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Ferro e fé: Congonhas comemora seus 80 anos de Emancipação

A cidade de Congonhas chega aos 80 anos de Emancipação Política orgulhosa de seu passado, do seu povo e com os olhos voltados para o futuro. Com uma história forjada na fé e devoção ao Bom Jesus de Matosinhos – herança dos portugueses -, e ainda na extração mineral, o Município se prepara para, em breve, se tornar o primeiro do País a ter recuperado e revitalizado todo seu valioso acervo histórico, parte dele, reconhecido como “Patrimônio Cultural da Humanidade”. Até o próximo dia 17 de dezembro, data oficial da Emancipação, várias atividades culturais, institucionais e políticas acontecem em Congonhas, para exaltar a história daquela que ficou conhecida dentro e fora do Brasil, como a “Cidade dos Profetas”.

Missa da posse do primeiro prefeito de Congonhas/Divulgação

O povoamento das Congonhas do Campo pelo homem branco acontece, no final do século 17, com a chegada dos primeiros bandeirantes, faisqueiros, garimpeiros e ciganos de países da Europa Central. Eles se juntam ao índio e, no início do século 18, ao negro especialista em escavações. O território onde hoje se encontra Congonhas tem sua origem em disputas ainda no período Colonial. Com a criação de Vila Rica (atual Ouro Preto) para a exploração de ouro, o lado direito do ribeirão das Congonhas (atual rio Maranhão) fica com esta Comarca. Já o lado Matosinhos, segue com a Comarca do Rio das Mortes, capitaneada por São José Del Rei (atual Tiradentes) e por São João del-Rei. Em 1749, Manuel Monteiro de Barros recebe do rei português uma área que se estende atualmente de Joaquim Murtinho a Belo Vale.

A vida política de Congonhas também começa naqueles tempos com moradores como Lucas Antônio Monteiro de Barros, primeiro Barão e Visconde de Congonhas, e Romualdo Monteiro de Barros, o Barão de Paraopeba. O segundo Barão de Congonhas, Lucas Antônio Monteiro de Castro é outro que deixou seu nome nesta história quando interveio junto à Coroa na tentativa de unir os dois lados do Ribeirão das Congonhas formando o novo município, porém, acaba morrendo sem conseguir seu objetivo. A sonho de formar a nova cidade permanece quando o militar reformado Major Sabino de Souza Costa e o Bispo auxiliar de Mariana, o congonhense Dom Silvério, passam a trabalhar, sem sucesso,  para criar o distrito de Matosinhos. A missão só chega ao fim em 1923, quando Cornélio de Souza Costa, Cônego João Pio de Souza Reis e demais entusiastas conseguem unir as duas partes em uma só jurisdição, pertencente a Queluz de Minas (atual Conselheiro Lafaiete), formando o distrito de Congonhas.

Em pé, o primeiro prefeito de Congonhas, Alberto Teixeira dos Santos Filho.

Sede da Prefeitura de Congonhas-MG/Divulgação

A história da Emancipação política de Congonhas ainda guardava fortes emoções. No início dos anos 1930, Alberto Teixeira dos Santos Filho, o Dr. Albertino, une forças com os Junqueira, Souza Costa, Cunha e Freitas, elegendo-se vereador pelo Distrito de Congonhas, em Conselheiro Lafaiete. Após o presidente Getúlio Vargas fechar as casas legislativas, com a instituição do Estado novo, em 1937, o vereador conseguiu apoio do amigo governador Benedito Valadares para preparar a emancipação de Congonhas.

A meta de formar o novo município seguia coordenada por uma comissão composta por moradores idealistas como Zico Junqueira, João Borges da Cunha, Juvenal de Freitas Ribeiro e o Pe. Redentorista João Muniz. Eles definem com representantes de Conselheiro Lafaiete e Ouro Preto, as terras que seriam cedidas a Congonhas para completar o território do novo município. O documento entregue pelos vizinhos, no entanto, é redigido diferente do que havia sido combinado verbalmente, de forma que o novo município de Congonhas perdesse tanto o maciço da Serra de Casa de Pedra de onde já se extraia minério como também a área que muito tempo depois receberia a Açominas, atua Gerdau. Ao perceber a manobra, Dom João Muniz refaz o documento de acordo com o combinado. No ato da assinatura, mesmo com a saia justa, ninguém ousa contradizer Dom João Muniz, preservando o território anteriormente combinado.

