URBANICIDADE – O TERRAPLANISMO ECONÔMICO DA LEI DO TETO

“Na mídia, impera a lógica da dona de casa. Gasto público significa desperdício, sem nenhum impacto sobre emprego, renda, nível de atividade e, quando na saúde e educação, no bem estar”

Com o título acima o jornalista Luíz Nassif desnuda, explicando de uma forma muito clara, os erros tomados pelo super ministro da economia, o banqueiro Paulo Guedes, na condução dos destinos do Brasil. E ainda fala da completa ausência de jornalismo da grande mídia que não faz o que devia: jornalismo. Jornalismo aqui seria questionar os atos e descaminhos que o país está tomando, mas, na verdade, um órgão da grande imprensa nada mais faz do que divulgar os interessesde seu(s) proprietário(s). Estamos completamente sem rumo e a caminho de sérios problemas que, de um jeito ou de outro, vai cair sobre nossas cabeças. Noves fora a classe rica, todos pagaremos pelos tempos tenebrosos que vivenciamos. Vale lembrar que poucos, se é que os temos por aqui, são aqueles que podem ser considerados “ricos”. Ter uma vida mais ou menos folgada é bem diferente de ser “rico”. Lembrando que depois da última mexida na taxa Selic de juros, a poupança passa a não mais remunerar as perdas da inflação. Ou seja, até isso (poupar um pouquinho para uma velhice digna), foi retirado do cidadão. Destacando que as demais taxas de juros (bancos, cartão de crédito, financiamentos, compras a prazo) continuam num patamar de fazer inveja a qualquer banqueiro do mundo. Teremos muito trabalho depois dessa política de terra arrasada. (Aqui) o link da matéria…

“O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante audiência pública na Comissão Mista de Orçamento. Guedes fala sobre o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentarias (LDO) 2020.

O Brasil decididamente não é um país racional. Nem se fale da cloroquina, no criacionismo, do fundamentalismo religioso, mas da discussão econômica. Cria-se um determinado discurso, normalmente de fundo ideológico, com as mesmas fórmulas que são repetidas em qualquer circunstância econômica. Ou com a economia bombando, ou em recessão profunda, é sempre o mesmo bordão, monocórdico, repetido por todos os veículos de mídia. Se não respeitar a lei do teto, não virão mais investimentos externos e o país desaparecerá dos mapa.

É tanta loucura tanto a politização de medicamentos, como a ideologização de medidas econômicas. Ora, conduzir a economia é resolver problemas recorrendo da maneira mais lógica possível a todos os instrumentos que se tenha à mão, sabendo concatenar orçamento, ação de estatais, instituições de mercado, economia regional. É terraplanismo puro o liberal que abre mão do papel de estatais, assim como o desenvolvimentista que abre mão de ferramentas de estímulo ao setor privado.

Conduzir uma política econômica é tarefa muito mais complexa do que dominar alguns conceitos macroeconômicos. É saber articular uma engrenagem muito mas ampla, que exige conhecimento setorial, conhecimento dos instrumentos de desenvolvimento, das ferramentas financeiras, dos impactos dos investimentos públicos.

No entanto, toda discussão econômica brasileira se resume a dois pontos: obediência à Lei do Teto; e redução do tamanho do Estado. Se a Lei do Teto for desrespeitado, dizem esses arautos da filosofia da dona de casa, o Brasil será abandonado pelos investidores internacionais.

Não há a menor preocupação em diferenciar investimentos, entre aqueles na ampliação da capacidade produtiva e os meros investimentos de arbitragem. Houvesse um mínimo de sofisticação na análise, se recorreria a um exercício lógico simples, acessível até à simplicidade da discussão pública:

  1. Investimentos externo financeiro interessa apenas quando se trata de fechar as contas externas. Com o nível de reservas cambiais atuais, não há nenhuma necessidade de atrair esse capital financeiro. O que interessa é o investimento produtivo, na ampliação da capacidade produtiva do país, na melhoria da produção, do emprego.
  2. O investimento produtivo depende de vários fatores. O principal deles é a existência de um mercado de consumo robusto, interna e externamente.
  3. Em períodos de recessão, como agora, os gastos públicos são essenciais para a recuperação do nível de atividade, já que a queda de renda e de emprego não permitem nem que famílias, nem que empresas, estimulem a produção.
  4. Se o gasto público ajuda a reativar a economia; se a reativação da economia ajuda a recuperar a receita fiscal, não se pode pretender que arrochando ainda mais a economia, milagrosamente brotarão investimentos externos por todo o país. É uma uma tolice imensurável tratar os gastos públicos apenas na conta da despesa. Se quiser se ficar apenas no plano fiscal, a conta correta é estimar os gastos fiscais e descontar os ganhos fiscais obtidos com a reativação da economia.

Trata-se de uma questão de dosagem, não de condenação a prori dos gastos.

Na fase inicial de gastos, é desonesto o terrorismo fiscal, sabendo-se que há a possibilidade da emissão de moeda na fase de transição, sem nenhum impacto sobre a inflação.

  1. Nem se fale das consequências sociais e políticas do aumento do arrocho.

Todos os países da Europa, da fiscalista Alemanha à quebrada Itália, estão apostando na retomada dos investimentos públicos como elemento central para a recuperação da economia e do equilíbrio fiscal.

Quando o governo não sabe o que fazer, no entanto, recorre à sua cloroquina preferida, as reformas, dito assim de boca cheia AS REFORMAS, sempre apresentada de forma genérica, mágica, assim como a reforma fiscal, a reforma da Previdência, o esvaziamento do BNDES, do FAT, do FGTS. Não há nenhum foco na retomada do crescimento, na amenização da crise.

Na mídia, impera de cabo a rabo a lógica da dona de casa. Gasto público significa gastar o seu, o nosso rico dinheirinho, como se fossem gastos supérfluos, desperdício, sem nenhum impacto sobre emprego, renda, nível de atividade e, quando na saúde e educação, no bem estar dos próprios cidadãos.

A única vantagem do terraplanismo de Paulo Guedes é que, enquanto vigorar seus princípios, não haverá a menor possibilidade do governo Bolsonaro ser bem sucedido.”

URBANICIDADE – XADREZ DO GOLPE (A nítida aposta de Bolsonaro na guerra civil)

Achei muito forte essa análise da conjuntura feita por Luíz Nassif (aqui). Na minha idade me permito a não sofrer por antecipação por aquilo que ainda está no campo das hipóteses, mas nem por isso deixaria de trazer aqui, pois estamos num momento bastante conturbado de nossa história. Que cada um tire suas conclusões.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas.

No dia 8 de maio de 2019, publiquei aqui o “Xadrez do gole a caminho”, mostrando que jká era nítida a estratégia de armamento da população, de criação de milícias, para substituir as Forças Armadas na defesa do regime.

No dia 2 de fevereiro de 2020, um segundo capítulo, ficando cada vez mais clara essa intenção.

As declarações de Bolsonaro, na reunião dos Ministros, é a comprovação definitiva.

O que precisa mais para as instituições se mexerem?

Peça 1 – O fator Olavo de Carvalho

Depois das últimas escaramuças, não resta dúvida de que a alma do governo Jair Bolsonaro são seus filhos Carlos e Eduardo. E, por trás de ambos, Olavo de Carvalho. Conforme foi possível conferir ao longo desses meses iniciais, todas as loucuras ditas por Olavo e pelos filhos de Bolsonaro têm consequências políticas. Não são meramente bazófias e grosserias. Têm que ser interpretadas ao pé da letra.

Três opiniões relevantes para compor essa primeira peça

A opinião de Olavo sobre os militares

É evidente que, para Olavo, os generais representam o maior empecilho para a guerra final contra o marxismo cultural.

A opinião de Eduardo Bolsonaro sobre o armamento para a população

Em mais de um Twitter, Carlos e Eduardo Bolsonaro deixaram claro que armar a população é condição essencial para a libertação do país. Deram como exemplo os EUA dos pioneiros e a Venezuela da Maduro. Se a população tivesse armas, Maduro não imporia sua ditadura.

A hora do enfrentamento, segundo Olavo

De todos os tuites de Olavo, o que mais chamou a atenção foi o que ele avisa para deixar para mais tarde a briga com o general Villas-Boas. Quem o avisou foi “o anjo da guarda”. Não é necessário muito tirocínio para intuir quem é o tal de anjo da guarda.

É evidente que o sentido da frase embute a questão da correlação de forças. Mas o que impediria, neste momento, se o próprio Bolsonaro deixou claro que, entre militares e Olavo, fica com Olavo? Certamente não é a correlação de forças políticas dentro do governo Bolsonaro, onde Olavo saiu vitorioso. É a correlação entre o bolsonarismo e as forças externas – incluindo aí, os generais.

