O frio intenso chega mais cedo neste ano?

Leia análise da MetSul Meteorologia sobre a possibilidade de frio intenso cedo em 2024. Clima global torna a resposta mais difícil neste ano.

O frio intenso vai chegar mais cedo neste ano? Esta é uma curiosidade permanente do público a cada começo de outono, todos os anos, afinal a estação marca a transição do verão para o inverno e já chegou a ter episódios de neve em abril e massas de ar polar extremamente fortes no mês de maio com marcas abaixo de zero e muita geada em estados do Centro-Sul do Brasil.

Um exemplo recente na história climática brasileira se deu no começo da segunda quinzena de maio de 2022 com uma enorme massa de ar polar e de grande intensidade que trouxe frio muito intenso em vários estados. Foi o ar polar impulsionado pelo ciclone Yakecan, que até neve causou em Santa Catarina. Gama, com 1,4°C, teve a menor mínima no Distrito Federal desde o início das medições em 1963. São Paulo anotou a menor temperatura em maio desde 1990. Goiânia e várias outras cidades tiveram o maior frio desde 1977.

Ou seja, foi um evento tão extraordinário de frio de outono que a maioria das cidades do Centro do Brasil que anotaram mínimas históricas em maio de 2022 não registraram depois marcas tão baixas no decorrer do inverno. Um exemplo clássico de frio muito intenso cedo.

Então, fica a pergunta. Teremos frio intenso cedo neste ano? Para buscar a resposta é preciso enxergar o que os modelos numéricos mostram e o que a história, por analogia, revela sobre anos passados que apresentaram condições semelhantes nos primeiros três meses do calendário. Em 2024, o clima de longo prazo na temperatura se torna ainda mais desafiador e difícil em termos de previsão com o aquecimento acelerado do planeta em curso.

Os modelos de previsão de mais curto prazo possuem prognósticos para até dez ou quinze dias. Já os modelos de médio prazo, como o europeu e o norte-americano CFS, chegam a ter prognósticos para 40 dias, sejam diários ou semanais.

Intervalo maior de 40 dias apenas em modelos de clima que trazem tendência apenas mensal, que pode mascarar episódios de frio intenso de curta duração, afinal um mês pode ter uma semana gelada e três quentes, o que fará com que o mês termine com temperatura acima da média.

Analisando os dados destes modelos com previsões para até 40 dias, ou seja, até o fim de abril, nenhuma simulação indica grande massa de ar polar até o final do próximo mês, embora apontem ingresso de ar mais frio no Sul do Brasil na segunda metade de abril. Claro, em se tratando de uma tendência para 40 dias, mudanças podem ocorrer. Mas, hoje, os dados não indicam nenhuma incursão de ar muito gelado.

E a história? O que mostra? Meteorologistas trabalham com uma técnica chamada de analogia em que são buscadas referências do passado em anos semelhantes ao em andamento. Nos Estados Unidos, dois anos passados têm sido muito mencionados pela proximidade climática com 2024: 1973 e 1998. Ambos começaram com El Niño forte e depois tiveram La Niña.

Anomalias de temperatura no Brasil em abril em 1973 e em 1998 | INMET

Com base em dados de Porto Alegre, o primeiro frio de maior intensidade do outono em 1973 foi ocorrer apenas em maio, na segunda semana, com mínimas de 9,8ºC no dia 11; 9,9ºC no dia 12; e 9,5ºC no dia 13. No restante do mês, mínima de um dígito somente ocorreria no dia 23 com 9,6ºC. Em junho, a primeira mínima de um dígito do mês só foi ocorrer no dia 15, quase no fim do outono, com 7,5ºC.

Já em 1998, no começo de abril houve algumas madrugadas pouco frias com 12ºC a 13ºC, logo nada de relevante. A primeira mínima de um dígito só veio a ser dar no dia 5 de maio com 9,7ºC. O restante de maio não foi nada frio, mas a primeira semana de junho teve uma sequência de madrugadas com mínimas abaixo de 10ºC, a mais baixa de 7,1ºC, no dia 4.

Em 2016, último ano de transição de forte El Niño para La Niña, o frio chegou na última semana de abril. A capital teve mínimas no Jardim Botânico de 11,4ºC no dia 26; 9,5ºC no dia 27; 7,2ºC no dia 28; 6,8ºC no dia 29; 8,0ºC em 30 de abril; 7,5ºC no dia 1º de maio; 8,2ºC no dia 2 de maio; 12,9ºC no dia 3; 10,8ºC no dia 4; 11,1ºC no dia 5; e 12,3ºC no dia 6. Foi, assim, um episódio forte de frio e ainda prolongado entre o fim de abril e o começo de maio.

Anomalias de temperatura no Brasil em maio e junho de 2016 | INMET

Mais tarde naquele mês, novas incursões de ar frio trouxeram temperatura baixa. Porto Alegre teve 7,0ºC no dia 18; 6,8ºC no dia 19; 8,5ºC no dia 20; 9,0ºC em 23 de maio; e 7,1ºC no dia 24. Não houve um dia sequer de calor em maio de 2016 na capital gaúcha, logo sem ocorrência de veranico.

