que eu não a colocaria em risco. Porque mesmo a criança sendo assintomática, poderia transmitir o vírus para as pessoas de casa. A prioridade foi a saúde de todo mundo aqui. Mesmo sabendo da dificuldade que ela tem, prefiro não mandar para escola, porque sei que ainda não estamos seguros” relata Vanessa Silveira, tia de Dandara, de 12 anos, estudante do Ensino Fundamental II. “A escola não tem um preparo para lidar com a questão emocional das crianças, principalmente das crianças pretas”, complementa.

Segundo a Secretaria de Educação do estado, 1.251 das 5.130 escolas estaduais de São Paulo estão aptas a receber 100% dos estudantes, representando 24,39 % do total. As demais unidades vão funcionar em esquema de revezamento, em alguns casos com 50% dos alunos e, em outros, acima disto. O retorno presencial ainda não é obrigatório.

Em fevereiro deste ano, houve uma primeira tentativa de retorno das aulas em São Paulo. Porém, devido ao agravamento da pandemia, elas foram suspensas novamente em março. Durante o curto período, a Secretaria de Educação confirmou 4.084 casos de Covid-19, além de 24.345 suspeitas e 19 óbitos. 

“Para mim, a volta às aulas está sendo uma experiência complicada. A sensação é que, pelo fato de sermos governados por negacionistas, nós estamos sendo jogados para a morte. Para uma espécie de jogo mortal, no qual sobrevive quem tiver sorte. Complicado sair todos os dias para trabalhar sabendo que você pode se infectar e infectar outras pessoas”, relata Vinicius Souza, professor de História e apresentador do podcast 20 de Novembro. 

Até o momento, 96% dos profissionais da educação das redes pública e privada do estado receberam ao menos a primeira dose da vacina contra Covid-19 e 35% estão totalmente imunizados.

Em justificativa das novas mudanças, o governo anexou ao decreto de flexibilização uma nota técnica, assinada pelo Coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, Paulo Menezes, em que o médico levanta uma estimativa de que mais de 5 milhões de crianças e adolescentes brasileiros não tiveram acesso à educação durante a pandemia. 

Após a publicação do decreto publicado em julho no Diário Oficial do Estado, cerca de 90 entidades se manifestaram a favor do ensino híbrido e do distanciamento social. Além de reivindicar que as redes de ensino ofereçam condições de acesso para continuidade das aulas remotas enquanto não houver condições sanitárias e controle completo do vírus por meio da vacinação. 

“É como se fossemos para uma guerra todos os dias, em um cenário de ascensão do neoliberalismo, de sucateamento do serviço público, incluindo a educação, a gente ainda tem que se virar para garantir que nossos alunos tenham acesso básico à educação”, afirma Vinicius. 

Outra preocupação entre pais e professores é em relação ao despreparo das escolas em receber as crianças e adolescentes, que por conta da pandemia tiveram sua saúde mental afetada. 

“O medo e o luto se fazem presentes no ambiente escolar também. Os alunos sabem o que está acontecendo. E eles tem uma forma própria de experienciar isso, cada qual na sua subjetividade que é também muito doída. E a escola não tem como fazer esse tipo de acolhimento, porque a escola também está passando por um luto. Essas aulas presenciais de forma forçada tendem a fortalecer ainda mais esse luto que pode ficar em um nível consciente ou inconsciente”, acredita o professor. 

FONTE ALMA PRETA JORNALISMO

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