Peça 2 – o decreto de Bolsonaro

Portanto, é ingenuidade supor que o decreto de Bolsonaro, ampliando desmedidamente o direito às armas seja mero lobby dos clubes de tiro ou da indústria de armas dos Estados Unidos.

É um posicionamento político para impor-se amparado pelo poder das milícias, dos ruralistas, pelas armas nas mãos de seus seguidores, pelos aliados nas empresas de segurança e, provavelmente, por sua influência junto à média oficialidade das Forças Armadas.

As ligações de Bolsonaro e do PSL com as milícias são óbvias. E há evidências de monta sobre sua proximidade com os mercadores de armas. Dono de um arsenal de 120 armas pesadas, o ex-PM Ronnie Lessa era vizinho de condomínio de Bolsonaro. Ligado a tantos milicianos, colega de tantos ex-militares que vieram dos porões, é impossível que Bolsonaro não soubesse das atividades de Ronnie Lessa

Aqui o primeiro mapa feito mostrando essas ligações.

Peça 3 – as ligações com a indústria de armas dos EUA

No artigo “Xadrez da indústria de armas e o financiamento da direita” mostrei as estreitas ligações entre o lobby das armas e o avanço da ultradireita no mundo. Mostra também a associação dos Bolsonaro com a NRA, a associação dos fabricantes de rifles dos EUA.

Leia também:  Bolsonaro evidencia intenção em militarizar Ministério da Saúde

 

Dizia a matéria;

No dia 10 de novembro de 2018, o site da America´s 1st Freedom, da NRA, dizia (https://goo.gl/F7mkKV):  “Tiremos o chapéu para Bolsonaro por ver a situação pelo que realmente é”.

Um ano antes, em 2017, Jair e Eduardo Bolsonaro foram recebido com todas as regalias pela NRA, conforme reportagem da Bloomberg (https://goo.gl/KWcMhy):

“Enquanto estavam lá, eles experimentaram uma AK-47 e outras armas de assalto. Depois, Eduardo, vestindo uma camiseta “F — ISIS”, segurou cartuchos de grande calibre para a câmera e expressou consternação por eles poderem “ter um problema” se tentassem trazer a munição para o Brasil.”

Quando entrou em crise, depois de ter defendido o armamento para a população dias antes da chacina e ela passou a ser alvo generalizado de críticas, inclusive do prefeto de Nova York, a saída foi invocar Deus:

A reação da NRA veio através de seu líder, Wayne LaPierre, alertando contra uma “agenda socialista” por trás das campanhas contra o desarmamento. E dizendo que o direito às armas “é garantido por Deus a todos os americanos como direito de nascença” (https://goo.gl/QKwpaa).

A atuação política da NRA é fundamentalmente contra as instituições, das quais a mais visada é a imprensa.

Peça 4 – o fator Wilson Witzel

O governador carioca Wilson Witzel está claramente preparando sua polícia – civil e militar – para a guerra. Pode-se supor que seja contra as organizações criminosas adversárias das milícias. O que aconteceria com essa estrutura armada, caso o bolsonarismo decidisse peitar a hierarquia das Forças Armadas?

É mais uma evidência do posicionamento dos bolsonaristas.

Peça 5 – o caos que se avizinha

Não há a menor possibilidade da economia melhorar. A equipe econômica conduzida pelos inenarráveis Paulo Guedes e Mansueto de Almeida, parecem determinados a inviabilizar o país, a pretexto de cumprir a Lei do Teto. E sempre com a promessa impossível de que tudo irá melhorar, em um passe de mágica, se for aprovada a reforma da Previdência.

Todas as medidas tomadas parecem ter o intuito de promover a reação da população. Pode ser mera miopia política, de economistas desvairados, pode ser a busca do álibi para o confronto final contra o tal do “marxismo”, que os bolsonaristas vêem até nas Forças Armadas.

De qualquer modo, a cada dia que passa o desalento será maior, assim como a corrosão na popularidade de Bolsonaro. Isso explica a pressa em acelerar providências, a pretexto de recuperar o contato com a base.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas. Seria relevante que caísse a ficha das instituições – STF (Supremo Tribunal Federal), Forças Armadas e Congresso, antes que seja tarde.

 

URBANICIDADE: E AGORA? O QUE FAZER?

O jornalista e escritor Luiz Nassif traz aqui um artigo onde ele propõe caminhos a seguir, diante da previsão de caos que se avizinha. Acredito que serve como parâmetro de debate, pois algumas destas propostas são bem interessantes e compreensíveis até para muitos leigos, assim como eu. É interessante lembrar que a grande maioria das pessoas não tem a mínima idéia do que seja a administração pública, seus problemas, suas amarras legais, suas consequências. Para se exercer o Poder Executivo (prefeitos, governadores e presidente) por exemplo, o cidadão que está na titularidade do cargo esbarra numa série interminável de leis, protocolos e regras que praticamente engessam suas ações, gerando uma demanda reprimida e um descontentamento em geral da população, que se acha desassistida. Na área de engenharia exemplarmente, uma Lei de Licitações já comprovadamente obsoleta (colocando isso de uma forma resumida e simplificada) determina que sejam vencedores aquelas empresas ou profissionais, que detenham o menor preço. Ora,  a qualidade dos serviços exigem uma melhor remuneração tanto dos materiais empregados quanto da mão de obra, acarretando com isso inúmeras obras mal feitas, muitas inacabadas, gerando uma cadeia incrível de problemas e insatisfações, chegando até a contaminar o nível salarial de toda a cadeia, resultando até na ridícula remuneração dos engenheiros e a impossibilidade de um avanço tecnológico de toda a engenharia. Aliás, esse assunto merece um artigo especial e penso em voltar nele em breve. Bem, leiam o artigo de Nassif e que se abra uma sadia e democrática discussão. Vamos lá.

“O caminho é reciclar a indústria brasileira para produzir equipamentos de saúde
Trata-se de uma equipe de governo que se divide entre o terraplanismo mais inconsequente, e a mediocridade ampla. O Ministro da Economia pertence ao segundo grupo. Ele é incapaz de conceber projetos grandiosos, mesmo no plano meramente do conceito. Menos ainda, executá-los. Daí a necessidade imperiosa para que o Congresso assuma a iniciativa de juntar um conselho nacional, da sociedade civil, para coordenar as ações.

O primeiro ponto é entender o que se passa.

A crise atual em nada se parece com a crise de 2008. Aquela foi uma crise de liquidez. Explodiu a bolha financeira, deixando bancos e seguradoras inadimplentes. As indústrias foram afetadas pelo componente financeiro do negócio, pelo desaparecimento da liquidez, não pela queda da atividade em si, que veio a seguir.

Na ocasião, o foco correto seria um enorme esforço para reduzir o endividamento de empresas e de famílias. Decidiu-se pelo caminho politicamente mais fácil: injetar dinheiro nas empresas.

Essa, aliás, é uma das enormes fragilidades das políticas públicas contemporâneas. As grandes empresas, e os grandes financistas, assumiram tal poder financeiro, transformado em poder político, que toda decisão de política econômica acaba prejudicada por seus próprios interesses.

Em 2008, as empresas americanas receberam o dinheiro e passaram a recomprar suas próprias ações. Ganharam os executivos – principais responsáveis pelas loucuras que colocaram as empresas em risco – e os acionistas.

Agora, o jogo é outro.

Não há uma crise de liquidez, mas uma ameaça efetiva de desmoronamento do nível da atividade real. E o inimigo a ser vencido, o centro de toda a desestabilização, é um vírus. Portanto, a batalha central é de ordem sanitária. Justamente por isso, não são os remédios de 2008 que servirão agora.

Vive-se um quadro similar ao das guerras.

Guerras criam duas prioridades a serem trabalhadas. A primeira, enfrentar o inimigo. A segunda, reciclar a economia para o novo quadro, sempre tendo em vista a primeira prioridade.

Agora se tem uma guerra, mas diferente. É uma guerra com três desafios:

  1. O desafio sanitário, de vencer a doença.
  2. O desafio social, de criar redes de proteção para as populações mais vulneráveis e minorar o desemprego.
  3. O desafio econômico de manter a economia funcionando.

Como a China fez? Conforme mostrei na Coluna Econômica de ontem, promoveu um enorme esforço para criar um parque industrial voltado para a fabricação de equipamento de segurança – máscaras, luvas, ventiladores. O maior estímulo, além dos incentivos fiscais e creditícios, foi a garantia de compra da parte do governo. Atendido o mercado local, abriu-se enorme oportunidade de exportação.

