Os porões onde os inconfidentes reuniram e tramaram a Inconfidência Mineira, no século XVIII, foram o palco para a assembleia da Associação dos Municípios do Alto Paraopeba (Amalpa), ocorrida ainda hoje, dia 28, pela manhã na histórica Fazenda do Paraopeba. O encontro das lideranças foi carregado de simbolismo já que o casarão totalmente restaurado foi incorporado ao patrimônio do Município de Conselheiro Lafaiete na solene reunião.
O restauro foi graças a assinatura de Termo de Ajustamento de conduta (TAC), assinado em 2012, quando o município desapropriou a fazenda, em ruínas à época, e a mineradora Ferrous investiu cerca de R$2,5 milhões na preservação do bem do século XVIII, envolvido em uma área remanescente de mata atlântica de 16 hectares. A propriedade, a princípio, deve abrigar um centro de referência turística da Estrada Real e da Inconfidência Mineira. A construção é tombada pelo patrimônio municipal.
Como não poderia ser de outra maneira, o ambiente histórico contaminou os discursos. Há um fio condutor entre os séculos que separam a Inconfidência ao atual momento. Os inconfidentes buscavam libertar o país do julgo da Coroa Portuguesa, já os novos protagonistas regionais buscam na integração regional a emancipação e o protagonismo dos municípios.
O prefeito de Lafaiete, Mário Marcus (DEM), referenciou em seu discurso a Inconfidência Mineira contextualizando que Fazenda Paraopeba pertenceu ao advogado e poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1792) e serviu de local de encontro para os demais conjurados liderados por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792). “Queremos dar uma destinação para este local condizente com sua história”, revelou. A principal proposta seria a concessão da Fazenda a iniciativa privada, algo ainda não definido pela administração.
Ao lembrar do espírito dos inconfidentes presente nos meandros do casarão, o promotor Glauco Peregrino, apontou a cultura e o turismo como ferramentas para a atração de divisas para os municípios. Ele elogiou a postura da Ferrous que participou da restauração com o entusiasmo. Glauco citou o Solar do Barão do Suassuí, em Lafaiete, restaurado recentemente, como modelo em que a comunidade abraçou o casarão em constante uso. “Esperamos que como o Solar a comunidade adote este espaço de valor inestimável para Minas e o Brasil. A Empresa arregaçou as mangas e transformou um casarão em ruínas que quase pereceu nesta beleza de arquitetura preservada para as futuras gerações”, pontuou, destacando que o processo de restauro passou por 3 governos municipais e cada qual cumpriu sua missão, mostrando o amadurecimento classe política.
O Diretor de Relações Institucionais da Ferrous, Cristiano Parreiras, assinalou que a restauração enobrece a mineradora que participa da história de um povo na qual está inserida. Ele lembrou que a Fazenda é citada na obra “Cartas Chilenas”, do poeta e inconfidente Tomáz Antônio Gonzaga. Parreiras contou que os métodos construtivos da época foram preservados, como por exemplo, não foram usados pregos, as janelas preservadas e as paredes são de pau a pique, refeitas às originais graças às técnicas de canjicado. Ele afirmou que todo o processo de restauro tentou ser fiel a originalidade do patrimônio. Ele entregou ao prefeito Mário Marcus um diagnóstico arqueológico e plano de manejo da mata que envolve o local. “Esta obra agrega toda a região por onde passaram a história da Inconfidência e é um símbolo do Brasil. Que outros vetores culturais, como as violas de Queluz, também sejam preservadas e agregadas”, discorreu.
Economia criativa
O Secretário Adjunto de Cultura, João Miguel, pontuou seu discurso elogiando o modelo, diferente do convencional, no qual envolveu a provocação do Ministério público, a Ferrous e o poder público para restauração. “Este é um modelo deve ser acompanhado por outros municípios e reinventa a uma nova forma de administração”, contou. Segundo ele os prefeitos deveriam fomentar a cultura e o turismo movimentando a economia criativa.
O sub secretário traçou nos ideais da Inconfidência os valores para reconstrução do pais, arquitetados há mais de 2 séculos dentro das Fazenda do Paraopeba. “A história aqui é um grande tesouro e este momento serve de lição para o Brasil quando se perdeu o sentimento de pátria e nação. Aqui nasceu um país e um novo modelo de nação, quando os inconfidentes buscavam em seus ideais um novo país. A motivação que cerca esta restauração da Fazenda do Paraopeba é um exemplo para o Brasil”, comentou, assinalando que o Brasil deve se voltar aos ideais dos inconfidentes para traçar um novo modelo de nação. “Precisamos resgatar este pertencimento de país. Este sentimento ecoa nesta fazenda e remonta os ideais dos inconfidentes. Aqui nasceram os ideais de uma semente plantada que dá sentido às futuras gerações”, cobrou.
Já o Subsecretário de Desenvolvimento Integrado, Pedro Leão, citou a cultura como a potencial que os municípios devem explorar. “Cada cidade tem algo a mostrar de sua cultura. É isso que precisamos potencializar”, apostou. Ele adiantou que o Governo do Estado prepara a criação de Arranjo Produtivo Local, que envolveria a criação de equinos tornando Lafaiete referência no Brasil.
Em meio aos ecos da Inconfidência Mineira, aos pés de mangueiras, a reunião foi encerrada com a viola cantando mais alto embalando os ideais que forjaram um país. A próxima reunião acontece em Senhora de Oliveira, dia 28 de agosto.