GARIMPANDO
NO ARQUIVO NO “JAIR NORONHA”
Avelina Maria Noronha de Almeida
Deixa que eu vá contigo pela estrada
Nesta manhã serena, entretecida
De verdes polvilhados de alvorada
Estive pensando sobre a Rua Coronel João Gomes antes de escrever este artigo e fiquei maravilhada com a alma que nela enxerguei hoje, pensando no que já tinha visto outro dia e no que visualizei para mais adiante. São tantos poetas bons, como vocês vão ver , em um trecho tão pequeno da cidade, uma extensão de pouco mais de 200 metros. A alma desta rua é linda, poética, artística, prodigiosa.
Pensei no último artigo no qual focalizei Dr. Astor Vianna, dando uma pequena amostra de sua obra. Mas o poeta era grande demais! Tenho que colocar outras poesias porque o tempo passa e as pessoas ficam esquecidas. Ele não merece isso, portanto é necessário ampliar o foco sobre ele e mostrar mais outros sonetos de sua lavra para admiração de quem não o conhece pela poesia. Reconheço que ele é uma figura importante na formação da alma desta rua, porque a força da alma vem muito do passado.
Assim, vamos ver um soneto maravilhosamente lírico e romântico por ele oferecido à sua esposa dona Helena, pessoa que foi muito querida pelos que conviviam com ela:
PARA HELENA
Deixa que eu vá contigo pela estrada
Nesta manhã serena, entretecida
De verdes polvilhados de alvorada,
Antes que o sol desperte a dor e a vida.
Seremos dois assim, mas na escalada,
Tendo-te junto ao peito defendida,
Nem sentirás, por certo, a caminhada
Que vai daqui ao pé daquela ermida.
Lá ficarei contigo e, ao sol poente,
Enlevados e mudos, certamente
Havemos de sentir essa ternura
Que compensando penas e amargores,
Esbate os tons e abranda tanto as dores
Que faz do amor uma verdade pura.
E que joia de amor filial neste soneto dedicado à sua mãe, D. Cefisa:
PARA MAMÃE
Quanta meiguice teu olhar cansado
Derrama em minha vida a cada hora!
Vele ou repouse, em tudo, como agora,
De ti me vem o amparo desejado.
Não sei se sentes, mãe, quanto te adora
Todo o meu ser, no beijo que, trocado,
Tua bênção querida ele te implora,
A cada dia apenas começado.
Basta um olhar, um vinco no semblante,
Para que teu afeto transbordante
Mitigue a chaga do meu sofrimento.
Na paz te alegras, mas, num só instante,
Fazendo tua minha mágua hiante
Tornas maior que o meu teu sofrimento.
(Continua)