Ontem, nos Estados Unidos, diversos conglomerados se ofereceram para essa reciclagem. A General Motors e a Ford Motor comunicaram à Casa Branca sua disposição de produzir ventiladores, caso haja interesse do governo em mobilizar as empresas privadas para a fabricação de equipamentos de enfrentamento da doença.

A elas se juntou Elon Musk, da Tesla, que garantiu que sua empresa poderia produzir ventiladores, “se houver escassez”. Imediatamente o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, garantiu que a cidade estava interessada em comprar ventiladores.

Foi um movimento similar ao da Segunda Guerra. Na época, GM, Ford e Chrysler direcionaram a produção de carros para a fabricação de armas e outros suprimentos de guerra. A Ford produziu os bombardeiros B-24; a GM fabricou tanques Sherman.

Além disso, há uma questão política relevante, em discussão nos EUA e certamente por aqui. Qualquer medida de apoio às empresas tem que beneficiar fundamentalmente a produção e os empregos.

Na década de ouro do liberalismo, o jogo era outro.

Em 2008, a ajuda financeira do FED, sem atacar as causas reais da estagnação econômica, serviu para as empresas recomprarem suas ações, beneficiando seus acionistas. No Brasil de FHC, Lula e Dilma, houve sucessivas políticas fiscais de estímulo à indústria, sem nenhuma contrapartida de metas de produção, exportação e geração de emprego.

Agora, a própria natureza da crise exigirá, cada vez mais, isonomia no tratamento dos perdedores. Portanto, o caminho passa por um enorme esforço de abrir espaço para as indústrias brasileiras reciclarem sua produção para a grande guerra da saúde.”

 

Urbanicidade: “A batalha perdida de Paulo Guedes contra as Santas Casas”

Uma das piores tragédias prenunciadas pelo mais inepto governo federal da história do Brasil chama-se Paulo Guedes. É esse ministro colocado lá pelos “donos” do mercado financeiro e avalizado por um presidente completamente néscio, que será reconhecido pelos nossos filhos e netos como o responsável pelo atraso de gerações, de séculos talvez. Paulo Guedes será lembrado pela história pela ignorância e irresponsabilidade no trato de um sensível ramo da administração pública: a economia de um povo, a possibilidade de sobrevivência de uma Nação. Como ultimamente fico desmotivado de escrever ao deparar com uma situação que antevê o caos geral, coloco aqui um pequeno artigo de Luíz Nassif a respeito da milésima atuação de um elemento que teve como único mérito na vida, servir de laranja e fantoche de banqueiros e pesados investidores alienígenas. Arrancaram nacos de dinheiro da coisa pública que agora querem desmanchar para serem os únicos a aproveitar da carniça. Até quando? Como larvas que parasitam insetos vivos deixando-os como zumbis para sugá-los durante algum tempo, esses invisíveis operadores do “mercado” não enxergam que atrás de uma economia de um país existe milhões de vidas que sem uma economia organizada e a elas direcionada, que sem um Estado que equilibre as distorções de um sistema imperialista que visa engolir “mercados” pelo mundo afora e criar colônias em pleno século XXI, levarão o país a se deteriorar em tribos violentas que procurarão sobreviver num ambiente de autofagia e destruição da natureza. Sem o amparo de uma saúde pública e sem a consciência de que só uma educação abrangente consegue, não haverá como aglutinar milhões de pessoas concentradas em sua grande maioria em urbes falidas. É o prenuncio de um “deusdará”. Vai ser um inferno…

“A BATALHA PERDIDA DE PAULO GUEDES CONTRA AS SANTAS CASAS”

https://jornalggn.com.br/noticia/a-batalha-perdida-de-paulo-guedes-contra-as-santas-casas-por-luis-nassif/

“Paulo Guedes não é apenas um executivo mambembe, sem experiência de liderar equipes ou administrar organismos minimamente complexos. É também um impulsivo, que não se guia por um planejamento racional das ações. Vai lançando ideias, como coelhos da cartola, parecendo que sempre escolhe a primeira que lhe vem à cabeça. À medida em que as ideias se revelam inviáveis, não dá uma pausa para uma análise de situação, continua despejando novas ideias sem nexo.

Insistiu ideologicamente na questão do teto de gastos. Apostava que, cortando todos os recursos, a Nação viesse de joelhos avalizar sua proposta de desvinculação total do orçamento – acabando com as vinculações obrigatórias para educação e saúde.

Descuidou-se completamente da queda da demanda, impedindo qualquer recuperação mais consistente da economia. Veio com a história da fada da confiança, a ideia de que, concretizadas as reformas, os investimentos voltariam para o país. Pior: acreditava no que dizia.

Quando se deu conta do fracasso de suas estratégias, Guedes recorreu aos mesmos erros de Dilma Rousseff, pretendendo desonerações como forma de estimular investimentos. Mas, para as desonerações de folha, precisava de um reforço de caixa. Propôs então a volta da CMPF.

Quando a CMPF dançou, com a recusa de Bolsonaro, Guedes ficou com a broxa na mão. Sua próxima investida, agora, é a tentativa de taxar instituições filantrópicas. Taxar igrejas, nem pensar porque Bolsonaro não deixa.

Significará inviabilizar toda a rede de Santas Casas que, na maioria das pequenas cidades, impede o desmoronamento final da saúde, depois dos cortes de gastos no SUS (Sistema Único de Saude).

Não surpreende a insensibilidade de Guedes com a saúde pública. Apenas sua supina ignorância de não se dar conta que sua proposta não terá a menor viabilidade política.”

 

Urbanicidade: “por que há tanta casa sem gente e tanta gente sem casa?”

Entrevista de João Sette Witaker, professor livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, concedida ao Jornal GGN.

“Um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que o déficit habitacional no Brasil chegou a 7,78 milhões de unidades habitacionais em 2017. Por outro lado, pesquisa da Fundação João Pinheiro, com base em dados do IBGE, diz que há pouco mais de 7,9 milhões de imóveis vagos em todo o País.

A pergunta óbvia que permanece é: por que apesar do número de imóveis vagos ser superior ao número de famílias precisando de casas, ainda há tanta casa sem gente e tanta gente sem casa? Para entender um pouco mais sobre como funciona esse tipo de mecanismo de exclusão nas cidades brasileiras, falamos com João Sette Witaker, professor livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Jornal GGN – Por que há tanta casa sem gente e tanta gente sem casa?

A casa em si é um produto que tem a particularidade de ser extremamente cara. E o que é caro na construção da residência não é a casa em si, porque as pessoas até conseguem produzi-las, ainda que precariamente, com pouco dinheiro. Via de regra, as casas autoconstruídas na favela, ou nos loteamentos periféricos, são bem feitas, mas geralmente insalubres e em um ambiente urbano precário. A casa que a gente fala que é cara é uma construção inserida no espaço urbano com infraestrutura e serviços, que é onde está o meio de vida das pessoas. Ela é cara por uma razão muito simples: oferecer a rede sistêmica de infraestruturas que a transforma num lugar bom de se morar é muito custoso. Custa muito fazer uma linha de metrô, um corredor de ônibus, um coletor tronco de esgoto com uma estação de tratamento, levar água, fazer hospitais, fazer escola, e além disso é necessária uma política macroeconômica que ofereça emprego, que dê condições para a pessoa viver, pagar o transporte público, etc. Então, a casa é dependente da estruturação da política pública como um todo, e é por isso que quando a gente fala em política habitacional, a gente sempre está falando em política pública.

Jornal GGN – O fato é que, sem esse contexto urbano, não se tem a qualidade de vida necessária?

Exatamente, a casa que a gente entende como sendo a necessária é aquela que tem facilidades e propicia um razoável grau de qualidade de vida. São coisas aparentemente muito simples e diretas como o carteiro entregando a carta na sua casa, ou um caminhão de lixo pegando seu lixo na frente do portão. Estamos falando de eletricidade, água, esgoto chegando no lar das pessoas. São coisas básicas, e o Brasil, apesar de ser a décima economia do mundo, não consegue oferecer isso de forma generalizada, nem mesmo nas suas mais modernas cidades. Mas, também, pode ser algo mais indireto como a efetividade dos serviços prestados, o fato de haver escolas próximas, haver comércio, ou onde se possa comprar comida facilmente, além de algo primordial que é o emprego próximo de casa. Então, quando se fala que não tem casa para todos, não significa falarmos somente do abrigo, significa a casa dentro desse contexto urbano. É por isso que dizemos que a questão urbana e habitacional deveria estar no centro da agenda política nacional, pois é a partir dela que se estrutura a vida das pessoas.

Jornal GGN – Acontece nas cidades algo análogo a outras esferas da sociedade neoliberal, as elites pagam por essa qualidade de vida urbana e as camadas populares vivem na espoliação?

