Nesse artigo o jornalista Luíz Nassif (aqui) consegue desmanchar um mito que há muito tempo vem iludindo e mistificando o consciente (e o inconsciente) de grande parte da população. É a falsa questão de que o(s) feriado(s) “quebra(m)” a economia, divulgado insistentemente na imprensa em geral. De minha parte, venho há décadas tentando mostrar o maléfico papel da grande mídia, seja ela escrita (jornais, revistas), falada (rádio), televisada e, por último tecnologicamente falando, da mídia veiculada pela internet (portais, redes sociais, e as famigeradas fake news viralizadas pelo whatsapp, telegram, etc) na vida das pessoas. Somos bombardeados o tempo todo com falsas informações disfarçadas de jornalismo. Nunca devemos nos esquecer que antes de informar, o veículo de mídia tende a impor o pensamento de seu proprietário, ou de seus acionistas controladores. Nesse artigo, Nassif mostra o outro lado da moeda qual seja, a montanha de dinheiro que corre nos dias considerados “feriados”. Talvez até, um provável benefício para muitas pessoas em diversas atividades. Demonstra também, posso concluir, que a economia não é uma ciência pois existem muitas nuances não determinadas e que a divulgação de números e as análises dos fatores econômicos não conseguem captar, nem destrinchar seus efeitos na vida do cidadão e, por conseguinte, de toda uma sociedade. Não podem e nem devem orientar os destinos de uma Nação. Que este artigo, que escrevo no último dia de um ano de enormes perdas que podem comprometer o nosso futuro sirva de reflexão e ajude-nos a imunizarmo-nos contra as toxinas emanadas pelos donos de nosso dinheiro. Vamos ao texto…
“No Japão, estudos comprovam que reduzindo em um dia a semana de trabalho, a produtividade aumentava pela maior disposição e menor estresse dos trabalhadores.”
“Na cobertura econômica, uma das grandes tolices reiteradas consiste na síndrome dos dados numéricos. Qualquer tolice, se acompanhada de uma estimativa numérica, passa facilmente pelo filtro do jornalismo econômico, como demonstrou a pesquisa-fantasma da Alshop (Associação dos Lojistas de Shoppings), que tirou um número da cartola, que foi aceito imediatamente pela mídia, sem que nenhum veículo tivesse a curiosidade de analisar a metodologia e os dados. Pior, nem se deram conta de que a Alshop sequer apresentou os dados da pesquisa.
Repete-se a mesma bobagem com os cálculos de supostos prejuízos do comércio e indústria com os feriados prolongados. Essa prática vem dos anos 90, quando Antonio Ermírio de Morais resolveu levantar a bandeira do fim dos feriados prolongados.
Os chutes sobre as perdas vêm de diversos lados e em cima da mesma falácia:
- Pegam o volume estimado de faturamento do comércio e dividem pelo número de dias úteis.
- Depois descontam desse valor o faturamento-dia correspondente a cada feriado prolongado, como se as perdas com as vendas não efetuadas nunca mais fossem recuperadas.
Por que é um besteirol? Simplesmente porque se a loja estiver fechada no feriado, grande parte dos consumidores vai consumar a compra antes ou depois do feriado. É óbvio. Preciso de uma geladeira nova, mas como a loja estava fechada no dia em que resolvi comprar, nunca mais vou comprar uma geladeira nova.
Vamos a um exercício simples de lógica, começando pelo comércio.
As vendas do comércio
Há dois tipos de gastos dos consumidores:
- Parcela A – Os recorrentes, que integram os orçamentos familiares.
- Parcela B – Os extraordinários, que ocorrem em circunstâncias especiais.
Os feriados não afetam os gastos recorrentes, mas estimulam um gasto extraordinário com toda uma cadeia produtiva que gira em torno dos feriados: viagens, hotéis, restaurantes, compras de brindes, cinemas, eventos, shows, etc.
Segundo o Ministério do Turismo – mencionado na reportagem -, no ano passado, feriados prolongados resultaram em 13,9 milhões de viagens domésticas, injeção de R$ 28,84 bilhões na economia.
Voltemos à velha lógica. Se a Parcelas A permanece a mesma e a Parcelas B aumenta, obviamente o resultado final será maior. E esses gastos beneficiam especialmente os centros turísticos, dos quais um dos maiores continua sendo o Rio de Janeiro.
No entanto, veja como as associações de classe do Rio de Janeiro embarcam nessas falácias.
- A Federação do Comércio do Rio de Janeiro estima perdas de R$ 4,8 bilhões em 2002.
- O presidente da Federação do Comércio vai além e estima perdas de R$ 3 bilhões por dia parado.
- O Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do município (CDL-Rio), diz que cada dia parado representa perda média de R$ 405 milhões.
As vendas da indústria
No caso da Indústria, repete-se a mesma falácia. E o mesmo vício do economista brasileiro de não conseguir ir além das estatísticas básicas, de não buscar uma análise sistêmica dos feriados.
É o caso do economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, com uma conta sem nuances. Sua lógica é pegar a produção do ano e dividir pelo número de empregados e, depois, pelo número de dias úteis. Se há menos dias úteis, supõe ele, há uma queda da produtividade.
Vamos pegar um exemplo bem simples para demonstrar a falácia do argumento:
- Uma linha de montagem produz 2.000 equipamentos por mês, contando com 50 funcionários. Se o mês tiver 22 dias úteis, a produtividade de cada trabalhador será de (2.000 / 50) / 22 = 1,82 equipamentos dia.
- Como, por hipótese, se tem 22 dias úteis, a produção do mês será de 40,04 equipamentos por trabalhador.
- Se o número de dias úteis cair para 20, a produção do mês cairá para 36,40 por trabalhador. Logo, houver uma redução da produtividade.
Onde estão os sofismas:
- Os feriados reduzem o número de dias para 20 no mês. Mas a demanda continua sendo de 2.000 equipamentos. Se a indústria estivesse operando em plena capacidade, haveria a necessidade de alguns turnos extras para compensar o feriado. Quando não se trabalha a plena capacidade, significa simplesmente que os mesmos 2.000 equipamentos serão produzidos em 20 dias, e não mais em 22. E se há capacidade ociosa, há espaço para aumento da produção.
A visão sistêmica
Um dos grandes problemas desse tipo de análise econômica é a ausência de análise sistêmica, por falta de dados e de metodologia. Por exemplo, todos os trabalhadores de folga são consumidores dessa grande economia dos feriados.
No Japão, estudos comprovam que reduzindo em um dia a semana de trabalho, a produtividade aumentava pela maior disposição e menor estresse dos trabalhadores.
Mas ainda não surgiu um indicador de bem estar para a indústria em geral, menos ainda os reflexos sobre a produtividade do trabalho.
Mesmo sem dados mais apurados, feriados ajudam a aquecer a economia.”