“Não deu no jornal”

Em 1938, depois de resolvida a questão do território suficiente para se emancipar, a população da futura cidade passa a aguardar ansiosa a notícia da emancipação. No dia combinado, o clima era de expectativa, mas, finalmente quando chegou pelo telégrafo a edição do Diário Oficial de Minas Gerais, não há nada. Inconformados e receosos sobre o que poderia estar ocorrendo, as lideranças locais se reúnem e decidem partir para a Capital para ver o que havia ocorrido. Ao chegar lá, o alívio veio com a informação: simples esquecimento de Benedito Quintino, então chefe da Divisão Geográfica do Estado. Quando o equívoco é desfeito, no dia 17 de dezembro de 1938, finalmente sai a informação da Emancipação Política de Congonhas, notícia recebida com uma grande festa pela população.

Vista panorâmica de Congonhas a partir do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos/Divulgação

Surge a nova cidade, que já possuía em seu território uma história de fé e devoção simbolizada pelo acervo deixado pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Nos anos 1940, Congonhas vive novo ciclo de desenvolvimento. Com a valorização do minério de ferro na economia mundial, em decorrência da 2ª Grande Guerra, a extração do mineral ganha força na região. A Mina Casa de Pedra torna-se, naquela época, a principal fornecedora de matéria prima da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, a de maior porte do Brasil.

O território de Congonhas, mesmo após a Emancipação, passa por várias modificações. Em 1° de janeiro de 1944, o Distrito do Redondo (atual Alto Maranhão), que pertencia a Conselheiro Lafaiete, é anexado a Congonhas.  Já em 1978, Congonhas sofre um baque quando o Senador Murilo Badaró expede medida biônica para anexar a área da Açominas a Ouro Branco. Um ano depois, cabe ao então prefeito Altary de Souza Ferreira Júnior defender Congonhas, baseado na carta de Dom João Muniz. A estratégia dá certo, estabelecendo que a área da Açominas ficaria 86% em Congonhas e 14% em Ouro Branco. A discussão permanece até 1984, quando os dois municípios entraram em acordo. O primeiro fica com 51% dos impostos pagos pela siderúrgica e, Ouro Branco, com 49%.

Comenda Antônio Francisco Lisboa, que será entregue em 17 de Dezembro, aniversário de Congonhas, a 15 pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do Município.

Ao longo de sua história política, Congonhas foi governada por 18 prefeitos. O atual, José de Freitas Cordeiro, o Zelinho, considera que cada um deles ofereceu valorosa contribuição para o desenvolvimento da cidade. Como parte desta história, Zelinho orgulha-se por ter participado ativamente das discussões, ainda como vereador, da negociação que evitou a perda dos 850 alqueires da área da Gerdau e a transferência das imagens em cedro das capelas dos Passos da Paixão para uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Na época, o Museu pegou fogo, causando a perda de todo acervo apresentado. Se Congonhas tivesse cedido as obras, a perda seria irreparável. Recentemente, já como Prefeito, a atuação de Zelinho foi decisiva, como presidente da AMIG, juntamente com o deputado federal Marcus Pestana, para a alteração do Marco Regulatório da Mineração. A aprovação da nova legislação elevou a CFEM, que é o royalty do minério, de 2% do valor líquido para 3,5% do valor bruto, trazendo um benefício enorme para as contas públicas.

Com uma trajetória forjada na luta de seus habitantes, Congonhas se tornou a terceira cidade de Minas Gerais e quinta do País em volume de exportação de ferro. A mineração é realizada por grandes empresas como a CSN, Vale, Ferrous e Ferro+. Já a Gerdau beneficia a matéria prima em sua usina. Atualmente, busca-se transformar os recursos provenientes do minério em benefícios para a população e ainda preservar seu valioso acervo histórico, que em 1985, foi reconhecido pela UNESCO como “Patrimônio Cultural da Humanidade”. “Criamos o Museu de Congonhas, que já fortalece o turismo em nossa cidade. Construímos a UPA 24h, sete prédios de UBS e investimos no Hospital Bom Jesus. Elevamos o número de escolas de tempo integral de três para 23”, conta o prefeito.

Como o minério não dá duas safras e a tendência é, futuramente, as reservas se esgotarem, Congonhas trabalha com os olhos voltados para novas oportunidades de desenvolvimento. Diante desta perspectiva, a economia criativa surge com uma alternativa. “Estamos implementando uma política de fomento à inovação e à tecnologia, para encontrarmos soluções para os problemas atuais e criar novos negócios. Investimos em um Plano de Implementação da Política Municipal de Turismo, mas também na agroindústria”, conclui o prefeito.

 

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