A riqueza individual permite, eventualmente, resolver essa questão da casa porque permite que uma série desses elementos sejam substituídos pelo serviço particular. Se o cidadão tem muito dinheiro, ele consegue escola particular, hospital particular, e um automóvel particular que o levará para onde quiser ir. Portanto, esse cidadão conseguirá substituir aquilo que é caro pagando do próprio bolso por uma oferta que é dada pelo mercado, escondendo ainda assim muitos subsídios públicos (para toda a estrutura que o carro necessita, por exemplo). E alguém pode se perguntar: onde está o problema nisso? O problema é que uma parte dessa oferta pode até vir do mercado, mas a outra parte é resultado da oferta pública, ou seja, da localização, que é, como dizemos, produzida socialmente. A localização é mais cara quanto maior e melhor for a infraestrutura oferecida no lugar em que ela está localizada.

Aqui é onde se escancara a perversidade de acesso à casa dentro do capitalismo: a melhor localização, que é a mais cara e só pode ser adquirida pelos mais abastados, é produzida publicamente, porque é onde há infraestrutura pública, onde tem equipamentos públicos, onde tem metrô, tem água, tem tudo. Eis o nó da questão: é nesse ponto que deveria haver intervenção do Estado dizendo que o alto preço do imóvel e da terra se deve às infraestruturas criadas por ele com o dinheiro de todos. Então, deveria ser o Estado a regular essa oferta para garantir, por um lado, que ela seja homogênea em toda a cidade e, por outro, subsídios para ajudar o acesso a boas localizações para os mais pobres.

Nas sociedades reguladas do chamado capitalismo “desenvolvido”, que viveram ao menos 30 anos sob uma lógica keynesiana de forte intervenção do Estado, o poder público conseguiu equilibrar a oferta de infraestrutura e serviços com o acesso à casa em toda a cidade, de forma razoavelmente homogênea. Mas, na periferia do capitalismo, como aqui no Brasil, o Estado nunca fez essa regulação, porque a lógica era outra. Nunca houve a necessidade econômica de se constituir uma sociedade ampla de consumo mas, ao contrário, precisava-se manter o atraso e a pobreza como combustíveis de uma modernização incompleta, que servia perfeitamente aos interesses das nossas elites. Do ponto de vista urbano, o resultado foram cidades – fora dos exclusivos bairros ocupados pelas elites – deixadas à livre-ocupação pela população mais pobre, com a autoconstrução de suas casas e sem infraestrutura. Então, ao longo dos anos, acumulou-se esse passivo social de milhões de pessoas que não conseguem ter acesso à moradia.

Jornal GGN – E em que momentos essa regulação aconteceu?

O capitalismo nos países centrais do sistema (Europa e América do Norte), após a grande depressão dos anos 30, precisou racionalizar-se para constituir sociedades de consumo de massa com uma classe média majoritária, capaz de fazer girar, pelo consumo, a roda de produção e reprodução do capital. Na crise dos anos 30, o capitalismo forçou demais a barra no rebaixamento dos salários, ao mesmo tempo em que, por outro, multiplicava o volume de produção, necessitando promover seu consumo para garantir a acumulação do capital e seu reinvestimento em mais produção. Assim, os salários dos trabalhadores, em termos gerais, não permitiam que consumissem aquilo que o próprio capitalismo produzia. Para que isso não ocorresse, estruturou-se naquelas economias, seguindo a cartilha keynesiana, um sistema fortemente regulado pelo Estado para garantir as condições mínimas de acesso aos bens produzidos: salário-mínimo, limitação das horas de trabalho, descanso remunerado, etc. Dentro desse esforço incluía-se a casa, essencial para dar condições de consumo. A esse modelo deu-se o nome, um tanto eufemístico, de “bem-estar social”. Está certo que o neoliberalismo infligiu um duro golpe a esse modelo, e hoje a desigualdade está cada vez mais premente também nos países ditos “desenvolvidos”.

No caso do Brasil, e nos países em desenvolvimento de maneira geral, nunca houve a necessidade de constituir uma sociedade de consumo de massa, porque o nosso consumo era, ao longo do nosso processo histórico, essencialmente voltado para fora, e para uma pequena parcela da população de mais alta renda. Nós éramos – e ainda somos – exportadores de commodities e do agronegócio ou, eventualmente, produtores de mão de obra barata, tal qual é a China de hoje. Tanto para exportarmos matéria-prima, como para produzimos produtos industrializados voltados para o exterior, não houve estruturalmente a necessidade da formação de um mercado de consumo de massa. Muito pelo contrário, era interessante manter a população pobre como um exército industrial de reserva. Como disse Chico de Oliveira, as favelas foram a expressão da necessidade de rebaixamento dos custos da força de trabalho. As elites, quanto a elas, se concentraram em bairros ditos “nobres” que, estes sim, por conta de um Estado instrumentalizado para beneficiar os seus interesses, receberam sempre toda a infraestrutura necessária, segregando os mais pobres para fora deles.

O mercado imobiliário só produziu para a população mais abastada, porque era mais lucrativo, mas ao mesmo tempo, o Estado também não garantiu que a enorme massa de trabalhadores sem moradia fosse atendida. Essa é a razão estrutural para haver tanta gente morando em periferias distantes, tanta gente pedindo casa e tão pouca casa oferecida. O BNH produziu 4 milhões de unidades em vonte anos, mas na maioria acabaram, por serem pagas, não beneficiando a população mais pobre. Recentemente, o Programa Minha Casa Minha Vida conseguiu, pela primeira vez, oferecer quase dois milhões de casas para essa população. Porém, a questão da boa localização, que esbarra no entrave da terra, não conseguiu ser equacionada, assim como a da qualidade das moradias produzidas.

Jornal GGN – Com tanta gente sem casa, por que tantos imóveis vazios?

Como já dito, na lógica patrimonialista da sociedade brasileira, o Estado não tem interesse em regular a economia no sentido do interesse público, daquilo que é bom para a maioria. Quando isso ocorre, quando governos de esquerda conseguem administrar cidades, percebemos que a correlação de forças políticas no Brasil está longe de ser favorável aos interesses da maioria. Ao enfrentar privilégios, esses governos raramente conseguem durar mais de um mandato, tal a força reativa dos setores dominantes. Agora, chegamos ao fundo do poço, com a eleição de governos que abertamente renegam qualquer compromisso de justiça social, com apoio popular.

Assim, com o domínio de uma lógica em que se confunde o interesse público com os interesses de alguns grupos privilegiados, é muito mais fácil implementar parklets, que vão tornar bacana o espaço público dos bairros nobres, do que levar saneamento básico para as periferias, para gente que está morrendo por que a casa desmorona na hora da chuva. A gente constrói uma via a mais na Marginal e todo mundo acha o máximo, uma política para os 30% que usam o automóvel, quando com o mesmo dinheiro poderia se fazer 10 km de metrô, meio de transporte usado por 70%. Isso só acontece porque a sociedade está condicionada a confundir o bem público com uma lógica de “vou fazer funcionar para o meu interesse próprio ou do meu grupo”, mesmo que isso, economicamente, seja um entrave ao desenvolvimento.

Então, o gargalo principal é que a máquina pública no Brasil constitui um amálgama de dificuldades administrativas, burocráticas e políticas que impede a realização da política pública reguladora. Mesmo quando alguém tenta fazer essa política funcionar, chega o vereador que está acostumado com o clientelismo e com a corrupção, chega o setor do poder jurídico e judicial e que está acostumado a fazer lawfare, em utilizar a justiça para satisfazer interesses e chega o burocrata administrativo que está acostumado fazer procedimentos corruptos para satisfazer os seus interesses, os de políticos corruptos e juízes.

Então, por que tem tanta casa sem gente e tanta gente sem casa? Por que tem quase 5 milhões de casas vazias nas áreas centrais? Casas sem uso são antieconômicas, pois não fazem uso do dinheiro público investido nas boas localizações em que se encontram. Mas como o que determina a lógica de ocupação e uso do solo é a lógica de mercado, e não a da regulação pública, o poder público não consegue determinar que sejam usadas. Os instrumentos criados para isso no Estatuto da Cidade em 2001, como o PEUC – Parcelamento, Edificação ou Uso Compulsórios, foram pouquíssimo utilizados até hoje. Quando aconteceu, como na gestão de Haddad em São Paulo, logo foram interrompidos na gestão seguinte. Assim, imóveis sem uso são deixados ao abandono porque a propriedade é sagrada, os juízes a protegem, e o Estado não tem o menor poder de regulação para punir, multar ou mesmo desapropriar para dar-lhes o uso social que mereceriam.

