Para Sindicato Vale age de maneira desrespeitosa e irresponsável e fechamento de minas pode afetar mais de 20 mil pessoas na região

Três dias após rompimento da barragem no Córrego do Feijão, em Brumadinho, a Vale anunciou a desativação de 19 barragens em Minas, entre as quais duas em Ouro Preto e Mina de Fábrica em Congonhas.

Rafael Ávila em assembleia com trabalhadores da Mina de Fábrica pós ocorrido em Brumadinho/Reprodução

A medida deve afetar mais 10 mil trabalhadores, entre os quais 2 mil em Congonhas. Cada demissão de operário da mineração afeta, em média, outras 10 pessoas na região daquele demitido, o que significa que fechamento da Mina deve afetar 20 mil pessoas em Congonhas.

O Sindicato Metabase Inconfidentes que abrange Congonhas, Ouro Preto e outras cidades já um pauta de negociação com a Vale cuja reunião ocorrerá no dia 11. O sindicato alega que a mineradora ainda não comunicou nenhuma das medidas adotadas. “Vale desconta nas costas dos trabalhadores o crime cometido pela alta chefia em Brumadinho”, disse em entrevista exclusiva, Rafael Ávila, mais conhecido como Duda, diretor presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes.

Dias após a tragédia da Vale, o sindicato fez uma paralisação na Mina de Fábrica em solidariedade aos trabalhadores e comunidade de Brumadinho. 

  1. Como o sindicato analisa a decisão da Vale de desativar as barragens?

A Vale, de maneira desrespeitosa e irresponsável, não oficializou ao sindicato nenhuma decisão. A informação que possuímos é aquela que circula na grande mídia. Para a imprensa nacional, o presidente da Vale disse que irá esvaziar barragens e “reflorestar” a área e que, para isso, paralisará as operações em diversas minas, Mina de Fábrica (Congonhas) é uma delas.

Mais uma vez, se trata da Vale seguindo o manual da covardia das grandes empresas e descontando nas costas dos trabalhadores o crime cometido pelos altos executivos, pela alta chefia, pelos acionistas da mineradora e pelos governos que foram coniventes com as práticas da empresa, que lamentavelmente assassinou outros tantos trabalhadores e trabalhadoras.

Nosso sindicato está totalmente de acordo de que é necessário descomissionar as barragens, principalmente aquelas que possuem estruturas semelhantes às de Brumadinho e Mariana (Samarco). No entanto, para isso a Vale não deve e não precisa descontar no emprego de seus trabalhadores. Ao contrário disso, se a preocupação da empresa fosse realmente o bem estar das comunidades e de seus funcionários, o ato de mudar parte do processo produtivo deveria gerar mais empregos, não o contrário.

Em um trimestre, a empresa tem, em média, cinco bilhões de reais de lucro, tudo isso às custas do trabalho de cada um e cada uma que todo dia bate cartão. Agora, que os “manda-chuvas” da Vale cometeram um verdadeiro crime, querem que estes mesmos trabalhadores, que tanto fizeram pela produção de minério, paguem pelo processo de mudança que a mineradora já deveria ter feito há anos.

  1. Quantas pessoas afetadas na região e em Congonhas? Ao que parece, a nossa região será diretamente afetada com o fechamento das minas em Itabirito, Congonhas e Ouro Preto.
Trabalhadores da Mina de Fábrica promoveram um ato de solidariedade às vítimas em Brumadinho/Reprodução

Ainda não temos dimensão do número de afetados, já que, como dissemos, a empresa não oficializou nenhuma informação junto ao nosso sindicato. Segundo a imprensa local, cerca de dois mil trabalhadores serão afetados. Se os números forem estes, isso pode significar aproximadamente 10 mil pessoas afetadas, se considerarmos as famílias. Isso sem contar o impacto nos serviços públicos oferecidos pelos municípios dependentes da mineração e no comércio regional. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), cada demissão de operário da mineração afeta, em média, outras 10 pessoas na região daquele demitido.

  1. Quais as movimentações do sindicato em defender o emprego dos trabalhadores?

Em relação à defesa do emprego, mais especificamente, estamos tomando iniciativas no sentido de ir ao Ministério Público do Trabalho para buscar medidas jurídicas que garantam a estabilidade no emprego para os trabalhadores e trabalhadoras.

Sindicato busca diálogo com a mineradora e no dia 11 acontece reunião com diretoria/Reprodução

Sobre a situação como um todo, logo no dia seguinte ao ocorrido em Brumadinho, nosso sindicato, junto ao Metabase Itabira, convocou e participou de uma reunião com outros sindicatos, movimentos e ativistas de toda a região e até mesmo de fora do estado para montar uma pauta de lutas conjuntas. Entre essas lutas, está a defesa do emprego.

Também estivemos na cidade de Brumadinho para prestar solidariedade e auxílio às vítimas, tentando também transformar o luto em luta. Em Mina de Fábrica, fizemos uma paralisação em solidariedade aos trabalhadores, trabalhadoras e comunidade de Brumadinho e também dialogamos com a categoria sobre os desafios de nossa classe.

Como maneira de tentar obter algum tipo de informação oficial para elucidar nossos próximos passos, solicitamos uma reunião com a Vale. Essa reunião ocorrerá no próximo dia 11. Esperamos que a empresa tenha o mínimo de responsabilidade e leve a vida dos trabalhadores mais a sério, oficializando informações concretas.

