Moveis antigosa
GARIMPANDO
NO ARQUIVO “JAIR NORONHA”
Avelina Maria Noronha de Almeida
MAIS UMA RUA DE ALMA ENCANTADORA – 7
Os olhos se acostumaram tanto aos momentos de deleite, à penumbra
fresquinha daquela casa muito grande que ficaram desagradavelmente
ofuscados com a claridade da rua ensolarada.
Só falando no estilo do Candinho da novela das seis da TV Globo: ETA RUA PEQUENA DE TANTA GENTE GRANDE!
Hoje vou visitar mais uma casa – coitadinha! – está apenas uma pequena lembrança, uma sombra do que foi.
Era a casa do Sr. Caetano Balbino da Silveira e de D. Rita.
A última vez que lá entrei, há muitos anos, o clima de tempo antigo era tão forte, tão forte que, ao sair na porta da rua para o burburinho da rua, senti um choque, como se passasse de um mundo para outro. Os olhos se acostumaram tanto aos momentos de deleite, à penumbra fresquinha daquela casa muito grande que ficaram desagradavelmente ofuscados com a claridade da rua ensolarada.
Os leitores não podem imaginar a beleza do que vi. As duas irmãs, Maria Antônia e Maria de Lourdes, filhas do casal, fizeram questão de me levar a todos os cômodos. Móveis muito antigos, antigos mesmo, sólidos, bonitos. Camas, mesas e outros móveis enfeitados com panos bordados pela delicada e operosa Maria Antônia, cujas mãos não eram apenas hábeis na agulha, mas espetaculares nas lides do fogão de lenha.
Maria Antônia era mestra em quitandas e doces. Delicioso o doce de leite que fazia e entornava nas compoteiras, ou que deixava endurecer para cortar em quadradinhos. Arroz doce nas terrinas (as terrinas eram vasilhas de louça com tampas, sendo as mais usadas em tempos passados as ovaladas branquinhas ou cremes e havia, também, algumas lindamente decoradas); doces de várias frutas, pois o terreno da casa era imenso e cheio de árvores frutíferas. A outra irmã, Maria de Lourdes era excelente professora do Grupo Escolar Domingos Bebiano. Muito bonita e elegante.. As duas irmãs eram muito agradáveis, sempre risonhas e acolhedoras.
Os homens eram: Dr. Dagoberto, advogado, estabeleceu-se no sul do País.
Miguel Lobo foi um advogado brilhante, combativo, que estremecia o Forum com suas palavras vibrantes.
Quando ele se formou, em 1939, foram feitos sonetos com o perfil de cada bacharelando. Eis o perfil em versos feito para
MIGUEL LOBO
Filho de Lafaiete, desde criança
Revelara pendores de jurista.
Tendo por lema – “Fé e Perseverança”
Tem por modelo um grande civilista.
Sob aparência calma e pacifista
É um bravo lutador de espada e lança;
Combativo, ardoroso, polemista,
Tem na carreira justas esperanças.
Já tem traçada do futuro a linha.
Vai militar no foro da terrinha
A destrinçar os dédalos do “JUS”.
Em dois planos a vida assim divide:
Moço – no foro defendendo a lide,
Velho – na cátedra espalhando a luz.
Incrivelmente profética a poesia. Ela resumiu em versos tudo o que ia acontecer durante a vida do brilhante advogado.
(Continua)