Ao mesmo tempo, não se faz nada ou quase nada para simplesmente melhorar as condições de vida dos bairros precários, uma solução mais simples do que ter que construir mais e mais, que passa pela realização de serviços básicos. Só que a lógica que manda, que dita a política pública, que favorece o mercado, é a de não olhar para soluções reais de melhorai social, mas para “soluções” que satisfazem os interesses dessas forças. Como sair por aí construindo sem muito critério.

Jornal GGN – Qual seria, então, a solução mais rápida para resolver o problema dos prédios ociosos nos centros das nossas cidades – em grande parte prédios particulares – que estão vazios e ociosos nos centros das nossas cidades?

O mais rápido seria nós desapropriarmos. O certo é o Estado dizer: “não está cumprindo a função social da propriedade? Desaproprio tudo e construo uma política de moradia via aluguel social de fôlego usando um novo parque habitacional público disponibilizado por esses imóveis”. Ah, mas o Estado alega que não tem dinheiro. A nona economia do mundo não tem dinheiro? Sessenta bilhões de reais, que é o orçamento da cidade de São Paulo, não tem dinheiro? Mas então, por que não se faz isso? A resposta está no amálgama dos empecilhos patrimonialistas. Alegam-se muitas coisas para não se desapropriar um imóvel ou um terreno: que Ministério Público faz um conjunto de exigências difíceis de cumprir, que para desapropriar é necessário usar outros mecanismo, que quem é devedor do IPTU entrou na Justiça, que o dono da propriedade é poderoso e outros tantos motivos. O que falta é força política para fazer isso, embora não faltem instrumentos de gestão para isso: o já citado PEUC (Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios, instrumento urbanístico que obriga a utilização dos imóveis ociosos sob pena de desapropriação com títulos da dívida pública), as Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social, que obrigam a construção de moradias sociais em determinadas áreas definidas pelo município), a desapropriação, o usucapião coletivo urbano e tudo mais. Mas, depois de quase 20 anos, quais municípios de fato aplicaram o Estatuto da Cidade de maneira integral e sistêmica para fazer frente à retenção ilegal de imóveis ociosos? Para obter terras bem localizadas? Praticamente nenhum. São Paulo foi uma boa exceção com seu Plano Diretor de 2014, junto com alguns outros municípios, mas, via de regra, quando isso ocorre, o enfrentamento dos privilégios urbanos das classes dominantes faz com que esses governos não sobrevivam à reeleição, tal a correlação de forças perversa da nossa política. Essa correlação de forças políticas se explicita na ponta, nos municípios, onde há o confronto efetivo com o dono da terra, aquele que mantém o terreno vazio, o imóvel vazio para o seu próprio lucro. Isso quando não ocorre, o que é muito comum no Brasil do patrimonialismo, do próprio coronel, dono de latifúndio, ser também o político, o Prefeito, que deveria combater o dono das terras subutilizadas, que é ele mesmo! Não há a menor chance de se ver, nesses casos, um Estado regulador que regule o próprio político que detém o poder da máquina pública. Por exemplo, por mais que o Minha Casa Minha Vida (MCMV) tenha tido aspectos ruins, o fato é que quando ele bateu na porta dos municípios, oferecendo 100 bilhões de Reais de subsídios a fundo perdido para fazer casas gratuitas para os muito pobres (foram construídas cerca de 1,7 milhão), estes não tinham feito a tarefa de usar os instrumentos previstos desde 2001 no Estatuto da Cidade para desapropriar terras, fazer estoque de lotes bem situados, designar locais para a moradia social. Sem isso, se viram reféns da lógica mercadológica das construtoras, que ofereceram a apetitosa (politicamente) solução de fazer muitas casas, porém muito longe. Os municípios alegam que o valor de mercado desses terrenos é muito alto. Isso é emblemático, pois, se o Estado não consegue obtê-los e tem que comprar é porque está à mercê e a reboque dessa lógica de mercado.

João Sette Witaker é professor livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Lyon/Jean Monnet – St.Etienne, França (2017), foi Secretário Municipal de Habitação de São Paulo entre 2015 e 2016 e é membro do BrCidades.

Urbanicidade: “Xadrez para entender o manifesto de Bolsonaro em Dallas”

Em um sábado qualquer de minha vida me cai nas mãos esse artigo com o título acima, do renomado jornalista LUIZ NASSIF. Sinceramente, é inacreditável o que se lê ali. Ou melhor, é inacreditável acreditar (desculpas pelo pleonasmo) o que está acontecendo em meu país em pleno século XXI. Quando criança, há décadas, imaginava um futuro azul e cor de rosa, e também, viver numa sociedade coerente, mais igualitária, mais fraterna e com mais justiça. Ao deparar com a matéria de Nassif fico pensando como foi possível o PODER DE FATO, os DONOS DE NOSSO DINHEIRO, fazer de um país tão belo e grandioso como o nosso, transformar o gestão de nossas riquezas e direitos numa mais perfeita máquina de espoliar e triturar qualquer arranjo para transformar nosso povo em uma população voltada para si mesma. Nossos netos com certeza irão, no mínimo, maldizer seus DNA’s durante muitos e muitos anos.

“Era previsível o lance de Jair Bolsonaro, conclamando suas milícias digitais a enfrentar as instituições. Ontem mesmo previmos esse movimento. Aliás, não há nada de mais previsível que Jair Bolsonaro, justamente por sua incapacidade de planejar qualquer movimento.

Aliás, o mesmo ocorre com seu guru Olavo de Carvalho. Ambos se assemelham a boxeadores que lutam de cabeça baixa distribuindo murros a granel. Como deu certo até agora, devido a imbecilização coletiva do país, continuaram acreditando no seu toque de Midas-reverso – que transforma em merda tudo o que tocam – até toparem pela frente com o muro da realidade.

Ontem, Olavo recuou admitindo que exagerou nas suas invectivas contra militares. Bater em militar é um pouquinho mais arriscado do que atacar Marilena Chauí.

Bolsonaro baixou a cabeça e saiu esmurrando, difundindo em sua rede o tal manifesto. Assim como no episódio Marielle, já se sabe quem é o assassino. Faltou saber quem mandou, ou seja, quem foi o autor do manifesto. E aí entra o nosso Xadrez

Peça 1 – o fator mercado

É evidente que o artigo compartilhado por Bolsonaro foi produzido por alguém ligado ao mercado financeiro. É uma análise de cenário, mostrando um Bolsonaro derrotado e a recomendação final de “vender” o Brasil.

É nítido que o mercado financeiro se encantou com as possibilidades de negócios abertas pela eleição de Bolsonaro.

É o caso da Eletrobrás, alvo do G3, de Jorge Paulo Lehman. Ou a maluquice-mor de Paulo Guedes, de promover a fusão do Banco do Brasil com o Bank of America (BofA). Ou ainda, os acordos de leniência fechados entre Departamento de Justiça e grandes empresas brasileiras, como a Petrobras, com a Lava Jato se comportando como agente auxiliar do DoJ. E os contratos de compliance fechados entre Petrobras, Eletrobras, Embraer com grandes escritórios norte-americanos, em um lobby coordenado por Ellen Gracie, ex-Ministra do Supremo Tribunal Federal. Definitivamente, com o aval da Lava Jato, o Brasil se tornou uma mina de ouro para esses grupos.

Leia também: Xadrez do pacto que garantiu R$ 2,5 bi para a fundação da Lava Jato:

https://jornalggn.com.br/justica/compliance/xadrez-do-pacto-que-garantiu-r-25-bi-para-a-fundacao-da-lava-jato/

Peça 2 – os grupos de lobby

Prevendo esse campo para grandes negócios, muitos centros de lobby norte-americanos resolveram investir no grande negócio da parceria com Ministérios Públicos de vários países e autoridades regulatórias. Foi o caso do Atlantic Council e suas ligações com procuradores gerais latino-americanos. E de duas empresas interligadas.

A tal Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Brazilian-American Chamber of Commerce) – não confundir com a respeitada Amcham, a Câmara de Comércio Brasil-EUA sediada em São Paulo. Seu presidente é Alexandre Bettamio, presidente do Bank of America (BofA) para a América Latina.

O Milken Institute, um centro de lobby criado por Michael Milken, operador americano que melhor explorou os fundos abutres e terminou condenado e preso nos anos 90 por informação privilegiada e proibido de operar no mercado.

Ambos são amigos e trabalham na mesma linha de lobby: grandes eventos anuais, que lhes permitem se aproximar de autoridades norte-americanas e de outros países. E têm uma especial predileção pela Lava Jato.

Aqui, um evento da Brazilian-American Chamber of Commerce com Sérgio Moro.

Aqui, outro evento com o juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato carioca.

O patrocinador é o escritório de advocacia Debevoise & Plimpton LLP, um dos grandes escritórios nova-iorquino participantes da ampla promiscuidade com procuradores do DoJ. No mês passado, ele se vangloriava de ter contratado Lisa Zornberg, ex-Chefe da Divisão Criminal da Procuradoria dos Estados Unidos no Distrito Sul de Nova York.