Infelizmente, as posturas que a Vale e as grandes empresas no geral adotam não nos passa confiança nem credibilidade. Por este motivo, entendemos que a mobilização da classe trabalhadora é o caminho para que a justiça seja feita, a vida seja respeitada e o emprego seja mantido. O Sindicato Metabase Inconfidentes está a serviço principalmente desta tarefa.

  1. Porque a Vale não adequa as minas dentro da legislação em termos de segurança, ao invés de penalizar os trabalhadores?
Paralisação da Mina de Fábrica mobilizou trabalhadores entorno de seus direitos/Reprodução

A mineração é fundamental para a sociedade. No entanto, da maneira como é feita hoje, ela não está a serviço da sociedade, nem da vida, nem da geração de empregos. A lógica de grandes empresas como a Vale é a de produzir de maneira desenfreada, sem se preocupar com segurança do trabalho, vida e meio ambiente. Para os grandes patrões e acionistas, tudo se trata de números: Se bateu recorde de produção de minério, se as ações da empresa subiram na bolsa de valores… O mais importante fica secundarizado, que é o atendimento à sociedade, o cuidado com a vida, a segurança e o meio ambiente.

Por essa lógica, toda vez que “a corda arrebenta”, empresas como a Vale querem fazer os trabalhadores e comunidades pagarem pelo problema que a própria empresa gerou. Isso é ainda mais cruel porque estamos vendo que a empresa não só está desrespeitando as vítimas de Brumadinho, como também se aproveita da comoção nacional para argumentar que terá que penalizar trabalhadores de várias outras unidades, quando na verdade a preocupação da empresa é a de reduzir impactos em seus números, não o de preservar aqueles que produzem toda a sua riqueza, que são os trabalhadores.

  1. A Vale já fez algum anúncio ao sindicato?

Irresponsavelmente, não foi feito nenhum anúncio oficial ao Sindicato. Há uma reunião com a empresa marcada para o dia 11/02, solicitada por nossa entidade. No entanto, não sabemos se a empresa oficializará algum tipo de informação a respeito.

  1. Qual a solução pra toda essa situação que se iniciou com o rompimento da barragem em Brumadinho?

Infelizmente, essa situação não se iniciou em Brumadinho. Desde 2001, são sete rompimentos de barragem. Estão transformando nossos locais de trabalho em covas coletivas.

Sindicato criticou Vale e alegou que trabalhadores não foram oficializados sobre desativação de barragens/Reprodução

Achamos que é necessário um outro modelo de mineração, que esteja mais preocupado com os empregos, com as pessoas, com o meio ambiente, com a diversificação da economia das regiões mineradoras e não com recordes de produção, escaladas na bolsa de valores e resultados no mercado para engravatados comemorarem.

No entanto, não temos ilusão de que isso irá acontecer por qualquer bondade de grandes empresários, acionistas ou políticos corruptos, que lucram com o nosso suor e sangue e os de nossos irmãos. Para que a mineração seja de fato da sociedade, empresas como a Vale a CSN precisam ser estatizadas, mas não nas mãos destes governos, já que todos eles, os anteriores e o atual, já se provaram corruptos e marionetes dos ricos e grandes empresários.

Precisamos de uma mineração estatizada sob controle dos trabalhadores e das comunidades, que esteja preocupada em produzir aquilo que seja necessário para o bem estar e riqueza social. Acreditamos que o caminho para isso é a mobilização da classe trabalhadora e de toda a população. Não é o caminho mais fácil, mas nos parece o único que realmente pode responder à necessidade das cidades e das pessoas, que são, ao mesmo tempo, o emprego, a segurança e a preservação da vida e do meio ambiente.

Vale vai desativar produção de Mina de Fábrica em Congonhas e afetará 2 mil trabalhadores

Cerca de 2 mil trabalhadores serão afetados com decisão da Vale de desativar barragem/Reprodução

A Vale anunciou seu plano para descomissionar todas as suas barragens em Minas construídas pelo método de alteamento a montante como as de Mariana e Brumadinho.

Do total de 19 barragens, nove já passaram por esse processo, segundo a multinacional, restando dez em todo o Estado. Destas, , grande parte delas situados na região como Congonhas, Ouro Preto, Mariana.

O processo de descomissionamento, que significa devolver a barragem à natureza, vai demora de 1 a 3 anos. O custo para a desativação das estruturas será de R$5 bilhões.  As barragens serão esvaziadas, tampadas ou devolvidas à natureza em um processo de reflorestamento,

Os projetos estão prontos e serão enviados aos órgãos responsáveis nos próximos 45 dias.

A paralisação vai gerar um impacto de 40 milhões de toneladas por ano na produção da Vale, algo em torno de 10% da produção total da mineradora. Cinco mil funcionários da empresa em Minas serão realocados para outras seções da empresa, na tentativa de diminuir o quadro de demissões.

Para a realização das obras de descomissionamento das barragens a montante com segurança e agilidade, a Vale paralisará temporariamente a produção das unidades onde as estruturas estão localizadas, a saber: as operações de Abóboras, Vargem Grande, Capitão do Mato e Tamanduá, no complexo Vargem Grande, e as operações de Jangada, Fábrica, Segredo, João Pereira e Alto Bandeira, no complexo Paraopebas, incluindo também a paralisação das plantas de pelotização de Fábrica e Vargem Grande. As operações nas unidades paralisadas serão retomadas à medida que forem concluídos os descomissionamentos.

A Mina de Fábrica, ex Ferteco, possuiu cerca de 2 mil funcionários entre diretos e indiretos.

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