Em síntese, o cenário mais provável não indica uma massa de ar polar intensa tão cedo, embora devam ocorrer incursões de ar frio de menor ou média intensidade, como se viu no final da semana passada depois da passagem da frente fria pelo Sul do Brasil. O mais provável é que o frio de maior intensidade chegue em maio, com maior probabilidade na segunda metade do mês, ou na primeira metade de junho.

Projeção de anomalia de temperatura do modelo climático europeu para maio | METSUL
Projeção de anomalia de temperatura do modelo climático europeu para maio | METSUL

Em 2016, aliás, último ano que o clima passou de El Niño para La Niña, o mês teve um elevado número de noites muito frias. Em Porto Alegre, por exemplo, foram 19 dias com menos de 10ºC. Já os dias com menos de 5ºC de mínima foram cinco com uma sequência de madrugadas com mínimas na casa de 3ºC. No interior gaúcho, a grande maioria dos dias em junho de 2016 anotou marcas negativas.

Modelo climático CFS (EUA) projeta La Niña praticamente madura em junho | NOAA

Modelos de clima se dividem sobre junho no Sul do Brasil. Uns indicam temperatura acima da média, aliás a maioria, e alguns apontam temperatura abaixo da média. Uma vez que o Pacífico Leste estará passando por forte resfriamento, não se pode descartar um episódio de frio mais significativo em junho, o que, a propósito, não fugiria do padrão histórico do mês de em muitos anos ter eventos de frio intenso.

 

FONTE METSUL

Chuva extrema no Sudeste do Brasil trará cenário de elevado perigo

Volumes excepcionalmente altos podem atingir principalmente o Rio de Janeiro com risco crítico de inundações e deslizamentos

A MetSul Meteorologia alerta para um cenário de muito elevado perigo por chuva excessiva no Sudeste do Brasil nos próximos dias. O cenário é de altíssimo risco principalmente para o estado do Rio de Janeiro, embora haja preocupação com a possibilidade de chuva volumosa também no litoral de São Paulo.

A tendência é de volumes de chuva muito altos e com precipitações por vezes torrenciais com acumulados elevados em curto período no litoral de São Paulo a partir do final da quinta e durante a sexta e parte do fim de semana. Há risco de ainda chover por vezes forte em pontos da região no começo da semana que vem.

O cenário é de maior risco para o estado do Rio de Janeiro, incluindo a Costa Verde, a cidade do Rio de Janeiro e sua área metropolitana, e ainda a Região Serrana. Os volumes em pontos do estado do Rio de Janeiro podem ser extraordinariamente altos, da ordem de meses de precipitação em dias, atingindo em alguns locais marcas de elevadíssimo risco para a população.

Sob este cenário, a MetSul Meteorologia alerta para a alta probabilidade de alagamentos e inundações, em alguns casos repentinas e graves, o que oferecerá perigo para quem estiver na rua durante enxurradas com intensas correntezas. Adverte-se também para a probabilidade elevada de quedas de encostas e ainda deslizamentos de terra, em alguns locais significativos e com grave risco à vida humana.

A situação é especialmente preocupante no estado do Rio de Janeiro, onde a chuva por vezes será extrema em curto intervalo e, pior, com uma sucessão de dias de chuva forte a muito intensa entre sexta e o começo da semana. A sexta-feira, em particular, pode somar volumes por demais elevados.

O que vai acontecer? Primeiro, uma frente fria chegará à região trazendo chuva forte e risco de temporal. Na sequência, com uma massa de ar frio a Leste do Sul do Brasil e se estendendo até a costa do Sudeste, as condições se tornarão favoráveis a um grande aporte de umidade do oceano para o continente no litoral de São Paulo e no estado do Rio de Janeiro.

O padrão de circulação deve levar vento carregado de umidade do mar em direção ao continente no sentido do litoral de São Paulo e Rio de Janeiro com chuva de natureza orográfica, o que fará com que os volumes de chuva sejam muito altos a excessivos em diferentes cidades, sobretudo do Litoral Norte de São Paulo e ainda mais no Rio de Janeiro.

A chuva orográfica é a precipitação induzida pelo relevo. Umidade que vem do oceano, trazida por vento, ao encontrar a barreira do relevo da Serra do Mar, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa à medida que ascende na atmosfera com camadas mais frias. Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo. A projeção abaixo do modelo ICON com a previsão de chuva acumulada nos próximos 5 dias dá conta de mais de 500 mm em partes do Sul do Rio de Janeiro. Cenário grave. Entre a Baixada Santista e o litoral Norte de São Paulo a projeção é de acumulados entre 100 e 200 mm.

Em um exemplo bem didático e simples de entender. O que acontece se você chega na frente de um espelho e soltar ar da sua boca? O espelho que tem uma superfície mais fria vai ficar embaçado (úmido) e molhado. Com a chuva orográfica ocorre o mesmo.

O ar mais úmido e quente (analogia com ar que sai da boca) encontra um obstáculo físico que é o relevo (como o espelho) e ao chegar nesta barreira que são os morros sobe na atmosfera e encontra temperatura mais baixa, condensando-se o vapor de água e formando chuva.

Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil.

 

FONTE METSUL

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