O escritório tem um leque de produtos para clientes brasileiros, desde assessoria em casos de denúncia até trabalhos de compliance.

Já o Milken Institute armou eventos com grandes players brasileiros, dentre os quais Jorge Paulo Lehmann, Henrique Meirelles e o indefectível Betammio.

 

Leia também: Xadrez do pacto que garantiu R$ 2,5 bi para a fundação da Lava Jato

https://jornalggn.com.br/justica/compliance/xadrez-do-pacto-que-garantiu-r-25-bi-para-a-fundacao-da-lava-jato/

Aqui, foto do evento da Brazilian-American Chamber que premiou Sérgio Moro e Mike Bloomberg. Na foto, o próprio Bettamio com o casal Moro, Bloomberg e João Dória.

Peça 3 – Bettamio, Guedes e Bolsonaro

E, assim, entramos no nosso personagem principal, Alexandre Bettamio.

Assim que Bolsonaro foi eleito, foram empinados alguns balões de ensaio indicando Bettamio para a presidência do Banco do Brasil. Ele declarou que havia recusado. Mas passou a investir pesadamente no governo Bolsonaro e na parceria com Paulo Guedes, com quem conviveu nos tempos em que trabalhou no USB-Pactual.

Á frente da Câmara de Comércio, Bettamio tratou de aprofundar relações não só com a Lava Jato como com Bolsonaro.

Foi ele que insistiu no evento em Nova York, para homenagear Bolsonaro, que acabou se convertendo no maior mico de um governo coalhado de micos.

Antes de Bolsonaro assumir o governo, Paulo Guedes já difundia a ideia da fusão entre BB e BofA. Ontem, Guedes voltou a insistir na fusão BB-BofA e a acenar com venda de ativos da Petrobras.

Peça 4 – a reversão de expectativas

É esse horizonte, propício para alguns dos maiores negócios da história, que ficou coberto pelos raios e trovoadas da ingovernabilidade.

De um lado, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro avançando nas investigações sobre Flávio Bolsonaro, que inevitavelmente baterão no pai. As ruas, tomadas por estudantes protestando contra os cortes do MEC. E, na economia, o aprofundamento da crise, com os últimos dados sobre desemprego, mostrando a total inoperância de Paulo Guedes, na política econômica, e de Onix Lorenzoni, na articulação política.

Leia também:  Xadrez do pacto que garantiu R$ 2,5 bi para a fundação da Lava Jato

Guedes é incapaz de uma ideia criativa sequer. Todo seu talento, em outros tempos, se resumia a montar cenários econômicos em momentos de grande inflexão da economia. Mesmo como gestor de fundos de equity, jamais demonstrou visão prospectiva. Limitava-se a ir atrás de empresas familiares em setores tradicionais, demonstrando enorme aversão a risco. Além de cultivar uma relação frutífera com fundos de pensão de estatais.

Levou esse travamento para o Ministério da Economia. A crise se aprofunda e o Ministério é incapaz de qualquer coisa além de prometer o céu se a reforma da Previdência for aprovada, um blefe óbvio. A inércia chegou a tal a ponto que o Congresso resolveu assumir para si a responsabilidade de definir políticas anticíclicas – uma excrescência fruta exclusivo do desespero com a inoperância de Guedes.

É nesse quadro que surge o tal manifesto replicado por Bolsonaro, cuja última linha manda “vender” Brasil.

Foi um manifesto de mercado, que chegou a Bolsonaro em plena ida a Dallas, provavelmente entregue a ele por seu anfitrião. E, com o manifesto, a explicitação da intenção de Bolsonaro de insuflar suas milícias – digitais e provavelmente as armadas – contra as instituições.

Não poderia ter escolhido melhor cenário. Dallas foi local em que foi planejado e executado o assassinato de John Kennedy, o presidente americano visto como de esquerda pelos supremacistas brancos.

Urbanicidade: “É hora de parar Bolsonaro”

URBANICIDADE

 “É HORA DE PARAR BOLSONARO”

Com o título acima, Luiz Nassif escreve um contundente artigo (aqui) contra o descalabro que se tornou o nosso país. É um verdadeiro grito de socorro, mas ao que parece, não sensibiliza ninguém. Após sua leitura, fica a sensação de tristeza e desânimo. Será isso frustração causada pela certeza de que seu clamor vai dar em nada? Será que todos estão “jogando a toalha”? Será que nossos filhos e netos sabem o que os espera?  Du-vi-deo-dó.

“O que está ocorrendo não são apenas erros de políticas públicas que poderão ser consertados a partir das próximas eleições: estão promovendo desmontes irreversíveis, que se refletirão sobre o presente e sobre as futuras gerações

O país ainda não se refez do trauma do impeachment de Dilma. O desmonte institucional, induzido por Aécio Neves e convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, produziu um caos geral. Assim, há sempre o prurido de reincidir e banalizar o impeachment como saída para as crises institucionais.

Mas o caso Bolsonaro é diferente de tudo o que se viu no país antes e depois da democratização. O país está entregue a um celerado, com ligações diretas com as milícias do Rio de Janeiro, comandando um bando de alucinados que assumiram posição de destaque no Ministério e que tem como único objetivo a destruição de todo sistema formal construído ao longo da história.

O que está ocorrendo não são apenas erros de políticas públicas que poderão ser consertados a partir das próximas eleições: estão promovendo desmontes irreversíveis, que se refletirão sobre o presente e sobre as futuras gerações.

A maneira como estão exercendo o poder, atropelando a noção de freios e contrapesos, esmagando o espaço político de quem pensa de forma diferente, subverte a noção de democracia. Em qualquer circunstância, uma ameaça de tal monta à democracia precisa ser combatida com a arma definitiva da própria democracia: o impeachment.

No campo ambiental, há um Ministro acusado de negocista, desmontando o sistema de defesa do meio ambiente, escondendo mapas ambientais, indispondo o país com a comunidade global civilizada, com reflexos inevitáveis sobre as exportações do agronegócio. E afastando fiscais que ousaram, em outros tempos, multar Bolsonaro por pesca ilegal. É o absolutismo nas mãos de pessoas sem nenhum nível, com comportamento das milícias.

Na educação, um celerado que anuncia cortes de verbas às universidades, como consequência da tal guerra cultural. E, em vez de programas educacionais, incentiva o conflito entre professores e alunos.

Na economia, um Ministro sem a menor noção do mundo real, movendo-se exclusivamente pela ideologia, desmontando uma instituição com a história do BNDES, comprometendo as estatísticas do IBGE, ameaçando as redes de proteção social que, até agora, impediram a explosão final da violência e da miséria. Está matando os instrumentos de financiamento da infraestrutura, sem colocar nada no lugar.

Na presidência, uma família de desequilibrados, com ligações diretas com as milícias e, agora, estimulando a guerra no campo, criminalizando movimentos sociais, e interferindo em rebeliões internas de países vizinhos, expondo não apenas os vizinhos, mas o próprio Brasil, às consequências de uma guerra, comprometendo século e meio de tradição diplomática.

Liberais podem julgar que o interesse nacional está no mercado; desenvolvimentistas acreditam que está no Estado. Os Bolsonaro, pelo contrário, não têm a menor noção sobre o interesse nacional. E, junto com governadores irresponsáveis, como Wilson Witzel, do Rio, e João Dória Jr, de São Paulo, ampliando a violência policial como resposta à crise social.

O cenário pela frente é óbvio.

No campo econômico, o ideologismo cego de Guedes não permitirá a recuperação da economia e do emprego. A cada mês, mais aumentará o exército dos desempregados e dos desanimados com o próprio país.

Na outra ponta, um presidente enlouquecido tentando eliminar o espaço político de todos que não concordem com suas loucuras. E estimulando a violência de ponta a ponta do país.

Como dois e dois são quatro, persistindo nessa loucura se terá em pouco tempo o caos social, a ampliação da miséria, do desalento, o crime organizado expandindo seu controle sobre o Brasil formal e as explosões sociais.

É impossível que os demais poderes, STF, Alto Comando, presidência da Câmara e do Senado, partidos políticos, assistam passivamente a essa destruição do país. É preciso parar Bolsonaro! Não se trata mais de disputa entre esquerda e direita, entre lulismo e antilulismo, mas de uma aliança tácita entre os setores minimamente responsáveis, para não permitir o desfecho trágico dessa loucura.

Cada dia a mais de governo Bolsonaro representa anos de destruição do futuro, até que o caos torne a selvageria irreversível.

É hora de parar Bolsonaro!”

Urbanicidade: Privatização da Petrobras está sendo tramada entre piadinhas com as comadres da Globo News

“PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRAS ESTÁ SENDO TRAMADA ENTRE PIADINHAS COM AS COMADRES DA GLOBO NEWS”

André Araújo traz um excelente artigo (aqui) para discussão a respeito da privatização (depois de quebrá-la) da nossa maior opção de fazer caixa para o Tesouro Nacional, a PETROBRÁS. Acredito que valha a pena a leitura. A outra indicação de leitura (logo abaixo) não veio com nenhum link, mas não deve ser difícil localizar o site. Para quem quiser mais informações.

“(Do site da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), um artigo que merece ser lido: A OPEP, O MERCADO MUNDIAL DO PETRÓLEO E A PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRÁS)”

“A OPEP controla 60% das exportações mundiais, detém 75% das reservas globais (total das reservas é de 1,144 trilhão de barris) e, por sua atuação, determina o preço final do barril de óleo cru no mundo. Já as empresas estatais, incluindo de países não membros da OPEP (Russia, México, Brasil) detém 91% das reservas mundiais (segundo a Cambridge Energy Research), portanto o mercado mundial de petróleo é de controle estatal e não privado.

A OPEP é uma associação de EMPRESAS ESTATAIS DE PETRÓLEO, que são os braços operacionais dos países produtores. Das 20 maiores empresas de petróleo do mundo, 13 são estatais, incluindo a PETROBRÁS. Portanto, a realidade mundial do petróleo NÃO É A MESMA do passado, quando as “SETE IRMÃS” privadas eram donas das reservas e do mercado, época na qual alguns provincianos bolsistas da CAPES cursaram a Universidade de Chicago e lá sofreram lavagem cerebral, acreditando que o mercado resolve tudo. O petróleo virou domínio estatal por todo o mundo, e nada indica uma mudança.

A realidade do mercado mundial do petróleo hoje é dominada por estatais e não por empresas privadas. Portanto, a PETROBRÁS está no clube das empresas estatais que dominam o mercado, mas pretende sair desse clube e cair para o andar de baixo — o Brasil perdendo um lugar na 1ª classe e optando pela 2ª ou 3ª classes. Ou, pior ainda, a estatal do 1º time virando empresa privada CONTROLADA PELO CAPITAL ESTRANGEIRO, já então caíndo para a 4ª classe, para alegria de lunáticos de Chicago, que só concebem um Brasil colonizado como o antigo Congo Belga. Ficaremos abaixo de Angola, que ostenta orgulhosamente sua estatal de petróleo, a SONANGOL que ninguém em Angola sonha em privatizar.

POR QUE NENHUM PAIS ESTÁ VENDENDO ESTATAL DE PETRÓLEO?

A Saudi Aramco teve uma avaliação para IPO de US$2 trilhões. Não está à venda, como não estão nenhuma das 13 majors estatais de petróleo, com uma única exceção, a PETROBRÁS, controlada hoje por neoliberais provincianos, medíocres e jurássicos, que estudaram nos EUA com bolsa do Estado brasileiro.

As estatais de petróleo são consideradas ARMAS DE SOBERANIA, instrumento estratégico do País. Não se trata de uma pobre visão de mercado, mas uma questão muito mais alta, e com horizonte de longo prazo, para garantia das futuras gerações. É uma questão nacional e não de “mercado”.

A PRIVATIZAÇÃO DA PETROBRÁS

Está sendo tramada entre piadinhas com as comadres da GLOBONEWS. Incapazes de uma única observação, controvérsia, contraponto a essa ideia absurda das Miriams e Sardenbergs, acham lindo e elogiam a genialidade de Paulo Guedes. Os planos são sinistros. Primeiro, vender as refinarias, a BR Distribuidora, as petroquímicas, os gasodutos, os oleodutos; ao final, sobra o pré-sal, já em grande parte vendido; a venda final será da marca PETROBRÁS, tudo sem licitação; negociam secretamente ao preço que o presidente da Petrobras quiser, pois lhe foram dados salvo-condutos para fazer essas transações a portas fechadas, sem consultar a União, maior acionista, mas que é desprezada porque o importante são os acionistas minoritários de Nova York.

O projeto tem história. Começa na lava jato demonizando a empresa, passa pelo Departamento de Justiça dos EUA, que colocou fiscais na empresa por dez anos, e termina na venda final da marca, depois de raspar o caixa com acordos indenizatórios para acionistas minoritários americanos. O maior golpe financeiro da década, tudo tramado no Brasil e em Washington com o luxuoso apoio de advogados internacionais e seus correspondentes nacionais, inclusive o “advogado sem mácula”, acordos esses quase secretos, mal explicados e sem perguntas da mídia, sempre solícita a quem lesa o Brasil.

Em nenhum momento da História nacional um grupo de aventureiros teve licença para desfazer de forma tão fácil o patrimônio nacional. Para vender um banco de jardim, a Lei de Licitações 8.666 exige grande número de documentos e autorizações. Para vender a 7ª empresa de petróleo do mundo não precisa nada, basta escolher o comprador mais simpático e depois dar entrevista na GLOBONEWS entre risadinhas e piadinhas.

A GARANTIA DE ABASTECIMENTO E DE PREÇOS

Vendida a PETROBRÁS, o Brasil perde toda segurança energética e fica à mercê dos preços do “mercado” de combustíveis, que no mundo inteiro é cartelizado por grandes empresas. Teremos a gasolina e o diesel mais caros do mundo. O cenário não é uma surpresa, foi assim desejado por um Congresso omisso, por uma população apática, por uma mídia aparvalhada para conseguir a melhor entrevista que anunciará a venda da Amazônia sem licitação.”

Urbanicidade: “Brasil, o verde proibido”

URBANICIDADE

“BRASIL, O VERDE PROIBIDO”

“O valor das nossas florestas está na biodiversidade de flora e fauna e não no capim que se coloca depois do desmatamento.”

Amazônia devastada – Foto Araquém Alcântara

“Brasil, o verde proibido” é o titulo deste artigo de André Motta Araújo (aqui) colocando o dedo na ferida e argumentando quão errado é derrubar a floresta, amazônica, mata atlântica, qual seja, em detrimento de fazer dinheiro de modo imediatista. Tenho a mais firme certeza que um dia a falta de florestas será sentida. Na carne. Não existe humanidade sem biodiversidade. Não existe biodiversidade sem florestas aqui nos trópicos. Nossos netos saberão disso. Na alma.

“O Brasil é o terceiro País do planeta em área florestada, perdendo para a Russia e Canadá. Em percentagem do território florestado perde para o Japão.

O Brasil tem 4,77 milhões de quilômetros quadrados de florestas, a Russia tem quase o dobro, 8,14 milhões de quilômetros quadrados e o Canadá também tem mais que o Brasil, 4,91 milhões de quilômetros quadrados. Já em percentagem do território, Russia, Canadá e Brasil estão próximos, mas países da Europa e Ásia têm mais percentagem do território florestado que o Brasil, que tem 56% de florestas, o Japão tem 67%, a Finlândia tem 72% e a Coreia do Sul tem 63%, já a Estônia tem 61%. Os EUA estão como a Europa, tem 1/3 do território florestado e crescendo, hoje são 3,1 milhões de quilômetros quadrados.

É uma lenda contada por anti-ambientalistas que a Europa devastou suas florestas. Não devastou! A Alemanha tem um terço de seu território com florestas, todos os países europeus têm boa cobertura florestal, os países nórdicos têm a maior parte do território florestado, muito mais que o Brasil.

Mas o que o Brasil NÃO tem é o amor pelo verde. Capitais da Amazônia, como Manaus, Boa Vista, Porto Velho surpreendem o viajante que se aproxima de avião, veem cidades cruas, peladas, feias, com muita construção, poucos jardins, praças vazias, ruas de asfalto e cimento, sem árvores. E isso na Amazônia.

AS CAPITAIS TEM POUQUÍSSIMO VERDE, parece que não gostam de árvores, a exceção é Belém. No interior do Estado de São Paulo é chocante a falta de arvores nas cidades médias, deveriam ter muito mais verde, mas tudo indica que não gostam de árvores, acham que “progresso” é cimento.

O mais impressionante são os conjuntos de moradias populares. Os mais novos e imensos paliteiros em São Paulo, Jundiaí, Campinas, Osasco e Guarulhos NÃO TÊM UMA ÁRVORE. Em São Paulo, nos pátios de estacionamentos de shoppings e supermercados NÃO HÁ ÁRVORES, nem arbustos , espaço não falta, falta bom gosto, educação, cultura, civilidade, sobra cafonice, os bregas não gostam de vegetação, gostam de lenha para churrasco.

Nos prédios de apartamentos de classe média, média alta e da elite rica, há poucos e rasos jardins, NÃO HÁ FLOREIRAS NAS JANELAS E POUCAS PLANTAS NOS TERRAÇOS, isso é cultural, não há falta de dinheiro ou de vontade, falta CULTURA E CIVILIDADE, para gostar de plantas é preciso bom gosto.

Em Buenos Aires, praticamente todos os prédios de apartamento da área central, de classe baixa, média e rica tem floreiras nas janelas e plantas nos terraços, além da abundância de parques e praças por todo centro, Palermo, Zona Norte, Palermo Chico, muito verde, como eles gostam de flores, dão outra visão da cidade, muito mais agradável, além de ajudar muito na despoluição do ar. Nos arredores da capital argentina nem se fala, em Olivos,  Martinez, San Isidro, San Fernando, há muita vegetação, ruas todas arborizadas com bom gosto e cuidado, o mesmo em Cordoba e Mendoza.

O VERDE NAS COMUNIDADES

Nas comunidades pobres das grandes e médias cidades brasileiras a ausência de verde contribui para a má qualidade de vida e o aumento das tensões sociais. O verde civiliza e acalma. São Paulo tem uma Secretaria do Verde que faz pouquíssimo. Falta verde nas avenidas, nos parques, nas encostas, nas praças. O que resta de boas árvores em São Paulo, nos Jardins, Higienópolis e em Santo Amaro são resquícios de gerações antigas e educadas.

São Paulo dos anos 20, 30 e 40 era uma cidade quase europeia, altamente civilizada,  elegante. Por isso ainda existem, e cada vez menos, árvores majestosas nas áreas mais antigas da cidade, cada vez menos porque nunca foram bem cuidados, estão sufocadas por cimento e por ignorância, sem conservação. Nas grandes chuvas e ventos caem, em um só dia, 200 ou até 500 árvores em SP, frágeis e apodrecidas pelo sufocamento, falta de trato, de um mínimo de cuidados de conservação. Há muito  mau humor contra as árvores, tem gente que acha que atrapalham.

Por causa das quedas há paulistanos com raiva de árvores na cidade. Sugiro visitarem Berlim, que tem infinitas vezes mais verde que São Paulo, a mesma coisa em Paris e Londres. O VERDE VEM COM A CIVILIZAÇÃO E DESPARECE COM A IGNORÂNCIA, o verde é um termômetro de qualidade de vida.

A VEGETAÇÃO NAS MARGENS DOS RIOS

O Brasil tem o maior patrimônio fluvial do mundo mas muitos rios estão morrendo POR FALTA DE VEGETAÇÃO NAS MARGENS, é o caso do icônico Rio São Francisco, com vazões cada vez menores por dilapidação da cobertura vegetal nas margens. É uma insensatez porque prejudica o próprio desmatador.

Há outros efeitos prejudiciais na extinção do verde. SEM VERDE NÃO HÁ INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NOS AQUÍFEROS. Sem verde, que segura as chuvas, os morros deslizam e provocam tragédias, como as do Rio de Janeiro neste ciclo de chuvas, isso já se sabe desde a descoberta do Brasil.

O VERDE NA AGRICULTURA

Imensas plantações de soja SEM UMA ÚNICA ÁRVORE ao lado, como barragem de ventos, não se perde um grão de soja se houver de quando em quando uma cortina verde nas plantações. Quem conhece a França de balão vê que em todas as plantações e pastos há florestas de árvores de trecho em trecho no entremeio do solo produtivo, em distâncias curtas. A França inteira, e a Alemanha também, é uma agricultura com jardins no meio. A função não é apenas estética, é funcional. A floresta de entremeio segura as chuvas e protege as plantações e pastos. Aqui nem se cogita, para atestar a ignorância.

Temos uma imensa área de pastagens degradadas no Brasil, que se avalia em 1,4 milhões de quilômetros quadrados, terras com erosão e perda de eficiência agriculturável por falta de cuidados com a cobertura vegetal, uma imensa área improdutiva, erodida, com riachos secos e brotamento de pragas.

A AUSÊNCIA DE CULTURA DO VERDE

Verde é civilização, os bárbaros  não gostam de vegetação. Lembro de um estacionamento na rua Treze de Maio em São Paulo, de propriedade e usado pelo Empório e Padaria Basilicata, tradicional em São Paulo. Os carros paravam debaixo de lindas árvores. Um domingo cheguei e não havia nenhuma árvore.

Perguntei a um dos donos, respondeu, “cortei porque estava atrapalhando os carros”. As árvores estavam coladas aos muros, não atrapalhavam nada.

Nunca mais fui a esse empório, a estupidez do ato me chocou. No imenso estacionamento do Shopping Eldorado, em São Paulo, NÃO HÁ UMA ÚNICA ÁRVORE para ao menos fazer sombra aos carros. Em outros grandes shoppings é a mesma coisa. Árvores não tiram espaço, fazem a divisa entre espaços.

São Paulo tem sim uma pequena parte da sociedade com consciência do verde, mas a imensa maioria não está nem ai. Além do fator estético, a vegetação tem fundamental importância para a estabilidade do solo, a sua ausência causa tragédias porque as chuvas não encontram esgotamento e barreiras, o enraizamento das árvores segura a terra que sem isso vai junto com a chuva. É coisa que se sabe há 10.000 anos.

O PANO DE FUNDO ECOLÓGICO

O Brasil tem pela natureza grande reserva florestal, MAS ESTAMOS DESTRUINDO ESSE PATRIMÔNIO. Outras áreas do planeta já tiveram patrimônio vegetal natural e o perderam. O VALOR DAS NOSSAS FLORESTAS ESTÁ NA BIODIVERSIDADE DE FLORA E FAUNA e não no capim que se coloca depois do desmatamento. A BIODIVERSIDADE vale 1.000 o capim vale 1, derrubar floresta para plantar capim NÃO É DESENVOLVIMENTO, é burrice.

Já devastamos 15% da Amazônia e 93% da Mata Atlântica e continuamos a desmatar todos os dias do ano, uma hora a conta chega.

VERDE É SINAL DE CIVILIZAÇÃO, o Brasil está muito atrasado nesse grande indicador de  País desenvolvido.”

Urbanicidade: “Não tem parte boa em um governo tão ruim”

URBANICIDADE

“NÃO TEM PARTE BOA EM UM GOVERNO TÃO RUIM”

Fernando Brito escreve atualmente um dos textos mais críticos ao atual descalabro que se tornou o centro de poder em nosso país. De forma bastante pessimista, acredito que passaremos por um período tenebroso nos próximos anos. Aberto à criticas, vamos ao artigo do “azedo” jornalista.

“Leio comentaristas da imprensa dizendo que Paulo Guedes, Sérgio Moro e a “ala militar” estão preocupados com a insanidade que toma conta de Jair Bolsonaro.

Seriam a “parte boa” de um governo (?) ruim, diferente das Damares, dos Ernestos, dos Vélez e do próprio chefe.

Que me perdoem, não há parte boa em um governo tão ruim.

Não foi à toa que Dante Alighieri escreveu às portas do inferno que deixassem de lado a esperança todos os que ali entrassem.

Jair Bolsonaro não era uma incógnita, não era um marciano recém descido à Terra, alguém que não se soubesse de onde vinha, o que dizia, o que urrava.

Era, senhores generais, o “capitão-bombinha”, e os senhores não ouviram o conselho de Ernesto Geisel: “Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar”.

Era, senhor Guedes, o homem que dizia “sonegar tudo o que desse para sonegar”.

Era, senhor Moro, o homem que dizia que o erro do regime que agora anda comemorar, “foi ter matado pouco”.

Os senhores não são crianças e não eram crianças no ano de 2018, quando aderiram a ele, achando que era a gazua para chegarem ao governo pelo caminho fácil do oportunismo e que o poriam na coleira, achando que o pitbull seria um totó dócil e servil às ambições que vocês nutriam.

Três meses foram tempo suficiente para que se visse que o país foi entregue a um aventureiro sem escrúpulos e sem juízo, sem equilíbrio e sem responsabilidade, sem capacidade nem caráter.

A situação destes senhores é pior do que a dos “isentões” que ficaram no “nem isso, nem aquilo” no segundo turno das eleições, cobrando autocríticas que não são capazes de fazer, ou estariam, num ato de contrição, lamentando a própria omissão.

Ninguém que tenha conseguido conjugar um pingo de caráter e um cargo no governo pode deixar de ver que ele está levando o Brasil a desastres impensáveis. Não lhes resta, se ainda pretendem apenas o purgatório e não a maldição eterna do povo brasileiro, senão sair e ajudar a parar a marcha da insensatez à qual se juntaram achando que lograriam o “capitãozinho maluco”.”

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